– Lily, eu não estou caduca ainda, ok?! Sei muito bem o que eu vi.

– Mas o Remo não pode ter passado no jardim, Claire. Ele ainda está na ala hospitalar.

– Eu tenho certeza que era ele!

– Mas nós estávamos na aula, numa sala bem alta...

– Fala sério, Lily! Quem mais tem aquela postura viciosa do Remo?! – as duas se encararam por um tempo.

A última aula da tarde tinha acabado há pouco e Claire estava decidida a procurar por Remo nos jardins.

– Isso é uma bobagem – Lily insistiu. – Com a chuva que está lá fora...

– Então eu vou à ala hospitalar – a outra resolveu.

– Você sabe que não pode...

– O que é que você quer me dizer, Lily? Porque eu estou começando a achar que vocês estão escondendo alguma coisa.

– Que é isso, Claire! Eu já te expliquei que foi culpa do Sirius...

– Como sempre, aliás – interrompeu uma voz atrás delas. – Se as senhoritas continuarem chamando meu nome em vão, eu serei forçado a reclamar meus direitos.

– Bom, foi você quem fez a maior bagunça na ala hospitalar e acabou impedindo o Remo de receber visitas – retrucou Lily.

– Só para constar, o Aluado já teve alta.

– Já? – manifestou-se Claire.

– Já – Sirius repetiu. – Mas ele disse que não pretende sair do dormitório tão cedo.

– O quê?! Isso não faz o menor sentido – ela protestou. Sirius encolheu os ombros.

– Diga isso ao Aluado.

Em resposta, Claire lhe lançou um olhar muito sério e, em seguida, se retirou. Lily soltou um suspiro.

– Essa foi por pouco – disse Sirius.

– Por muito pouco – ela concordou. – Não quero continuar mentindo para a Claire – lamentou-se.

– É só até a ficha do Aluado cair de vez – ele a consolou. – Até lá, pense que nós não temos escolha.

Houve uma breve pausa. Lily suspirou.

– Falando em não ter escolha, você está lembrado que tem detenção?

– Quê?! – indignou-se Sirius. – Eu acabei de salvar sua pele pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas...

– Sirius – ela censurou.

– Lily, querida, eu não posso cumprir detenção hoje – abaixou a voz para completar: – Ainda faltam seis noites do ciclo – isso a preocupou.

– Vocês não estão pensando mesmo em continuar com isso, estão? É insano!

– Nós fizemos um acordo entre Marotos, Lily. Nós temos que ir.

– É perigoso!

– Bem, diga isso ao seu veado heroico. Enquanto nós falamos, ele está se preparando para sair pela passagem secreta.

– Por todos os penicos de Merlin, o que vocês têm na cabeça?!

– Preocupada, Lily?

– Claro que sim!

– Que tal você ir lá no dormitório e despejar tudo no Pontas?

– Você acha mesmo que vai se livrar tão fácil de mim, Sirius?!

– Claro que não, mas quero falar com a Jenna antes de sair, entende.

– Sirius... – ameaçou.

– Juro que não saio do castelo – ela o analisou por um segundo, ponderando.

– Você vem comigo – determinou e, sem esperar resposta, puxou-o pela mão ao longo do corredor.

Eventualmente, Sirius desistiu de protestar e ficou quieto enquanto ouvia os resmungos de Lily.

– Seu espírito natalino é tocante – ele reclamou quando Lily finalmente o soltou, à porta do dormitório masculino.

Ela ignorou as queixas de Sirius e bateu apenas uma vez antes de empurrar a porta e entrar no quarto.

– Evans! – assustou-se Peter. Frank, que estava sem camisa enquanto remexia no próprio malão, se sobressaltou com o barulho e bateu a parte de trás da cabeça no dossel da cama.

– Pelas calças de Merlin! – protestou. – Que invasão foi essa, Lily?!

– Desculpem – ela sentiu o rosto arder impiedosamente, mas tentou não se abalar. – Acontece que é uma emergência.

