Causa Perdida?

Capítulo 30


– Pare.

Lily ergueu lentamente a cabeça, com os olhos meio arregalados, para ver James à sua frente, com uma expressão extremamente cansada.

– Por Merlin, pare de estudar, Lily.

– Como você me encontrou aqui? – ela quis saber, um pouco surpresa. James indicou os inúmeros livros que ela espalhara sobre uma mesa da biblioteca.

– Não foi tão difícil adivinhar o que você estava fazendo – ele deu um sorriso enviesado, assanhando os cabelos. – Há dias você não para de estudar, ruivinha.

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Não havia um tom de reclamação na voz dele, mas Lily se sentiu culpada. Por trás de tudo, ainda existia o James que perdera a mãe no recesso de Natal. Ela arrumou melhor os próprios cabelos no coque frouxo que sempre improvisava antes de estudar e ficou de pé.

– Tudo bem – falou, sorrindo. – Eu vou lhe dar a honra da minha companhia durante o jantar.

James deu um riso fraco. Lily percebeu as olheiras em seu rosto. Ele estava tão cansado ultimamente. Ela se aproximou, afastando os cabelos da testa de James, e ele continuou de olhos fechados, aproveitando o silêncio.

– Desculpe – Lily murmurou. – Os NIEM’s estão me enlouquecendo.

– Ainda faltam meses – James respondeu, abrindo os olhos. – Mas eu entendo – ele suspirou. – Vamos sair daqui?

O final de janeiro não estava prometendo uma primavera ensolarada. Na verdade, as temperaturas continuavam baixas e Lily suspeitava que aquela névoa esquisita de que ouvira os trouxas reclamando no Natal jamais desapareceria. Pelo visto, a influência de Voldemort estava maior do que o imaginado.

– Ouvi dizer que Marlene e McLaggen brigaram – James começou. Lily suspirou.

– É – confirmou. – Ela estava furiosa durante o almoço.

– Segundo o Peter me contou, eles brigaram por causa do Almofadinhas – ela riu da notável incompreensão no rosto de James.

– Não entendo como vocês ainda se espantam tanto com aqueles dois... ou três... enfim.

– Bem, a Marlene não estava nem falando com o Almofadinhas, Lily.

– Ah, mas ele mereceu.

– Certo, mas então por que ela comprou essa briga? – Lily encolheu os ombros.

– Todo mundo sabe a resposta para isso, James: a Lene está caidinha pelo Sirius. Ela detesta quando o McLaggen fala mal dele. E é claro que o McLaggen se morde de ciúmes.

– Eu só acho que o Sirius também devia saber disso – Lily fez uma careta. – Ei, não pense que ele já se perdoou pelo que disse a Lene antes do Natal. E ele não percebe essas coisas tão facilmente. Provavelmente ainda acha que a Marlene nunca vai perdoá-lo.

– Eles vão se entender – Lily o tranquilizou. – Se até McLaggen consegue ver que está ficando para trás, o Sirius vai perceber também. Mas chega de fofocar! Não foi para falar disso que você me procurou, foi? – ela se agarrou ao braço dele. James vacilou.

– É tão estranho assim que eu queira passar um tempo com minha ruiva favorita?! – eles pararam de andar. O corredor estava deserto.

– Você está tão cansado ultimamente... – Lily afagou o rosto dele. – E tive a impressão de que você estava no mundo da lua hoje de manhã, James.

– É, alguns dias são mais difíceis... – ele suspirou. – Nós não precisamos falar sobre isso. Eu só... bem...

– Você pode me falar qualquer coisa. Se quiser, é claro.

– Eu só... – ele desviou o olhar do dela. – Eu só queria que você a tivesse conhecido. Minha mãe, quero dizer. Ela estava louca para saber quem era a garota que tinha colocado juízo na minha cabeça – Lily sorriu, mas sentiu os olhos ardendo um pouco.

– Teria sido uma honra – disse com sinceridade. James fungou, sem jeito.

– E tenho medo do que pode acontecer com meu pai. Ele está velho e triste e...

