Cartas para você - Cato e Clove

Era uma vez o amor, mas eu tive que matá-lo


Eu não acreditei no que ouvi, namorar tinha sido um passo e tanto, mas casar? Isso foi uma meia maratona pros meses de namora que tivemos né?

Lá perto do abismo, quando ele disse aquilo, eu achei que era só para me acalmar, que talvez, um dia, no futuro colocássemos o plano em prática, mas nunca pensei que ele estivesse tão sério, e nunca senti tanto medo na vida. Mesmo sabendo que não existiam mais Jogos, que nenhuma criança iria ser arrastada para uma arena, assim que fizesse 12 anos, para lutar pela própria vida, em prol da diversão de um bando de pessoas que pareciam nunca ter sofrido, eu sentia medo, medo de me casar, de amar, de ter filhos e de repente eles serem levados para a morte, tanto medo... um barulho alto veio da porta, alguém estava batendo nela.

– Clove, abre essa porta! Fala comigo. Eu fiz algo errado? – a preocupação na voz de Cato era palpável, uni as forças que eu não tinha, respirei fundo e egoli o choro.

– Tá tudo bem, eu só quero ficar sozinha. Se você quiser, pode ir pra casa, depois eu te ligo. – eu não acreditava no que estava fazendo, mas eu estava eu estava botando um fim em algo que eu acreditava não conseguir viver sem, mas que eu também não acredito que possa ter sem medo.

***

Eu subi as escadas depois de um sutil “Vai atrás dela idiota” de Katniss, bati na porta do quarto, ela disse que estava bem, mas quem disse que eu podia acreditar nisso? Ela saiu chorando feito uma maluca, parecia mais que eu tinha, sei lá, falado que ia matar o cachorro dela?

– Clove, vamos conversar? Abre a porta...

– Não, eu não quero conversar agora tá? Depois, amanhã talvez, eu só quero ficar um pouco sozinha. – ela fungou e eu a ouvi voltar a chorar.

– Clove, porque você está chorando? – eu tinha me escorado na porta e desci até estar sentado de costas para a porta, do outro lado Clove ainda chorava. – Clove...

***

Eu caí contra a porta, cada vez que Cato falava comigo eu me sentia mais presa a ele, e eu não queria aquilo, todas aquelas cenas da arena ainda estava na minha mente, tudo o que eu imaginava era eu sentada tendo que ver meu filho ou filha correndo para a morte, ou estando com Cato, e tendo que cumprir a promessa um dia. Eu percebi que fiz o que eu jurei a mim mesma nunca fazer, eu tinha 12 anos, eu estava na multidão da colheita, 3 anos antes de ir para os Jogos, 3 anos antes de perder qualquer inocência que ainda restasse em mim, eu prometi nunca me apegar, nunca me apaixonar, se fria o suficiente para dizer adeus mesmo querendo me aproximar mais, e então eu o ouvi...

– Clove... – eu podia ver ma minha cabeça Cato enterrando seus cabelos nas mãos, isso fazia eu me sentir mal pelo que eu estava prestes a fazer, me fazia sentir vazia. – Antes da arena, eu achava que amar não valia nada, que amar só ia trazer frutos para a Capital usar. Mas, eu vi olhos cinza esverdeados da menina que me xingava durante o tempo de estadia na Capital – ouvi o sorriso dele, sorri também, deixando minhas lágrimas escorrerem por cima do meu sorriso -, que ficou do meu lado na sala de treinamento só porque o mentor mandou, que disse que se eu chegasse perto da porta do quarto dela ela me mataria, lembra? – eu queria dizer que sim, mas eu estava muda. – Então, depois de tudo isso, eu acordei em uma maca, cheio de tubos e sentindo uma culpa enorme por ter deixado aqueles olhos se apagarem; foi aí que eu escutei seus gritos, por um momento eu achei que estava delirando e te ouvindo como na arena, mas então lá estava você atrás daquela porta e depois eu te beijei e ninguém me disse que ia ser fácil amar alguém, mas também não me disseram que seria tão difícil.

