Can't Go Back

Capítulo 2- Alucinação


Pov. Lydia

Sua expressão era severa, os olhos encaravam o vazio e a pele estava mais pálida do que o normal mas, apesar disso, parecia a mesma garota de sempre.

A caçadora pegou uma besta de suas costas e posicionou uma flecha feita de prata na minha direção e eu não consegui ter nenhuma reação. Meus lábios estavam escancarados de horror e não era capaz de emitir um só ruído. Só conseguia permanecer paralisada com um único pensamento rondando minha cabeça: era ela, era realmente ela.

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Mesmo que fosse apenas uma ilusão assustadora e eu estivesse sendo ameaçada com a flecha em meu peito, ainda conseguia sentir a emoção de olhar suas feições familiares e a saudade que corroía meu peito era tão forte que não havia espaço para sentir medo.

Allison continuou com o olhar vazio e sem me reconhecer, atirou a flecha em direção ao meu coração. Nos milésimos de segundos que se passaram me preparei para a dor e a fraqueza me atingirem mas, no exato momento que a flecha atingiu meu peito, ela se desfez em fumaça e o fantasma evaporou sumindo junto com a rajada de vento.

Ergui as mãos no vazio querendo alcançá-la e fazer com que a miragem da minha amiga se tornasse real mas ela já havia se desfeito no ar.

– Um herói caiu - a voz rouca sussurrou no meu ouvido, dessa vez alto suficiente para que eu escutasse e meu corpo subitamente fraco tombou de joelhos, as lágrimas escapando de meus olhos - A escuridão ataca novamente.

– Sai da minha cabeça - sussurrei soluçando, mas o ruído continuou em meu ouvido com palavras indistintas misturadas com poucas coisas que eu entendia.

A voz começou a sussurrar a mesma sequência de palavras repetidas vezes: morte, escuridão, perigo e depois de torturantes instantes com a mesma repetição, um grito atordoante invadiu minha mente. Minha cabeça explodiu de dor e eu tampei os ouvidos com as mãos, numa tentativa falha de parar de escutar o berro e deixei escapar um gemido de dor, sentindo minha mente se estilhaçar, arranhando meus ouvidos e sufocando minha garganta.

Por uma fração de segundos tudo ficou absurdamente silencioso, então com minha visão turva vi Allison se materializar no meio do vazio, sua pele tinha um tom acinzentado doentio e uma longa espada estava fincada no seu corpo, onde sangrava desesperadamente tingindo o chão de vermelho vivo formando uma poça que aumentava cada vez mais. Alli se aproximou vagorosamente, se ajoelhou na minha frente e ergueu as mãos ensanguentadas na minha direção. Seus olhos assustados clamavam por socorro e seus dedos alcançaram meus ombros me prendendo no lugar em que estava.

– A morte se aproxima - A caçadora falou a centímetros de distancia e suas mãos que agarravam meus ombros me forçaram para baixo, me empurrando em direção a poça de sangue que se formava.

O grito que me sufocava escapou de meus lábios enquanto meu corpo tombava no sangue, sem encontrar forças para evitar que eu mergulhasse na poça que no momento em que entrou em contato com meu rosto se transformou em um denso oceano vermelho. O sangue invadiu minha boca escancarada, deslizando pela minha língua e atingindo meu corpo, me sufoquei com meu próprio grito e afundei no líquido denso, meu corpo pesado e mole mergulhou cada vez mais fundo sem conseguir encontrar ar para meus pulmões exaustos.

Em meio ao vermelho que enxergava pude distinguir rostos sem vida que navegam comigo no oceano da morte, meus pais, Scott, Stiles, Kira, Malia, Peter, Derek, amigos de outras cidades, colegas de turma, professores, policiais e médicos que já haviam cuidado de mim. Centenas de rostos conhecidos, todos mortos, afundando ao meu lado.

Senti mãos segurando forte em meus braços dormentes e me puxando para cima, o oceano a minha volta se desfez e enxerguei somente a escuridão de minhas pálpebras fechadas. Abri os olhos atordoada enquanto era erguida do chão e me assustei com o som do meu próprio grito. Obriguei meus lábios a se fecharem e desabei nos braços familiares que se envolveram em meu corpo, deixei minhas pálpebras se fecharem novamente e respirei fundo em meio às lagrimas, inalando o cheiro suave de sabonete e livros. Stiles.