– Daqui a pouco nós fazemos os NIEM’s e voltamos para casa. Então eu vou te ajudar a ficar de olho nele – James a encarou.

– Tá falando sério, Lily?

– Claro que sim. Quantas vezes preciso repetir que é só você me avisar do que eu posso ajudar, James?

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A expressão dela era suave. James concordou com a cabeça. Quando Lily tocou seu rosto outra vez, ele desviou o olhar e fixou a atenção em observar o piso. Foi quando ela o abraçou.

De início, James apenas escondeu o rosto na curva do pescoço de Lily. Então, alguns segundos depois, suas mãos trêmulas tocaram as costas dela. Mesmo com as panturrilhas doloridas pelo esforço de ficar na ponta dos pés, Lily não o largou.

– Eu sinto tanta falta dela... – James confessou baixinho. – E se eu não souber me virar? – Lily o abraçou com mais força.

– Mas você não está sozinho, James. Você sempre tem os seus amigos e... bem, você agora tem a mim também, não é?

Ele finalmente retribuiu de verdade o abraço.

– Obrigado – sussurrou. – Você tem sido minha ponte para o mundo real, Lily.

– É claro que sim – ela disse, mexendo nos cabelos dele. – Eu ainda sou a garota que colocou juízo na sua cabeça.

James deu um risinho e a soltou pouco depois. Então, puxou Lily pela mão até uma escadaria ali perto. Eles sentaram lado a lado, James apoiando a cabeça no ombro dela, e não disseram nada. Lily começou a afagar os cabelos dele, fingindo não perceber que a perna de seus óculos estava espetando seu ombro.

Eles deixaram o tempo passar ali, no maior silêncio.

**********************************************************************

– Por minha causa?! – espantou-se Sirius. Frank assentiu nervosamente.

– É, mas, por favor, Sirius, não diga às garotas que eu...

– Mas por que ela me defenderia para o McLaggen?

– Eu não sei, cara. Eu só... bem, só repeti o que a Alice me falou há uns dias porque pareceu importante para você. Mas, Sirius, se elas descobrirem que...

– Isso não faz sentido – Sirius falou, mais para si do que para Frank. Ele olhou para baixo com uma expressão muito concentrada. Frank pigarreou antes de chama-lo outra vez:

– Sirius? Cara, você ainda está aí?

– Claro que sim – Sirius lhe lançou um olhar confuso. – Não vou contar nada às garotas, mas... você tem certeza de que a Marlene me defendeu? – Frank suspirou, aliviado.

– Foi o que a Lice me falou.

Sirius olhou para o outro lado do salão comunal, onde Marlene estava esparramada numa poltrona, com um livro no colo enquanto contemplava o fogo crepitante na lareira. Imaginou se, por acaso, ela o tinha perdoado. Parte sua estava certa de que um pedido de desculpas tão murcho e desajeitado quanto o que ele fizera jamais seria aceito. Por outro lado, a carranca de Marlene vinha diminuindo há uns dias. Ela continuava sem puxar conversa e ainda parecia chateada quando os dois se esbarravam em algum corredor, mas Sirius não enxergava mais a mágoa de antes.

O pensamento dele foi interrompido pela chegada de McLaggen ao salão comunal. Sirius viu quando ele caminhou até Marlene e cruzou os braços sobre o peito, parando junto à namorada. Marlene, porém, apenas folheou o livro que carregava.

McLaggen falou alguma coisa, mas não houve resposta. Como ele insistiu, Marlene finalmente o encarou e retrucou com uma expressão irritada antes de se levantar, como se fosse para o dormitório. Foi então que McLaggen a segurou pelo braço e a puxou de volta. Marlene tentou empurrá-lo, mas ele não a soltou.

Foi tudo muito rápido. Num instante, eles estavam apenas discutindo, enquanto Marlene exigia que McLaggen soltasse seu braço. No outro, Sirius tinha atravessado a sala e encostado a varinha na têmpora esquerda dele.

