Castelobruxo

Capítulo três - Os mantedores


O barco enfeitiçado navegou por sobre as árvores lenta e calmamente. Alex estava tão encantado que colocou o tronco para fora da grade de proteção para ver lá embaixo. Os pássaros voavam ao redor e ele pôde jurar que viu um pequeno macaco saltar de galho momentos antes do casco atravessar sua árvore. Não estavam causando dano algum, no entanto. Assim que eles passavam, os galhos se organizavam de volta em seus lugares com estalidos quase engraçados. Os garotos ficaram na parte de trás da embarcação, conversando e olhando a paisagem.

— A gente tá indo para o lugar errado — comentou Mateus. Eles olharam para trás e perceberam que Castelobruxo não estava mais à frente, como outrora. Agora ele estava bem à esquerda, o que era curioso. — Não estamos indo para o castelo, cara.

— Para onde mais iríamos? — perguntou Alex.

Alex estava certo, estavam no meio do nada. Depois de dois minutos navegando no mato já não era mais possível ver o rio, ou qualquer outra coisa que não fosse árvores. Até onde os olhos permitiam enxergar no horizonte, só galhos e folhas sobressalentes chamavam a atenção. Não fosse o castelo dourado, talvez eles se sentiriam completamente isolados, como no oceano. Foi por isso que a mudança de direção incomodara tanto Mateus. Alex chegou a sugerir que eles perguntassem ao irmão mais velho Amadeus, afinal não era a primeira vez dele em Castelobruxo. Porém Mateus não queria nem ouvir falar naquilo. Pelo o que parecia, os dois irmãos não se davam muito bem.

— Prefiro acabar perdido na floresta do que trocar mais uma palavra sequer com ele hoje — disse. — Foi ele que deu a ideia de abrir suas malas, a propósito.

Alex não disse nada. Ainda estavam contemplando a floresta quando o barco de supetão se inclinou para frente. Não fossem estar segurando na grade, os garotos teriam rolado pelo convés até baterem em uma parede ou caírem nas árvores. Alex ficou pendurado pela mão direita, seu anel brilhando intensamente. O desespero não demorou muito: um segundo mais tarde e estavam novamente nivelados, porém a vários metros mais abaixo, por entre as árvores. Dessa vez não ficaram nada maravilhados.

O sol desaparecera e à sombra eles sentiram uma humidade estranha. Os troncos saltavam para o lado para dar passagem ao barco, num movimento gracioso. Alex teve a sensação de que ali dentro ele estava sendo constantemente observado. Depois de uma curva acentuada para a esquerda eles descobriram que tinham chegado ao que parecia ser uma clareira perfeitamente redonda. Bem embaixo de onde estavam os garotos uma grande âncora saltou para fora e caiu na terra com um baque seco.

— Chegamos — disse Mateus, sorrindo.

Os dois saíram às pressas para pegar as malas e descerem do barco, sendo os últimos a fazerem isso. Havia outros três barcos ancorados na clareira, ainda flutuando, e alguns alunos esperavam perto deles. Alex não fazia ideia do que ia acontecer em seguida. Odiava não saber nada sobre Castelobruxo.

— Muito bem — ouviram uma voz dizer. Alex se virou para ver um homem baixo e corpulento levantar de onde estava sentado no chão. — Esse é o último, não é mesmo? Deixem suas malas no chão, aí mesmo, que elas serão levadas ao castelo mais tarde.

Ele foi conversar com o capitão Rômulo, enquanto os alunos começaram a entrar na floresta.

— Vem — chamou Mateus.

Eles colocaram as malas na grande pilha perto dos barcos e seguiram os alunos mais velhos, todos vestindo os brilhantes robes verdes, para dentro da floresta. Alex descobriu que as botas eram perfeitas para saltar as raízes e pisar no chão irregular e às vezes macio demais. Continuaram andando pelo o que pareceu uns cinco minutos, sempre em linha reta. Subiram uma pequena escada de pedra coberta por musgo e lama, e então as árvores se tornaram espaçadas e menores, até desaparecerem completamente. Alex, assim como Mateus, boquiabriu-se ao perceber que finalmente estavam na clareira principal de Castelobruxo.

