Não falei mais com Alex desde aquela humilhação, mas não precisei falar com ele para saber o que ele dizia sobre mim. Eu era a criança mimada mascarada, me fingia de madura e inteligente, mas a verdade é que eu era infantil, segundo ele. A raiva me consumia por dentro, mas, como toda mulher de malandro, ainda sonhava com teus beijos.

Caique e Rafa foram comigo procurar um vestido de formatura, eu escolhi um lingo azul piscina que tinha um corte que deixava a perna esquerda à mostra, com um salto alto prata e acessórios prata também. Já deixamos marcado até a hora no salão para horas antes da formatura. Mesmo faltando muito tempo. Devo admitir que estava sim ansiosa, porém, nem tanto. Não o suficiente para sonhar com a formatura no lugar dele.

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Resolvi então novamente escrever as cartas. Mas desta vez eu não as colocaria em um lugar, quando chegasse a hora eu as entregaria em suas mãos e depois sumiria para sempre de sua vida, fazendo-o sumir também da minha. Talvez eu fosse uma aventureira solitária. Talvez ele não fosse meu ninguém, mas apenas mais um capítulo de minha história.

"Onde você quer estar daqui a um ano?" ele me perguntava.

– Aqui, com você. - Sussurrei sentada naquele lago, desta vez, sozinha. Estava louca de saudades.

Passei horas lá sentada, escrevendo. Até ele aparecer. Sim, ele.

– Oi, Caique me disse que eu a encontraria aqui.

– Pois é, oi.

Ele se sentou ao meu lado e fitou o lago junto comigo. Quietos.

Quietos...

...

.....

– Sabe, ficamos um tempo sem nos ver né?

– Sim, Alex. - Respondi fria, assim como meu coração.

– Você guarda muito rancor de mim?

Queria dizer que sim, queria mesmo, mandá-lo embora. Mas a verdade é que não guardo rancor dele. Eu...

Guardava. Não guardo mais.

– Porque não mais?

– Porque antes eu era só uma criança. - Sorri pra ele. - E eu precisei desse tempo longe de tudo e de todos para me permitir crescer.

Já havia passado dois meses desde nossa última conversa naquela festa. Desde então creio que não falei com mais ninguém a não ser, claro, Caique.

– Eu vi que você amadureceu.

Dou risada.

– Como? Mal nos falamos.

– E desde quando preciso falar com você para saber de alguma coisa? Basta olhar nos seus olhos.

Novamente. dou risada.

– Você me conhece mesmo né? - Ficamos nos olhando, um perto do outro. Olhando um nos olhos do outro. Porém não nos beijamos. Desviei os olhos.

– Não desvie os olhos pra mim. - Avisou, eu apenas ri e desfiz meu ato de desviar os olhos, olhando para os seus.

– Vá na minha formatura tá? É dia 11 de dezembro. - Peço, e ele assente.

– Alex?

– Oi?

– Eu acho que te amo...

Depois desvio o olhar e miro para o lago, Alex não responde. Tratei de esconder o que estava escrevendo discretamente. Então ele se foi. Me alegrei de não ter perdido sua amizade, me esquecendo de todas suas palavras duras. E de seu olhar seco antes de ir.

Os restos dos meses passei tranquila. A formatura chegava. As cartas iam sendo escritas, embora nenhuma era suficiente.

A formatura seria hoje!

Caique se arrumava enquanto eu ia para o salão. O cabeleireiro arrumou-me perfeitamente, fez-me cachos que realçavam a cor, com metade dele fez um coque deixando o final solto e a franja também. A manicure pintou minha unha de prata. Fui pra casa por o vestido e depois fomos eu, Caique e Rafa para a igreja onde seria realizada a formatura. Enquanto os oradores falavam, ficamos de pé de frente para as famílias e convidados. Rondei o salão todo procurando por ele, e lá estava. Perto dele se via Lyu, Gasperini e Martín, os que puderam ir. E ao lado de Alex uma garota baixa e loira com um vestido salmão, deveria ser amiga ou parente de uns dos formandos, não ocupei-me muito nela.

