Julho de 2014.

Na manhã seguinte, Reiner acordou sentindo a cabeça pesar. Não sabia onde estava, o que acontecia e por alguns instantes não conseguia sequer lembrar de quem era. Seus olhos dourados abriram com muita dificuldade e visaram a cama vazia ao seu lado. Quando se lembrou das coisas que fizera naquele leito, seu rosto enrubesceu.

Será que ele se lembra de algo? Se sim, gostara do que fizeram? O loiro não queria admitir, mas adorou.

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Como reagiria assim que o visse? Agiria normalmente? Falaria sobre o assunto? Ou o ignoraria? E por que estava agindo como uma menina de doze anos apaixonada?

Bem, talvez porque essa é a minha idade mental. Pensou consigo mesmo.

Porém, Reiner não podia deixar de considerar Annie no meio de tudo isso: não gostava da ideia de se tornar seu rival, não queria perder a sua amizade, sabia que os sentimentos dela eram verdadeiros e genuínos, assim como os dele.

Sem falar, que temia muito a ideia de assumir um relacionamento com um homem. Como a sociedade o veria? Uma boa parte não o veria com bons olhos: muitos o veriam como uma abominação com um ticket só de ida para o inferno, outros o chamariam de bichinha na rua, e até iriam para outra calçada, com medo de se infectarem com algo. Não conseguiria lidar com o inferno de ser atacado de novo porque ele decidiu se envolver com alguém do mesmo sexo.

Reiner era covarde demais.

Saiu da cama e foi diretamente para a cozinha tomar algo. Olhou o relógio da parede e viu que eram nove horas. Aparentemente todos ainda dormiam. O loiro optou por preparar um café, o melhor remédio para a ressaca. Assim que a bebida ficou pronta, decidiu toma-la sentado no deque, observando o mar.

Só não esperava que outra pessoa tivesse a mesma ideia que ele e já ocupasse uma das cadeiras. Reiner tentou voltar para dentro de casa, com o intuito de fugir, porém, Bertholdt já tinha notado sua presença:

— Bom dia Reiner, como você está? – disse o moreno sem nenhum resquício na tinta em pó na sua pele – Sente-se.

Invente uma desculpa e vá embora. Fuja. Pensou o loiro enquanto se sentava na cadeira ao lado. Seu corpo se moveu sozinho:

— Fez café? – Perguntou Bertholdt ao sentir o cheiro do líquido

— Fiz sim – respondeu mecanicamente evitando olhar para o amigo – Quer um pouco?

— Não, obrigado. Já tomei um suco.

— Ah, sim.

Um silêncio constrangedor se instalou no deque. O rosto de Reiner estava rosa de tanta vergonha que sentia. Bertholdt parecia não notar, mas sentia o clima desconfortável:

— Tudo bem? Você parece um pouco nervoso – apontou o moreno.

— Estou bem, não se preocupe – Reiner respondeu rapidamente.

— Tem certeza? Seu rosto está bem vermelho...

— Estou ótimo, de verdade – insistiu – Só esqueci de passar protetor ontem.

Bertholdt se deu por vencido e aceitou a explicação do amigo. O coração de Reiner acelerava cada vez mais por estar perto da pessoa com quem trocou saliva horas antes. Como ele parecia tão calmo? Era algum tipo de sadismo pervertido da sua parte ou...

— Ei, Bert, você se lembra de ontem a noite? – perguntou o loiro na lata antes que a coragem fosse embora.

— Algumas coisas – respondeu em um tom ansioso– Por que? Eu me comportei mal ontem a noite?

— Sim, você se comportou muito mal – murmurou o loiro tendo certas lembranças da noite passada no seu quarto – Nunca imaginei que fosse capaz de fazer tal façanha – decidiu ser o mais ousado que podia – Mas foi bom, eu gostei.

Seu rosto estava quente quando proferiu a última frase. Por mais que tivesse seus temores e demônios, ele queria que Bertholdt soubesse como se sentia. Talvez fosse o álcool que ainda corria em suas veias, mas naquele instante, decidiu arriscar. Se o seu amigo entendesse, ou lembrasse, enxergaria como um sinal de avanço. Um sinal para Reiner ser feliz e aceitar suas preferências. Não estaria sozinho para enfrentar seus medos:

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— Eu não acredito! – exclamou Bertholdt com o rosto vermelho – Não posso ter feito algo assim, como ninguém me impediu?