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– O que aconteceu?- Ele perguntou baixo ainda me reconfortando em seu abraço.

– A-acho que e-estou e-enlouquecendo-o – Respondi gaguejando- Odeio tudo isso de Banshee. É uma maldição- minha voz soou um pouco mais firme, mas as lágrimas se negavam a parar de jorrar, ensopando a blusa de Stiles- Estou apavorada.

– Ei, me escuta- Ele falou suavemente se afastando um pouco para que pudesse me manter presa em seu olhar - Eu não vou deixar que enlouqueça, e se você esquecer o quanto é forte para lidar com tudo isso, eu vou estar sempre aqui para lembrá-la do quanto é maravilhosa e capaz de aprender a controlar seus dons.

O garoto falou com tanta confiança, que não pude resistir. O envolvi com meus braços com força e deixei que meu rosto caísse em seu ombro, chorando em soluços, tentando encontrar forças para frear as lágrimas e Stiles permaneceu em silencio, afagando carinhosamente meu cabelo e me mantendo bem apertada contra seu corpo quente. Meu choro diminui as poucos quando finalmente consegui me distrair com o carinho que estava recebendo, esquecendo momentaneamente da alucinação.

#Abertura#

Pov. Terceira pessoa

Scott andava tentando parecer calmo e distraído, mas seu olhar era feroz, analisando cada corredor em que passava, como se esperasse que a qualquer momento algum monstro saltasse dos armários e o atacasse, ou quem sabe Derek Hale surgisse do nada, ensanguentado e quase morto, com uma história tenebrosa para contar sobre os meses em que ele simplesmente desapareceu sem deixar nenhum rastro para que McCall pudesse encontrá-lo. Talvez fosse apenas uma neurose de sua cabeça e não tivesse ninguém querendo matá-lo e Derek apenas quisesse um tempo sozinho, mas depois do que havia passado nos últimos meses, ele não conseguia acreditar que tudo estivesse realmente em paz, sem contar que preferia se agarrar a essas preocupações a lidar com a dor das perdas que quase fez com que enlouquecesse e sabia que precisava ficar bem, continuar firme para tentar proteger os amigos e evitar que mais mortes acontecessem.

Ao chegar na sala, perdido em pensamentos, Scott se sentou ao lado de Stiles e assim que encarou o amigo suas preocupações se dissolveram, parecendo subitamente não terem a mínima importância para ele. Stiles fez uma tentativa falha de sorriso, o que pareceu piorar ainda mais sua expressão, seus olhos estavam fundos e avermelhados denunciando seu choro recente, olheiras fundas rodeavam seus olhos cansados e o lobo observou surpreso que o amigo parecia mais magro e frágil desde a semana anterior, quando o vira pela ultima vez. O humano tentou por suas mãos debaixo da mesa para escondê-las, mas Scott o impediu segurando seu braço e encarando de olhos arregalados as feridas abertas que o garoto tinha nas palmas das mãos.

O lobo encarou o amigo com uma pergunta silenciosa no olhar e o garoto apenas deu de ombros com descaso, como se não tivesse nada demais em sua aparência horrível e porque não fazia ideia de como conseguiu se machucar daquela maneira na noite anterior, apenas achava que devia ter algo relacionado quando em seu pesadelo apertou uma pedra até suas mãos sangrarem. Scott decidiu ignorar momentaneamente o estado do amigo, pois sabia que Stiles era teimoso e não ia falar nada facilmente pois estava lutando para esconder o que tanto o atormentava sem querer demonstrar a dor que sentia, mesmo quando seu rosto acabado mostrava seu sofrimento. Scott só ia tocar no assunto quando estivessem sozinhos.

As aulas se passaram arrastadas e deprimentes, pois sempre havia lugares vazios em todas salas, aumentando o enorme buraco no coração de todos que eram próximos dos falecidos alunos e dos que foram embora após as perdas.

O intervalo chegou e pela primeira vez em três longos meses Scott, Stiles, Lydia, Kira e Malia se reuniram, eles apenas tinham se visto separadamente, sem terem coragem de se unirem todos novamente após o enterro devastador. Todos sentiram o desconforto se instalar e um silencio incomodo pairou sobre eles, enquanto todos se perdiam em suas próprias dores e lembranças.