Erguendo-se a vinte metros de onde eles estavam, o castelo parecia ter centenas de metros de altura. Estavam encarando uma das quatro faces, a que ainda era iluminada pelo sol. Do topo da pirâmide uma escadaria descia perfeitamente reta até dois metros antes do chão. Bem embaixo dela e ladeada por duas colunas estava uma porta dupla de madeira maior do que parecia ser viável. Estava fechada, entretanto, com grandes correntes enferrujadas passando entre as duas alças de puxar. Os alunos mais velhos ignoraram aquela porta e viraram à esquerda, começando a circular o castelo. Alex e Mateus foram atrás.

— Aqui deve ser um dos portões fechados — comentou Mateus. — Ou um dos portões proibidos, não me lembro. Ah, você já sabe qual sua designação, Alex?

— Minha o quê? — Alex não estava de fato prestando atenção. Estava mais preocupado em observar o castelo e em como ele parecia brilhar ao sol. Viraram a esquina e então perceberam que aquela parte da clareira devia ser a principal.

— Sua designação. Você sabe, o que você vai estudar e tal.

— Ah — fez Alex. Ele não sabia como isso funcionava ao certo, por isso só respondeu: — Quero estudar herbologia.

— Sério? Não vamos nos ver muito então, porque eu pretendo entrar para os Veracostas.

Veracostas? Era a primeira vez que Alex ouvia aquela palavra. Antes que pudesse perguntar o significado, porém, chegaram ao que parecia ser o caminho principal que levava à uma entrada idêntica à primeira que viram. De pedras, o caminho ia reto do portão do castelo ao limiar da floresta, onde um grande arco de pedra clara entalhada marcava a entrada de uma trilha larga. Os alunos entraram pela porta aberta, e Alex e Mateus se apressaram para não ficarem completamente para trás. Não foram os últimos, pois o homem corpulento entrou em seguida, fechando a porta. O barulho funcionou como um interruptor para Alex: ele enfim percebeu que tinha acabado de entrar na maior construção bruxa da América do Sul.

Estavam em um átrio grande, mas mal iluminado. Ali dentro não dava para dizer se era manhã ou noite. Outros tantos alunos estavam sentados em bancos encostados na parede de pedra, no chão ou em pé. A maioria parecia se conhecer, ou pelo menos estavam perfeitamente à vontade uns com os outros. Um garoto alto de pele acobreada e cabelos espetados desencostou da parede assim que percebeu a chegada de Alex e Mateus.

— Finalmente! Los dos últimos llegaron.

Alguns deles riram, mas Alex não vira graça alguma.

— Ok, ok. Prestem atenção! — disse o homem, o único adulto no local. — É o primeiro ano letivo de vocês em Castelobruxo e eu espero que seja fantástico. Meu nome é Mervir, professor de Tradições Mágicas.

Alguém fez uma piada em espanhol com o nome do homem e mais uma vez vários riram.

— Amanhã vocês começarão suas aulas, mas antes disso, um pequeno ritual os aguarda.

— Já?! — Mateus sussurrou para Alex. — Não achei que fossem fazer isso tão rápido, quero dizer, eu não sei se estou preparado! A gente acabou de chegar!

— Preparado para o quê? — Alex não estava entendendo. Começara a ter uma péssima impressão de que sua vida em Castelobruxo ia ser essa eterna dúvida.

— Para olhar para os totens!

— Vocês vão entrar no jardim principal descalços em sinal de respeito. E de dois em dois olharão nos olhos de Veracosta e Pajuante.

Ele apontou para uma porta, a única do átrio. Com ajuda de Mervir, formou-se em frente a ela duas longas filas dos alunos do primeiro ano. Alex e Mateus se posicionaram lado a lado, o primeiro ainda cheio de perguntas que não tinham espaço para respostas imediatas.

