# Narração Daniel (ON):

Estava deitado na minha cama, estava muito entediado, não tinha feito nada o dia todo e agora estava anoitecendo, quando minha mãe abre a porta e fala que tenho uma visita. Não queria levantar da cama, apostava a minha alma que era Luiza que estava me esperando e com toda certeza iria reclamar o quanto o grupo estava disperso e como todos estavam morrendo de amores por ela.

Enrolei um pouco mais na cama e decidi não descer, passou mais ou menos cinco minutos até que a porta do meu quarto é aberta novamente e eu escuto uma voz levemente debochada caçoar da minha cara e vejo um flash da câmera ser disparado.

– Nossa que cena linda. - disse ela enquanto guardava o celular no bolso.

– Anna Júlia! Me dá esse celular aqui.

– Sem chance. Não sei se vou precisar de uma foto dessa futuramente.

– Tá bom... Fica com a foto. O quê você quer aqui?

– Da última vez você falou que eu poderia voltar aqui quando quisesse. O que você acha de continuar a me ensinar a tocar violão?

– Acho uma boa ideia.

– Então vamos lá pra casa, na sala de música tem um.

Levantei e lavei o meu rosto, estava arrumado já, só tinha passado o dia todo jogado na cama.

Peguei o meu violão e coloquei-o em sua capa. Segurei a capa pela sua alça e andei até Anna que me esperava no batente da porta do meu quarto. Descemos a escada e avisei a minha mãe que ia na casa de Anna e ela sorriu em concordância.

Fomos andando até a sua casa, vi que Luiza me encarava de leve quando passamos pela praça, ignorei o seu olhar e continuei o caminho. Quando entramos dona Angela veio nos recepcionar.

– Oi vó. Cheguei de vez e trouxe o Daniel comigo.

– É tão bom ver vocês dois juntos. - ela me abraçou.

– É legal andar com a sua neta sem que ela me fuzile com os olhos a cada cinco minutos.

– Exagerado. - Anna retrucou.

– Desculpa a curiosidade, mas o quê vocês vão fazer?

– Ele vai me ensinar a tocar violão.

– Isso é tão legal.

– A Anna leva jeito.

– Decidi ter novas experiências, abrir os meus horizontes.

– Isso é muito bom.

Fomos para a sala de música e Anna pegou o violão que estava no fundo da sala, ela apontou dois bancos e nós dois sentamos.

– Tá tudo bem? - ela me pegou desprevenido e perguntou.

– Tá sim. Por que?

– Você tá estranho. Na verdade você é estranho, mas está mais que o normal. Percebi que você está incomodado desde que passou pela pracinha.

– Não é nada... É só a Luiza...

– O que tem ela? Tirando o fato que ela não gosta de mim e que morre de ciúmes de você.

– Como assim? Ciúmes? Tá de brincadeira né?

– Ela gosta de você seu bobo, não só como amigo. Para um pouco e repara nas coisas ao seu redor.

– Não viaja, Anna. Vamos tocar. Hoje vamos avançar mais um pouco.

Desviei o foco do assunto, porque não queria falar sobre isso. Será que é verdade? Será que Luiza gosta de mim sem ser como amigo? Senti minhas bochechas esquentarem. Por isso todo aquele papo e aqueles ataques.

Anna progredia cada vez mais, ela pegava fácil os acordes e já tocava algumas musicas sem dificuldades.

Todos os dias parávamos para tocar e ficávamos tocando até tarde. Cada dia que passava ficávamos mais próximos, eu ia entendendo o porquê de todos ficarem fascinado por ela e passei a perceber que ela estava menos arredia.

Passávamos cerca de duas horas por dia tocando e conversando sobre vários assuntos, ela me incentivou a conversar a serio com Luiza e eu estava com medo, mas no fim sabia que era a coisa certa a ser feita.

Desde o dia que ela invadiu o meu quarto e tirou aquela foto minha jogado na cama passaram-se seis dias. Amanhã era véspera de Natal e pelo que eu soube ela passaria na casa daquela amiga ruiva dela, junto com os amigos e familiares.

Me despedi de Anna e fui caminhando pra minha casa, mas dessa vez faria uma pausa antes, iria até a casa de Luiza e conversaria com ela.

# Narração Daniel (OFF):

# Narração Luiza (ON):

Cada dia ele estava mais próximo dela. Por que todos querem ficar com ela? Por um acaso ela tá banhada em mel? Tudo bem que ela é popular e tá no topo da hierarquia, fora isso ela não tem atrativo nenhum. Apenas a enxergo como uma menina fútil e nojenta.

Todo dia ele ia até a casa dela e ficava um tempo enorme lá, sentia falta do meu amigo, estava morrendo de ciúmes de tudo. Já era o sexto dia seguido que ele fazia isso, ia na casa dela e demorava horrores. O quê ele tanto fazia lá?

Escutei a campainha tocar e me levantei mal humorada. Desci as escadas e abri a porta num rompante. Daniel me olhou assustado com a minha reação, ele ficou pálido.

– O que você quer? Agora lembrou que eu existo? - esbravejei.

– Podemos conversar?

– Ela cansou de te escutar? - caçoei da sua cara.

– Como assim? - ele parecia não entender.

– Vai dizer que não entendeu. Você acha que pode me usar pra desabafar sobre a sua vida quando ela não quiser te escutar?

– Não viaja, Luiza! Ela estava certa, você está morrendo de ciúmes. - ele desabafou.

– E se eu estiver? - indaguei.

– Eu nunca te trocaria por ela. - ele respondeu naturalmente.

– Não é o que parece. - disse magoada.

– Vamos poder conversar tranquilamente ou você vai tirar suas próprias conclusões sem me deixar falar? - ele massageou as têmporas.

– Entra...

Fui andando até o sofá e me sentei, ele repetiu o mesmo gesto que eu. A voz dele ecoava na minha mente repetindo a frase "eu nunca te trocaria por ela", sorria sem sentir a cada momento que relembrava essa frase.

– Por que você está sorrindo?