– Aperte mais – falou com firmeza. – Aperte o braço dela só mais um pouquinho, McLaggen, e eu juro que te transformo numa gelatina bem gosmenta.

– Não se mete, Black! – rosnou McLaggen. Marlene os observava, chocada.

– Sirius, você não entendeu...

– Solte a Marlene – ele continuou. – Vamos, McLaggen. Você já deve ter aprendido que, quando elas ignoram a gente é porque não estão interessadas.

McLaggen fuzilou Sirius com o olhar. Ele soltou o braço de Marlene e empurrou a mão de Sirius para longe, virando-se para ele.

– Quem você pensa que é, Black?! Ela nem está falando com você há semanas! Pare de agir como se não soubesse o que está acontecendo!

– Michael! – Marlene interveio. – Vamos conversar em outro lugar. Não é hora para isso.

– Então agora você quer conversar comigo?! – ele estava furioso. – Por quê?! Ficou com medo de eu azarar o seu amiguinho?!

– Não fale besteira, McLaggen – Sirius retrucou. – Nós dois sabemos que eu ganharia esse duelo fácil, só para praticar minhas azarações favoritas em você.

Quando ele fez menção de sacar a varinha também, alguém gritou:

– Pelas calças de Merlin! O que está acontecendo aqui?!

Sirius espiou por cima do próprio ombro e viu James, Lily e Remo parados junto ao buraco do retrato. Todos que estavam no salão comunal tinham se organizado numa espécie de círculo gigante para observar a cena e agora tinham aberto um pequeno espaço para que os dois monitores-chefes passassem.

– Sirius, o que diabos você pensa que está fazendo?! – Remo, lívido de horror, falou primeiro. Sirius não se abalou.

– Não foi nada. Eu só aconselhei amigavelmente o McLaggen a não ser um idiota – ele se virou para McLaggen.

– Sirius, baixe a varinha – Lily falou com firmeza. Ela estava usando aquela voz de monitora que Sirius odiara por anos a fio.

– Claro, assim que o McLaggen se afastar da Marlene.

Foi a gota d’água.

– Você é maluco, Black! – indignou-se McLaggen. – A garota é minha namorada, ok?! Aceite isso! Eu tenho o direito de falar com ela.

Faíscas escaparam da varinha de Sirius, que continuava apontada para McLaggen.

– Parem com isso! – James se aproximou do amigo, mas Sirius parecia irredutível.

– Pontas, ele a segurou à força...

– Michael não fez nada! – exasperou-se Marlene. – Pelas calças de Merlin, pare com isso, Sirius. Foi um exagero seu – ele a olhou, incrédulo, enquanto finalmente abaixava a varinha.

– Mas ele...

– Ele não fez nada para provocar isso – disse uma garota de cabelos escuros. Era Melanie, olhando diretamente para James. – McLaggen e Marlene estavam começando uma discussão quando o Sirius correu para interromper. Ninguém precisava ter sacado as varinhas.

– Ele agrediu a Marlene! – esbravejou Sirius. – Eu só quis defende-la!

– Mas eu não estava em perigo algum – Marlene rebateu. – E sei me defender. Nós nem estávamos discutindo de verdade ainda, Sirius.

– Vocês não vão fazer nada?! – McLaggen desafiou Lily e James.

– Claro que vamos – James respondeu prontamente. Ele tomou a frente de Sirius e começou a afastá-lo de McLaggen. – Chega, Sirius.

– Mas, Pontas... – ele olhou para Marlene, arrasado. – Diga a eles! – Sirius pediu. – Diga que você não queria falar com o McLaggen, que ele me ameaçou também!

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Marlene balançou a cabeça. Ela parecia mais decepcionada do que Sirius jamais vira.

– Ele é louco – McLaggen cuspiu as palavras para Sirius. – Louco!

Sirius ainda tentou avançar para ele, mas James o conteve.

– Já chega, vocês dois! – Lily interveio. – Sirius, detenção hoje à noite, na sala dos troféus. McLaggen, não me importa quantos treinos ou jogos importantes de quadribol você tenha nos próximos dias, detenção também! James vai pensar em algo para você se ocupar.