Mervir era um homem desajeitado, como os alunos descobriram logo. Aqui e ali ele tentava organizar os alunos da melhor maneira que podia, mas seu espanhol não era muito bom e ele não estava tendo muito sucesso. Muitos alunos fizeram piadinhas, alguns considerando o seu peso, o que e ele fingia não ouvir. Limpava a testa com um lenço sempre que ficava suado demais, suas botas fazendo um barulho engraçado sempre que ele pisava em uma pedra lisa. Por fim decidiu que as filas não ficariam melhor do que aquilo e abriu a porta do átrio. A primeira dupla deixou a fila e entrou.

Àquela distância, Alex não conseguia ver o que tinha depois da porta e isso estava matando-o. Devia ter procurado um livro sobre Castelobruxo antes de ter se aventurado naquele lugar. O que tinha na cabeça em querer estudar numa escola que ele não sabia nem um terço sobre? Não que a maioria dos outros alunos ali soubesse de fato o que acontecia em Castelobruxo, uma vez que esse era um lugar famoso por ser completamente incomunicável; mas em especial Alex se sentia perdido. Momentos depois dos dois alunos entrarem eles ouviram gritos e aplausos e Mervir convidou a próxima dupla para entrar.

Aquilo pareceu demorar séculos. Alex já estava cansado e ainda tinha pelo menos vinte duplas na sua frente. Ninguém ousava falar alto.

— Tomara que não demore muito — sussurrou Mateus.

Mas demorou. Eles perceberam que algumas duplas demoravam mais do que outras e que sempre que ouviam uma segunda ovação era momento de outra dupla entrar. Por mais angustiante que fosse esperar, enfim chegou o momento de Alex e Mateus ficarem em primeiro nas filas. As mãos de Alex estavam suadas e ele não sabia onde colocá-las. Esperou que não fosse necessário usar a varinha, ele ainda não sabia como se sairia com aquela que herdara de seu avô. Podia não ser própria para ele, como já ouvira tantas vezes antes que varinhas escolhem seus donos. Enfim os aplausos chegaram até o átrio e Mervir abriu a porta.

— Podem ir — ele disse.

Alex e Mateus entraram num corredor pequeno. Havia um arco no fim dele e de lá vinha uma luz quase branca. Caminharam apressados para a passagem, chegando no topo de uma escada. Como uma arquibancada de um anfiteatro, as escadarias desciam para o palco lá em baixo onde havia um grande jardim circular. Centenas de alunos de todas as idades estavam sentados nas arquibancadas, todos em silêncio e olhando para os dois que acabaram de chegar. Alex engoliu em seco quando olhou para cima: encarou o mais alto teto abobadado que já vira na vida, com inúmeros arabescos entalhados na pedra e afrescos de cenas que ele não conhecia.

Desceram as escadas para o jardim sem que precisassem de comando. Alex tinha se esquecido completamente que deviam estar descalços quando pisassem na grama. Não fosse Mateus parar para tirar suas botas, ele teria passado a maior vergonha de sua vida no seu primeiro dia e na frente da escola inteira. Pisaram na grama e Alex podia jurar que ela era tão fria quanto gelo. Andaram para o meio do jardim onde duas estátuas altas estavam colocadas paralelamente. A da esquerda, mais alta e de uma pedra clara como mármore branco, tinha um rosto redondo e acolhedor, circulado de flores de todos os tipos. Vestia roupas angulares de pedra e as mãos estavam fechadas e juntas na altura do peito. No buraco dos olhos foram colocadas duas esmeraldas brilhantes. A da direita, menor e mais atarracada, era de pedra escura e não trazia muitas roupas. Tinha um elmo na cabeça em forma de uma fera e o rosto retangular de nariz adunco era intimidador. Seus olhos eram de opala polida brilhante .

— Bem-vindos, bienvenidos, Alex Maciel e Mateus dos Santos — disse uma mulher. Ela estava na arquibancada e os dois podiam vê-la por entre as estátuas. Ela vestia um vestido rosa claro que descia até os tornozelos. Os braços estavam nus e a pele era de um marrom perfeito. Tinha as sobrancelhas arqueadas, mas o sorriso a deixava extremamente amistosa. Aquela era com certeza a diretora, Alex se lembrou da voz do noiteado. — Hoje vocês receberão suas designações de acordo com suas habilidades e características mais profundas. Mateus, dê um passo à frente.