Ouvir vários discursos sobre pais, professores e classes não é algo muito entusiasmante, mas o momento em i era único. Depois de lá cada um seguiria seu rumo, e isso me incluiria também. Eu seguiria meus próprios passos. Aquele era o primeiro dia de muitos outros.

Mas existe um ditado popular, que resume muito aquele dia, "Alegria de pobre dura pouco". Assim terminado todo aquele blábláblá, acabou a cerimônia, agora seria a festa. Descemos do palco nos abraçando e pedindo carona para o salão alugado para nossa festa. Eu iria com Lívia, que me esperaria com os outros, então não tinha com o que me preocupar. Fui até Caique e Rafa, depois abracei Lyu, Martín e Gasperini que me deram parabéns. Alex foi me abraçar.

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– Parabéns pequena. - Quando me soltou, chamou aquela garota loira para perto. Deveria ser uma amiga. - Anna, essa é a minha namorada, Carol.

– Namorada? - Sorri, creio que foi meu sorriso mais falso de todos.

– Sim. - Ela se aproximou e me abraçou. - Prazer.

– O prazer é meu. Você é muito lindo. - Cumprimentei e elogiei falsamente.

– Anna, quer indo na festa? A gente sabe onde é, vamos em seguida. - Sugeriu Caique vendo que minha reação transbordava falsidade. Lyu e Martín também perceberam pois concordaram com Caique e pousaram suas mãos em meu ombro.

Eu tive de concordar com eles, quando tava saindo, Lyu sussurrou em meu ouvido: "Não o deixe estragar esse dia". Eu assenti e sai daquela igreja, levando comigo minha bolsa com dinheiro, documento e claro, lápis e folhas. Disse para lívia ir com o pessoal que eu ira a pé. Ela estranhou mas obedeceu.

Eu queria mesmo ir a pé para espairecer e chegar relaxada na festa, para poder curtir. No caminho derramei algumas lágrimas permitindo borrar a maquiagem. Faltava pouco para chegar à festa, então parei num bar para retocá-la. Fui ao banheiro e saí. Na saída alguém me chamou.

– Ei, menina! - Eu olhei. Era o barmen. - Não quer uma não? Metade do preço hoje!

Não seria má ideia, mas porque diabos ele me ofereceria uma cerveja?

– Sabe a minha idade? - Pergunto desconfiada para o moço. Chego mais perto.

– Que tio não sabe a idade da sobrinha? - O cara abre um sorriso, era meu tio mesmo, biológico, Tio Eu. Conhecido pela sua falta de Juízo. - Olha como cresceu!

Era meu tio Edu, eu aceitei as cervejas e uns cigarros enquanto escrevia. Fiquei lá até meia noite.

Enquanto bebia e escrevia, vi eles passaram do outro lado da calçada, olhei pro Alex, abraçado com a namorada... Desviei meus olhos cheios de lágrimas e continuei a escrever. Eu escrevia bebia e fumava, e de vez em quando um copo da água. A meia-noite terminei de escrever, duas horas para alguns parágrafos, as palavras certas demoravam a vir. Coloquei acarta num envelope improvisado e escrevi “Para Ninguém” Me despedi de meu tio e fui cambaleando no salto para atravessar. Uma buzina alta martela meus ouvidos, depois meu corpo sendo dominado pela dor e...

Vivemos num sonho infinito, e acordamos quando nos vemos em paz para acordar” – Anna.

Os meninos ficaram discutindo no canto da Igreja, Gasperini no outro canto com Carol, conversando sobre vestidos e etc. Carol não sabia de nada, já Gasperini fingiu que não.

– Eu disse pra Carol que eu ia numa formatura de uma amiga e ela quis vir junto! – Se explicou Alex para os meninos.

– E não te passou pela cabeça que machucaria a Anna? – Perguntou Lyu para o garoto.

Alex não respondeu, apenas disse:

– Melhor eu ir.

– Não! – advertiu Martín. – Se for irá piorar, apenas vai e fingiremos que nada aconteceu.