– Você falou que nunca me trocaria por ela. - falei sem sentir e quando percebi fiquei rubra.

– Você gosta de mim. E não é como amigo. Não tenha medo de me falar a verdade.

– Talvez... - não conseguia controlar a vermelhidão no meu rosto.

– E você? Também gosta de mim?

– Talvez... Eu também não sei explicar o quê sinto... - ele também ficou rubro. - Anna me ajudou a entender o que eu sinto por isso tô aqui.

– Ela fez alguma coisa que preste. Eu senti a sua falta esses dias.

– Eu também senti, sempre fomos muito próximos e apesar de você ter ficado muito ciumenta e possessiva ultimamente eu meio que compreendi.

– Compreendeu? E agora... O que vamos fazer?

– Você quer ser mais do que minha amiga e eu tô disposto a tentar. - ele tentava não se embolar nas palavras.

– Isso é um pedido de namoro, Daniel? - perguntei torcendo que a resposta fosse sim.

– Acho que sim... Na verdade era pra ser... - ele continuava vermelho.

– Então se era pra ser... Eu aceito... - disse e sorri.

Ele me abraçou e encontrávamos o conforto que precisávamos nos braços um do outro. Não sei quanto tempo se passou, mas quando terminamos, ficamos presos no olhar um do outro.

Acho que no final das contas teria que agradecer Anna por dar um empurrãozinho em Daniel que agora era meu namorado. Eu podia parecer calma, mas por dentro estava eufórica e soltando muitos fogos.

# Narração Luiza (OFF):

# Narração Miguel (ON):

Véspera de Natal... Mais tarde iríamos pra casa da Melissa que por um acaso fica alguns andares acima do meu apartamento. Estava nervoso, desde que o meu relacionamento com Anna Júlia acabou o clima está pesado no grupo, ou melhor, eu sei que não sou muito bem vindo, mas não posso negar o convite, já que minha mãe o aceitou de prontidão. Ela e Marcela são amigas de longa data.

Essa ceia promete altas emoções, vai ser interessante estar na mesma mesa que todos. Presenciaremos o momento em que todos vestirão as suas máscaras e interpretarão o seu papel com maestria. Uma apresentação digna de um Oscar.

Faça de tudo, porém mantenha as aparências e não envergonhe a sua família são os ensinamentos que são passados desde sempre. Não sei se é o certo dizer ensinamento, mas acho melhor falar que é uma doutrina, até porque futuramente iremos passá-los para a geração que está por vir.

Conquistaria a confiança de Anna novamente, não aguentava mais Larissa, ela é um estorvo certas horas, superficial demais e muito mimada. Sabia que uma hora ou outra Anna seria destronada e Larissa assumiria o seu lugar, não consigo negar que usei as duas e que ainda continuo usando Larissa. Irônico é ela falar para eu não me apaixonar por ela sendo que ela está caidinha por mim. Em um jogo a melhor estratégia é fazer seu maior rival apaixonar-se por você, mas nesse caso ela não era minha rival, mas sim da minha namorada que agora é ex.

Eu jogo para ganhar e se eu fosse apostar, apostaria fácil que Larissa espera que eu a peça em namoro, mas eu não a quero, não agora. Faria uma das minhas ultimas jogadas, apelaria já que estava sendo necessário. Anna sempre se lembraria desse dia afinal todos sabemos que os melhores presentes vem nas menores caixas.

Tenho tudo altamente planejado, afinal bons estrategistas pensam em todos os passos. Caso o meu plano não desse certo, desistiria de voltar com ela e a chutar futuramente, só por vingança e também pra fazê-la sentir na pele o que é ser largada e humilhada, faria o óbvio usaria mais uma vez Larissa.

O jogo está ficando cada vez mais interessante e eu tô adorando.

# Narração Miguel (OFF):

# Narração Larissa (ON):

Ele vai se apaixonar por mim, eu vou conseguir assumir o trono, estarei no topo da hierarquia, todos cairão nos meus pés. Repetia essa mantra pedindo a Deus ou a qualquer outro ser divino que realizasse o meu pedido. Esperava que nesse natal todos os meus pedidos se realizassem.

Certa vez falei para ele não se apaixonar por mim, mas eu mesma me enrolei na teia que estava tecendo, Miguel é um bom jogador e sabe muito bem o que fazer para alcançar o seu objetivo. Somos a dupla perfeita, somos os dois lados da mesma moeda, nos completamos.

Cansei de viver na sombra da minha querida irmã, o querida é tão falso como uma nota de três reais. Tudo que ela conquistou eu conseguiria, afinal eu sou tão boa quanto ela, na verdade eu sou melhor e por isso mesmo vou tomar o seu lugar e aproveitar para mandá-la pra longe do meu reinado.

Mamãe está histérica, hoje tem a ceia na casa dos Maldonado, todos estarão reunidos. Eu também estou com os nervos a flor da pele. Sempre é difícil ficar no mesmo cômodo que Anna Júlia sem tentar estragar o disfarce. Tenho uma meta a simples, vou brilhar mais do que ela hoje, apesar dela ter um brilho natural. É difícil admitir, mas é a verdade e a verdade nem sempre nos agrada. Por causa dela muitas vezes fazemos loucuras, tentamos tranformar mentiras em algo concreto e de tanto repeti-las acabamos crendo nela. Soamos responsáveis pelo aquilo que cativamos.

Continuo a repetir o meu mantra torcendo para que os meus desejos, mesmo os mais obscuros se realizem. Hoje vamos presenciar uma linda peça de teatro, mas sem nenhum roteiro. O roteiro é pré determinado quando nascemos e hoje eu seria a protagonista, apagaria todas as luzes e não deixarei ninguém me ofuscar. É um dos paços finais para tomar o meu trono de uma vez por todas, afinal eu já estou no topo, só falta sacramentar.