James apareceu no quarto, aparentemente, voltando do banheiro. Seus cabelos ainda estavam molhados, os óculos estavam embaçados e havia uma toalha sobre seus ombros. Ele olhou, assustado, para Lily.

– O que aconteceu? – indagou.

– Aconteceu que vocês são um bando de malucos irresponsáveis, James Potter.

– Ah, lá vamos nós de novo... – resmungou Peter.

– Cuidado com a baixaria – Sirius interveio. Lily os ignorou.

– Vocês não podem realmente achar que é sensato acompanhar o Remo – disse, fechando a porta do dormitório.

– Por que não? – James falou calmamente.

– Porque... – e ela subitamente compreendeu que estava reunida com quatro rapazes, a portas fechadas, sendo que Frank tinha finalmente vestido uma camisa e James continuava apenas com uma toalha embolada para cobrir o tórax. – Você não pode ao menos vestir uma roupa?! – corou furiosamente. Sirius deu um riso abafado.

– Você não pode bater antes de entrar?! – James retrucou. Lily estava tão imersa no próprio constrangimento que nem percebeu as bochechas rosadas dele.

– Com todo o respeito, Lily – Frank interveio –, mas o James tem razão. Eu achei que você vinha para revistar o quarto e prender alguém.

– Tudo bem, tudo bem! Me desculpem pelo escândalo, mas foi preciso uma medida drástica!

– Eu tentei evitar – Sirius comentou distraidamente, largando-se na cama mais próxima. – Mas a ruiva é teimosa como um hipogrifo.

Lily revirou os olhos, impaciente. Voltou-se outra vez para James, que terminava de vestir uma camiseta, antes que censurasse Sirius por chama-la de “ruiva”. Eles não se tratavam pelo primeiro nome nem há vinte e quatro horas e ele já estava com apelidos.

– Não façam isso – ela recomeçou num tom mais contido. – Nem o próprio Remo concordaria. Não depois do que houve ontem.

– Ele sabe que não pode nos impedir – intrometeu-se Sirius.

– Mas agora é diferente! – Lily teimou.

– Você está certa – disse James. – Dessa vez é muito diferente, porque o Aluado quase matou todos nós e, a essa altura, ele está se sentindo pior do que bosta de dragão. Nós não podemos simplesmente deixar que isso continue.

– Há muitas formas de ajuda-lo, James. Vocês não precisam correr tantos riscos.

– Ponha-se no nosso lugar, Lily. Você mesma disse que Remo é seu melhor amigo. Se você tivesse condições de acompanha-lo, você não iria? – ele se aproximou, sem deixar de encará-la. – Se ele ficar muito machucado, nós o trazemos de volta, como sempre fizemos. E estaremos na forma animal, então...

Lily sacudiu a cabeça, inconformada.

– Frank! – apelou. – O que você acha? – surpreso, Frank olhou para todos antes de dizer:

– Bem... acho que você não tem escolha, Lily.

Ela se detestou por saber que ele estava certo. Debateu-se internamente para não expressar indignação. Sabia que isso não os convenceria. Também sabia que os garotos estavam certos, mas a imagem de Remo na forma de lobisomem ainda ardia em sua memória, assim como a luta entre ele e os outros Marotos. Lembrou-se de James e Sirius tentando contê-lo e sendo jogados para longe. Era ruim o suficiente saber o quanto Remo estava sofrendo. Ela não queria lidar com outro ente querido em risco.

Não que Sirius fosse tão querido assim.

Finalmente, Sirius ficou de pé.

– Vamos logo – ele chamou. – Nós ainda temos que passar nas cozinhas para comer alguma coisa.

Lily não se atreveu a falar. Um a um, os três Marotos se encaminharam para a porta. Peter era o único que não parecia tão determinado. Ainda assim, James falou outra vez com Lily antes de sair:

– Eu disse a você que nós não íamos parar – sussurrou.