Todos concordaram e saíram da Igreja. Caique estava com nojo de Alex tratando Carol como nunca tratou Anna. E a amiga era melhor do que aquela ali. Nunca chamou Anna de “Amor” nem nenhum gesto de carinho, apenas a fez chorar, Ele via a amiga criar um amor e uma camada de tristeza e mágoas que ia cobrindo esse amor, até não poder mais vê-lo, e restar apenas dor, um coração frio a bater. As camadas iam sendo cobertas com outras camadas, ferindo Anna.

Todos foram comer antes da festa, foram para uma esfiharia perto. Uns foram para o banheiro e outros foram pedir a comida no balcão, deixando Alex e Rafa sozinhos na mesa.

– Por que largou Anna? E a fez sofrer tanto?

– A culpa não é minha Rafael. Ela foi muito infantil.

–Você fez isso com ela. Dizendo pra ficar com outros, como se não desse a mínima pra ela. Você nunca a amou? Nunca nem se quer gostou dela?

Alex respirou fundo.

– O problema é que...

– Ela é insuficiente? – Cortou Rafa. Alex não respondeu, e comeu em silêncio ao lado de sua namorada.

Ela é muito criança, esse é o problema” Alex pensou consigo.

Depois de um tempo comendo eles saíram, foram a caminho da festa, passaram por um bar do outro lado da rua, onde Alex viu de relance uma ruiva com roupa de festa bebendo. Ele a ignorou e continuou andando com sua namorada.

Chegaram na festa e não encontraram a amiga, preocupados perguntaram para todos que conheciam. Ninguém viu Anna. Caique observou a tranquilidade no rosto de Alex, achou estranho, já que todos estavam preocupados.

– Você sabe onde ela esta? – Perguntou o melhor amigo de Anna para Alex, que até se assustou com sua agressividade.

– Ela está num bar aqui perto, relaxa, já já ela vem.

– Isso é culpa sua. – Caique o acusa e vai atrás de Anna. Martín e lyu também, Rafa fica com Carol e Gaperini na festa, caso ela vá para a festa. Alex vai atrás para rir da cara deles quando virem que ela está bem porém bêbada.

Eles a acham saindo do bar, depois de pagar, ela levava sua bolsa e o envelope na mão.

– ANNA! – Berrou Caique, porém ela não o escutou. Eles foram andando até chegar na travessia.

Ouviram uma buzina e depois uma batida de carro. Alex viu a garota voar para longe e sangrar no asfalto. Os garotos correram até ela, Alex o primeiro a chegar. A abraçou no chão, desacordada. Enquanto a multidão se reunia para ver a menina, o motorista fugiu, achando que a tinha matado.

– Sua criança. – chorou. – Eu acho que te amo. – Sussurrou para a garota a abraçando mais forte.

Os amigos se ajoelharam em volta com Alex a segurando, ele não a largou até os paramédicos chegarem. Ele viu caído ao lado de seu corpo, um envelope um pouco ensanguentado, ele o pegou e deixou que a levasse para o hospital.

Lá, todos ficaram na sala de espera, menos Carol. Alex ignorou os telefonemas da mãe, ele não saiu de lá. Caique remexia em seu anel lembrando de suas promessas, lembrando de quando descobriram o efeito Fênix, de quando eles iam para aquele lago, e principalmente de como se conheceram. Foi através de um amigo que tinham em comum, desde então não se desgrudaram, e perderam contato com o amigo. Anna foi a melhor coisa que aconteceu com ele, ele realmente amava Anna. Mais do que sua melhor amiga, sua irmã.

Esperavam todos por notícias, quando o médico chegou e informou ao tio Edu que Anna talvez não sobrevivesse, todos caíram aos prantos, com o medo que dominou a sala de espera. Anna havia batido muito forte a cabeça...

Era quase de manhã quando Caique lhe entregou a chave de sua casa para Lyu, Rafa, Martín e Gasperini irem descansar um pouco. No início recusaram, mas viram que era melhor. Caique tentou convencer Alex a ir, o que não deu muito certo, mas depois ele cedeu e foi.

Chegando na casa, Gasperini deixou a chave na mesa da cozinha, todos sentaram no sofá e choraram. Uns tomaram banho e colocaram a mesma roupa. Gasperini foi aconselhada por Caique a pegar uma roupa de Anna, e assim ela o fez. Alex entrou em seu quarto, e deu uma volta verificando tudo o que estava lá.

