O cavaleiro ainda sentia pontadas na cabeça e um incômodo no abdômen.

— Acho que peguei leve demais com aquele velho. - Disse num sorriso.

Sua subida continuava e novamente sons de algo começavam a ser notados e quanto mais subia, mais audíveis ficavam. Talvez fosse algum tipo de música, mas o volume era tamanho que incomodava e ficou ainda mais alto quando o cavaleiro abriu a próxima porta.

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Diferente do terceiro andar, onde ele viu o mundo ao redor dele oscilar, mas seu corpo não ser afetado, agora ele sentia seu corpo passar por algo como se fosse uma densa parede, algo que caía sobre ele como se fosse para contê-lo, além de novamente o mundo a sua volta mudar, mas não como antes, em que as coisas apareciam aos poucos. Ele simplesmente passou pela porta e entrou em um lugar que, apesar de escuro, luzes piscavam e rodavam. O lugar não era pequeno, mas estava apertado com a quantidade de pessoas que ali estavam, todos jovens, ninguém aparentava ter mais de trinta anos. Alguns dançavam, outros ficam aos cantos com um copo de bebida nas mãos, casais se beijavam sem constrangimento e muitos grupos conversavam espalhados, ou ao menos tentavam, pois o volume da música fazia com que gritassem nos ouvidos um dos outros para que pudessem se ouvir.

Surpreso com o novo cenário, o cavaleiro não se moveu, não sabia o que fazer, por intuição tentou acumular energia para gerar a mesma explosão que havia feito para destruir a ultima ilusão, nada aconteceu, espantado o cavaleiro acabou olhando para o próprio corpo, sua armadura desaparecera e em seu lugar calças de um material azul escuro que ele não conhecia, uma jaqueta de couro com chamas desenhadas e botas que mal passavam de seu calcanhar o vestiam.

Ainda atordoado e sem saber o que fazer, o cavaleiro apenas continuava olhando suas roupas e sem reunir nem o mínimo de energia para acabar com aquela ilusão. De repente ele sente um empurrão em seu ombro que o faz voltar a prestar atenção ao seu redor, um jovem andando a passos desregulados havia tropeçado esbarrado nele e deixado cair um copo que o próprio segurava.

— Ei, olhe por onde anda, otário! – Berrou para o cavaleiro, que o ignorou e continuou sem se mexer.

— Eu estou falando com você, e é bom me responder, mané. –Continuou e, vendo que permaneceria sem resposta, puxou o ombro do cavaleiro.

O cavaleiro viu que aquele garoto estava querendo brigar, mas quando ele fechou o punho para acertá-lo, o garoto já havia tomado um forte soco no rosto e caído para o lado.

— Cuidado com seus modos garoto, este cara aqui é meu convidado. – Disse uma terceira figura. As pessoas ao redor deram espaço quando o garoto caiu, mas ao olharem quem o havia acertado apenas deram risada e continuaram a dançar ou viraram para continuarem a beber e tentar conversar. A figura usava um topete de uns quatro dedos de altura, uma jaqueta meio aberta e calça e botas de couro. – E então, cavaleiro, vamos para um lugar mais silencioso? – Disse, dando as costas para o cavaleiro e andando no meio da multidão. Vendo que esse o reconhecia, o cavaleiro o seguiu. Enquanto andava deu uma última olhada para trás para ver o jovem tentando se levantar e cair novamente, desta vez sem tentar voltar a ficar de pé.

O cavaleiro seguiu a figura até as escadas que subiam para uma cabine isolada no segundo andar. A porta era de vidro, fazendo possível ver que ali era uma sala com um pequeno balcão com bebidas presas à parede de trás, alguns banquinhos à frente dele e um sofá na parede adjacente. O homem abriu a porta e deixou que o cavaleiro entrasse primeiro. Este hesitou um segundo, mas por fim atravessou a porta, tendo novamente a sensação de tontura, mas desta vez sentindo todo o peso sobre seu corpo sumir. Ao olhar os arredores daquela pequena sala, esta simplesmente havia multiplicado cem vezes de tamanho. As paredes de vidros vistas de fora se transformaram em grandes paredes de pedra, colunas em paralelas se estendiam pelo salão, máquinas de ferro com quatro e outras com duas rodas estavam enfileiradas em uma das paredes, uma coleção de vários tipos de armas decorava a parede contrária e em frente a elas, uma grande cama, na qual parecia haver alguma coisa coberta pelos lençóis.