– Pensei que fossem ao menos esperar o próximo mês – ela respondeu baixinho, de cara amarrada. – Além do mais, eu vou ficar sozinha, tendo que mentir para as meninas. Claire já está desconfiada.

– Você dá um jeito. O Frank vai ajudar.

Eles se encararam em silêncio por alguns segundos, até que James finalmente esboçou um pequeno sorriso, acenou para Frank e se retirou. Lily o observou chegar à escada, a Capa da Invisibilidade numa das mãos, a postura decidida. Ela nem conseguia acreditar que estava tão preocupada com James Potter e menos ainda que ia fazer aquilo, mas respirou fundo, fechando os olhos com força, e, quando os abriu, saiu do dormitório também.

– James!

Ele se virou com uma expressão cansada, mas Lily não esperou que dissesse nada. Em vez disso, ela o segurou pelo pulso e lhe deu um beijo demorado no rosto, cheio de confiança.

– Vai – sussurrou, arriscando um pequeno sorriso. – Mas tomem cuidado, ok?

Ele assentiu, atordoado, e os dois continuaram parados ali, com a mão de Lily segurando a dele, os olhos de Lily fixos nos dele.

– Pontas! – Sirius e Peter berraram do pé da escada.

– A gente se vê amanhã – James concluiu.

Então, para surpresa de Lily, ele a beijou na bochecha antes de sair. O coração dela disparou e Lily suspirou, desarmada.

– Meu Deus – murmurou para si mesma. – Só posso estar maluca.

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– Dá para ir depressa, Almofadinhas? Eu não aguento mais ficar chutando seus pés.

– Tá com pressa, é, Pontas? – Peter provocou.

– Sabe como é – manifestou-se Sirius – ele não se aguenta mais de saudades da ruiva. A propósito, Pontas, desde quando ela te beija?

– Beijo?! – Remo, que era o último da fila, exclamou.

– Foi no rosto – James explicou, tentando ignorar o quanto aquela situação era inusitada.

– Você tinha que ver a intimidade dos dois – Peter prosseguiu. – James para cá, Lily para lá...

– Isso para não falar de quando ela praticamente exigiu que ele tirasse a roupa – Sirius falou maliciosamente.

– Vai, Pontas! – Peter brincou. Ele e Remo caíram na gargalhada, mas James ficou indignado.

– Ei! – protestou. Sendo o mais alto dos quatro, ele bateu a cabeça no teto baixo do túnel quando tentou olhar para trás. – Você não pode ter acreditado nisso, Aluado.

– Mas é verdade! – insistiu Peter. – A Evans invadiu nosso dormitório ontem.

– Como assim? – Remo soou assustado.

– Ela só estava preocupada com a gente – resmungou James. – Nada demais.

– Ela estava preocupada com você – Sirius interveio.

– Definitivamente – concordou Remo.

– Você nem estava lá, Aluado.

– Pontas, eu já cansei de dizer que a Lily é louca por você – Remo insistiu. Sirius espiou James por cima do ombro e lhe ofereceu um sorrisinho suspeito.

– Não me diga que, depois de todos esses anos de bravura e certeza, você resolveu ficar inseguro.

– Não é uma questão de insegurança – defendeu-se James. – Eu apenas estou sendo realista.

– Você está tapando o sol com uma peneira – Remo opinou. Todo mundo já percebeu que a Lily se rendeu aos seus encantos.

Alguns minutos depois, eles alcançaram o Salgueiro Lutador e, sob a Capa da Invisibilidade, atravessaram os jardins lamacentos. Ao que parecia, o inverno seria mais rigoroso que o normal.

– Depois que a Claire deu um flagra no Aluado, eu acho bom a gente não se arriscar – Sirius comentou quando eles chegaram ao castelo e tomaram o primeiro atalho para a Torre da Grifinória.

– Que história é essa? – preocupou-se Remo.

Sirius contou sobre a conversa de Lily e Claire no dia anterior.

– Acho que a Claire ficou bem irritada – concluiu.

– Provavelmente – James concordou. – E a Lily também não está nada contente com essa história de enganar todo mundo. Até o Frank já começou a se incomodar.