– Eu?! – protestou McLaggen.

– Michael, por favor – Marlene pediu. Ele a olhou, revoltado.

– Eu fui a vítima! – Sirius abriu a boca para rebater, mas James saiu na frente.

– Cale a boca, Almofadinhas.

– Mas eu...

– Sirius, sai daí – era Frank. – Você está nervoso demais. Não faça outra besteira.

Atordoado, Sirius olhou para todos os lados em busca de apoio. Quando seu olhar encontrou o de Lily, ele se sentiu horrivelmente traído. Outra detenção. E dessa vez ele nem merecia.

– O que vocês ainda estão olhando?! – Lily perguntou ao aglomerado de alunos. – Não tem mais nada para ver aqui. O show acabou, todo mundo circulando!

– Almofadinhas – Remo se aproximou dos amigos com uma expressão sensata que Sirius detestava em momentos de raiva.

– Ah, calem a boca! – ele despejou, empurrando James para longe.

E se afastou bruscamente, saindo do salão comunal.

**********************************************************************

Marlene sentou na própria cama, sob o olhar incrédulo de Lily.

– Eu sei – ela começou, agitada. – Você já acha que foi tudo minha culpa.

– Eu não acho nada – Lily respondeu calmamente. – Mas o que aconteceu, afinal?

– Também não entendi – Marlene se deitou de costas e fechou os olhos. – Sirius simplesmente perdeu a cabeça e se materializou perto do Michael, decidido a duelar.

– Mas por que ele achou que o McLaggen estava te machucando?

– Michael queria falar comigo. Eu não queria falar com ele. Tentei vir para o dormitório, mas ele me puxou pelo braço. Mandei ele soltar. Nada. Próxima coisa que sei é que o Sirius apareceu do nosso lado, com a varinha em punho.

Ela reviu mentalmente o olhar de Sirius quando James o afastou. Sentiu uma revirada incômoda no estômago e abriu os olhos para tentar se distrair. Deu de cara com Lily e seu sorriso de ternura.

– Você é louca por ele.

– O quê?!

– Admita, McKinnon, Sirius Black não sai mais da sua cabeça.

– Você não entende... – Lily sorriu mais, balançando a cabeça.

– Claro que eu entendo. Você e McLaggen terminaram por causa disso...

– Nós não terminamos – interveio Marlene. – Nós demos um tempo há alguns dias e eu estou pensando em não reatar mais...

– Você mesma admitiu que não estava dando certo! – Lily insistiu. – E agora os dois estão simplesmente brigando no meio da escola por sua causa – Marlene enterrou o rosto nas mãos, frustrada.

– Eu sei que a culpa é toda minha. Mas não entendo por que o Sirius fez uma merda dessas!

– Ah, Lene, pare com isso. Sirius quase azarou um cara só para defender sua honra. Eu aposto que você já o perdoou.

– Ele agiu feito um maluco – ela resmungou.

– Lene...

– E, em minha defesa, ele também já tinha se desculpado antes – Lily revirou os olhos, impaciente.

– Você já sabe como o Sirius se sente, então. Agora é só admitir que você sente o mesmo.

Não houve resposta alguma. Lily esperou vários minutos, até Marlene finalmente se sentar outra vez sobre a cama e informar:

– Eu já volto.

**********************************************************************

Durante o resto do dia, Sirius não se atreveu a voltar para a Torre da Grifinória. Ele sabia que Lily o puniria por faltar à detenção, mas simplesmente não estava com cabeça para limpar troféus a noite inteira. Em vez disso, ele preferiu perambular pelos terrenos de Hogwarts até que chegasse a hora do jantar e estivessem todos distraídos no Salão Principal.

– Quem está evitando quem agora?

Sirius olhou para o lado, onde Marlene estava em pé, olhando diretamente para ele. A expressão dela não era das mais felizes.

– Como você me achou? – quis saber.

– Esse é o meu lugar, Black. Fui eu que lhe mostrei essa janela, lembra?