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O homem fechou a porta atrás de si e seguiu em direção ao balcão do outro lado do salão. Sua jaqueta havia sumido, deixando-o nu da cintura para cima. O cavaleiro, novamente de armadura, continuava seguindo-o.

— Hey, vocês aí!Tenho um convidado comigo, então saiam daqui! – Disse, olhando em direção à cama, enquanto se levantavam cinco lindas mulheres seminuas, catavam roupas por debaixo da cama e saíam correndo, enquanto ainda se vestiam, pela porta que ele e o cavaleiro acabaram de entrar.

O cavaleiro permaneceu em silêncio até chegarem ao balcão e assim ele ouvir:

— O que gostaria para beber, cavaleiro?

Parecia o mesmo déjà vu, bem, vejamos até onde esta conversa vai chegar. Pensou o cavaleiro. – Obrigado, mas não tenho sede.

- Não lhe perguntei se queria água. Julgue-se em uma taverna, cavaleiro, é bebida boa e para homens que lhe ofereço aqui.

- Agradeço, mas de qualquer forma, não, obrigado. Devo continuar em minha subida para falar co...

- Com minha mestra, sim eu já tenho ciência disso, não tenho nenhum problema com isso. Porém...

- Porém você quer algo, é o esperado.

- Esperto!Entenda meus motivos, se todos até agora "provaram" um pouco de você, nada mais justo que eu também o faça, correto? - Se abaixou para pegar algo abaixo do balcão.

- O que quer dizer com isso? - Tomou postura, se preparando para o que pudesse vir.

- O que eu estou querendo dizer é... - Pulou para cima do balcão e, com alguns dardos de aço,atirou-os na direção do cavaleiro, que já saltava para o lado para desviar.

- É isso que pretende?Tenta me matar ou me roubar a armadura como tentaram fazer seus irmãos? - O ar começava a esquentar.

- Oh não, não me entenda errado. Eu não quero sua armadura e como disse não tenho nada contra a sua missão. E além disso, os outros são apenas meio irmãos, logo você perceberá a diferença.

- Suas palavras ainda não fazem sentido. Diga logo: Por que me ataca?

- Ouvi falar de seus feitos e de sua rápida subida na hierarquia. Gostei de você, então antes de passar por mim, quero vencê-lo em combate singular. Quero ser conhecido como o homem que te derrotou. – Disse sorrindo e desembainhando uma espada que tirara de debaixo do balcão.

- Não vejo motivos para lutar com você.

- Mas eu vejo. O lugar em que vivemos tem um sistema de pirâmide, no qual o mais forte está mais alto, e com isso ele ganha mais status e poder. Eu mesmo estou em uma posição muito boa, entretanto, somente o cume é o limite, derrotando-o subirei ainda mais e com isso terei mais poder e influência.

- Pretende subir de posição me matando e tomando o que é meu?

- De jeito nenhum. O que é seu é por puro mérito e não pretendo tirar de você, assim como não está em meus planos matá-lo. Só vou derrotá-lo para subir mais um degrau, entende? – A espada, completamente prateada, cintilava com um brilho estranho e agora era empunhada na direção do cavaleiro.

- Bem, acho que não tenho escolha, não é?

- Por certo que não. Sempre possuo o que quero.

Dito isso, saltou desferindo um golpe de cima para baixo, mirando a cabeça do cavaleiro, que novamente voltou a dar mais dois passos para o lado, desviando da morte. Mas os ataques não cessavam, fintas para os lados e ataques de cima e para baixo se repetiam e se adaptavam de acordo com o ritmo que a batalha seguia, até que com o giro do corpo, um corte quase invisível de tão rápido finalmente raspou a armadura do cavaleiro.Com o impacto, o cavaleiro acabou batendo em um dos bancos e caindo junto a ele.