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Olhou numas gavetas ao lado da cama, e encontrou as cartas que eles um dia trocaram, ele havia se esquecido delas... Lembrou de como se apaixonara pela menina das cartas, e achou também algumas fotos que Anna guardava consigo, muitas fotos eram deles. Alex sentou na cama segurando a foto e chorou. Rafa entrou no quarto logo depois, sentou ao seu lado e lhe deu uns tapas nas costas como um falho consolo.

– O que eu vou fazer sem ela? – Alex pergunta olhando a foto.

– Nada, não vai precisar saber. Ok? Vamos descansar um pouco e voltar pro hospital.

E assim o fizeram, ninguém, obviamente, conseguiu dormir, apenas descansaram por duas horas, comeram algo e embrulharam um sanduiche para Caique. Foram todos para o hospital.

Chegando lá ninguém tinha notícia ainda, o tio estava dormindo numa cadeira, Caique acordado e faminto. Deram o sanduiche para ele e foram comprar um refrigerante. Alex se sentou no canto escuro da sala de espera e se pôs a abrir o envelope que encontrou perto de Anna na hora do acidente.

Para: Ninguém”

Te encontro em meus sonhos, mesmo quando não estou dormindo, ouso sorrir. Tentei escrever antes, mas não tinha as palavras certas, muito menos o momento certo. Mas é agora. Vejo que o que vivemos foi levado pelo vento do infinito para a dor e esquecimento. Não parei um dia sóbria de amor e dor. Como disse, não guardo rancor, mas tenho mágoas em meu coração, isso dói. Mas essa dor levarei junto comigo para o infinito, para além do momento de minha morte, quando vier.

Dói muito saber que enquanto sofro você ri, feliz, como se eu fosse invisível para você, Isso acontece quando o amor não é recíproco, me pergunto se ainda sim pode ser chamado de amor. Um copo atrás do outro, e a dor não apaga. Não estou aqui para apagá-la, não sei por que estou aqui, na verdade. Aqui deve ser onde as pessoas vão quando já não tem para onde ir. Não sei se é pior vê-lo feliz sem mim, ou não ter notícias suas, são dores diferentes, mas doem iguais. Eu desejaria a morte se não amasse a vida mais do que amo você. Não sei se viverei bem sem você, mas... Nunca saberemos se a água é doce ou salgada pelas pessoas falando se é doce, apenas provando a água saberemos seu gosto. E é assim com a vida meu amor. Nunca saberei se viverei bem sem você se eu não viver para isso.

O que poderia dizer? Amar alguém é preferir a felicidade dela com outra pessoa, eu sinceramente prefiro vê-lo feliz com ela, mas não posso evitar que doa. Como se me jogassem um balde de água fria. Será que a morte é assim? Um balde de água fria? Do nada você vai, inesperado, espontâneo e fácil. Vivemos sempre em risco, mas não percebemos. Como quando dormimos e alguém nos molha com água fria. Você nunca espera que isso aconteça com você, mas então acontece. O problema é que não são todos que levam esse balde de água na cabeça, mas são todos que morrem do nada. Morremos como nascemos, mas a morte não espera nove meses.

Os carros passam tão rápido, é até difícil acompanhá-los. Será que foi assim minha paixão? Tão rápida que não pude acompanhar, e quando vi, eu estava ali, sonhando acordada com teus beijos, agora, sei que nunca mais os terei. Isso fere. Já foi ferido? Se foi, sabe que dói. Sinto falta do que vivemos e do que poderíamos ter vivido, sim, sei que fui a culpada. Ainda uma tola que sente falta de um futuro que não é mais meu. Simplesmente fui insuficiente. O tempo nos deu nossas respostas. Vivemos nossa história, você foi meu palco, mas chega o tempo que temos de descer do palco. Agora tenho de viver até o fim nessa história, para saber se é possível subir num palco sem você. Eu vivo num conto de Verona, o amor é meu fatal veneno.

Para Ninguém, meu amor,

Com dor e gratidão, Alguém.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.