– Eu já sei aonde vocês querem chegar, Pontas. Muito obrigado – Remo falou, emburrado.

– Você vai ter que abrir o jogo, cara, não tem jeito – disse Sirius.

– Bom, não posso fazer isso a qualquer instante, não é? Preciso esperar a hora certa.

– Não existe mais hora certa depois de todos esses anos, cara – falou James.

– E é uma sorte que a Claire ainda não te odeie – Peter acrescentou. – Se ela fosse como a Evans, você já estaria morto.

– Muito obrigado, Rabicho – Remo resmungou.

Nos dias seguintes, as coisas finalmente pareciam normais. James começou a marcar treinos diários de quadribol para que o time chegasse ao próximo jogo em suas melhores condições. Contudo, o tempo fechado não estava ajudando a levantar o moral dos jogadores e McLaggen não parava de reclamar do excesso de lama em suas botas e da pouca visibilidade em campo.

– Michael, pelas barbas de Merlin! – Marlene o repreendeu no treino da quinta-feira, quase véspera de jogo. – Ninguém aqui tem culpa do mau tempo! E você sabia muito bem no que estava se metendo.

James não entendia o envolvimento dos dois. Também não entendia o motivo de Sirius ficar excessivamente irônico sempre que alguém mencionava McLaggen.

Por outro lado, Marlene estava sempre tranquila e sorridente, inabalável às queixas de qualquer um dos dois. James tinha de admitir que ela era muito útil na hora de lidar com McLaggen.

Remo finalmente tinha conversado com Claire. Nas palavras de Lily, o momento fora “um desastre total”, mas, segundo o próprio Remo: “foi difícil, mas não teve jeito”. Agora, ele estava fugindo de Claire, que, por algum motivo não revelado pelas garotas, ficara extremamente magoada e iniciara uma campanha de olhares ressentidos em direção a Remo.

– Tudo bem que ele sempre foi meio desajeitado, mas precisava de tanto?! – Sirius comentou na sexta à tarde. – Até eu fiquei com pena da garota.

– O que ele falou, afinal? – James quis saber.

– Sei lá. O Aluado não diz nada e a Marlene mal tem falado comigo... Mas não precisa saber legilimência para saber que ele fez tudo da pior maneira.

– Bom, agora ela sabe do... – olhou ao redor e abaixou a voz – do probleminha peludo dele.

– A Lily não te contou nada?

– Só o que eu acabei de dizer, mas nós não temos conversado direito. Com minhas saídas à noite e tal...

– Sei. E o que você vai fazer a respeito?

– Por que eu faria alguma coisa?

– Ora, simplesmente porque já se passaram semanas e ela nunca explicou aquele beijo – Sirius tinha um sorriso suspeito. – Ou explicou?

– Ah, lá vamos nós de novo...

Mas Lily não tinha explicado. Na verdade, eles estavam agindo cordialmente entre si e ela até parecia mais amigável. James, porém, lutava para não criar falsas esperanças. Seu único consolo era saber que, devido aos últimos acontecimentos com Claire, Lily não tinha procurado tanto por Remo. Nada como a solidariedade feminina.

– Hoje tem reunião no Clube do Slugue – James recomeçou.

Os dois estavam sentados num sofá do salão comunal, aproveitando um período livre.

– É – Sirius concordou vagamente –, a Jenna me falou.

– Qual é a sua com essa garota? – James indagou, intrigado. – Ela nem é tão bonita – Sirius deu de ombros.

– Não sou tão superficial quanto você, Pontas. Além do mais, a Jenna é legal.

– Você está com ela há um tempão – insistiu. – Virou namoro, por acaso?

– Quanto ciúme, hein, Pontinhas...

– Só acho que você não conseguiu abalar a Marlene – ele provocou. – Só isso. Ela continua com o McLaggen.

– Marlene? – Sirius ficou confuso. – O que ela tem a ver com isso? – James apenas riu.