# Narração Larissa (OFF):

# Narração Melissa (ON):

Chegou o momento, sabia que uma saia justa iria acontecer. Não sabemos seguir o roteiro por muito tempo, as vezes parece que vem uma voz na nossa mente e fala “acaba com o show” e por incrível que pareça na maioria das vezes escutamos. Banar a família perfeita de um comercial de margarina não é muito a minha cara, mas aprendemos a engolir os sapos que a vida nos dá e a acatar as decisões que são tomadas.

Natal é um belo momento pra se passar em família, mas o quê você considera família? O termo família possui vários significados dentre eles: conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa formando um lar; pessoas ligadas por casamento, filiação ou adoção. Família é uma coisa complicada, afinal muitas vezes temos laços sanguíneos com algumas pessoas e não queremos ter relações com ela, já outras vezes não possuímos nenhum tipo de laço sanguíneo e gostaríamos muito de ter um.

Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os espíritos antes, durante e depois de suas encarnações.

Dizem que, amigo é mais que família, é uma empatia consentida, uma cumplicidade além dos laços sanguíneos. É uma escolha feliz de alguém que pusemos ao nosso lado para trilharmos a vida!

Os meus amigos são a minha família, a família que eu escolhi, afinal em um mundo comandado por herança sanguínea e contas de banco, vale a pena ter um amigo. Eles são especiais porque me fazem sorrir nos piores momentos.

Abram as cortinas o show vai começar, ou melhor, a ceia de natal mais do que apimentada. Prevejo um incêndio daqueles, que não vai ser apagado com água, mas sim com gasolina.

# Narração Melissa (OFF):

# Narração Anna Júlia (ON):

Então é natal... A música tocava na grande sala de Melissa. Estava com um vestido que muitos dirão que é curto preto com alguns detalhes em dourado, tinha os olhos bem marcados com o delineador preto e nos pés possuía um belo par de scarpin preto. Meu cabelo estava preso numa longa trança lateral e enfeitado com pequenas presilhas em forma de estrela.

Esse clima natalino que nos faz fingir que todos convivemos bem é no mínimo um pouco ilário é um tanto doentio. Provavelmente em outras casas esse clima deve ter um sentido verdadeiro, mas não aqui pra grande parte dos convidados. A frivolidade também é uma forma de hipocrisia, porque as pessoas não são aquilo que estão demonstrando.

Fingimos pertencer a uma grande família perfeita, aquelas que aparecem em capas de revista e servem de molde para outras. As aparências importam mais do que a verdade. O que adianta sentar somente um ou dois dias a mesa e comemorar uma falsa união, sendo que nos outros dias o relacionamento entre essas pessoas vai de mal a pior? Só porque temos laços sanguíneos somos uma família?

Talvez não sejam laços de sangue que formam uma família, talvez sejam as pessoas que saibam nossos segredos, mas nos amam mesmo assim, para que possamos ser, nós mesmos. Acredito que Deus coloca as pessoas certas nos momentos certos da nossa vida, não só coloca como também tira. Enxergo Bernardo como uma dessas pessoas que entrou na minha vida no momento certo, ele enxerga uma luz em mim que nem eu achava capaz que era possível trazer à tona, mas em compensação uma pessoa que saiu da minha vida foi Miguel. Algumas perdas são favoráveis, estaria mentindo se dissesse que não sinto a sua falta, mas uma hora a abstinência passa e o passado é enterrado. Caso eu não consiga esquecer e virar a página, ou melhor queimá-la, jogarei o livro inteiro na fogueira.

Falando no capeta eis que ele me surge com aquele sorriso de canto cafajeste e seu perfume mais do que marcante. Armani Code. Certas coisas nunca mudam e talvez é melhor que nem mudem.

# Narração Anna Júlia (OFF):

# Narração Miguel (ON):

Avistei Anna com um vestido preto com detalhes dourados, ela está linda e radiante. Me aproximei lentamente com o meu sorriso de canto característico. Exalava o meu perfume, todos sabiam que o Armani Code era o meu perfume.

– Feliz natal, Anna.

– É impressionante a sua cara de pau em vir falar comigo e mais impressionante é você aparecer aqui hoje, Miguel.

– Vim somente lhe entregar o seu presente.

– E porque motivos eu iria aceitá-lo?

– Você sabe que os melhores presentes vem nas melhores caixas, Anna.

– Eu sei… Mas se você acha que ele compra o seu perdão, você está totalmente enganado.

– Como você pode ser tão fria e sem coração? Como você pode me tratar assim?

– Eu sei, sou uma pessoa fria muitas vezes. Minha frieza é minha proteção. Não finja que ficou ofendido, esse papel não combina contigo. Obrigada pelo presente, tenho certeza de que ele é lindo.


How could you be so, cold as the winter wind
when it Breeze yo
Just remember that you talkin' to me though
You know need to watch the way you talkin' to me yo. I
Mean after all the things that we've been through
I mean after all the things we've got into
Hey yo, I know of some things that you ain't told me
Hey yo, I did some things but that's the old me
And now you wanna get me back and you goin' show me
So you walk around like you don't know me
You got a new friend, well I got homies
But in the end it's still so lonely

– Por favor abra. Se quiser eu te ajudo a colocá-lo.

– Realmente é lindo o bracelete, você continua tendo muito bom gosto.

– Acho que mereço um abraço.

– Não força…

– Vamos lá, Anna. Pelos velhos tempos.

– Resolveu se apegar ao passado, Miguel?

– O passado me traz boas lembranças. Você costumava gostar dele. Pelo menos de sua grande parte. - a questionei.

– O meu passado é dividido entre coisas que eu não consigo lembrar e coisas que eu não quero e você é as duas.

– Obrigado pela parte que me toca. - olhei pra ela como se ela tivesse me ofendido.

– Não finja que você se ofendeu, sabemos muito bem que eu peguei leve. Agora me ajuda a colocar o bracelete que você me deu enquanto pondero se lhe darei um abraço.

– Que bom que você cogitou a ideia de me dar um abraço. - falei enquanto colocava o bracelete no seu pulso esquerdo.

– Só porque é natal. Hoje é dia de ignorar as desavenças, pelo menos a maioria delas.