O garoto deu um passinho.

— Esvazie sua mente e permita-se ser olhado — continuou a diretora.

Os olhos dos totens brilharam como se tivesse uma lanterna atrás delas. Elas não começaram a se mexer, como Alex esperou que fizessem, mas pareciam estar tão vivas quanto os bruxos ali presentes. Alguns segundos mais tarde e a luz dos olhos da estátua da esquerda se apagou. Instantaneamente todo o lado direito das arquibancadas aplaudiu, o barulho ecoando como um trovão em todo o jardim. A diretora levantou a varinha e Mateus olhou para o peito.

— Pode se juntar a seus amigos de Veracosta – disse a diretora.

Mateus rapidamente passou por Alex, calçou as botas que tinha deixado lá atrás e subiu a arquibancada da direita.

— Alex, sua vez.

O garoto deu um passo à frente. Tentou esvaziar a mente. Não sabia o que aconteceria, mas estava disposto a fazer parte daquela comunidade, então não tinha o que temer. Fechou os olhos, não porque quis, mas porque sentiu-se compelido a isso. Imediatamente começou a pensar em coisas aleatórias, como sua infância e também num livro que tinha lido algumas semanas atrás. Pensou no gosto do café e na cor que o céu ficava pouco antes de anoitecer. Não soube dizer em quantas coisas pensou ou quanto tempo demorou. Quando abriu os olhos, porém, viu apenas a luz branca amarelada do totem à direita. Encarou surpreso a diretora.

— Pode se juntar a seus amigos de Veracosta — ela disse, em meio a aplausos do lado direito. Ele sentiu algo estranho no seu peito e quando olhou para baixo viu um brasão com o C de Castelobruxo se bordar magicamente no seu robe nas cores amarelo e laranja.

Ele voltou para onde tinha deixado as botas, calçou-as e subiu a arquibancada até o topo, onde encontrou Mateus sentado ao lado de Amadeus. Ele estava sorrindo para Alex, mas esse não conseguiu fazer o mesmo.

— Minha designação... — Alex disse, sentando-se ao lado de Mateus. — Minha designação... o que isso significa?

— Ser um veracosta? — respondeu Amadeus. — Significa que você não é um fresco que mexe com plantas o dia todo.

Dois outros alunos entraram no grande jardim e desceram a arquibancada.

— Mas eu posso estudar herbologia, não posso?

— Só na próxima encarnação — respondeu uma garota que estava sentada na sua frente. — Espero que não tenha medo de mordidas.

— Não...

— Não era o que você queria, né? — perguntou Mateus. — Mas eu te garanto que estudar animais mágicos não é tão bobo quanto parece. Você é um mantedor agora.

Alex não sabia o que pensar. Viu outros alunos serem designados para a arquibancada da esquerda, de nome Pajuante. Tinha entendido da pior maneira que Veracosta era o totem da magizoologia, que escolhia seus alunos com maior aptidão para o estudo e trato dos animais mágicos. Pajuante, o totem branco, era o que escolhia os alunos com uma inclinação para herbologia e seus diversos campos. Os alunos selecionados como pajuantes recebiam o brasão em branco e roxo.

— Então é definitivo...

— Parece que sim — respondeu Mateus. Ele pareceu confuso quando acrescentou: — Qual o problema de ser um veracosta? Você parece que tá enjoado.

Alex não teve vontade de responder. Logo todos os alunos tinham sido designados. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, dezenas de criaturas peludas e vermelhas saltaram por sobre suas cabeças, descendo a arquibancada por entre os alunos e causando uma confusão. Se reuniram no jardim, sob os olhos de todos, e puseram-se a dançar e a mexer os corpos como se estivessem em festa. Alex sabia que aqueles eram as caiporas, sua mãe o alertara para ficar longe delas.