– Admita, Almofadinhas, você não tira a Lene da cabeça. Especialmente porque ela vai com o McLaggen, que também é do clube, para essa reunião.

– Pontas, Adivinhação nunca foi seu forte, lembra? E você é que devia se preocupar, já que amanhã tem jogo e sua principal atleta não pode estar de ressaca.

– A Lene não vai ficar de ressaca. Minha preocupação é que daqui a pouco tem treino e depois eu tenho que encontrar com vocês em Hogsmeade para voltar de manhã, direto para o jogo.

– Então não vá com a gente – Sirius resolveu. – Certeza que o Remo não se incomodaria.

– O Remo não, mas a Lily...

– E daí que a Lily se incomode, Pontas? Ela devia até se orgulhar por você não se meter nessas loucuras irresponsáveis.

– Eu não quero ouvir sermão – James retrucou, emburrado. Sirius abanou a cabeça, desapontado.

– Quem diria que você ainda ia virar um pau mandado, amigo...

Mas, no fim das contas, James acabou aceitando sua sugestão, porque, nas palavras de Sirius: “seria inaceitável se nós perdêssemos para o time lanterna”.

– Quadribol?! – queixou-se Lily durante a ronda. – Será possível que você só pensa nisso?!

– Pensei que você ficaria feliz por me ver em segurança – ele falou sem emoção.

– A questão aqui são seus motivos, James.

Desde quando ela o chamava pelo primeiro nome quando passava broncas?

– Dá um desconto, ok? Passei a semana toda treinando muito e dormindo pouco. Estou morto. Preciso me recuperar para amanhã.

Era a primeira vez desde o último beijo, o mesmo que terminara em longos dias de intriga, que eles faziam a ronda juntos e Lily parecia mais agitada que o normal. Basicamente, quando ela voltara da reunião na sala de Slughorn, eles saíram juntos do salão comunal, trocaram uns olhares constrangidos, e então James perguntara se ela queria companhia para a ronda.

– Acho que seria legal a gente retomar aquele primeiro esquema de ronda – Lily respondera.

Agora lá estavam os dois, andando em silêncio, estranhamente sem jeito para quem já tinha atravessado a semana tão bem.

– Como foi no Clube do Slugue? – James indagou para quebrar a tensão.

– Ah, foi o de sempre. Um pouco mais sem graça, já que a Claire não foi para me fazer companhia. Marlene e McLaggen estavam muito distraídos em falar de quadribol.

– Slughorn não achou ruim você sair mais cedo? – ela deu de ombros.

– Sou monitora-chefe. Posso fazer essas coisas só pelo pretexto de dar o exemplo – James sorriu.

– Lily Evans, quem diria... – Lily sorriu também, dando de ombros. – E a Claire? Ela sempre dizia que Slughorn estava reclamando que você faltava. Por que ela não foi? – Lily o olhou com seriedade.

– Bem, claramente, porque ela não estava no clima, James.

– Por causa do Remo?

– Não vou falar muito sobre isso – ela avisou. – Mas é óbvio que a Claire ficou muito chateada.

– E o que o Remo falou, afinal?

Enquanto Lily ponderava a pergunta, eles entraram num corredor do quinto andar.

– Quieto, Goyle! Nós já devíamos ter encerrado esse assunto!

A voz vinha de uma sala à esquerda e, depois da ordem em voz alta, um ruído abafado de várias conversas teve início.

– Malfoy – James reconheceu imediatamente.

– Provável – Lily concordou. – E agora? Nós invadimos? – eles se entreolharam.

– Quanta liderança, Malfoy – uma segunda voz se destacou.

– Calado você também, Black! Não é como se pudesse ao menos se alistar – James gelou. Aquela voz, aquele nome...

– Não fale do que você não sabe, Malfoy.

– Black? – indagou Lily. – Do que ele está falando, James?

– Vamos entrar – ele decidiu.

– Você acha que vale à pena?