Quando ela me abraçou a apertei forte e aspirei o seu perfume, sentia falta dela só pelo status. Percebi que todos nos olhavam e sorri olhando diretamente pra Nathaniel. Sabia claramente que ele gosta dela, porém a chance dele conquistá-la é quase zero. Após fitá-lo lancei um olhar demonstrando a todos que ainda a tinha como posse, principalmente para aquele loiro que tá parecendo o seu mais novo amigo.

# Narração Miguel (OFF):

# Narração Anna Júlia (ON):

Às vezes, os melhores presentes vêm nas formas mais inesperadas. Nunca imaginei que ganharia um bracelete lindíssimo daquela joalheria divina que é a pandora, principalmente de Miguel. Ele continua tendo bom gosto, apesar de tudo. O engraçado é que o desgraçado acertou em cheio no presente, o bracelete combinava perfeitamente com os adornos em meu cabelo, ele é todo enfeitado com pingentes de estrelas. Tenho uma fascinação por estrelas e ele sabe muito bem disso.

– Já começou a trocar os presentes, Anna? - Melissa me assustou e acabou interrompendo os meus devaneios.

– Como assim? - não tinha entendido muito bem o intuito de sua pergunta.

– Eu vi o Miguel te presenteando e logo em seguida você o abraçando.

– Sobre isso é melhor nem comentar. Tô tão surpresa quanto você.

– Você sabe que isso é uma demonstração de que ele ainda não desistiu de vocês reatarem.

– Ele pode tentar o que ele quiser, mover céu e terra se for necessário, mas não vai adiantar. Eu não vou voltar pra ele. - estava decidida, manteria a minha decisão até o final.

– Eu sei... Convenhamos que você merece alguém muito melhor que ele.

– Não tô preocupada em achar um namorado agora.

– Se você arranjasse um, talvez ele largasse do seu pé.

– Com um namorado ou não ele não vai sair do meu encalço tão cedo. - suspirei derrotada.

– Deixa eu ver o presente que ele te deu. - estendi o meu pulso pra ela. - Não é que o bastardo tem bom gosto.

– Ele acertou em cheio no presente. Tô apaixonada.

– Não fale isso antes de receber o meu, afinal sabemos muito bem que eu te conheço melhor que qualquer um. Mas você só o receberá depois de meia noite, na verdade faremos como sempre abriremos os nossos presentes amanhã de manhã como todo ano. Manteremos a tradição.

– Me surpreenda então. Mas se prepare porque também te surpreenderei.

# Narração Anna Júlia (OFF):

# Narração Nathaniel (ON):

Meu sangue borbulhou quando vi aquela cena, Miguel abraçando Anna, ele me olhou como se dissesse que ela nunca seria minha, não seria nada além de uma amiga. Não entendia o porquê dela o ter abraçado, só sei que aquela cena me irritou. Tive vontade de arrancá-la dos seus braços, mas não fui capaz de me mexer e realizar tal ação. Fiquei estático apenas observando e me torturando.

– O que você tanto observa, Nathaniel? - Amanda me perguntou.

– Nada.

– Se fosse nada, você conseguiria ao menos desviar o olhar.

– Eu não entendo... Como ela consegue o abraçar sendo que ele a fez tão mal?

– Eu também não consigo entender como ela consegue, talvez seja culpa do tal espírito natalino.

– Do que vocês estão falando? - Lucas perguntou.

– Sobre como ela consegue abraçá-lo depois do que aconteceu. Eu acho que é culpa do espírito natalino. - Amanda o respondeu.

– Deve ser por causa disso. Anna não o abraçaria em condições normais.

– Vocês falam como se tivesse algo totalmente bombástico por trás do término deles. Nós sabemos que o rompimento deles não foi nada amigável, mas acho que vocês dois estão escondendo alguma coisa.

– Talvez tenha mesmo algo bombástico por trás do término, mas isso ninguém vai ficar sabendo, até porque o número de pessoas que já sabem já está elevado demais. Sabemos que um segredo só é guardado quando ele está entre duas pessoas. - Lucas respondeu.

– Entendo... - aceitei que Lucas não contaria os bastidores.

– Aposto que se você soubesse, não conseguiria segurar a sua raiva. Da pra ver que você tem um carinho especial pela Anna, Nathaniel. - Amanda me cortou.

– Vamos parar de fofocar sobre a minha prima, ela sabe o que está fazendo. - Lucas encerrou o assunto.

Lucas e Amanda foram em direção ao bar e eu assimilei bem as palavras que ele falou. Anna sabe o que está fazendo. Eu esperava sinceramente que ele estivesse certo.

Vi Felipe chegando com a sua mãe, já era hora. Ele saberia muito bem quebrar o clima ruim caso acontecesse um, afinal ele é irreverente e sem noção.

# Narração Nathaniel (OFF):

# Narração Larissa (ON):

O teatrinho de filha perfeita estava dando super certo, meu pai, ou melhor, padrasto tecia milhões de elogios sobre a minha pessoa para os seus amigos. Recebia um olhar de orgulho da minha mãe e eu não conseguia desfazer o meu sorriso, até que eu vi aquela cena patética. Como assim o Miguel está abraçando a Anna Júlia. Isso é o cúmulo do absurdo. Cerrei meus punhos e meu sorriso se tornou meio que uma careta de desgosto. Pedi licença e me retirei.

Caminhei com passos furiosos na direção de Miguel. Eu devia estar na mesma cor que o meu vestido. Vermelho sangue, ou vermelho raiva. Meus saltos cinza chumbo tilintavam no chão e uma aura raivosa emanava enquanto eu andava.

O puxei para o canto e ele me olhou surpreso. Cerrei meus olhos e respirei fundo a fim de controlar a minha raiva.

– Que palhaçada foi aquela, Miguel? - disse entre dentes.

– Não estou te entendendo, Larissa. - ele soltou um sorriso de canto.

– Vou repetir só mais uma vez. Que palhaçada foi aquela? Por que você estava abraçando a Anna Júlia?

