Dakota abriu a porta e me viu parado em sua frente.

– Charlie?

– Oi! – Foi tudo o que eu disse –

– Oi. – Sorriu – Vem, pode entrar.

Entrei em sua casa e vi Sophia sentada no sofá olhando atentamente para a TV ligada no telejornal. Eu a chamei, mas ela pareceu não ouvir. Chamei-a novamente mas ela não me olhou. Dakota foi em sua direção e a tocou.

– Sophia, querida, Charlie está aqui. – Disse Dakota –

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Sophia olhou para os lados me procurando. Quando seus olhos me encontraram, ela se levantou, veio em minha direção e me abraçou. Não dizia nada. Apenas me abraçava. Já havia quase um minuto que ela me abraçava e não me largava.

– Já chega Sophia. Você já o abraçou bastante. – Disse Dakota a tirando daquele abraço –

– Mas eu gosto de abraçar. – Protestou Sophia – Eu gosto de abraçar o Charlie. Eu gosto.

– Eu também gosto de abraçar você. – Falei passando a mão pelos cabelos da autista –

Dakota a fez sentar no sofá e foi para a cozinha e trouxe um copo de suco de laranja para mim.

– Novidades, Charlie? – Ela me perguntou –

– Sim. Muitas. – Peguei o copo de suco e sentei-me ao lado de Sophia – Minha mãe apareceu!

– Nossa, sério?

– Sim. Não sei o que fazer. Não sei nem como me comportar na frente dela. Sei lá, é estranho.

– Não aconteceu o mesmo quando você encontrou o teu pai? - Perguntou –

– Não, não é a mesma coisa. – Respondi – Conheci o Harry antes de saber que ele era o meu pai. Eu convivi com ele, nós nos tornamos amigos e eu já desconfiava quem ele era. Com a minha mãe é diferente. Ela apareceu de repente e... e foi uma grande surpresa para mim.

– Acho que entendo. – Disse ela –

Ficamos em silêncio assistindo TV. A televisão estava sintonizada em um canal que no momento passava uma revista eletrônica, comandada por três apresentadores. Eles anunciaram uma reportagem inédita. A reportagem falava sobre namoro. Namoro entre jovens. Dakota, Sophia e eu ficamos vendo aquela matéria em silêncio. A reportagem mostrava ao telespectador como os jovens estão se relacionando com os outros. Algumas vezes a matéria mostrava a imagem de duas pessoas se beijando e outras vezes se abraçando carinhosamente.

– É assim que vocês namoram hoje em dia? – Perguntou Dakota com um sorriso no rosto. –

Confesso que fiquei meio constrangido com a pergunta, mas tudo o que fiz foi sorrir timidamente.

– Namorar. – Disse Sophia –

– O que você disse, filha? – Perguntou Dakota –

– Namorar. Eu quero, eu quero namorar.

Fiquei surpreso com o que a autista disse.

– Eu ouvi bem, Charlie? – Perguntou a mãe da autista –

– Acho que sim. – Falei em meio a risadas – A Sophia disse mesmo que quer namorar.

Sophia me olhou.

– Charlie... Charlie eu quero namorar. – Disse ela mexendo aleatoriamente as mãos –

Olhei para Dakota e ela estava de boca aberta. Seu rosto transmitia surpresa. Olhei novamente para Sophia e ela estava olhando para mim. Ela não me olhava nos olhos, olhava para meu pescoço, para minha boca, mas não para os meus olhos.

– Eu quero, eu quero namorar, Charlie. – Disse Sophia novamente. –

Lentamente, Sophia colocou suas mãos sobre as minhas. Por um momento ela hesitou e tirou-as. Mas passado alguns instantes ela tornou a coloca-las sobre mim e se aproximou. Pude ouvir Dakota chamando Sophia. A garota autista pareceu não ouvir e olhou por alguns segundos em meus olhos. Seus eram olhos negros e gentis. Ela se aproximou seu rosto do meu e encostou seus lábios nos meus pela segunda vez. Eu retribuí o beijo. Não sei porque, mas retribuí. Coloquei a mão sobre o rosto de Sophia e a beijei com mais vontade, fechando os olhos.

Depois de alguns segundos, eu abri os olhos e percebi o que estava fazendo. Eu a larguei na mesma hora. Dakota estava nos olhando assustada. Quando vi que ela estava nos observava, levantei-me do sofá e fiquei sem palavras. Não sabia o que fazer.

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– Des.... desculpe... eu não... – Falei –

Sophia estava olhando para a frente com as mãos nos lábios. Olhei para Dakota e ela ainda tinha um semblante surpreso.

– Desculpe, Dakota. – Falei novamente – Eu não tinha a intenção...

Dakota não disse nada. Apenas ficou me olhando.

– Acho que eu vou indo. – Falei assustado. Eu não queria que as coisas piorassem. Então fui em direção a porta e a abri. Olhei novamente para Sophia e Dakota e saí da casa das duas. –

O sol já havia ido embora e dava lugar as estrelas que iam aparecendo. Olhei para minha casa e lá estava Kari em frente a ela. Quando Kari me viu, veio em minha direção e se espantou com o meu estado.

– O que aconteceu? – Perguntou – Porque você está com essa cara abobada?

Kari riu.

– Você não estaria rindo se estivesse no meu lugar. – Falei –

– O que aconteceu?

– Sophia me beijou na frente da mãe dela.

– O que? – Disse Kari surpresa – Você deixou?

A voz de Kari falhou. Ela parecia incomodada com o que eu falei.

– Sim e eu retribuí o beijo. Acho que foi porquê... porque eu gostei.

Kari virou de costas para mim.

– O que foi? – Perguntei –

– Na... nada. Não é nada. – Ela respondeu. –

O tom de voz de Kari era outro, estava trêmulo e um pouco baixo. Ela se virou novamente para mim e percebi que seus olhos estavam vermelhos. Ela me olhou nos olhos e sorriu ironicamente.

– O que você acha que eu devo fazer? – Perguntei –

– Não sei.

– Será que a Dakota vai ficar zangada comigo? – Tornei a perguntar –

– Eu não sei, garoto. – Respondeu Kari – Eu não sou ela.

Kari parecia com raiva.

– O que foi? Porque de repente você ficou com raiva?

– Eu não estou com raiva! – Afirmou –

– Mas parece.

– Sabe o que é, Charlie? – Perguntou – É que você é um cego.

– Como assim?

– Ou você não enxerga ou não quer enxergar. – Disse ela, cruzando os braços –

– Kari, você é doida? Enxergar o que?

Kari pareceu ficar ainda mais furiosa com o que eu disse. Ela descruzou os braços e veio em minha direção. Por um momento, achei que ela iria me bater, mas ela fez exatamente o contrário. Ela colocou as mãos sobre o meu rosto, se aproximou e me beijou.