Your skin

Oh, yeah, your skin and bones

Turn into something beautiful

Do you know?

You know I love you so.

Caminhando em passos lentos, percebi o quão frágil todo aquele sistema era. Afinal, todos diziam que o mundo era perigoso demais para nós, bruxos. E então também disseram-nos que o único lugar que poderíamos pertencer seria Hogwarts. Um lugar seguro, onde poderíamos explorar nossas habilidades e nos afastar do mundo real. Será que isso é verdade? Caso seja, eu simplesmente não compreendo a morte de Elizabeth. Ela deveria estar sã e salva, assim como toda a sua espécie. Se tudo aconteceu, quem dirá que isso não irá acontecer de novo?

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Essas perguntas ecoam em minha mente, embora eu saiba que ninguém nunca irá respondê-las.

Enxugo as lágrimas de meu rosto, ignorando tudo e todos. A maior demonstração de fraqueza são as lágrimas, mas nesse momento, há algo em mim que faz com que eu não interrompa-as. Olho para o meu lado e vejo Emily, que desde o feitiço não havia trocado uma palavra sequer comigo. Ela me olhava de soslaio por alguns segundos, mas quando via que eu retribuía o olhar, virava-se. Uma sensação ruim, novamente, percorria por minhas veias.

Rowena, apressadamente, retomava os passos e ficava na frente de todos os alunos. Eu e ela nunca tivemos uma relação tão próxima, por termos pouco contato com os diretores das casas. Mas eu precisava falar com ela. Tentei acompanhá-la, mas a multidão era enorme. Esbarrava em alguns alunos da Corvinal, que soltavam um xingamento. Eu dava de ombros e revirava os olhos. Parecia que todos eles esqueceram que a minutos atrás, estavam vendo pela última vez a querida Effy. Mas isso não importava, pois acabara de conseguir chegar até Rowena. Desajeitadamente, toquei de forma leve o seu braço, fazendo com que ela prendesse seus olhos azuis escuros em mim. Ela percebera o meu olhar triste e de imediato me abraçou.

Recuei, mas acabei retribuindo o abraço. Não era aquilo que eu esperava, mas no final de tudo, o abraço fora reconfortante. Lágrimas escorriam de seu rosto e as gotas caíam em meus cabelos vermelhos vívidos e eu dava de ombros.

— Eu... me desculpe por isso, Hayley. — franzi o cenho quando ouvi a frase. A diretora sabia meu nome. — É que eu sinto muita falta da Effy. Eu sei como é me sentir marginalizada pelo mundo lá fora. Não era pra ser assim! — exclamou de modo triste.

— Tudo bem. Ela não era grandes coisa, mas era da minha casa. — respondi rispidamente. — Eu só queria saber, o por quê disso tudo. Vocês disseram que aqui era um lugar seguro. Logo, vocês mentiram. Afinal, em que merda eu estou? — irritei-me e soltei um longo suspiro. As lágrimas de Ravenclaw tinham cessado e ela me lançou um olhar compreensivo

— Pequena, lembre-se de uma coisa. A vida fora de Hogwarts é pior do que você imagina. Se você acha que aqui é perigoso, é porque não enfrentara as crueldades de lá. Acredite ou não, você está segura aqui. Segura o suficiente. — ela retrucou e continuou andando, deixando-me para trás. Suas últimas palavras pregaram-se em mim.

Você está segura aqui.

***

Nem fiquei esperando o discurso de Dumbledore. Levantei do refeitório dando de ombros aos olhares de todos e sai de lá. Já sabia de toda a verdade mesmo. A verdade que eu conhecia, mas que precisava fingir não existir. A única e cruel verdade. Ignorei, pois precisava, agora, acertar as contas com o idiota-sumido-do-Tyler.

Parei em frente ao dormitório masculino da Sonserina. Sorte que o Tyler tinha um quarto só pra ele, já que foi convidado pra ser o monitor. Respirei fundo. Entro ou não? Okay, que se dane, pensei. Abri a porta devagar e entrei, com um olho fechado e outro aberto, não tinha certeza de quão confortável ele poderia estar... E lá estava o cara, deitado na cama de bruços desleixadamente sem camisa e coberto com o edredom da cintura pra baixo. Olhei ao meu redor e vi um quarto bagunçado, mas bonito. Livros eram preenchidos nas prateleiras do lado superior esquerdo. E o desenho de uma cobra na parede fez com que eu estremecesse. Aterrorizador e bonito. Quando voltei o meu olhar a Tyler, ele abriu os olhos quando entrei e sorriu dizendo:

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— Sabia que apareceria aqui uma hora ou outra! — disse sentando e ficando de frente pra mim. Revirei os olhos.