– Eles não vão nos atacar dentro do castelo e, amanhã de manhã, nós contamos tudo a McGonagall – Lily concordou. Engoliu em seco:

– No três?

Eles sacaram as varinhas e se posicionaram em frente à porta da sala. Para surpresa de James, foi Lily quem ordenou:

– Alorromora! – e a porta se escancarou.

Cerca de quinze alunos da Sonserina estavam reunidos ali. Havia também duas garotas da Corvinal, que deram gritinhos ao ver os monitores. Todos, exceto Malfoy, eram menores de idade.

– Algum problema aqui, Malfoy? – James começou.

– Sua mãe não lhe ensinou que é feio entrar sem bater, Potter?

– Poupe-nos das piadas, Malfoy – Lily interveio. – Eu acho que vocês não deviam estar fora de seus salões comunais. Então, a menos que queiram explicar o que está havendo...

– Para que essas varinhas? – disse uma voz fria e indiferente. Regulus Black se destacou entre os outros estudantes. Era mais baixo que Sirius, mas tinha os mesmos cachos negros, embora seu jeito sério contrastasse com o charme descontraído do irmão. Seus olhos também eram escuros e exalavam arrogância.

– Precaução – respondeu Lily.

– Chega de conversa – James sentenciou. – Todo mundo direto para as salas comunais! – torceu para que Lily decorasse o rosto dos outros presentes, porque seus olhos só viam Regulus. Será que Sirius fazia ideia de que ele já participava das reuniões de Comensais?

– Nem pense que vai nos dar ordens, Potter – Malfoy retrucou.

– Somos os monitores-chefes e essa é nossa função – James respondeu calmamente. – Lide com os fatos, Malfoy.

– E você é monitor também – lembrou Lily. – Não é bom desonrar o distintivo, que, por sinal, não lhe dá o direito de reunir alunos em segredo fora do horário permitido.

– Quanta burrice, Malfoy! – Regulus reclamou, sem emoção. – Não era à toa que a Belatriz não confiava em você.

– Calado, Black!

– Não adianta fazer pose. Minha família já tem mais prestígio do que a sua jamais conseguirá.

– Chega disso! – Lily falou antes que Malfoy rebatesse. – Todo mundo para os dormitórios. Agora!

Lentamente, os alunos obedeceram. Regulus deu um riso debochado enquanto caminhava. James o acompanhou com os olhos.

– Francamente – ouviu-o dizer para Malfoy. – Recebendo ordens da sangue-ruim...

– O que foi que você falou?! – James exigiu, apontando a varinha para Regulus. Lily o segurou pelo braço. Regulus o olhou despreocupadamente.

– Foi exatamente o que você ouviu, seu traidor do sangue. Passou anos se humilhando por uma trouxa imunda...

James se preparou para lançar uma azaração, mas Lily empurrou sua mão para baixo.

– James! – ela censurou. – Não faça uma besteira!

– Detenção, Black! – ele decidiu. – Vamos ver se você limpa essa boca – Regulus deu de ombros. Malfoy riu.

– Controle esse temperamento, Potter – provocou. – Você é o monitor-chefe. Ah, e mande lembranças ao seu amigo desertor.

James ficou todo tenso, mas Lily continuou segurando-o com firmeza até os outros estudantes sumirem de vista. Ele sabia que estava sendo observado pela colega, mas não retribuiu o olhar. Ainda estava surpreso demais com a aparição de Regulus.

– Obrigada – Lily disse enfim. James suspirou, assanhando os cabelos.

– Bosta de dragão! Aposto que ele já se alistou!

– Que absurdo! – espantou-se Lily. – Regulus ainda é menor.

– Você ouviu o que ele disse! – ele insistiu. – E, mesmo que não seja o caso, é só uma questão de tempo... – ele começou a andar de um lado para o outro lentamente, mas parou de repente. – Sirius vai ficar arrasado.

– Você vai contar a ele?

– Não sei – James admitiu. – Realmente não sei...

Apoiou as costas na parede do corredor e respirou fundo, os olhos fechados. Tanta coisa estava acontecendo ultimamente...