— Te peguei! – Disse o atacante, girando a espada e criando uma estocada de cima para baixo no peito do cavaleiro. O barulho de aço com aço ressoou por todo o andar. O que havia acontecido foi rápido demais para os olhos verem. Ao cair, o cavaleiro juntou as mãos criando um círculo de fogo, este que se transformou e, quando ele afastou as mãos, já segurava uma grande espada, assim bloqueando o golpe. – O quê? – Foi tudo que o atacante pensou antes de dar um salto para trás para desviar do contra-ataque do cavaleiro.

— Desse jeito você realmente vai acabar me vencendo, não posso deixar que isso aconteça. – Armado de sua espada, o cavaleiro agora estava em posição de combate.

— Finalmente vai levar isso a sério. – Em posição similar, o atacante firmou a empunhadura de sua espada, olhou para seu oponente e saltou para cima dele, voltando a desferir ataques em todas as direções.

Faíscas e fagulhas dançavam ao redor daqueles dois enquanto giravam e estocavam um ao outro. O cavaleiro deu um golpe tão possante que tudo que estava a um raio de dez metros automaticamente ardeu em chamas e foi impulsionado para os cantos do andar. O guerreiro de topete saltou, desviando do ataque e com um corte em diagonal rasgou o piso em que instantes antes o cavaleiro se posicionava. Ambos pegaram distância um do outro antes de saltar novamente em ataque. As espadas chocaram-se novamente e chamas contornavam o corpo de ambos antes que a onda de choque novamente os afastasse. O cavaleiro inclinou o corpo e avançou, procurando desferir um golpe de cima para baixo em seu adversário, mas antes que assim o fizesse, o oponente sorriu e guardou de volta a espada na bainha em sua cintura. O cavaleiro deslizou a ponta da espada no chão para deter o ataque.

— O quê? Por que guardou a espada no meio da luta? Desistiu do seu objetivo logo agora? – Perguntava o cavaleiro, sem entender o que havia acontecido.

Risos.

— Por que ri? Se eu não tivesse me contido teria feito seu corpo em dois. Ande! Volte a sacar sua espada! – Disse o cavaleiro com o semblante fechado.

— Finalmente perdeu a compostura. – Apenas disse o combatente, enquanto observava o rosto do cavaleiro, que alternava entre raiva e constrangimento. – E respondendo as suas perguntas, não, eu não desisti de meus “objetivos”, como você diz, mas esta luta está realmente ficando interessante e logo mais ambos acabaremos por lutar a sério, e neste momento será impossível assegurar que nenhum de nós não sairia morto daqui e ainda não é hora de um de nós morrer. Mas, gostei de ver a postura que você tomou no final, parando de ser um brinquedo de frases difíceis para ser o guerreiro que você realmente é. Não o conheço e não sei nada do seu passado, mas pelo que vi tenho uma única mensagem para passar a você, cavaleiro:Não tente ser alguém que você não é, aja sem arrependimentos e deixe claro o que você deseja.

A espada some em chamas do mesmo jeito que aparecera. O cavaleiro arregalou os olhos ao ouvir aquilo e depois baixou a cabeça, olhando o chão enquanto refletia sobre um passado muito distante.

— Por hora, nossa luta para por aqui, cavaleiro. Agora, caia fora de minha casa!Olhe o estrago que você fez a ela.

Voltando a olhar seu ex-inimigo, o cavaleiro sorri e diz:

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— Lembro que você também é culpado por metade deste estrago, mas não irei discutir com você, aceitarei a sugestão de continuar meu caminho. – Seguiu em direção a porta no fundo do salão.

— Caia fora, pois preciso beber muito agora! Hahahaha. – Disse, enquanto seguia em direção ao bar que de todo o resto foi o menos danificado.

O cavaleiro se aproximou da porta, mas antes de abri-la, se virou e perguntou:

– Você disse que deveria deixar meus desejos claros. Neste caso, acho que não entendi direito quais seriam os seus.

Pegando um copo que havia se rachado e o enchendo com alguma bebida escura, ele respondeu:

— Eu desejo tudo que possa existir.

O cavaleiro passou pela porta enquanto o homem tomava sua bebida.

Ambos estavam sorrindo naquele momento.