Card Captor Chronicle

Capítulo 12 - Esclarecimentos



Dentro de uma das confeitarias da cidade Tomoeda, no vestiário mais precisamente, Touya e Yukito trocavam seus uniformes de trabalho por suas roupas comuns antes de irem para casa. Desde que aqueles estrangeiros chegaram na cidade e a conversa com Yue, Touya e Yukito não se falavam mais com tanta frequência. Mas agora que estavam trabalhando no mesmo lugar era impossível evitar isso.

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— Yukito. Precisamos conversar — Touya falou abruptamente, sem ter a menor ideia do que diria a seguir.
— Geralmente não acontecem coisas boas quando alguém diz "precisamos conversar" — Yukito respondeu, lembrando-se dos programas de televisão — Mas tudo bem. O que foi?
— Na última vez em que eu fui na sua casa… eu te fiz algumas perguntas estranhas. E, se me lembro bem, "você" não me respondeu nenhuma delas…
— Está vendo? Eu disse que não aconteciam coisas boas quando alguém diz que "precisa conversar" — Yukito interrompeu.

Ele virou-se de costas para Touya e começou a juntar suas coisas. Sabia o que ia acontecer. Touya voltaria a enchê-lo de perguntas sobre Sakura. Perguntas que ele não podia responder, mesmo não querendo mentir para Touya. Era por isso que estava se afastando dele. Mas parece que nem isso ele conseguia fazer direito. Era melhor acabar com aquilo de uma vez.

— O que exatamente você quer saber, Touya?
— Quero saber se você me perdoa.
— O que? — o rapaz virou-se para encará-lo, ainda meio inclinado sobre a mochila — Te perdoar pelo quê?
— Por ter feito tantas perguntas desnecessárias. E por te chamar de mentiroso — Touya respirou fundo e o encarou nos olhos — Estava tão preocupado com a Sakura que acabei descontando em você. Na verdade ainda estou preocupado, mas… eu preciso aprender a separar as duas coisas. Não posso deixar que minha preocupação com ela afete meu relacionamento com você. Então, desculpe pelas coisas que eu disse antes.
— Touya… — de todas as perguntas que o rapaz poderia ter feito, essa era a última que Yukito esperava. Pensou que Touya continuaria pressionando-o até que ele contasse alguma coisa sobre os viajantes, mesmo que por acidente. Mas nunca imaginou que algum dia Touya daria prioridade a ele ao invés de Sakura — Está tudo bem. Sakura-chan é sua irmã, e eu sei como você é ciumento. Sei que só estava preocupado com ela.
— Eu não sou ciumento! — Touya retrucou — Mas aquela menina… anda se metendo em problemas cada vez maiores. Não tem como não ficar preocupado.
— Eu ouvi dizer que ela fez novos amigos — Yukito contou como quem fala do tempo. Tinha prometido que não contaria a verdade para Touya, mas podia ao menos tentar deixá-lo menos preocupado — Mas eles devem ir embora logo.
— Ah, é mesmo? — Touya falou, entrando no jogo dele — E você sabe de onde esses novos amigos da Sakura vieram?
— Não sei. Acho que são alunos de intercâmbio.
— Alunos de intercâmbio, é? — Touya repetiu — Quer dizer que são estrangeiros?
— Talvez. Parece que eles vieram procurar alguma coisa que está aqui em Tomoeda — Yukito falou em tom despreocupado, fechando sua mochila — Devem estar pesquisando sobre alguma obra de arte que só existe no museu daqui, não acha?
— É… acho que sim — Touya pegou a própria mochila, deixando escapar um sorriso. Claro que eles não vieram atrás de nenhuma obra de arte. Muito menos eram alunos de intercâmbio. Mas, se o próprio Yukito estava confirmando, ainda que indiretamente, que eles iriam embora assim que encontrassem o que quer que estivessem procurando, já estava de bom tamanho.