— Idiota! Eu não estou aqui para isso. — ele riu mais uma vez.

— Então por qual motivo tenho sua ilustre presença aqui? — se levantou só com a calça e direcionou-se ao banheiro. Corei. — Não precisa ficar com vergonha, você se acostuma com o tempo. O fuzilei com o olhar e dei um tapa forte em suas costas.

— Idiota, cale a boca! — ele tocou no lugar que eu bati e fez cara feia pra mim. — Cara feia pra mim é fome.

— Pelo visto você gostou de me chamar de idiota... Devo achar que isso é um elogio? — Pulei em cima dele tentando socá-lo, mas como o imbecil era forte e segurou minhas mãos e me jogou com tudo na cama. Senti-me extremamente fraca e, de um modo ligeiramente estranho, eu estava gostando daquilo.

— Não ouse fazer o que você está pensando. — ele levantou as mãos se rendendo.

— Mas eu não ia fazer nada — disse cínico. — Argh! Você que pensou maldade.

Estava perdendo a paciência.

— Eu não pensei em porra nenhuma, caralho! — o mais transparecer de raiva só contribuiu ainda mais para o seu divertimento. Quando finalmente me recuperei, ele já tinha se levantado e vestido uma camisa verde escura, que lembrava sua casa. E então sentou no outro lado da cama, bem longe de mim.

— Então, não vai me dizer o que veio fazer aqui? — corei novamente. Acho que estava da cor de meu cabelo. Balbuciei por alguns instantes e falei.

— Procurar você. Que merda é essa que está acontecendo nesse castelo? E por que você anda sumido e estranho? — não poderia dizer sobre minhas visões. Ele não acreditaria e eu nem mesma tinha certeza de tudo que via. Uma garota que erra um feitiço, paralisa sua melhor amiga, não sabe o que faz, ainda pode confiar em si mesma?

— Calma, Hayley. São muitas perguntas, e você não está preparada para saber todas elas agora.

Bufei, e ele me puxou para perto dele.

— Mas eu odeio não saber das coisas — fiz um biquinho extremamente ridículo, como quando uma criança faz quando quer conseguir algo.

— E por que você acha que eu sei?

— Talvez pelo fato de você estar sumido esses dias. Sem ao menos uma pista sequer.

— Espera, ruivinha. Para você saber que eu estou sumido, é porque tem me procurado. — ele soltou uma risadinha.

— Mas é claro que não! — pronunciei num tom desprezível. — Você realmente acha que eu procuraria você? Eu só senti que você não estava próximo de mim por perceber que não havia ninguém me perturbando por dias.

— Que seja. Mas afinal, o que você quer de mim?

— As respostas para a minhas perguntas. — e então ele gaguejou, assim como eu fiz a alguns segundos atrás.

Tyler disse que estava ocupado demais, monitorando as masmorras e que algo de errado estava acontecendo, mas que não era nada que chegasse aos seus ouvidos. Eu franzi o cenho, pois eu conseguia facilmente reconhecer alguém quando está mentindo, o que era extremamente estranho, pois os sonserinos eram traiçoeiros e mentirosos. Conseguiriam facilmente inventar a maior mentira de Hogwarts e todos acreditariam. Comigo era diferente. Eu conseguia enxergar algo neles além de egocentrismo e mentira.

— Olha só, é o seguinte. Eu sou uma pessoa extremamente sensível, mas não do jeito denotativo. Eu consigo sentir o perigo me rodear, ou melhor, rodear esse local. E como você é o monitor daqui, poderia me ajudar. — falei, um pouco invasiva demais. Mas não invasiva o suficiente para o convencimento do garoto.

— Você acha que eu estou envolvido em algo? — ele franziu uma das sobrancelhas.

— Eu não disse que foi você.

— Mas eu sei que pensou — desviou o olhar, como se estivesse escondendo algo.

— Aff, eu odeio não saber das coisas! — baguncei meu cabelo, o que fez com que ele risse e seu rosto ficasse mais próximo ao meu. Tirou uma mecha de cabelo que estava em meus olhos e ficou encarando os mesmos. Encarei de volta, quase me perdendo em seus olhos cinzas. Mas eu precisava parar com aquilo.

