Candidatos a Deuses

Capítulo 28


L acordou de novo com Saya a entrar-lhe desembestada pelo quarto, ordenando-lhe que se despachasse com uma voz que mostrava estar para poucas brincadeiras. Ainda deveria estar chateada com o que acontecera no dia anterior.

L tentou despachar-se, ainda que com alguma dificuldade. Era-lhe cada vez mais difícil levantar-se, apesar de ela dormir bem durante a noite. Talvez fosse por ainda não estar habituada à sua nova vida.

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– Não te esqueças de que hoje a Gina vai contigo à aula de Introdução ao Conceito de Poderes – avisou Saya enquanto L penteava o cabelo.

– Okay – respondeu L, com um bocejo.

– Que olheiras são essas? – perguntou Saya, com maus modos, franzindo levemente o sobrolho – É melhor esconderes isso com maquilhagem. São medonhas.

– Não são nada – negou L, ofendida.

– Parece que levaste um soco em cada olho – insistiu Saya – Deves ter algum corretor de olheiras por aí escondido, portanto, despacha-te a procurar.

Com um pequeno suspiro, L fez-lhe a vontade.

– Porque é que estás tão azeda? – perguntou L à sua Madrinha enquanto aplicava o corretor – Tudo bem que estejas chateada com a Hisui, mas eu não te fiz mal nenhum.

Saya limitou-se a um resmungo e a cruzar os braços.

– O Lilás defendeu-te – informou L de repente – Disse que era completamente óbvio que não tinhas tido uma vida. Que ninguém sai de uma vida fácil com cicatrizes.

Saya levou distraidamente os dedos da mão enluvada à pequena cicatriz que tinha debaixo do olho esquerdo, poisando-os lá por alguns segundos antes de se dar conta do que estava a fazer e deixar cair a mão, tentando regressar à sua expressão desprendida.

– Que bom que ele tem cérebro para perceber as coisas.

L limitou-se a abanar a cabeça levemente.

Depois de estar apresentável, desceu com Softhe, Saya, Gina, Bella e Yngrid para a sala comum, onde os rapazes estavam todos reunidos em redor de uma mesa à espera delas.

– Oh, por favor, só nos guardaram isto? – perguntou Bella, apontando para a misera quantidade de comida que ainda restava no meio da confusão de restos que os rapazes tinham deixado.

– E é melhor não te queixares – avisou-a Burn, dando palmadinhas no estômago – Ainda aqui cabe mais qualquer coisa.

– A Hisui e a Circe? – perguntou L, não as vendo em lado nenhum.

– Eu vi a Circe a vaguear pelos corredores durante a noite – disse a voz calma e suave de Niko.

– Viste? – admirou-se Bella.

– Acho que ela estava a sonambular – disse ele, encolhendo levemente os ombros.

– E o que é que tu estavas a fazer acordado? – perguntou Saya, erguendo levemente um sobrancelha.

Niko humedeceu os lábios nervosamente enquanto se mexia desconfortavelmente na cadeira, lançando um olhar relâmpago na direção de Gina que quase passou despercebido. Depois olhou para Lilás, que encolheu os ombros e não respondeu.

– Bem, está na hora de ir para as aulas! – constatou Shark, batendo as mãos e levando-se da cadeira – Vemo-nos ao almoço – despediu-se, espetando um beijo na bochecha de L antes de se afastar. Os outros rapazes levantaram-se todos para o seguir e Saya deu um passinho na direção de Lilás.

– Posso… falar contigo? – pediu, algum nervosismo revelando-se no tom de voz.

Lilás olhou-a alguns segundos antes de acenar e os dois se afastarem para um canto mais afastado dos outros.

– A L contou-me que me defendeste ontem – disse Saya – Depois de eu me ter ido embora, digo. E eu queria… enfim, agradecer-te.

Lilás acenou.

– Não tens de quê. Eu não podia ficar calado a ouvir a Hisui tentar fazer-te passar por uma miúda mimada quando as evidências em contrário estavam bem à vista de todos – disse ele, erguendo uma mão para fazer o indicador deslizar suavemente pela cicatriz de Saya. A rapariga arregalou os olhos, surpreendida, enquanto corava levemente, sem se conseguir controlar.