Ou talvez não. Touya repassou a conversa com Yukito mentalmente. Alunos de intercâmbio? Tinha alguma coisa errada nessa história…

— Eu só espero que eles não estejam dando muito trabalho para a Tomoyo — Touya disse como quem não quer nada — Aqueles caras não se parecem muito com ela. São tão barulhentos, você não acha?
— A Tomoyo-chan? Como assim? — Yukito virou-se para ele, confuso — Eu ouvi que eles eram parentes do Li-kun…
— Do moleque? — a expressão despreocupada de Touya se desfez.
— Sim. Foi o que eu ouvi o motorista da Tomoyo-chan falando enquanto passava pela escola dela e da Sakura-chan outro dia — Yukito confirmou.

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Yukito era sincero demais. Quando tentava mentir, geralmente mudava de assunto e Touya percebia na mesma hora. Ele estava dizendo a verdade, acreditava que os viajantes eram parentes de Li. Tinham mentido para ele também. Touya estava certo… ainda era cedo demais para ficar tranquilo.


—----------


Na mansão da Família Daidouji as coisas andavam inquietas, e não era porque havia quatro hóspedes morando lá. Bom, em parte era. Mas o esperado seria que que houvesse algum tumulto por eles serem barulhentos ou por não conhecerem nada daquele mundo. No entanto, o problema real ainda era a discussão entre o Syaoran que estava no grupo deles e o Li que Tomoyo conhecia.

Desde que os dois garotos brigaram, eles não se viram mais, nem mesmo Sakura. Saíam durante o dia para procurar pela pena, mas não encontraram nenhum sinal dela desde então. Tomoyo era a única que continuava convivendo com ambos os grupos, já que encontrava Sakura e Li na escola todos os dias e os viajantes estavam hospedados em sua casa. Ela não seria cruel a ponto de mandá-los embora, até porque havia uma garota idêntica a Sakura entre eles. Tomoyo jamais teria coragem de fazer uma maldade dessas.

— Já se passaram vários dias e ele continua chateado com aquilo… até quando ele vai continuar de mau-humor? - Tomoyo perguntou enquanto bordava a estampa de um novo vestido para a Princesa Sakura. Ela observava Syaoran do outro cômodo, que estava sentado na varanda, observando o lago que havia no meio do jardim em silêncio.
— Não é que ele esteja de mau-humor. Acho que ele está frustrado - Fye respondeu, um dos cotovelos apoiado no encosto do sofá enquanto examinava a filmadora de Tomoyo com a mão livre.

Como Fye parecia ter se interessado bastante pelo objeto, Tomoyo deu uma de suas filmadoras mais antigas para ele. Kurogane tinha razão, eles acabaram se tornando mesmo amigos. Provavelmente porque os dois gostavam de se intrometer na vida amorosa dos outros.
— Porque o Li-kun salvou a Princesa Sakura no lugar dele, não é? - a garota perguntou, fazendo o possível para se concentrar em seu bordado mesmo enquanto conversava - Imagino que ele tenha ficado com ciúmes, mas guardar rancor por tanto tempo assim…
— É exatamente essa a questão — ele falou — Syaoran-kun ficou frustrado porque não conseguiu salvá-la a tempo, isso é um fato. Agora, se tivesse sido eu ou Kurorin que a tivesse salvado, ele não teria ficado tão chateado assim. O problema é que foi o Li-kun. Um garoto cuja imagem é exatamente igual a dele — Fye apontou a filmadora velha para Tomoyo — Resumindo, acho que ele está com medo que o Li-kun roube a Princesa dele.
— O que? — Tomoyo largou o bordado de lado, finalmente encarando-o — Isso é um absurdo. Li-kun já tem a Sakura-chan! Quero dizer, eles não são tecnicamente namorados, porque… céus, eles são tão lentos — ela passou a mão pelos cabelos, frustrada — Mas é óbvio para qualquer um que eles se gostam! Não tem motivo para o Syaoran-kun pensar uma coisa dessas!
— Sei disso. O problema é fazer o Syaoran-kun entender — Fye respondeu simplesmente.
— Que situação ridícula — Tomoyo colocou-se de pé — Darei um jeito de fazê-lo entender isso…
— Espere, Tomoyo-chan — Fye deu a volta no sofá e colocou a mão no ombro da garota, detendo-a — Deixe que eu falo com ele.
— Mas…
— Isso é assunto de garotos — Fye sorriu para ela — Enquanto isso, quero te pedir um outro favor…

Tomoyo desistiu de seu bordado e dirigiu-se a outro cômodo da casa enquanto Fye andou com cautela até onde Syaoran estava e apoiou-se na porta, para não afugentar o garoto.