– James? – a voz de Lily era baixa e calma. – Você está se sentindo bem? – James abriu os olhos.

Às vezes, ele se perguntava por que Lily, que sempre parecia pronta para discutir com qualquer pessoa, nunca reagia quando alguém a chamava de sangue-ruim. Provavelmente tinha a ver com a garota gentil e sensível que o encarava agora, a garota que era a melhor da turma e, ainda assim, se sentia insegura demais para revidar uma ofensa desse tipo.

Ele percebeu que Lily tocava seu braço. A mão dela era quente e carinhosa, bem vinda. James suspirou.

– Vamos voltar para o salão comunal – decidiu. – Eu só preciso de uma boa noite de sono.

Lily assentiu, mas sua expressão preocupada fez James pensar em Melanie. Eles conversaram pela última vez há alguns dias e, para todos os efeitos, Melanie sabia tanto quanto Alice e Marlene. Naturalmente, ela não se convencera muito da história, o que, na opinião de James, estava motivando seu afastamento dele e uma pequena campanha de olhares desconfiados ou decepcionados.

– Marlene disse que o time está em ótima forma para o jogo de amanhã – Lily falou de repente.

– É – James concordou, meio confuso. Desde quando Lily começava conversas sobre quadribol? – Só o McLaggen que continua reclamando de tudo. Pelo menos, ele joga bem.

– Ah, eu não sei como a Marlene aguenta aquele cara – Lily suspirou.

– Eu não acho que eles conversam muito – Lily deu uma risadinha abafada. Então, sem qualquer motivo aparente, os dois começaram a rir, como se James tivesse contado uma grande piada num momento de esmagadora tensão.

– Sinto muito pelo que houve com o Sirius – Lily disse após um tempo, quando eles já tinham parado de rir e estavam caminhando tranquilamente para o salão comunal. – Dá para imaginar o quanto é difícil para ele – ela corou um pouco. – Você sabe, a Petúnia faz o mesmo comigo.

– Mais cedo ou mais tarde, ele vai ficar sabendo. Talvez eu não precise adiantar as coisas.

– Mas ele também pode descobrir que você já sabia – James suspirou, certo de que não teria opção.. – Seria ainda pior.

– Tudo bem – disse enfim. – Eu vou pensar numa solução menos terrível, mas não agora, Preciso vencer o jogo de amanhã primeiro.

Surpreendentemente, Lily se deu por satisfeita e, durante o resto do caminho, eles conversaram sobre a proximidade do natal e dos NIEM’s. O assunto fluiu tão normalmente que James se esqueceu por um segundo das próprias dúvidas. Lily estava ali, falando com a maior naturalidade sobre suas expectativas e suas dúvidas, rindo dos comentários que James fazia a respeito de um ou outro assunto.

Quando finalmente chegaram ao salão comunal, Lily ainda estava explicando como Slughorn sugerira a profissão que ela pensava em seguir.

– Curandeira – informou, corando discretamente. James assentiu, contente, mesmo sem gostar muito de Slughorn. Em boa parte, sua aversão ao professor sempre fora alimentada pelo fato de até ele ter mais proximidade com Lily do que o garoto tinha. – E você? – Lily indagou.

– Bem... – ele pigarreou, assanhando os cabelos. – Estou pensando em ser auror...

Houve uma breve pausa, então Lily anunciou:

– Bem, eu vou dormir. Boa noite,

– Boa noite – James respondeu, sorrindo. Então, quando Lily virou as costas e começou a se afastar, ele acrescentou: – Você vai ao jogo amanhã?

– É claro – o sorriso dela se alargou. – Descanse, James. E bom jogo amanhã.

– Valeu, Lily.

E, dessa vez, ela praticamente correu escada acima enquanto James a observava. Ele estava com os pensamentos a mil, o coração disparado.

– Merlin – sussurrou. – Por que comigo?!

Não poderia ser uma queixa. Ele estava sorrindo.