– Isso? A abracei porque eu ainda vou reconquistá-la. E ela ainda por cima amou o presente que a dei. Por um acaso você está com ciúmes?

– Ciúmes daquela songa monga? Me poupe dessa piada escrota. Presente? Que presente?

– Se isso não é ciúmes é o que? Já te falei que não temos nada sério, então não tô entendendo o seu escândalo. Dei uma bracelete da pandora com pingentes de estrela.

– Você só pode estar de sacanagem com a minha cara né? - a minha pergunta foi ambígua.

– Estou sendo o mais sincero que consigo. - ele virou as costas e saiu.

Ele saiu andando e eu fiquei roxa, como ele ousa falar assim comigo. Nós somos a dupla perfeita. Saí andando atrás dele e ele foi obrigado a continuar a falando comigo. Não queríamos que um escândalo fosse formado.

– Não se esqueça que o plano só vai dar certo se trabalharmos em equipe.

– É irônico você falar isso, Larissa. Você está misturando as coisas. Lembra que não é pra se apegar?

– E quem disse que eu estou apegada?

– As suas atitudes demonstram isso. Se agora você me dá licença, vou comprimentar algumas pessoas.

Não conseguia acreditar que ele deu um bracelete pandora pra ela. Tudo bem que ele tentaria voltar com ela pra destruí-la, mas precisava fazer esse tipo de esforço? Estava com inveja da atenção que ela recebia dele e com mais inveja ainda do presente que ela ganhou.

Fechei meus olhos e contei até dez e repeti o mantra que venho repetindo todos os dias. Percebi que a minha respiração foi regulada, já estava pronta pra voltar para os holofotes e brilhar.

# Narração Larissa (OFF):

# Narração Miriam (ON):

Larissa saiu emanando uma aura raivosa, ela viu algo que não gostou e isso me preocupava. Ela podia acabar colocando tudo a perder com um escândalo.

Depois de um tempo ela voltou, mas como eu a conheço bem sei que não está nada bem. É o meu dever colocá-la nos trilhos e não deixar a máscara cair. Puxei minha filha discretamente para o corredor do segundo andar que dava nos quartos e a interroguei.

– O que aconteceu?

– Nada...

– Desembucha garota.

– O Miguel presenteou aquela songa monga com um bracelete pandora e ainda por cima a abraçou!

– E...

– Eles vão ficar juntos outra vez, sinto que ele está esvaindo do meu controle. Não sei o que fazer.

– Para de dar uma de menina tola e indefesa, todos nós sabemos que isso é teatro. As coisas nem sempre vão sair do seu jeito. - Larissa se assustou.

– Mas mamãe...

– Engole a manha. Não é possível que eu tenha que resolver tudo sozinha. - suspirei irritada.

– Sim senhora.

– Agora ponha na sua cabeça que se você não trabalhar direito, você vai continuar perdendo pra ela. Vamos voltar, melhora essa cara e não me envergonhe.

Voltamos para junto de Carlos e dessa vez a minha querida sogra estava com ele, lancei um olhar para Larissa e ela entendeu o recado. Não podíamos vacilar, principalmente na frente da velha. Ela é muito esperta e qualquer passo em falso é perigosíssimo, ela se fazia de idiota, mas era só uma máscara. Tudo perto dela tinha que ter o cuidado redrobrado, pois qualquer falha é mortal.

# Narração Miriam (OFF):

# Narração Bernardo (ON):

A casa estava cheia, muita música e bebidas de todos os tipos. Os Maldonado sabem como dar uma festa e principalmente como recepcionar seus convidados. Melissa veio me recepcionar, ela trajava um vestido vinho frente única, suas costas estavam de fora e seu cabelo estava solto. Ela parecia uma modelo daqueles catálogos de vestidos de festa.

– Que bom que você está aqui! Já chegou tem muito tempo?

– Um pouquinho...

– Espero que goste da festa.

– Com toda certeza vou gostar. Vocês realmente sabem dar uma festa.

– Isso tudo é obra da dona Marcela Maldonado, também conhecida como minha mãe.

– Você está muito bonita, Melissa.

– Obrigada. Você também está lindo. Venha vamos assaltar o bar.

– Eu não bebo...

– Eu também não... - arqueei uma sobrancelha. - Só em ocasiões especiais. Hoje é uma delas.

– Acho que não é boa ideia beber até cair no natal.

– E quem disse que eu vou beber até cair?

– Não vai?

– Aquele dia foi uma situação adversa.

– Então tá tranquilo...

– Isso... Relaxa, Bernardo... Só vou beber um pouco, é necessário pra aguentar até o fim da festa.

Ela saiu me puxando em direção ao bar onde estava Anna Júlia, Amanda e Lucas. Eles pareciam ter a mesma opinião que Melissa.

# Narração Bernardo (OFF):

# Narração Lucas (ON):

Encontrei minha prima no bar sentada em uma das banquetas, seus olhos observavam o bracelete que estava em seu pulso esquerdo maravilhada. Acabei a assustando com a minha chegada repentina.

– Muito bonito o bracelete.

– É mesmo... Eu estou maravilhada com ele...

– Ele combina com você...

– Sério? Por que?

– Porque você é uma luz que brilha na escuridão, que nem as estrelas.

– Gostei da sua definição... Vou sempre me lembrar das suas palavras.

– Amiga que bracelete lindo! - Amanda chegou cheia de energia pegando no pulso de Anna para observar de perto a jóia. - Onde você o comprou?

– Eu não o comprei. Eu o ganhei de presente.

– De quem? Quero saber quem foi a pessoa abençoada cheia de bom gosto que te presenteou. - admito que também estava curioso para saber quem a tinha presenteado.

– Miguel...

– Oi? Repete... Acho que não entendi direito.

– Como assim, Anna? - falei incrédulo.

– Ele veio me desejar feliz natal e eu falei o quanto ele é cara de pau em aparecer aqui e ainda por cima vir falar comigo como se fôssemos íntimos, aí ele falou que queria entregar o meu presente, no começo eu fiquei incrédula e o perguntei por qual motivo eu aceitaria algo dele, vi que ele se sentiu ofendido e hoje não é dia de fazer nenhuma desfeita.