— Como assim? Foi você quem tomou a iniciativa. – respondeu Reiner com irritação – Além de parecer querer...

— Eu? Mas foi o Jean quem me puxou para dançar.

— Espera, do que estamos falando?

— Da minha dança humilhante em cima do balcão do bar! – exclamou o moreno claramente agitado – Por que? Você achou que era outra coisa?

O loiro não se sentiu confortável de responder. Apenas desviou o olhar, sendo incapaz de olhar para o belo rosto do seu amigo.Esqueceu completamente de como falar e a coragem de dizer algo escapava dos seus dedos.

Respirou fundo antes de começar a falar, porém, notou a presença de alguém se aproximando dos dois.

Era Annie.

De repente, a coragem desapareceu.

Não se lembrava do desenrolar da conversa, apenas sabia que os três estavam totalmente envergonhados no começo, antes do clima voltar ao normal. Durante o resto do dia, Reiner sentiu Bertholdt o encarando, como se tivesse algo para dizer, mas o loiro fingiu que não viu.

Algumas horas depois, viu o moreno junto com Annie conversando na piscina de mãos dadas. Sentiu um aperto no peito e voltou para a casa. Prometeu a si mesmo que esconderia o que aconteceu entre os dois no quarto. Inclusive para si mesmo. Não lutaria pelo seu amigo. Não renunciaria à sua amizade para tentar algo incerto. Amava demais seus amigos para iniciar um triângulo amoroso que traria apenas mágoa e dor.

Abril de 2017

Os ponteiros do relógio da sala de jantar marcavam nove horas da noite. Annie e Bertholdt partiram algumas horas antes. A garrafa de Jack Daniels se encontrava vazia há tempos e repousava no chão. O homem corpulento permanecia deitado no sofá, encarando o teto. Sua cabeça girava, mas não era por causa do Whisky.

Pegou a fotografia que ganhara dos amigos naquela tarde e ficou encarando o noivo com o coração acelerado. Todas as vezes em que seu coração deu um salto e seu rosto esquentava nunca foram com a Annie: ele tentou se apaixonar por ela, mentiu para si mesmo e a empurrou para o melhor amigo apenas com o intuito de não encarar a verdade.

Reiner era apaixonado por Bertholdt. Não podia mais negar para si mesmo. Não podia mais fingir que os eventos na casa de praia não significaram nada.

Não podia mais mentir para si mesmo.

Levantou-se do sofá e foi diretamente para a janela da sala, que estava aberta. Apreciou um pouco a vista da cidade iluminada do sábado a noite antes de respirar fundo e soltar um longo grito em direção à rua.

Libertação, das correntes que carregou por causa dos seus pais, dos anos que mentiu para si mesmo dizendo que era hétero e do medo que sentia de admitir que gostava de homens. Tudo isso, foi expresso em um único grito.

Assim que terminou de gritar, alguns cachorros latiram e o alarme de um carro apitou. Ouviu vários xingamentos dos vizinhos, mas não se importou. Estava entorpecido e o aperto no peito diminuiu. Resolveu voltar para o sofá e voltou a encarar a foto do casamento.

Não podia negar o quanto Annie era bonita. Agora ele admitia que a invejava inconscientemente. Sua beleza chamou a atenção de Bertholdt e aquilo fazia seu sangue ferver. As discussões que tivera com ela durante seu namoro eram uma forma de Reiner extravasar tal sentimento que insistia em permanecer grudado em seu coração.

Mas agora ele não queria continuar assim. Não queria sentir raiva ou inveja. Annie era sua melhor amiga, desejava a sua felicidade. Apesar de não parecer claro, o loiro a conhecia bem para saber o quanto ela estava feliz ao lado do amigo e o sentimento era recíproco.

Por isso, não sabia se contaria a verdade para os dois, ou não.

Um gosto amargo preencheu a boca de Braun. Se ele tivesse admitido antes, tudo teria sido simples.

Caminhou até o bar próximo do sofá e pegou uma garrafa de vodka. Tomou alguns goles antes de suspirar, e deixar as lágrimas caírem pelo seu rosto.

Desde quando era apaixonado pelo amigo? Ele tinha toda certeza de que sempre amou Bertholdt, da mesma forma como ele sempre amou Annie. Só que ambos, naquele momento, eram amados de maneira distinta. E é por causa desse amor, guardaria para si o quanto ele se sentia vivo ao lado do moreno, como os lábios dele eram fantásticos e que doía demais amá-lo.