Ele se calou, ele suspirou e encostou à cabeça na porta, eu estava me sentindo como se estivesse na fronteira entre o amor e a loucura, uma parte de mim gritava por Cato, e outra gritava para ficar longe dele, eu estava enlouquecendo com aqueles sentimentos, eu precisava de tempo.

– Depois daquele beijo Clove, eu não via como rejeitar o que eu sentia, e como alguém poderia rejeitar você? Quando eu te encontrei, nós compartilhávamos o mesmo fardo, e quando nós nos unimos naquele último dia, e combinamos trabalhar juntos na arena, aquele peso de vencer se tonou mais leve, porque se eu não saísse, você sairia e nosso distrito ia ser vitorioso,eu não estava pensando em nós, eu estava pensando apenas no distrito, como me ensinaram, mas então o seu grito me despertou e me mostrou que existiam coisas mais importante, mas era tarde demais, eu fiquei louco, acredita que eu clamei pela morte? Se você na arena eu me tornei fraco, e aqui fora, eu também me tornarei fraco sem você.

– Cato, por favor... – eu não queria escutar mais, eu ia aos poucos desmoronar ali mesmo, ia abrir a porta, ia aceitar qualquer pedido, mas ia me arrepender depois.

– Não Clove, é sério. – ele ri. – Eu estou nitidamente apaixonado por você, e você não precisa ficar sozinha e eu não vou retirar o que eu disse, sabe por que, porque eu te amo mesmo.

3 palavras, eu sei que no fundo eu o amo, mas, acho que meu antigo eu ainda está aqui, aquele eu que o amor assusta como o inferno, aquele eu que ainda não estar pronto para um para sempre, e foi esse eu que balbuciou as palavras, aquelas palavras que eu sempre vou ter na minha mente depois de hoje.

– Cato, eu acho... – parei e olhei em volta, o quarto branco e meio vazio, vazio como eu naquele momento. – Eu acho que eu preciso de um tempo, você pode fazer isso? – eu esperei a resposta mordendo meu lábio, sentido o sangue fluir.

***

Depois de ouvir aquilo eu senti como se nada que eu fosse dizer agora importasse, como se tudo até agora tivesse sido uma brincadeira, eu estava olhando para o teto, pensando apenas no que isso significava, então de forma vazia eu respondi.

– Sim. – passei a mão bruscamente pelos cabelos e me levantei. – A gente se vê Clove.

Desci as escadas e ignorei os olhares de Annie e Peeta, Katniss simplesmente saiu da minha frente, sabia decisão. Caminhei até o jardim de trás e fiquei lá olhando pra floresta, tantas coisas se passavam pela minha cabeça, e ai mesmo tempo nada, Katniss parou do meu lado alguns minutos depois e me ofereceu um copo.

– Mais calmo? – ela estava bebendo sabe-se lá o que tinha no copo dela, e eu fiz o mesmo, e então o uísque desceu queimando.

– Melhor agora. – dei mais um grande gole. Ela deu um sorriso franco.

– Tudo bem lá. – ela apontou com a cabeça para a janela de cima.

– É.

– Hey, não desista. – ela a encarei, Katniss Mellark me falando isso? Nossa. – Eu também surtei quando Peeta me pediu em casamento oficialmente, foi 1 meses depois da rebelião acabar, e eu ainda estava muito quebrada de tudo aqui – ela balançou a cabeça de leve, como se para mandar embora uma memória, e então começou a fitar uma fileira de primroses. -, eu tinha perdido muitas coisas e tinha medo de me apegar ao Peeta e perde-lo, principalmente depois de tudo aquilo. – ela ergueu a cabeça, deu um último gole que esvaziou seu copo e olhou para mim. – Clove também deve estar se sentindo assim.

– É.

***

Eu fiquei olhando da janela enquanto Cato e Katniss conversavam, e algo na calma de Cato me machucou, eles olharam para a janela uma vez, então eu sai dela e me joguei na cama, onde eu fiquei até o dia seguinte.