– Entendi... Não é que o idiota tem bom gosto?

– Saquei... Você não queria fazer nenhuma desfeita, mas precisa o ter abraçado?

– Não tô afim de receber nenhum esporro hoje. - ela me lançou um olhar irritado. Anna odeia ser questionada. - Quando vocês vão assumir esse lance de vocês? Tá na hora já!

– Anna... - Amanda ficou roxa.

– Você quer me questionar mas não quer que eu a questione. Isso é engraçado.

Fomos interrompidos por Melissa e Bernardo, ela veio andando arrastando o menino.

– Acho que é a primeira vez na noite que estamos todos reunidos.

– Já estava achando que você não ia ser uma boa anfitriã, Melissa. - Amanda brincou com ela.

– Também achei... - concordei.

– Não sei se eu rio ou se fico zangada... É tão bonitinho vocês dois concordando... Assumam logo esse romance, os deuses agradecem. - Melissa falou enquanto apertava a minha bochecha esquerda.

– Vocês formam um casal bonito. - Bernardo disse.

– Viu não só sou eu que acho que vocês tem que assumir! - Anna exclamou rindo da minha cara.

– Vocês podem parar de comentar sobre a minha vida amorosa, pelo amor de Deus.

– Só se você falar o quanto eu estou maravilhosa hoje. - Melissa falou enquanto mexia em seu cabelo.

– Você realmente está magnífica hoje, a Anna também está linda. Amei o vestido de vocês duas. - Amanda as elogiou.

– Você também está arrasando. - Anna respondeu.

– Não sei vocês, mas eu arrastei o Bê pra cá porque eu estou precisando de uma bebida, não tem como passar a noite toda sóbria.

– Até que enfim você deu uma sugestão decente. - soltei jogando as mãos para o alto.

– Eu concordo com os dois, não dá pra aguentar isso tudo sem beber nada. - Amanda falou.

– Nós todos concordando de cara com alguma coisa? Realmente o circo pode pegar fogo a qualquer minuto e eu não tô nem um pouco afim de estar sóbria. Vamos beber! - Anna fez sinal pro barman.

– Bebam por mim... Vou continuar nos sucos. - Bernardo disse.

– Sério? - perguntei incrédulo?

– Sim. Eu não bebo.

– Beleza...

– É bom que ele alerta a gente se começarmos a passar dos limites. Não é, Bernardo? - Melissa falou olhando pra ele de um modo cúmplice.

– Claro. - ele assentiu

Bebemos um pouco e logo Marcela anunciou que a ceia começaria, nesse momento cabeças rolariam literalmente. Muita gente com desavenças reunidas numa mesa não vai dar certo.

Fomos andando até a grande mesa e nela tinha os lugares marcados com o nosso nome. Se eu já estava achando tudo muito ruim antes, agora então estava pavoroso.

Eu sentei em frente à Anna, isso não era ruim, mas eu não queria estar na pele dela agora. Ela estava sentada entre Miguel e Larissa. Amanda estava a umas três cadeira de distância a minha direita e Nathaniel estava sentado do lado de Miguel e Melissa, a sua frente estava Felipe que coincidentemente estava sentado do meu lado esquerdo e meu pai estava sentado a minha direita.

Ceiamos em silêncio, mas o nosso silêncio era mortal e regado com olhares fuzilantes. Nossos olhares diziam o que não colocávamos em palavras. Às vezes algumas palavras de provocação escapavam de nossas bocas, mas nada que pudesse causar um escândalo. Eram alfinetas sutis, ou nem tanto.

Assim que terminamos de ceiar nos retiramos da mesa evitando nos encarar muito. Qualquer olhar mais feroz poderia ser motivo pra dar uma grande briga.

Meu pai recebeu uma mensagem no celular e falou com Alberto e logo me chamou junto com Anna para ir no escritório do Sr. Maldonado. Nós olhamos sem entender e o seguimos. Adentramos o recinto e lá o computador estava ligado numa chamada de Skype. Não acredito, meu pai vai tentar fazer as duas se falarem em pleno natal. Olhei pro meu pai desesperado e ele me olhou despreocupado.

– Acho que vocês não estão entendendo porque os chamei aqui, mas eu tenho uma surpresa.

– Surpresa? - Anna perguntou.

– Sim minha filha, ela se encaixa mais para você, mas antes eu quero entregar um presente de família para vocês. Seus avós gostariam de ver que passamos isso para os nossos filhos. Eu ganhei o meu mais ou menos na idade de vocês. Quero que futuramente vocês façam o mesmo com seus filhos.

Meu pai nos estendeu duas caixas, uma para mim e outra para Anna, abrimos a caixa e observamos que dentro dela havia um colar de ouro com um pingente de infinito também de ouro. Coloquei o colar e Anna também colocou o dela.

– O colar que Lucas recebeu era meu e o que você recebeu Anna era da sua mãe. Clara queria estar aqui presente para ela mesmo te entregar. Nós dois decidimos os presentear porque achamos que esse é o momento de passar adiante algo que é especial para nós. O infinito em seus colares significa que não importa o que aconteça nossos laços jamais vão acabar, não importa a distância e as adversidades, o nosso amor por vocês é infinito.

Estávamos atônitos, Anna estava mais paralisada do que eu. Meu pai vendo a nossa reação nos abraçou forte. Quando o abraço terminou uma mulher apareceu na chamada do Skype. Só naquele momento Anna percebeu que tinha algo a mais do que a entrega das joias de família.

– Vocês estão lindos. Por favor cheguem mais perto. - a mulher que identifiquei como a minha tia Clara se pronunciou.

– Espero que goste da surpresa minha filha. - meu pai disse.

Caminhei para mais perto do monitor e da câmera e Anna imitou os meus passos. Ela não esboçava nenhuma reação, parecia não acreditar no que estava acontecendo.