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– Humm… pois – murmurou ela, pigarreando suavemente para limpar a voz – Bem… obrigada, mais uma vez.

– Posso fazer-te uma pergunta? – perguntou Lilás de repente.

Saya hesitou, mas acabou por acenar.

– Esta luva – disse Lilás, pegando suavemente na mão enluvada de Saya e examinando o símbolo gravado nas costas – porque nunca a tiras? Tens mais cicatrizes nas mãos?

– Não – negou Saya rapidamente – É só… enfim, é… era do meu pai. Ou melhor, foi ele que a fez para mim. Tenho várias. Só variam os tamanhos. Ele fazia-me uma nova todos os anos, quando a luva do ano anterior deixava de me servir. Esta encontrei-a guardada numa caixa, junto de um livro velho. Quando a “luva dos treze anos” deixou de me servir, passei a usar esta. Estava-me um pouco grande nessa altura, mas entretanto cresci e… – Saya calou-se, perguntando-se de repente porque é que tinha contado tudo aquilo a Lilás.

– Porque te fazia ele uma nova todos os anos? E porquê só uma?

– Hã… – fez Saya, olhando rapidamente em volta, como se estivesse a planear fugir a correr – É… um assunto meu.

– Okay, não insisto – cedeu Lilás, erguendo as mãos em rendição – Mas adoraria saber o que é – acrescentou ele, com um pequeno sorriso torto.

Saya limitou-se a engolir em seco.

* * *

– Fico contente que tenhas decidido vir – disse L, distraidamente, enquanto ela e Gina caminhavam na direção da sala de Darkness, numa tentativa de quebrar aquele silêncio desconfortável – Vais gostar das aulas, vais ver. São muito melhores do que as aulas no mundo humano.

Gina não respondeu, continuando a andar com os ombros curvados e o cabelo na frente do rosto. Ao entrarem na sala, a rapariga dirigiu-se para o primeiro lugar vago que viu. E Darkness, sentada à secretária, ergueu de imediato os olhos para ela, ficando a olhá-la intensamente por vários segundos, a rapariga retribuindo-lhe o olhar.

“Outra vez?”, pensou L para consigo, enquanto se sentava. “Porque é que todos fazem isto? Ficar a olhar especados para ela… não admira que a rapariga ande toda encolhida. Deve desejar ser invisível.”

No entanto, não era essa a impressão que L tinha de Gina enquanto ela devolvia o olhar a Darkness. Parecia perfeitamente segura, como se conhecesse perfeitamente o significado daquele olhar. O qual, de qualquer modo, parecia não lhe agradar muito, pois emanava dela uma aura intensamente hostil.

– Hoje vamos falar de quê, professor? – perguntou uma voz quando já todos estavam sentados e Darkness continuava a olhar para Gina.

– O-o quê? – perguntou Darkness, parecendo acordar de repente de um sonho, desviando relutantemente o olhar de Gina. A rapariga baixou a cabeça para uma folha de papel que tinha já na sua frente, pelo que não viu o olhar que Darkness lhe lançou de relance pouco depois, como se estivesse a procurar de novo encontrar os seus olhos.

– O que vamos dar hoje? – insistiu o aluno.

– Hã… hoje… hoje vamos falar de…

Darkness ainda demorou algum tempo a reencontrar o ritmo normal das suas aulas, mas lá acabou por conseguir dar a aula como deve ser, tirando pelo facto de olhar para Gina de cinco em cinco minutos.

A meio da aula, L reparou que a pulseira em forma de cobra que Gina sempre usava não estava no seu pulso. Em vez disso, estava estendida em cima da mesa, a pontinha da cauda pendendo da mesa.

L começou por se perguntar como é que a pulseira se mantinha pegada ao pulso de Gina se ela era tão maleável que poderia ser completamente estendida. Não havia maneira de aquilo se segurar tão firmemente!

E, depois, reparou no movimento das escamas da parte de baixo da pulseira. L via claramente, o ventre da cobra mover-se, inchando e desinchando, como se… respirasse. Chocada, L seguiu o olhar desde o corpo até à cabeça da pulseira. E viu a membrana da pálpebra erguer-se, revelando o olho de um verde iridescente a devolver-lhe o olhar.