— Acho melhor eu ir embora — falei, logo depois daquele longo e constrangedor silêncio. Seu olhar enrijeceu, seus olhos ficaram frios e ele levantou-se da cama. O sorriso bobo que ele esboçava tinha saído de seu rosto e eu senti uma pontada de culpa naquele momento.

Ele abriu a porta e eu acabei sorrindo fraco para ele, num sinal de agradecimento. Ele bateu a porta com força e quando ouvi a batida, fechei os meus olhos. O que eu tinha feito? Abri meus olhos e balancei a cabeça, não acreditando. Mas, afinal, o que ele queria que eu fizesse? E que merda aconteceria ali? Eu só queria saber a verdade, mesmo sabendo que ela estava distante de mim.

Eram muitas questões sem respostas plausíveis.

Voltei ao meu dormitório e ouvi um cochicho alto. Todos só falavam da maldita câmara secreta, como eu tinha previsto. Vi um bando de garotas na cama de Grace Fitzgerald, a garota de olhos azuis penetrantes e um cabelo preto repicado na altura de sua mandíbula. Observando bem, vi Emily. Aproximei-me e ela olhou para mim.

— Emily, precisamos conversar. — disse e todas as garotas olharam para mim.

— Ei, onde você estava na hora que Dumbledore anunciou a abertura da Câmara Secreta? — perguntou uma garota com a pele num tom oliva, que eu nem ao menos sabia o nome. Mas qualquer um me conhecia, portanto era normal.

— Ah, eu precisava tomar um ar. A morte de Elizabeth fez com que eu me sentisse mal. — dei de ombros e voltei-me a Emily. Ela claramente sabia que eu estava mentindo e as garotas logo ignoraram-nos.

— O que você quer? — perguntou

— Me desculpe. Eu não sei o que eu fiz, mas eu quero que saiba que não era a minha intenção. — ela soltou uma risada furiosa

— O que? Você não sabe o que fez? Faça-me um favor: me esqueça! O que você fez não foi humano, foi algo que eu NUNCA faria com minha melhor amiga. Você é uma aberração, Hayley Buttler. Eu espero não esbarrar contigo muitas vezes, embora seja impossível, já que você é da Corvinal. É uma vergonha termos esse tipo de gente aqui. Sangue ruim. — me surpreendi com o que ela disse e me afastei, sem dizer nada. O meu silêncio era o suficiente para demonstrar o meu descontentamento. De repente, esqueci-me de tudo e fechei os meus olhos, reprimindo as lágrimas e ao mesmo tempo, afogando-me em pensamentos longes dali.

***

Havia um único espelho no local onde eu estava. De repente, vi-me com uma camisa de jazz e com um pente azul em minha mão. Minha aparência era mais jovial, como a de uma criança. Ouvi a voz de um homem de barba ruiva convidando-me para o café da manhã.

— Querida, venha para a mesa. Estamos te esperando — uma mulher de cabelos vermelhos cintilantes me conduziu até a mesa. Eu dei um beijo no rosto do homem e sentei-me na cadeira dali, esbanjando-me da farta comida. Tivemos uma conversação familiar e quando todos já tinham se retirado da mesa, fomos até a televisão, que passava o show de uma banda chamada "The Wolverines". De repente, o homem começou a dançar no meio da grande sala e estendeu a mão para mim e eu começara a dançar com ele. Soltávamos gritos e risadas e eu claramente estava me divertindo. Até ouvir o barulho de um alarme tocando e a mulher desligar a tevê.

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— Hora de ir para a escola, mocinha. — deu-me um beijo na testa e estendi a mão para o homem alto. — Eu te amo, minha filha.

— Eu também a amo, mãe.

— Eu não queria interrompê-las, mas não podemos perder tempo. Temos muito a se fazer, Molly. Eu te amo. — dei um selinho em minha mãe.

— Bom trabalho, amor! — disse ela.

Entramos num carro extremamente pequeno. Meu pai dirigia atentamente e eu via placas com o nome Nova Orleans rodeadas por toda a cidade.

— Nova Orleans é um bom lugar de se morar, não é? — perguntou meu pai.

— É sim. Se alguém estiver a caminho de outra cidade e estiver perdido, esse alguém conseguirá se situar facilmente aqui. Olha só todas essas placas! — apontei para fora e ambos rimos.

— Não tenho dúvidas disso. Mas, você acredita que eu e sua mãe viemos morar aqui por acaso? — aquilo instigou minha curiosidade.