– Vocês estão enormes... Olhando vocês dois lado a lado parece eu e Fernando mais jovens. Queria tanto estar aí é tocá-los. Pelo que Fernando me contou vocês são inseparáveis e isso me deixa muito feliz. Além de serem inseparáveis, soube também que são extremamente inteligentes e possuem uma personalidade forte.

– Mamãe... - ela balbuciou.

– Anna Júlia, você está belíssima neste vestido.

– Obrigada...

– Queria tanto ter a visto crescer, você está uma mulher magnífica.

– Se queria tanto isso, por que me abandonou?

– Ninguém conhece o meu lado da história. Ninguém conhece a minha verdade.

– Que tal você contá-la? Vou adorar saber o que foi mais importante do que ficar comigo.

Fomos interrompidos pela porta sendo aberta e o pai de Anna entrando no escritório, ele foi até a filha e a abraçou. Depois ele olhou para o monitor, ele estava surpreso e não conseguia disfarçar.

– Clara... - ele parecia não acreditar que era ela.

– Carlos... - ela o cumprimentou normalmente.

– Quanto tempo...

– Quase oito anos...

Ouvimos um pigarro e olhamos pra porta, Anna Júlia franziu o cenho e seu olhar ficou raivoso. Miriam caminhou até Carlos e passou seu braço no dele. Não gostava daquela mulher, ela sorriu maliciosamente e olhou pro monitor zombeteira.

– Quanto tempo Clara... - ela falou com um leve tom debochado.

– Miriam...

– Você acha que pode "aparecer" assim de uma hora pra outra e importunar a minha filha e o meu marido? Você não tem esse direito e por você não ter ele eu estou encerrando essa chamada agora.

Ela caminhou até o computador e encerrou a chamada, eu e meu pai observávamos aquilo boquiabertos. Anna começou a cerrar os punhos e soltou tudo quando atingiu o ápice de sua raiva.

– COMO VOCÊ OUSA FAZER ISSO? QUEM VOCÊ PENSA QUE É!?

– Anna... - tio Carlos a interrompeu.

– Vai dizer que você concorda com a atitude dela. Eu não acredito.

– Eu fiz isso para os proteger... Essa mulherzinha é um fantasma na vida de vocês.

– Já chega, não fale assim da minha irmã. - meu pai protestou.

– Você não tinha o direito de intermediar isso, Fernando. - tio Carlos estava irritado.

– E ela não tinha o direito de se meter e acabar com a chamada, até parece que a Miriam se preocupa de verdade! É cômico o teatrinho dela. Na próxima vez que você me chamar de filha sua megera eu não respondo pelos meus atos. - Anna desabafou.

– Já chega, Anna. Não seja ingrata. - Carlos a repreendeu.

– Não seja hipócrita. - Anna retrucou.

Ela saiu da sala e bateu à porta com força, por causa da música alta os convidados não conseguiram ouvir a discussão. O clima estava pesado e eu não ficaria nem mais um segundo naquela sala. Percebi que eles queriam ter uma conversa séria então saí a procura da minha prima. Um incêndio havia começado naquela sala e ela não seria água que iria apagá-lo, mas sim gasolina.

# Narração Lucas (OFF):

# Narração Felipe (ON):

Depois da ceia de natal comecei a procurar Melissa por todos os cantos da cobertura, mas eu não a achava. Cheguei perto de Nathaniel e tentei descobrir aonde ela estava.

– Ei, cara cadê a Melissa?

– Já vou se ela está com a Anna?

– Já sim. Ela não está com ela. Sua irmã sumiu desde o fim da ceia.

– De repente ela foi no quarto dela.

– Tem certeza.

– Sempre depois de comer ela vai pro quarto dela.

– Ah sim.

– Vai atrás dela.

– É sério isso? - falei surpreso.

– Claro. Vai lá. Sobe a escada, é a segunda porta à direita. Entra sem bater.

– Valeu, Nathaniel.

Estava com o seu presente em mãos, não era nada luxuoso, mas era algo simbólico. Era uma pulseira feita à mão com pingentes de narcisos e de lírios. Ambas as flores possuem significados fortes e são belíssimas.

Subi a escada com o coração acelerado, encontrei a porta de seu quarto entreaberta. Adentrei o recinto sem pensar duas vezes. Quando pensei em dar meia volta e descer já que ela não estava no quarto escutei um barulho vindo do banheiro. Caminhei até o banheiro e vi uma cena que me deixou um pouco atordoado. Melissa estava sentada no chão gelado e com a cara enfiada dentro do vaso sanitário colocando toda a comida para a fora. Seu cabelo estava preso num coque frouxo e em sua mão esquerda tinha uma escova de dente.

– Melissa... - a chamei a assustando.

– O que você faz aqui? - ela me perguntou visivelmente irritada.

– Estava te procurando... Queria te entregar uma coisa.

– Não podia esperar eu descer?

– Desculpa. Não queria te atrapalhar. Tá tudo bem com você?

– Tá tudo ótimo. Eu estava passando um pouco mal, mas agora me sinto muito melhor.

– Parecia que você estava pondo a comida pra fora de propósito.

– E se eu estiver? Isso não é problema seu... - ela me desafiou arqueando uma sobrancelha.

– Isso é perigoso garota! - esbravejei.

– Não finja que se importa. - ela me olhou séria.

– Você não pode esconder das pessoas que tem bulimia.

– Todos temos algo a esconder... Algo obscuro dentro de nós, que não queremos que o mundo veja. Então fingimos que está tudo bem.

– Entendo...

– Já que você entende, ficará de bico calado...

– Quando digo que entendo... Não significa que eu entendo. Não significa que eu concorde, mas se é isso o que você quer escutar então eu direi.

Observei ela fechar a tampa do vaso sanitário e dar descarga. Após fazer isso ela se encaminhou pra pia, lavou a sua boca e escovou os dentes com uma outra escova de dentes. Ela olhou o seu reflexo no espelho e murmurou "agora sim, bem melhor", passou o batom e desprendeu o cabelo do coque frouxo que estava.

Após ela terminar de se arrumar estendi o singelo embrulho pra ela. Ela me olhou e pegou o embrulho de minhas mãos.