Eles estavam numa escadaria da Torre Norte, pouco antes do trecho onde ficava o quadro do cavaleiro gorducho. Sirius odiava o tal cavaleiro, mas, desde que Marlene lhe mostrara a vista que se tinha dos terrenos de Hogwarts a partir daquele ponto do castelo, ele frequentava o lugar com alguma regularidade.

Ele não se atreveu a responder. Parecia no mínimo suspeito que ele brigasse com McLaggen, desaparecesse pelo resto do dia e, então surgisse justo ali, no lugar aonde Marlene o levara nos dias em que o vira mais abatido por conta de Régulo.

– Então não tem nada que você queira me dizer? – ela recomeçou.

– Não venha me cobrar isso agora – Sirius protestou. – Foi você quem fugiu de mim desde o Natal.

– Ah, pare com isso! – a voz dela tremeu um pouco e Sirius começou a se preocupar com o que viria a seguir. Mesmo assim, ele continuou:

– Parar o quê?!

– Pare com isso, Sirius. Pare de agir como... como se você não fosse parte do problema! O que foi aquilo com o Michael? O que você quer de mim?!

– Se você está com tanta raiva de mim, por que me procurou?! – ele retrucou, magoado. – Vai atrás do seu namorado. Já que você se irrita até quando eu tento te defender...

– Ele não é mais meu namorado – Marlene corou um pouco, pensando no que Michael dissera quando ela terminara o namoro, horas antes: “você vai mesmo defender esse lunático?!”. – Nós tínhamos dado um tempo no começo da semana, mas eu acabei tudo ainda hoje.

– Genial.

Sirius se amaldiçoou por ter sentindo aquela batida mais forte do próprio coração. Não queria se importar tanto assim.

– Você não é assim – Marlene recomeçou. – Esse cara frio e... indiferente... esse não é você, Sirius.

– Você costumava me chamar de Black – ele deixou escapar uma nota de cobrança. Marlene sorriu.

– Você se importa.

– Marlene, pare de falar coisas sem sentido – bufou.

– Você quis me defender – ela explicou. – Claro que exagerou um pouco, mas... – a paciência de Sirius se esvaiu.

– O que você quer que eu diga?! – o rosto dele ardeu de vergonha. – Não vou pedir desculpas ao McLaggen. Tudo bem que eu fui um idiota, já entendi isso, não preciso que fiquem me lembrando. Mesmo assim, você não precisava defender o McLaggen. Já sei que mereci os dias em que você me ignorou também, ok?! Mas, se até a Jenna me trocou tão fácil, eu deveria esperar que o ano seria uma droga.

Marlene o observou, perplexa. Os boatos sobre Jenna estar namorando um monitor da Corvinal tinham se espalhado nos últimos dois dias, embora não houvesse qualquer confirmação. Ela só não sabia que Sirius estava tão abalado. Em sua opinião, nada disso tinha a ver com Jenna.

– Eu pedi desculpas – Sirius murmurou após um tempo, olhando para a janela.

– E eu desculpei – Marlene admitiu. Ele arregalou um pouco os olhos para ela. Em meio à confusão de informações, ela fez menção de se afastar.

– Espere – Sirius pediu, com uma expressão subitamente firme. Quando Marlene se virou para olhá-lo, ele a abraçou.

Ela retribuiu o abraço quase sem perceber. Suas mãos agarraram com força as costas de Sirius e ele escondeu o rosto no ombro dela, inalando seu cheiro. Mentalmente, Sirius admitiu o quanto sentira falta dela, o quando desejara ter alguém para conversar sobre tudo o que o preocupava ultimamente.

– Marlene, eu...

– Eu gosto de você, Sirius Black – ela interrompeu, baixinho. – Você sabe...

Sirius sorriu, certo de que nunca precisaria larga-la. Contudo, Marlene começou a se afastar pouco depois de ter falado.

– Amigos de novo? – ela perguntou. Ele engoliu em seco. Era muito cedo para exigir qualquer outra coisa dela?

– Amigos – Sirius concordou. – Até porque você é minha melhor amiga – Marlene sorriu, sem jeito.