— Esse é um lago bastante bonito, não é Syaoran-kun? — ele comentou.
— Hã? Como assim?
— Tem que ser, já que você passou o dia inteiro olhando para ele — Fye respondeu — Você anda um pouco distante ultimamente. Está nos deixando preocupados, sabia?
— Agradeço a preocupação, mas eu estou bem — Syaoran mentiu.
— É mesmo? Então tente convencer a Princesa Sakura disso — o mais velho respondeu — Ela é a que está mais preocupada com você.
— A Princesa…? — por um instante o coração do garoto acelerou com a possibilidade de estar deixando a garota preocupada. Mas logo se lembrou do que tinha ocorrido da última vez em que tinham tentado capturar a pena e uma onda de frustração o cobriu novamente — Não tem motivo para ela se preocupar comigo. Eu não consegui salvá-la.
— Ah, não me diga que você ainda está se culpando por causa daquilo? — o homem se fingiu de desentendido — Foi apenas uma vez. O importante é que ela está bem, não acha?
— Claro que o fato de ela estar bem é uma coisa ótima, mas não fui eu quem a salvei… foi ele! — Syaoran socou o degrau onde estava sentado em frustração.
— Então quer dizer que se tivesse sido eu ou Kurorin a salvá-la você não teria ficado chateado? O problema é por que foi o Li-kun? — Fye perguntou de braços cruzados, embora já soubesse a resposta — Deixe eu te contar uma história: Havia dois meninos idênticos. Eles eram tão parecidos fisicamente que poderiam ser chamados de irmãos gêmeos. Mas eles não conviveram um com o outro. Certo dia, um deles precisou fazer uma escolha importante. Ele precisava decidir se ajudaria o menino que era exatamente igual a ele ou se seria egoísta a ponto de pensar apenas em si mesmo e deixar outro a própria sorte. Qual decisão você acha que o menino tomou?
— Fye-san… que história é essa que você acabou de contar? — Syaoran estava mais interessado na história em si do que na resposta para a pergunta do amigo — Por acaso… você tem um irmão?
— Eu? Não seja bobo, eu estava falando de você e do Li-kun! — Fye voltou a exibir seu costumeiro sorriso exagerado - É que vocês são tão parecidos que poderiam ser até irmãos gêmeos. Mas e então, qual é a resposta?
— Bem… na verdade eu não entendi muito bem o que você quis dizer — o garoto admitiu. Ainda achava que Fye não estava falando dele e de Li, mas decidiu não insistir no assunto.
— Eu disse que o menino precisava fazer uma escolha importante, certo? Ajudar seu "irmão gêmeo" ou ser egoísta e pensar apenas em si mesmo — Fye lembrou — Li-kun está ajudando a Sakura-chan a reunir aquelas Cartas dela, e tenho a forte impressão de que ele gosta da Sakura-chan. Ele só quer ajudá-la a reunir as Cartas. E acho que só salvou a Princesa porque era a pessoa que estava mais próxima dela naquele momento — ele explicou — O que você faria no lugar dele? Ajudaria uma garota indefesa ou a deixaria ser esmagada por um poste?
— Então… acho que eu estou sendo o menino egoísta que só pensa em si mesmo por não me preocupar em ajudá-los com aquelas Cartas, mesmo quando ele salvou a Princesa, não é?
— Acho que ainda não é tarde demais para você — Fye deu um tapinha no ombro dele e voltou a entrar na casa ao mesmo tempo em que Tomoyo apareceu.
— Syaoran-kun — ela chamou — Tem visita para você.

