Caçadora Pelas Circunstâncias
Cap.36 - Reia
O mymerko, mesmo aleijado levou Meg para o ninho.
— Essa não. O que faremos? – perguntou Apolo.
— O jeito é voltarmos ao acampamento e buscarmos ajuda – disse ela.
— Mas antes precisamos saber onde é a entrada do bosque – disse Apolo se aproximando do gêiser. – Pete, seu Telemarketeiro, apareça seu covarde!
— Não me chame de Telemarketeiro – disse o Pálico com raiva.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Preciso encontrar Meg – disse Apolo não ligando para a raiva do espírito.
— Ah, você tem um corte enorme no couro cabeludo e está sangrando – disse o espírito preocupado.
— Eu não ligo. Onde fica o ninho dos mymerkos?
— Ah, era disso que estava falando – disse o espírito retorcendo as mãos vaporosas. – Paulie foi pra lá. O ninho é a única entrada.
— Do que?
— Do Bosque de Dodona.
Apolo quase teve um troço.
— Como o ninho leva ao bosque?
— Paulie não me explicou tudo – disse ele. – Tem uma parte muito densa da floresta que ninguém consegue entrar.
— Para que lado fica o ninho?
— Ao norte – disse Pete. – A uns oitocentos metros. Acho que você não está em condições, sua cabeça tá sangrando a beça.
— Não importa, a garota foi levada e precisamos ajudá-la.
— Você que sabe – disse o espírito. – A garota tem vinte e quatro horas, depois....
— Obrigado Pete – disse Apolo se virando.
— É melhor se curar primeiro. Desse jeito não ajudará a sua amiga – disse o espírito. – Ah, eu já ia esquecendo, o Paulie disse que viu três caras armados da cabeça aos pés andando por aqui. Eles também estavam procurando o bosque.
Apolo parou e se virou para o espírito.
— Como Paulie soube que eles estavam procurando?
— Ele os ouviu falar em latim.
Apolo estremeceu.
— Eles eram campistas?
— Não, eram adultos. Um deles era o líder. Os outros o chamaram de imperador.
A visão de Apolo escureceu e ele teve uma síncope e quase caiu. De repente, ele começou a entender algumas coisas. Um quebra-cabeça começou a se formar, Besta... Triunvirato S.A.... semideuses adultos desaparecidos.
— Preciso voltar – disse ele cambaleando. – Obrigado Pete.
Apolo vacilante voltou para junto das semideusas. Nina que já havia acordado estava sentada tomando néctar.
— Nina, que bom que acordou. Como se sente? – disse Apolo se agachando e quase caiu em cima dela.
— Oi! – disse Nina o aparando. – Eu estou bem, mas você não – disse ela fazendo-o se sentar –, sua cabeça está sangrando – disse ela o examinando. – Vamos fazer um curativo...
— Não temos tempo – disse ele se levantando. – Pete me disse que a entrada do bosque é no ninho dos mymerkos e Meg tem vinte e quatro horas antes que vire comida de formiga.
— Então temos que nos apressar – disse Nina -, mas Apolo você não me parece muito bem, está ficando pálido.
— Tem mais uma coisa – disse ele. – Três semideuses adultos que falam latim apareceram por aqui procurando o bosque – disse ele fazendo uma pausa. – O líder deles foi chamado de imperador. Sabem o que isso significa?
As meninas se entreolharam, mas foi Annabeth quem falou.
— Imperador – disse ela. – Isso quer dizer que esses três são os membros do Triunvirato. E um deles é um imperador romano.
— Mas qual? – disse Nina.
— Um que seja meu descendente – disse Apolo. – Temos que avisar Quiron.
— Então vamos logo – disse Annabeth.
— A Meg....
— Pete disse que ela tem vinte e quatro horas não é? – disse Nina. – Primeiro vamos cuidar desse seu ferimento, depois voltaremos para salvar a Meg.
Apolo resolveu não argumentar mais, estava muito fraco, poderia atrasar as meninas.
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Enquanto andava Apolo ficava sem forças as meninas o ajudavam, mas ele logo tropeçava. Até que não aguentou mais e se encostou em uma árvore e então ouviu uma voz bem conhecida: Continue andando Apolo, você não pode descansar aqui.
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As meninas se entreolharam.
— Isso não é bom, ele já tá delirando – disse Nina pegando na testa dele. – Ele não tem febre.
— Deve ser por causa da perda de sangue. Por isso ele está delirando – disse Annabeth.
Você amou todas as garotas — ela repreende. E todos os garotos também.
— Não como você! – ele grita. – Você foi o meu primeiro amor verdadeiro. Ó, Dafne!
— Dafne? – pergunta Nina.
— Era a ninfa que Apolo amou, mas não foi correspondido por causa de uma maldição de Eros – explicou Annabeth. – Apolo a perseguia todo o tempo até que ela pediu a Gaia que a ajudasse. Então, Gaia vendo seu desespero a transformou em uma árvore de louros.
Use minha coroa — disse ela — e se arrependa.
Apolo tentou se levantar. As meninas o ajudaram uma de cada lado.
Você não pode morrer aqui — sussurrou Dafne. — Você tem um trabalho a fazer. Salvar uma vida.
— Vamos Apolo, você consegue – disse Nina.
Apolo ouvia a voz de Nina longe, depois escuridão.
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Ele acordou com uma lambida áspera em seu rosto, cuspiu pelos que encostou em sua boca. Ele abre os olhos e se depara com um enorme leão de juba dourada.