Kira brincou com os dedos de Scott timidamente, encarando o garoto por quem era apaixonada e abriu um sorriso fraco, porém encorajador o incentivando com um olhar a quebrar o silêncio.

– Então....ainda vai ter sua grande festa de inicio de ano?- Scott perguntou inseguro para Lydia que para a sua surpresa concordou com o rosto.

– Sim, meus pais falaram que era melhor ter a festa como planejado, afinal, todos sempre se animam com uma festa minha - Enquanto Lydia falava Stiles a observava descaradamente admirando a força que a menina transmitia, mesmo com seus olhos demonstrando exatamente o contrário, demonstrando sua dor.

A menina lhe encarou com um sorriso fraco vendo-o observá-la atentamente e Stiles constrangido desviou o olhar para Malia que se aconchegou intimamente em seu ombro, o garoto passou o braço em sua volta querendo reconfortá-la e aquecê-la do frio que a menina sempre sentia, mas se arrependeu no segundo seguinte em que viu a expressão de Lydia mudar radicalmente, os lábios carnudos formaram um bico involuntário e os olhos se reviraram impacientes mostrando seu incômodo com a intimidade dos dois.

Lydia continuou falando da festa, evitando sempre olhar na direção de Stiles e Malia, se sentindo feliz por poder tagarelar sobre algo fútil e leve que a deixava mais animada, fazendo com que esquecesse um pouco de sua dor e seus amigos interagiram felizes, todos se animando aos poucos com a ideia de planejarem uma festa.

Malia pegou o celular do Stiles e digitou silenciosamente em seu bloco de notas e logo em seguida mostrou para o garoto: "Acho que ela não gosta muito de mim". Stiles queria poder negar, mas era óbvio o incomodo de Lydia com a garota, ele não conseguia entender o motivo, mas desde que elas tentaram conversar simplesmente não deu certo, Lydia sempre demonstrava incômodo e impaciência com a garota e Malia logo de cara compartilhou do mesmo sentimento. Então, como sabia que era verdade, apenas devolveu-lhe um sorriso sínico e logo em seguida sussurrou em sua orelha: "Eu também não gosto".

Para a surpresa do garoto, Malia se arrepiou da cabeça aos pés com o simples gesto e ele não conseguiu conter o sorriso malicioso que foi repreendido com um olhar dela. Por uma fração de segundos o olhar da garota se perdeu nos olhos claros e hipnóticos de Stiles e o garoto por sua vez, se recordou dos momentos que teve com ela na Echo House, momentos que nenhum dos dois teve coragem de comentar um com outro, pois ambos se sentiam confusos.

Malia nem estava completamente acostumada com a forma humana, mas já havia se entregado aos desejos e a atração desajeitada que o garoto transmitia e Stiles, apesar de não ter duvidas sobre seus sentimentos por Lydia, sentia seu corpo arder de desejo querendo mais da garota a sua frente, ele estava cansado de sempre ser rejeitado pela garota que sempre amou, apenas a vendo com outros caras, enquanto ele permanecia sozinho. O humano sentia a necessidade de se deixar levar pelos desejos, em vez de criar falsas esperanças por alguém que nunca o amaria.

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O coiote e o humano só voltaram a realidade ao perceberem que Lydia havia parado de falar no meio de uma frase e perceberem sem entender que a garota havia ficado de pé, seus olhos estavam vazios e os lábios entreabertos e então, ela começou a andar pelo refeitório deixando seus amigos sem reação a olhando confusos.

Stiles se levantou rapidamente, tropeçando pelas cadeiras e empurrando as pessoas que estavam na sua frente para alcançar a menina que já estava do outro lado do refeitório, ainda com a expressão distante parecendo não ter consciência para onde ia. No momento que o garoto a alcançou e colocou uma das mãos no ombro da menina, uma aluna na mesa a sua frente desabou no chão.

Lydia deixou escapar de seus lábios um grito agudo e desesperado.

Todos os alunos pararam de falar observando a menina e questionando sua sanidade até que aos poucos, horrorizados, viram o corpo ensanguentado no chão.

Uma garota loira tinha uma flecha de prata cravada no peito, seu sangue se derramava no chão e o seu coração já permanecia imóvel.

Berros surgiram em todo o refeitório se unindo ao grito de Lydia.