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Atrás da menina surgiu o garoto que era idêntico a ele. Li carregava uma sacola e não parecia ter a menor vontade de estar ali, mas parecia ter sido obrigado por alguém a falar com ele. Depois que Tomoyo se retirou, o garoto sentou-se ao lado de Syaoran, com um pouco de relutância. Era tão estranho. Eles realmente pareciam irmãos gêmeos, assim como Fye tinha dito. Li era apenas um pouco menor do que ele, provavelmente por ser alguns anos mais jovem, e parecia ser um pouco mais irritadiço também.

— Por que você veio?
— A Daidouji ainda estava com o meu uniforme escolar. Que eu ainda não descobri onde ela conseguiu, por sinal — Li respondeu, visivelmente incomodado com aquilo. Olhou para a sacola que carregava, como se pudesse obter alguma pista ali dentro — Mas o que tem isso? Eu a conheço há mais tempo do que você, caso tenha esquecido.
— Tem razão — o mais velho concordou — Li… aquilo que você me disse da última vez em que nos vimos… você estava certo. Eu estava mesmo com ciúmes da Princesa.
— Hã? — Li virou-se para ele abruptamente, surpreso com a mudança de assunto — Por que está me dizendo isso agora?
— Porque, aparentemente, é tolice da minha parte brigar com você por causa disso — ele respondeu — Fiquei com ciúme porque nós somos parecidos fisicamente, então eu pensei…
— Pensou que eu ia querer ficar com ela? — Li completou a frase dele, incrédulo. O garoto assentiu com a cabeça — Isso é impossível, por vários motivos. Vocês estão viajando juntos há sei lá quanto tempo. Não pertencem a este mundo. Quando encontrarem aquela pena que representa a memória da Princesa, irão embora. E, o mais importante de tudo, eu não estou interessado nela — ele citou os motivos, contando nos dedos — Aliás, eu não sei quanto ao Kurogane-san e ao Fye-san, mas vocês dois parecem se conhecer há muito mais tempo. Ela também gosta de você, não gosta?
— Ela… nunca vai se lembrar de mim.
— O que? — o mais novo falou confuso — Mas se vocês ainda estão juntando as memórias dela…
— O preço que paguei para poder viajar entre mundos diferentes para coletar as memórias dela foi meu relacionamento com a Princesa — Syaoran explicou — Mesmo que todas as lembranças dela voltem, ela jamais irá se lembrar de mim.
— Agora entendo poque você agiu daquele jeito — Li falou depois de alguns instantes em silêncio — Mas, mesmo que as outras lembranças dela não retornem, você ainda pode construir novas memórias com ela, não é?
— É… acho que sim — Syaoran respondeu. Nunca tinha pensado por esse ângulo — Do mesmo jeito que você está fazendo com a Sakura Kinomoto?
— Ah… é… algo assim… — Li desviou os olhos para baixo. Era curioso como falar sobre o relacionamento dos outros era algo tão simples, mas falar de sua própria vida era incrivelmente embaraçoso — Sabe, eu não pretendia contar isso para ninguém, mas… no dia em que vocês chegaram… no exato momento em que vocês chegaram a esta cidade, mais precisamente… eu estava prestes a me declarar para a Sakura.
— O que? — Syaoran quase pulou para trás, gaguejando algo incompreensível. É, agora não tinha a menor dúvida de que aquele garoto não tinha interesse algum na Princesa Sakura. Ele tinha cometido um grande erro… ou melhor, dois grandes erros — Ah, céus… sinto muito, jamais pensei que iria interromper a declaração de alguém… me desculpe, de verdade…
— Não importa. Farei isso em outra ocasião — Li deu de ombros, conformado — Só acho que você deveria tentar fazer o mesmo algum dia. E de preferência quando não tiver ninguém por perto para interromper — ele aconselhou. Os dois não conseguiram evitar de rir.