— Acorde! – disse a voz de uma mulher que era muito familiar.
Apolo levanta a cabeça e nota um segundo leão sentado aos pés de uma mulher que usava óculos escuros. Era a mesma mulher dos seus sonhos.
— Reia!
— Paz meu neto. Não quero te chatear, mas precisamos conversar.
O leão se afastou e foi para junto de Reia. Apolo procurou pelas garotas, mas não as viu.
— Onde estão as meninas?
— Estamos aqui – disse Nina sentada ao lado de Annabeth. Ambas estavam comendo.
Nina se levanta e dá um pedaço do bolo de milho para ele. Apolo devorou o bolo, nem tinha percebido que estava com fome.
— Que bom que você está acordado – disse a mulher sorrindo. – Eu estava preocupada, cara.
— Onde você esteve por todos esses séculos?
— No norte do estado – disse ela coçando a orelha do leão. – Depois de Woodstock , eu abri um estúdio de artesanato.
— Isso foi nos anos 1960, século passado.
— Droga! Eu me perdi no tempo – disse ela. – Desde que me liberei daquele quadradão do Cronos que saí por aí pra curtir a vida, sacou?
— Ele... engoliu os filhos.
— Aquilo foi brabo, cara, por isso eu o abandonei. Criei Zeus numa comunidade de náiades e curetes. Com muito gérmen de trigo e néctar. O garoto cresceu forte e cheio de energia.
— Você me lembra Íris, ela virou uma vegana orgânica várias décadas atrás.
— Por falar em Íris – disse – ela é uma mensageira dos deuses, certo junto com Hérmes e aquela riponga liberal.... Joana D’Arc?
— Não tenho certeza sobre essa última.
— Enfim, as linhas de comunicação caíram, cara, nada funciona, tá tudo caótico.
— Sabemos disso, mas não sabemos por quê.
— São eles que estão fazendo isso.
— Quem?
— Os imperadores.
Apolo quase se engasgou com o bolo. De repente, não tinha mais fome. As meninas se aproximaram e se sentaram ao lado dele.
— Triunvirato S.A. – disse ele olhando para as meninas.
— É esse o novo complexo militar deles.
— Como eles voltaram?
— Eles nunca foram embora – explicou Reia. – Queriam se transformar em deuses. Desde antigamente eles têm se escondido, influenciando a história por trás dos panos. Estão entalados numa espécie de vida intermediária. Não podem morrer, mas também não vivem de verdade.
— Mas como a gente podia não saber sobre isso? – perguntou Apolo. – Somos deuses.
Reia gargalhou.
— Ah meu querido neto. Ser um deus alguma vez impediu alguém de ser burro?
— Ela tem razão – disse Annabeth olhando para Apolo.
Apolo se perguntou se a menina achava que ele era burro.
— Mas todos os imperadores romanos não podem ser imortais.
— Não, somente os mais notórios. Eles vivem na memória humana, cara, assim como nós.
— Mas como eles podem afetar nossas linhas de comunicação? Como podem ser tão poderosos? – perguntou Annabeth.
Reia olhou para a menina.
— Atena, não é?
Annabeth assente.
— Bem, querida eles tiveram séculos para planejar isso, esperaram pacientemente até Apolo ser mortal e então começar a se mover de fato.
— Como eles sabiam que Apolo ia se tornar mortal? – perguntou Annabeth.
— Eles usaram seu descendente romano, Octavian para fazer Apolo ajudá-lo – disse ela. – Com isso, você se deixou levar pela bajulação do garoto – disse ela se dirigindo à Apolo. - Por isso, Zeus não te perdoou e o transformou em mortal como das outras vezes.
— Eles estavam contando com isso – disse Nina. – Zeus fez exatamente o que eles queriam.
Reia olhou sobre os óculos para Nina e sorriu.
— Poseidon! – disse ela. – Você se parece com ele. Tem os olhos brilhantes vivazes dele. Aquele garoto levado....
— Reia! – chamou Apolo. – O Besta, ele é o líder?
- Pior que é. Ele tem a mente tão ruim quanto os outros, mas é o mais inteligente e mais estável, de um jeito sociopata e homicida. Você sabe quem ele é… quem ele era, certo?
— Pior que sei – disse Apolo. – Os imperadores controlam todos os oráculos?
— Estão trabalhando nisso. Píton tem Delfos, o que é um problema, você tem que começar a enfraquecê-los pelos oráculos menores, só então se fortalecer para enfrentar a cobra. E pra fazer isso, você precisa de uma fonte de profecias, um oráculo mais velho.
— Dodona, sua floresta sussurrante.
— Exato, mas você precisa protegê-la ou nosso futuro já era.
— Precisamos salvar a Meg dos mymerkos e salvar a floresta daquele louco.
— Você tem que perseverar, cara, nunca desista. Agora que você é mortal, você tem a urgência deles, coisa que os deuses não têm, por isso são uns acomodados.
Um dos leões rugiu.
— Tenho que cair fora, se eles me encontrarem vai ser feio. To fora do mapa muito tempo. Encontre Dodona, essa é sua primeira provação.
— E se o Besta encontrar primeiro?
— Ele já encontrou o portão, mas não vai conseguir abrir sem você e a garota.
— Como vou salvá-la?
— Aí já é problema seu. Primeiro se cure, depois vá salvá-la. Boa sorte crianças.
De repente a floresta desaparece e os três se veem no meio do acampamento assustando quem estava por ali. Então, Apolo desmaia.
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