— Como assim? — sorri amarelado

— Eu morava em Nova York e estava procurando emprego. Após todas as tentativas frustadas de arranjar um, eu decidi afogar minhas mágoas num bom e velho whisky. Depois de um longo dia, fui a um bar conhecidíssimo por ali e encontrei sua mãe, repleta de amigas. Nós éramos adolescentes à beira da fase adulta. Depois de uma longa conversa eu a beijei. Decidimos nos encontrar naquele mesmo bar e depois de várias noites com uma ótima companhia, nós fugimos dali. Viajamos de cidade em cidade, como se fossem os últimos dias de nossa vida. E achamos nosso conforto aqui, em Nova Orleans, onde tivemos você, e não nos arrependemos de nada.

— Nossa... que clichê! — disse, encarando o olhar nostálgico dele, até ver que o carro havia parado. Tínhamos chegado à escola.

— Boa aula, Hay. — me deu um abraço e eu saí do carro, carregando os livros em meu braço e entrando no grande corredor

Olhei para as crianças de minha idade e caminhei até a sala que estava escrito "5ª série". Chegando lá, todos os alunos estavam em seus lugares e vi um professor rabugento e uma classe que olhava para mim de modo esnobe. Aquele não era o meu lugar, pensei.

— Está atrasada, Srta. Buttler. Acho que te darei um relógio, para conseguir ser pontual

— Sério? Talvez eu te dê umas bofetadas, para você parar de ser babaca! — disse e o professor ficara ofendido. Mas deu de ombros. Enquanto andava, uma garota pôs o pé em meu caminho e eu caí. Toda a classe riu e automaticamente eu corei. De súbito, olhei para a garota furiosamente e desferi um soco em seu rosto.

A sala estava alvoroçada e conseguia ouvir de longe todos gritando. O professor tentava acalmar a classe e me separar dela, mas era inútil, pois a minha força era o dobro da dele. Levei meus dois braços até o pescoço da garota e apertei, com força. Ela estava ficando sem ar, e quando eu percebi que já era o suficiente, peguei os meus livros no chão e as lágrimas começaram a rolar. A garota recuperava o seu fôlego e começara a chorar. O professor me conduziu ao corredor e perdi o foco. Estava desnorteada demais para perceber o que tinha acabado de acontecer e para onde estava indo.

E de repente, eu estava na diretoria.

— Você é uma ameaça para todos nós. Não deveria estar aqui. E é por isso que a convido a se retirar dessa escola. — pronunciou a diretora e meus pais soltaram um soluço triste. Ela entregou um papel com minha expulsão a eles e o silêncio reinara ali. Não havia mais nada a se fazer, então nós três nos retiramos daquela escola. Eu estava desapontada comigo mesma, assim como eu percebera que minha mãe e meu pai estavam. As lágrimas começaram a cair novamente, e antes de entrarmos no carro, os dois me abraçaram. Aquilo não necessitava de palavras para descrever. Era um momento único e incrível.

A viagem fora silenciosa. Nem sequer uma palavra e não seria eu que me atreveria a quebrá-lo. Olhei para o horizonte e pensei como minha vida seria diferente se as pessoas me tratassem de modo diferente. Mas para isso, eu teria que me sentir habituada a esse mundo. Não percebi que já tínhamos chegado em casa, mas quando chegamos, apenas subi às escadas, sendo interrompida pelo pigarreio de meu pai.

— Precisamos conversar, mocinha.

A conversa fora rápida. Meus pais foram compreensivos comigo e eu me senti segura perto deles. Talvez a minha proteção estivesse ali, e eu não pudesse ficar sem eles por muito tempo. Eles eram o meu porto seguro, de fato.

A tarde passara-se rapidamente, e da janela de meu quarto, eu conseguia ver as estrelas que nasciam com o chegar da noite. Às vezes, pensava como seria a vida de meus pais se eu não estivesse tão próxima deles. Talvez fosse boa, ou melhor que isso. Enquanto olhava para o céu, percebi o quão lindas as estrelas poderiam ser. E pensei vagamente como eu gostaria de ser uma delas. Observar de longe o mundo caótico em que vivo e, ser observada de longe por todos. Talvez fosse mais fácil.

Por fim, deitei-me na cama e continuei a olhar o céu e logo depois, fechei meus olhos. Aquela seria a minha última e a mais intrigante noite em Nova Orleans...

Look at the stars

Look how they shine for you

And all the things that you do.