– Eu devia voltar – ela disse enfim. – Você estava todo pensativo aí...

Sirius assentiu silenciosamente, só para não pressioná-la. Marlene arrumou os cabelos com as mãos, daquele jeito que ele sempre achara extremamente charmoso, então ela acrescentou:

– Ah, Lily disse que você pode cumprir a detenção amanhã, mas que, se você faltar, vai ficar de detenção o ano inteiro.

Pela primeira vez, eles sorriram de verdade. Então, Marlene se retirou e Sirius ficou observando a silhueta dela descer a escada, ainda com os últimos vestígios do perfume de Marlene enchendo seus pulmões.

**********************************************************************

Quando anunciaram que haveria uma visita a Hogsmeade no Dia dos Namorados, Lily se sentiu a mais boba das criaturas, sorrindo e sentindo o coração acelerar só de imaginar que teria outro encontro oficial com James. Isso, é claro, se ele conseguisse pensar em alguma coisa além da final da Copa de Quadribol.

– Grifinória e Sonserina! – ele repetia o tempo todo. – E os dois times estão invictos!

Não que Lily não se importasse com o possível tricampeonato de James como capitão do time grifinório, mas, às vezes, ela desejava que ele se importasse com algo mais desesperador. Os NIEM’s, por exemplo.

Ainda assim, era reconfortante saber que a sombra da morte da sra. Potter estava se afastando do semblante de James. Nos últimos dias, ele estava enérgico, despachando ordens e incentivos para os colegas de time que encontrava pelos corredores. Em grande parte, Lily era grata aos alunos da Sonserina, cuja torcida contra a Grifinória só parecia inflamar ainda mais o ânimo de James.

Por causa de tudo isso, ela não se surpreendeu quando, numa noite chuvosa de fevereiro, o time da Grifinória entrou aos tropeços no salão comunal. Adams, o batedor, vinha à frente do grupo, correndo com os olhos arregalados e os cabelos desgrenhados.

– Evans! O James pediu que você o encontrasse na ala hospitalar.

Lily quase pulou do sofá. Espiando além do ombro de Adams, ela viu Guga Jones brigando com McLaggen. O time não estava completo.

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– Ala hospitalar?! – repetiu, espantada.

– É... – Adams olhou para trás em busca de apoio. – Será que alguém pode me dar uma ajudinha aqui?!

– Foi a Marlene! – Guga falou, zangada. – McLaggen a derrubou da vassoura! – Lily arregalou os olhos.

– Alto lá! – protestou McLaggen. – Foi o seu balaço que rachou o tornozelo da garota.

– Do que vocês estão falando? – a voz de Lily falhou. Mil imagens apavorantes invadiram sua mente enquanto ela pensava em cada história sobre contusões gravíssimas em jogos de quadribol.

– Parem com isso! – interveio Eric Martin, um dos artilheiros. – Evans, o James quer que você vá à ala hospitalar para falar com a Lene. Ele também pediu que você chamasse aquela outra amiga de vocês, a namorada do Longbothom.

– Não foi nada sério – continuou Adams –, mas ela estava um pouco nervosa quando saiu do campo.

– É claro que ela estava nervosa! – indignou-se Lily. Ela fulminou McLaggen com o olhar. – Se isso foi sua culpa...

– Eu não fiz nada – ele disse com firmeza. – Não sou desse tipo.

– Ah, por favor, Michael! – a outra artilheira, cujo nome Lily sempre esquecia, finalmente se manifestou. – Se vocês não estivessem batendo boca, o balaço não teria acertado ninguém.

Preocupada, Lily desistiu de ouvi-los discutir. Ela correu até o dormitório feminino e arrastou Alice consigo durante todo o caminho até a ala hospitalar. Ignorou os comentários que os jogadores fizeram quando as viram passar. Ela não queria nem imaginar o que faria com McLageen se fosse tudo realmente culpa dele.

– Não precisa ficar tão nervosa – Alice tentou tranquilizá-la. – Seja o que for, madame Pomfrey com certeza pode consertar.