– Obrigada...

– Espero que você goste.

Ela abriu o embrulho e pegou a peça em suas mãos delicadas, observou cada pequeno detalhe e abriu um sorriso quase que imperceptível.

– São narcisos e lírios?

– Sim... Eles têm um significado.

– Eu sei... O Narciso é uma flor solitária que representa o “Egoísmo”, eles não precisam de complemento, eles brilham sozinho, já o Lírio significa "Nobreza", são flores exuberantes.

– Não sabia que você conhecia o significado das flores.

– Não conheço de todas, só de algumas... Fecha pra mim a pulseira? - ela me estendeu o seu pulso direito.

– Claro...

– A pulseira é linda... Obrigada pelo presente... Eu adorei, outsider... Sorry... Felipe.

Ela saiu do banheiro e logo em seguida do seu quarto e eu fiquei atônito enquanto repetia mentalmente a sua voz me agradecendo.
Essa garota ainda iria me enlouquecer. Uma hora ela sorri e me agradece e na outra ela me da um susto. Ela é uma caixa de surpresas.

# Narração Felipe (OFF):

# Narração Anna Júlia (ON):

Saí do escritório com as emoções à flor da pele. Estava andando atordoada até que esbarrei em alguém. Péssima hora pra esbarrar em Miguel, aposto que ele soltaria alguma piadinha. Caso ele tivesse a audácia de me provocar dessa vez eu não me seguraria, estávamos sozinhos na varanda e com a porta fechada ninguém veria e nem escutaria nada.

– Sabia que uma hora ou outra você viria até a minha ilustre pessoa, só não jurava que você estaria tão desesperada pra pedir o meu perdão. Não precisa se ajoelhar e beijar os meus pés.

– Você é um idiota. É um cretino arrogante e sabe disso. Você consegue extrapolar todos os limites. Não sei como passei tanto tempo do seu lado, mas não fique ofendido seu babaca. Não estou te insultando, estou te descrevendo.

– Não precisa mentir pra mim, Anna Júlia. Sabemos muito bem que você me ama e não vive sem mim.

– Aprendeu novas formas de se iludir? Se situa, eu não vou voltar pra você. Eu tenho ódio de pessoas cretinas e prepotentes como você.

– Ódio é uma palavra forte não acha?

– Amor também é e as pessoas dizem como se não fosse nada.

– Você fala como se soubesse o que é amor. Ninguém nunca te amou garota. Sua mãe te abandonou e teu pai prefere a Larissa. - ele debochou da minha cara.

– Não fala da minha mãe! Você não sabe de nada! - explodi.

Não aguentei ver ele zombar da minha cara. Não com esse fato. Ele esfregou sal na ferida. Olhei ele rir em escárnio da minha cara e toda a raiva que eu já tinha acumulado pareceu triplicar. Dei um tapa na sua cara e o seu rosto ficou vermelho e com a marca da minha mão.

– Não ouse falar nada sobre a minha família, se você fizer isso outra vez vou acabar contigo. - cuspi as palavras na cara dele.

– Vai me dar outro tapa? Não tenho medo da sua ameaça. Você é fraca, aposto que quando essa sua adrenalina baixar você vai entrar em prantos como a menina fraca que você é.

– Vou fazer você engolir as suas palavras!

– Como? Eu pago pra ver, vadia fraca. - ele riu em escárnio. - Eu vou te mostrar o que acontece com vadias que acham que são fortes.

O momento a seguir foi passou como um flash. Miguel tentou me bater e Nathaniel o socou. Não sabia como ele tinha chegado ali, mas o agradeceria por me proteger.

Nathaniel desferiu três socos na cara de Miguel e ele mesmo assim mantinha um sorriso debochado.

– Nunca mais a chame de vadia! Lava a sua boca com soda cáustica antes de falar dela! - Nathaniel dizia irritado enquanto segurava Miguel pelo colarinho.

– Que bonitinho... O garoto apaixonado defendendo a donzela em perigo.

– Não quero você perto dela. - Nathaniel rosnou.

– Vai fazer o que se eu me aproximar? - Miguel debochou.

– Vou fazer você se arrepender. Decore as minhas palavras.

Nathaniel largou Miguel no chão e me abraçou. Quando olhei nos seus olhos senti que ele me protegeria custe o que custar.
Ele segurou a minha mão e foi comigo para dentro. Lucas veio na nossa direção e parecia preocupado.

– Onde você estava?

– Ela estava na varanda tomando um ar. Não se preocupe está tudo bem.

– O Nate está certo. Tá tudo bem. Só precisava tomar um ar depois daquilo tudo.

O relógio badalou meia noite, agora sim era dia 25, era natal. As pessoas começaram a se abraçar e desejar feliz natal umas para as outras, comecei abraçando Nathaniel que estava ainda segurando a minha mão me passando segurança para logo em seguida abraçar Lucas.

Fomos em busca de nossos amigos e família, abraçando um a um desejando votos de um bom natal.

Após terminar de abraçar as pessoas importantes para mim, nessa lista entra minha avó, Melissa, seus pais, meu primo e meu tio, Amanda e seus pais, Nathaniel, Felipe e sua mãe, mandei uma mensagem para as pessoas que não estavam comigo, mas que eu me importava, como Jennifer que escolheu passar o natal com seu pai, Lara que estava em outro estado na casa de umas tias e Daniel que mesmo sendo irritante, eu meio que o considerava um amigo.

Depois de todos terminarem de desejar feliz natal a maioria foi embora para as suas casas e nós aproveitamos que tinha esvaziado e sentamos todos no sofá para relembrar bons momentos enquanto a noite passava.

Seguiríamos a tradição, relembraríamos os bons momentos e depois dormiríamos ansiosos pela manhã de Natal regada a waffles e panquecas. Junto com ela viria um dos melhores momentos da celebração. A abertura dos presentes. Esse ano veríamos quem iria surpreender quem e quebraria as expectativas.

# Narração Anna Júlia (OFF):