Por que as coisas tinham que terminar assim? Por que ele ignorou todos os sinais que seu coração mandava?

Lembrou-se do quanto o amigo o olhava no dia após a festa e em como ele parecia querer se aproximar de Reiner, que o ignorou completamente por ser um covarde.

Com raiva, rasgou a fotografia do casamento, bem no local em que Bertholdt dava o braço para Annie. Ficou um pouco feliz por separar o casal, mesmo sendo em uma fotografia. Em seguida, beijou o amigo na foto e o colocou ao seu lado, cobrindo a silhueta de Annie. Deu um sorriso fraco enquanto olhava a imagem dos dois lado a lado, como se o casamento fosse deles.

Envergonhado com sua atitude, foi correndo até a cozinha para pegar fita crepe e consertar o estrago que tinha feito.

Talvez nunca soubesse o que Bertholdt queria dizer naquele dia. E as chances de ambos ficarem juntos agora eram praticamente nulas e ele precisaria de um tempo para digerir tudo.

Reiner sorriu aliviado. Conseguira consertar a fotografia daquele dia especial. Ainda teria a amizade deles, e isso bastava.

Tinha que bastar.

Abril de 2017.

Reiner acordou assustado com as batidas na porta. Olhou o relógio, que marcava dez e meia da noite, e foi rapidamente em direção a entrada da casa. Rapidamente talvez não fosse o termo mais correto, já que o loiro mal conseguia se manter de pé, por conta da ressaca em dobro que sentia. Anotou mentalmente para nunca mais beber por dois dias seguidos.

Abriu a porta da casa e arregalou os olhos ao ver Bertholdt no hall. Seus cabelos úmidos cheiravam a shampoo, algo que fazia a temperatura corporal do loiro aumentar:

— Oi — ele disse timidamente colocando as mãos nos bolsos do seu jeans — Posso entrar?

Silêncio. O dono da casa apenas encarava o rapaz na sua frente, como se estivesse em transe:

— Reiner? — Chamou Bertholdt com o rosto um pouco corado.

— A-ah, claro! — Respondeu o rapaz voltando a si e dando passagem para o amigo entrar antes de fechar a porta.

O loiro de apoiou na porta, enquanto o moreno repousou o seu corpo na parede oposta. Nenhum dos dois teve coragem de dizer algo:

— Está tudo bem, Bertl? Você e a Annie discutiram ou algo do tipo? — Perguntou Reiner quebrando o silêncio.

Os olhos do moreno se arregalaram, antes dele responder:

— O que? Não, claro que não. Annie foi na farmácia e já vem.

Estranhamente, Reiner não conseguia olhar para o amigo. Não entendia o motivo da sua presença e torcia para que Annie voltasse logo, ou seu autocontrole poderia ir por água abaixo. Os olhos do rapaz mais alto não desgrudaram do loiro por um segundo:

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— Reiner — disse Bertholdt quebrando o silêncio mais uma vez — Por que você não está me olhando?

O loiro não respondeu, seu coração batia muito rápido. Seu amigo insistiu:

— Quer saber o motivo da minha visita tão repentina? — O moreno continuou apoiado na parede, ainda encarando Reiner, que não ousava levantar seu rosto — Decidi ter uma conversa com você. Não se preocupe que a Annie sabe disso e praticamente me arrastou até aqui — Ele deu uma risada fraca ao se lembrar da esposa — Mas realmente, nós precisamos conversar sobre o que aconteceu há três anos.

Pela primeira vez desde que Bertholdt entrou na casa, Reiner levantou seu rosto e encarou seu visitante, que tinha sua face ruborizada e seu olhar fixo no loiro:

— Por que você quer falar sobre isso depois de tanto tempo? — Questionou Reiner em um tom de voz mais baixo, com a esperança de que ele não escutasse — Achei que não se lembrasse...

Bertholdt deu um pequeno sorriso e foi em direção ao amigo. Os dois ficaram frente a frente:

— Eu jamais... — começou o moreno encarando o amigo com certa intensidade— Me esqueci.

O coração de Reiner deu um salto. Nunca, por nenhum segundo, ele imaginou que veria o homem que amou a vida inteira tão perto e tão vulnerável confessando seus sentimentos. Era tão surreal que até cogitou que tudo não passava de um sonho causado pela bebedeira.