Minutos depois, elas alcançaram a ala hospitalar. Entraram às pressas e viram, na terceira cama, a forma de Marlene deitada de barriga para cima, com James e Sirius em pé ao lado de sua cama. Madame Pomfrey estava correndo pela sala, resmungando.

– Graças a Merlin! – James exclamou, caminhando até as garotas para recebê-las. Lily e e Alice nem responderam.

– O que aconteceu? – dispararam em uníssono.

– McLaggen e Marlene se desentenderam durante o treino e começaram a brigar. Marlene se distraiu, os batedores estavam por perto... – James fez uma careta. – Não teve como evitar.

– Sirius, como você veio parar aqui? – Alice quis saber.

Contudo, elas agora tinham alcançado a cama e a visão de Marlene pálida e desgrenhada, com as roupas cobertas de lama, roubou a fala das duas. Ela estava encharcada, o rosto contorcido de dor enquanto gemia baixinho. Sua mão agarrara a de Sirius com força o bastante para que ele mal se movesse.

– Meu Deus, Lene! – Lily exclamou baixinho. – Como você foi se machucar tanto?

– Não sejam tão dramáticos – madame Pomfrey se intrometeu. – Ela vai ficar bem. Foi só um tornozelo quebrado.

– E algumas costelas – James retrucou.

– O quê?! – dispararam Alice e Lily.

James corou um pouco, assanhando desajeitadamente os cabelos. Lily olhou para Sirius, na esperança de uma explicação, mas ele estava concentrado demais em retribuir a pressão que Marlene fazia em sua mão. Aceitando que ninguém responderia nada tão cedo, Lily também segurou uma mão da amiga. Sentiu os dedos de Marlene apertando os seus com força. Nem sabia se o fato de ela estar acordada era uma coisa boa. Provavelmente, não.

– Não podemos fazer nada em relação à dor? – indagou Alice, afastando umas mechas escuras do rosto suado da amiga. Com os dentes cerrados, Marlene deixou escapar um gemido.

– Estou providenciando – disse madame Pomfrey. – Mas eu tinha que verificar os machucados antes.

Pela primeira vez, Lily se deu conta de que, do outro lado da cama, a mão de Sirius estava com as bordas vermelhas e os dedos descorados. Era como se Marlene estivesse disposta a esmagar os ossos dele.

– Pronto! – madame Pomfrey abriu caminho, parando ao lado de Sirius com um frasco na mão. – Sei que está difícil, Srta. McKinnon, mas tente beber um pouco. Vai ajudar com a dor.

Marlene, que Lily ainda não vira abrir os olhos, balançou a cabeça.

– Não dá para fazer isso com um feitiço ou coisa assim? – Sirius finalmente falou.

– Não me diga como fazer meu trabalho, Sr. Black – madame Pomfrey falou friamente. – Se fosse possível, sua amiga não estaria assim – Lily interveio:

– Vamos, Lene, vai ser bem rápido!

James e Alice também tentaram umas frases de apoio. Lily sentiu a mão de Marlene esmagando a sua e tentou retribuir o aperto, para que a amiga soubesse que não estava sozinha. Então, Marlene, que nunca perdia a pose, soltou um urro de dor e deixou que madame Pomfrey virasse o conteúdo do frasco em sua boca.

Ela fez um esforço para engolir e Lily pensou que estava prestes a berrar também, por causa da pressão insuportável de Marlene em sua mão. Então, o corpo da amiga começou lentamente a relaxar e seus dedos afrouxaram junto aos de Lily. Marlene estava ofegante, mas sua expressão suavizou e, à medida que seus músculos ficavam menos tensos, todos ao redor se acalmaram um pouco. James suspirou, aliviado.

– Graças a Deus – ele murmurou, escondendo o rosto nas mãos.

– Minha cabeça está pesada – disse Marlene inesperadamente.

– É normal – madame Pomfrey respondeu. – A poção vai ajudar com a dor e também vai lhe dar um pouco de sono – ela encheu uma pequena taça com um líquido que Lily reconheceu facilmente.

