Caçada

Explicações.


Ouvi um grito agudo e abri os olhos lentamente. Havia passado mais de 20 horas no mundo Inferior que a luz do sol me cegou um pouco, mas logo consegui fazê-los se ajustar para observar onde a Cadela havia nos levado.

Estávamos em uma clareira com tantas arvores e verde que me deixaram meio tonta. Quatro figuras estavam ali, nos observando com curiosidade e medo. Levou alguns segundo para que me reconhecessem.

- Graças a Zeus que você está bem! – gritou Thalia, correndo em minha direção enquanto eu tentava desmontar do Cão Infernal que logo desmaiou de cansaço.

- Pelos Deuses, pensávamos que não iriamos encontra-la. – disse Jessica, me ajudando a me firmar no chão. Sorri para aqueles rostos conhecidos.

- Estou bem. Só fui raptada para uma Reunião de Família. – falei, revirando os olhos e abraçando Thalia com força.

Nevasca começou a se enroscar em minhas pernas quando sentei para contar o que estava acontecendo com todo o mundo.

- Você está diferente, Penny. – disse Sebastian, me olhando com curiosidade.

- Com toda certeza. Ela está cheia de flores e com um cheiro maravilhoso de Jasmin. Está parecendo uma ninfa. – falou Bruna, brincando.

- Não é isso. – discordou Sebastian, mas ele apenas balançou a cabeça e se sentou, ficando calado nos próximos minutos.

- Então, o que precisamos saber? – perguntou Thalia.

- Só o de sempre. Titãs e Os Primordiais contra os outros Deuses. – respondi, fazendo um sinal com a mão de não ser uma coisa importante, mas logo mudei de posição.

- Os titãs e os primordiais querem acabar com toda a raça humana. Querem, como já fizeram uma vez, recomeçar do zero. Voltar com a era de Ouro. Então estão se empenhando muito para matar quaisquer mortal que for possível matar.

“Mas os Deuses não querem que isso aconteça por motivos óbvios: os mortais são, por assim dizer, as peças que fazem o relógio funcionarem.”

Bruna me olhou com certo olhar não lá muito amigável.

- E onde os semideuses entram nisso tudo? – perguntou ela.

- Não sei, mas... No tempo em que fiquei na Sala de Espelhos, eu sei toda a verdade, não só de mim mesma, mas do que está prestes a acontecer. Os deuses estão querendo usar os semideuses, para ajuda-los caso venha mesmo uma guerra por vir. – respondi. – O problema é que serão divididos todos os semideuses. Eles deverão escolher para quem sua lealdade é dirigida.

Dei um sorriso amargo ao me lembrar que Despina tinha dito que eu deveria mostrar lealdade a Caçada e para ela.

- Então eu terei que ficar com os primordiais e deixar vocês? – pergunto Bruna, me olhando com atenção.

- Sim e não. Você vai se essa for sua escolha. – respondi.

- E eu tenho escolhas?

- Ah sim, muitas. Você pode morrer, desistir da caçada, se juntar a Nyx e lutar contra suas antigas irmãs de caça....

- Espere, espere. – disse Thalia, erguendo os braços. – As Caçadoras podem acabar?

- Podem, mas há uma outra opção. – falei, com um sorriso meio cínico.

- Qual seria essa opção?

- Ora, essa chega a ser patética de tão obvia.

- Então me diga o obvio, Caçadora. – disse Sebastian, com sarcasmo.

Dei um enorme sorriso para ele.

- Podemos trabalhar junto e contra essa guerra. –respondi, ainda sorridente.

- Será que dá para explicar melhor? – pediu Jessica, se juntando mais de nós.

- Eu tenho um plano meio idiota, meio estupido, mas que pode dar certo. Preciso de vocês, por assim dizer.

- Pode contar conosco, Penélope. – disse Thalia.

- Certo. Precisamos de duas audiências. – falei, olhando atentamente para cada um dos presentes ali.

- Duas audiências? – perguntou Thalia.

- Sim. Duas. Uma com os deuses do olimpo, contando com os do mundo inferior e uma com os primordiais. – respondi.

- E por que?

- Por que vamos lutar em ambos os lados.

- Isso é loucura.

- Não é loucura, é só...

- É só...?

- É só uma maneira de tentar acabar com toda essa briga.

- Vamos salvar os mortais? – perguntou Sebastian.

Aquilo não tinha passado pela minha cabeça, mas ele era um semideus que morava com a mãe mortal. Tinha vivido com mortais até agora e poderia ter se relacionado com muitos. Ele não era como as Caçadoras, que deixaram qualquer parte mortal de si para trás, dando as costas para os homens. Não tínhamos muito contato com nossos parentes morais, ainda mais aqueles que já estavam mortos.

Mas eu precisava ser sincera com ele, precisava contar a verdade sobre os mortais. Dei um longo suspiro e me virei para Jessica.

- É a vez de o mar me ajudar. Jessica, seu pai pode nos transportar até Manhattan? – perguntei, mordendo os lábios e ignorando a pergunta de Sebastian.

-Claro. Na verdade, eu mesma posso nos transportar até lá. Posso manipular as correntezas e fazer vocês respirarem de baixo da água. – respondeu ela, já se levantando e indo arrumar suas coisas, com Cabeça de Algas em seus calcanhares.

Virei-me para Thalia, que estava ao meu lado.

- Seu pai aceitaria que tivéssemos uma audiência com ele?

- Acho que posso fazê-lo mudar de ideia, embora Hera esteja no meu caminho. –resmungou ela.

- Ótimo. Acho melhor falar com o Senhor Zeus primeiro.

Me levantei e fui até onde a Cadela Infernal estava e dei um pequeno sorriso para ela.

- Está cansada, né garota? – perguntei. Ela fez que sim com aquela enorme cabeça. Sua língua estava para fora e ela estava ofegante.

- Pode ficar aqui, se quiser. Se eu precisar da sua ajuda, eu lhe chamo. – falei, e me aproximei mais de sua orelha. – Ainda não tenho um nome para você, então eu a chamo por um assobio, ok? – sussurrei. Ela concordou novamente.

Dei um sorriso para ela e acariciei sua cabeça. Caminhei até onde a barraca de Thalia estava e fiquei parada, observando enquanto todos se aprontavam. Sebastian se aproximava de mim, olhando-me com raiva e com curiosidade.

- Você não respondeu minha pergunta. – acusou-me.

Suspirei e o fitei com certa pena. Virei as costas e fui saindo de fininho. Quando estava a alguns passos longe dele, respondi sua pergunta.

- Não existe uma segunda chance para os mortais. – sussurrei, voltando a dar as costas para ele e seguir meu caminho.