Mas quando sentiu aqueles lábios macios encostando nos seus, Reiner concluiu que aquilo era real:

— Espera — o loiro interrompeu o beijo — Não podemos fazer isso, e a Annie? Não quero destruir o casamento de vocês. Talvez seja melhor...

— Reiner — cortou Bertholdt — Fica calmo, nós conversamos sobre isso. Nenhum casamento vai ser destruído. Talvez o da Pieck e do Porco se o Zeke tiver a ousadia de aparecer, mas não o meu.

— Como assim?

— Eu e Annie conversamos — disse Bertholdt — E chegamos a um consenso: nós dois nos amamos, mas também amamos você... — notando o espanto do amigo, ele completou — E ela entende meus sentimentos por você. Annie sempre soube.

— Se ela sabia, então, por que vocês começaram a namorar?

— Porque nós nos gostamos, ora. — respondeu — Eu sempre gostei dela, mas confesso que também ficava balançado com você...

— Mas eu parecia não corresponder, certo? — disse o loiro acariciando o rosto do moreno — Olha, vou ser sincero: só descobri hoje, há menos de duas horas, o quanto eu te amo.

Os olhos de Reiner estavam iluminados. Sentiu um grande peso sendo retirado dos seus ombros. Bertholdt apenas sorria:

— Por favor, perdoe a minha idiotice por ter demorado tanto — disse Reiner enquanto puxava o amigo pela nuca para beijá-lo.

Nada ao redor deles parecia importar. Aquele beijo era muito diferente do de três anos antes, tinha mais urgência e intensidade. O rapaz musculoso não pode deixar de sorrir enquanto seus lábios tocavam os de Bertholdt. Não precisava mais mentir para si mesmo e nem para os melhores amigos.

Se sentia livre.

Claro, sabia que seus problemas não haviam desaparecido completamente e que precisaria trabalhar muitas coisas em si mesmo, mas para ele estava tudo bem. Sabia que podia contar com seus melhores amigos.

O beijo foi interrompido com o corpo de Reiner indo para frente e quase caindo no chão. Bertholdt, foi um pouco mais rápido e se afastou da porta que tinha sido aberta por ninguém menos que a sua esposa:

— Não sei se fico aliviada ou decepcionada por encontrar os dois vestidos — comentou a loira deixando algumas sacolas de compras em cima mesa de contro — Vou ficar com a primeira opção, porque ver o Reiner pelado deve ser tão desagradável quanto declarar imposto de renda, apesar que o Bert deve achar o contrário...

— Boa noite para você também, Annie — respondeu Reiner com um sorriso sacana — Me perguntei quando daria o ar da graça.

— Fui na farmácia e ainda dei uma volta no Wall Mart para deixar os dois sozinhos — ela pegou a garrafa de Whisky vazia no chão e se dirigiu ao marido — Ei, você não bebeu isso não, certo? Lembra do que aconteceu no aniversário do meu pai?

— Não! Claro que não! — respondeu o moreno rapidamente.

— O que aconteceu no aniversário do senhor Leonhardt? — perguntou o loiro ao se sentar no sofá. Notou Bertholdt suando frio do outro lado da sala.

— É uma história engraçada — disse Annie, enquanto Bertholdt resmungava algo — Mas vamos deixar para outro dia. Gostaria de assistir sua TV, a nossa ainda não chegou.

A loira se sentou no sofá ao lado de Reiner e Bertholdt se aproximou e ficou no meio dos dois, que o abraçaram em conjunto:

— Espera — disse Reiner ligando a TV — Você armou tudo isso apenas para usar a minha TV?

— Claro — Annie revirou os olhos — Ainda não consegui ver o final da segunda temporada de Stranger things.

— Annie, você acha que é uma boa ideia assistir a essa hora? — Perguntou Bertholdt um pouco receoso.

— Não se preocupe — Annie deu um beijo na bochecha do marido — Você tem uma esposa que luta muito bem e um homem gigante para te proteger.

Um sorriso genuíno saiu dos lábios de Reiner enquanto olhava pelos dois amigos interagindo. Não sentiu nenhum mal-estar ou uma pontada no peito. Quando Bertholdt o olhou e sorriu para ele, seu coração derreteu.

Sentir o calor e o cheiro delicioso do homem que amava, era algo indescritível.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.