– Esquelesce? – indagou.

– Exatamente. Eu já consertei as fraturas, mas não podemos arriscar. Senhorita, McKinnon, preciso que beba um pouco disso.

Por um segundo, todos se entreolharam, temendo que os gritos de dor recomeçassem, mas, dessa vez, Marlene ergueu a cabeça sem problemas e bebeu todo o Esquelesce da taça. Ela fez uma careta.

– O gosto é horrível! – reclamou.

– Mas o efeito compensa tudo – madame Pomfrey falou despreocupadamente. Ela olhou para os quatro visitantes. – Agora, eu acho melhor vocês voltarem aos dormitórios enquanto eu me encarrego do trabalho aqui. Está ficando tarde e a amiga de vocês precisa descansar.

– Nós podemos esperar até ela adormecer – Alice sugeriu gentilmente. Madame Pomfrey pareceu horrorizada.

– Nada disso! Já tem gente demais enchendo minha enfermaria. Andem, todos de volta para a Torre da Grifinória! O horário de visitas acabou.

Os quatro imediatamente começaram a protestar. Foi Marlene quem os interrompeu:

– Eu sei que vocês me amam, mas tentem não surtar por isso.

– Você já deve estar muito melhor se pode se gabar desse jeito – Alice rebateu, emburrada. Marlene apenas sorriu. Era bom vê-la sorrindo outra vez.

– Eu deveria esperar um pouco – disse James. – Sou o capitão do time e...

– O time! – exclamou Marlene, subitamente preocupada. – Eu vou poder jogar a final da Taça de Quadribol, não vou?

– Por Merlin! – desesperou-se Lily. – Será possível que vocês só pensam em quadribol?!

– Estão vendo? – madame Pomfrey falou. – Vocês fazem barulho demais.

– Mas...

– Todos saindo!

Contrariada, Lily olhou para Marlene. Ela finalmente tinha aberto os olhos de verdade e eles estavam cansados, sem o brilho de castanho vivo que lhes era tão característico. As duas se entreolharam por uns segundos, até Lily se manifestar:

– Lene, você está se sentindo bem?

– “Bem” é uma expressão muito forte, mas eu estou melhor. Só preciso dormir um pouco.

Lily e Alice trocaram um olhar e assentiram.

– Bom, então nós vamos lhe deixar descansar – Alice falou.

– Certo... – James concordou, ainda com alguma relutância. – Vamos, Almofadinhas?

Sirius e Marlene se olharam. Lily nunca os tinha visto interagindo assim. As feições de Sirius ainda estavam contraídas de preocupação e sua mão, Lily ficou surpresa quando viu, ainda segurava a de Marlene.

– Obrigada, pessoal – ela falou, olhando para James e depois para as garotas.

– Nós já vamos – Lily informou. – Mas prometa que você vai se cuidar, Lene – a outra sorriu.

– Claro que vou. Eu sempre me cuido – piscou um olho.

– Nós voltamos amanhã – James garantiu.

– É – Alice apoiou. – Vamos trazer dever de casa e tudo o mais.

– Merlin! – riu-se Marlene. – Eu vou sobreviver, galera. Vocês é que precisam relaxar um pouco.

Houve um breve silêncio, que madame Pomfrey interrompeu com um pigarro impaciente.

– Vamos nessa, então – Sirius disse enfim.

Ele se inclinou e beijou o topo da cabeça de Marlene. Sua mão finalmente soltou a dela. Lily o viu colocar os punhos dentro dos bolsos da calça, olhando para a porta como se precisasse se convencer a sair dali.

Os outros três também se despediram e todos saíram juntos da ala hospitalar. Lily e Alice lançaram um último olhar para Marlene quando já estavam perto da porta. A amiga olhou também, tentando sorrir para tranquilizá-las. Lily e Alice retribuíram o sorriso.

– Um dia ela ainda nos mata com um susto – Alice murmurou quando fechou a porta atrás de si. Lily assentiu.

– Eu detesto ter de admitir que concordo.