Quando terminaram, voltaram arquibancada acima cheirando os alunos novos. Uma caipora subiu no colo de Alex e colocou seu focinho bem próximo do seu nariz. Cheirou-o e passou por cima da sua cabeça, bagunçando seu cabelo. Logo após todos os alunos se levantaram da arquibancada e começaram a subi-la. Passaram por colunas imensas e andaram até o que parecia ser uma parede de vidro. Três portas também de vidro estavam abertas e eles foram entrando aos montes. Alex ainda não podia acreditar no que acontecera com ele. Foi com extremo desinteresse que se sentou em uma das mesas circulares do refeitório e viu a carranca da mesa cuspir seu jantar. Comeu um pouco e então Mateus disse que ele e seu irmão já estavam indo para o dormitório, tinham que chegar o mais rápido possível para pegar os melhores quartos vagos.

Ele acompanhou os irmãos pelos corredores de Castelobruxo, subiram três escadas e passaram por diversas salas até chegar numa escada maior que levava ao dormitório de Veracosta. Uma algazarra já se formava ali, pois a maior parte dos alunos mais velhos tinham ido pegar seus quartos antigos. Amadeus era um deles. Eles entraram no dormitório e viraram à direita para entrar numa sala sextavada. Subiram uma escada circular para outra sala idêntica à anterior. Ali Amadeus expulsou um aluno do segundo ano do que parecia ser o seu quarto e de seus amigos. Mateus e Alex continuaram subindo até chegar numa sala que não tinha muita gente.

— Aqui! — disse Mateus. Abriram a porta do primeiro quarto à esquerda, mas esse já estava ocupado. Assim como os demais. O menor dos quartos, em frente à escada, tinha três camas, mas um garoto já estava lá dentro. — Merda, esse também está ocupado.

— No, pueden permanecer acá — disse o garoto, se levantando da cama.

— Você está sozinho? — perguntou Mateus.

— Sí — o menino disse. — Sim. Soy novo aqui, y uestedes? Meu português no é bom.

— Também estamos no primeiro ano. Meu nome é Mateus, esse aqui é o Alex.

Alex deu um breve sorriso.

— Bueno. Soy Nicolás da Argentina.

Os garotos se acomodaram nas camas restantes. Num instante seus pertences apareceram nos pés das camas e ficou oficializado que aquele era o quarto deles. Nicolás provou ser um garoto bem legal. Ele contou de imediato que não esperava entrar para Castelobruxo; também era a primeira vez que vinha ao Brasil, e até agora gostara de exatamente tudo. Mascava um chiclete devido à sua condição de baixo teor de açúcar no organismo, e às vezes era difícil entender o que ele falava, na mistura de línguas.

— Por que estas calado? — ele quis saber, olhando para Alex.

— Ele não queria ser um veracosta — Mateus foi mais rápido na resposta.

— Não é bem isso — Alex começou. — Eu não sou um bruxo comum.

Os dois fizeram silêncio. Então ele contou tudo. Desde como sua comunidade mágica funcionava, com o uso dos anéis e a aversão às varinhas, até a condição que seu pai impusera para que ele pudesse estudar ali.

— Deve haver algum jeito de trocar — ele disse. — Eu nunca cheguei nem perto de um animal fantástico na minha vida. Das plantas sim, já cuidei de inúmeras. Conheço nomes de cor, li livros de herbologistas renomados... não entendo por que os totens acharam que eu me dou melhor em magizoologia.

— Eles nunca erram — ofereceu Nicolás. — Nunca.

— Mas que diferença faz? — Mateus perguntou. — Seus pais não vão te tirar da escola agora que você não vai poder estudar herbologia, não é mesmo?

— É exatamente isso que eles vão fazer se descobrirem.

Alex sabia que o pai não pensaria duas vezes antes de tirá-lo daquele lugar no momento em que ficasse sabendo que parte do acordo fora quebrado. Agora era certo que ele não voltaria para a comunidade errante para atuar como herbologista, e com certeza não tinha espaço para um magizoologista entre eles. Pela primeira vez agradeceu por estar no meio da Floresta Amazônica, num castelo incomunicável.