Caliente

Capítulo 17


Eu preciso urgentemente comprar uma porcaria de tranca para essa casa. É claro que a aparição de Shikamaru no meio da festa do pijama foi um acontecimento, no mínimo, interessante. Mas ser acordada no meio da madrugada pelo meu quase–ex-marido não era o que eu chamaria de um bom começo de dia.

Tento fixar meus olhos em Sasuke, mas tudo que consigo ver à minha frente é o contorno de seus cabelos. Mas não preciso vê-lo para saber que ele está aqui. Meu coração ainda está descontrolado pelo susto de ouvir sua voz tão perto de mim, e meu corpo pede para que eu volte para debaixo das cobertas. Sasuke parece exalar uma aura de frio à sua volta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Como entrou aqui? – pergunto, apertando o cobertor o máximo que posso, como se aquele pedaço de pano pudesse me proteger daquela situação.

– Realmente achou que eu não fosse te encontrar? – ele pergunta, e eu consigo sentir seu sorriso sarcástico. – Preferi entrar agora para dizer logo tudo o que precisava dizer.

– Ainda é de madrugada – respondo, observando a escuridão completa do lado de fora da janela. – Não poderia esperar até de manhã para cometer sua invasão de domicilio de cada dia?

– Você está realmente engraçadinha demais, não se tocou que a única errada aqui é você? Estava tudo indo bem até você ir embora. Eu passo o dia inteiro fora trabalhando para conseguir o bom e o melhor para você, e o que você me dá em troca? Me abandona.

Dessa vez eu não seguro a gargalhada que estava presa em minha garganta havia muito tempo.

– Então fui eu quem te abandonei, certo? – pergunto, ainda rindo. – Por favor, Sasuke, me poupe! – jogo o cobertor para o lado e me levanto, colocando o dedo no peito dele. – Todos nós sabemos que você não é a vitima aqui, e que tudo isso está acontecendo por sua causa.

– Sakura, onde está a sua aliança?

– Quer uma novidade? Eu não preciso mais dela – respondo, exibindo minha mão sem anel algum. – Quer outra novidade? Eu não preciso mais de você.

Ele segura meu pulso e puxa minha mão mais para perto de seu rosto, analisando a falta de minha aliança e de qualquer marca que algum dia ela tenha passado por ali. Primeiro eu sorrio, pensando que isso o ajudaria a aceitar a situação, a perceber que, de fato, eu não precisava dele.

Mas então seus dedos frios começaram a apertar cada vez mais a pele fina de meu pulso.

– Sasuke, me solta – eu falo, puxando meu braço de volta, mas tudo que ele faz é aperta-lo ainda mais.

– Escute aqui – ele responde, dando um passo à frente para que eu possa ver seu rosto. Seus olhos me dão arrepios. – Eu vou dizer só uma vez. Quero que você coloque a sua aliança e faça as malas. Você me fez abandonar a minha própria vida para vir aqui te buscar porque a criança queria ficar fazendo pirraça. Você quer agir como uma criança? Pois bem, eu vou te ensinar uns bons modos...

Aperta meus dois pulsos com força e fixa os olhos em mim. Ele dá um sorriso maníaco enquanto eu tento me soltar. Quero gritar, mas não sinto ar algum em meus pulmões. As lágrimas se acumulam em meus olhos.

Eu vou te ensinar a tratar bem uma mulher – Ino fala, batendo com alguma coisa nas costas de Sasuke, que não cai em cima de mim por apenas alguns centímetros.

A luz do quarto é acesa. Temari está ao lado do interruptor, segurando um taco de beisebol e Ino está ao meu lado, segurando um pote de sorvete-brigadeiro-ainda-mais-congelado na mão. Provavelmente golpeou Sasuke com aquilo.

Passo a mão pelo rosto discretamente, secando as lagrimas, decidida a não deixar ninguém perceber que eu estava prestes a desabar.

Olho para Ino, que mantém sua arma levantada e pronta para atacar outra vez, enquanto Sasuke continua deitado no chão e tenta se levantar, mas deve ter sido uma pancada forte, porque ele parece um pouco confuso.

– Como esse cara entrou aqui? – Ino pergunta. – Eu achei que alguém tinha trancado a porcaria da porta.

– Hm, acho que esquecemos desse detalhe depois da festinha de ontem – Temari observa, se aproximando de nós com o taco levantado. Sasuke ameaça se levantar, mas ela bate em suas costas outra vez, o fazendo voltar para o chão.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Caminho alguns passos para trás, procurando alguma coisa para poder me apoiar. Finalmente encontro uma pequena mesa e me jogo ali, respirando fundo enquanto estalo os dedos. Fecho os olhos e conto até dez, tentando controlar minha respiração, meus batimentos cardíacos e meus pensamentos frenéticos.

Quando abro os olhos Ino e Temari estão agachadas à minha frente, me observando com olhos atentos.

– O que ele fez com você? – Temari pergunta, me observando.

– Isso não é da conta de vocês – Sasuke responde, e meu coração acelera outra vez. Mas não é mais como antes, por admiração ou até mesmo amor. Meu coração acelera de medo ao ouvir sua voz. – Ela é minha esposa, qualquer coisa que aconteça entre nós dois não tem nada a ver com vocês.

– Ah, mas comigo tem – outra voz se junta à conversa. – Pode ter certeza.

Naruto passa pela porta, o maxilar trincado e os olhos cheios de ódio.

– Ah, então é por causa desse cara que a minha esposa me abandonou – Sasuke fala, rindo enquanto aponta Naruto. – Certo, é uma troca muito justa.

– Nunca aprendeu a olhar alguém nos olhos quando conversa, imbecil? – Naruto pergunta, cruzando os braços. – Que você era um covarde que ameaçava mulheres eu já tinha percebido, mas maleducado?

– Me desculpe por não querer perder meu tempo falando com alguém que não tem nada a ver com a minha vida, ou a da minha mulher – ele frisa a palavra “minha” o máximo que pode, abrindo outro de seus sorrisos cínicos. – E o que você tem a ver com a nossa vida mesmo?

– Com a sua, nada. Mas com a dela... – ele deixa a frase no ar e caminha pelo quarto lentamente e Sasuke o imita, um sem tirar os olhos do outro, analisando o oponente, como se estivessem em um ringue de luta.

– Ah, sim. O outro. – Sasuke diz, parando de costas para a porta e de frente para Naruto, que estava de costas para mim. – Entendo, entendo. Mas você sabe que somos casados, não sabe?

– Você fez questão de deixar isso bastante claro desde quando entrou aqui – o loiro responde, mostrando que não estava alheio às provocações do outro.

– E mesmo assim acha que tem alguma chance? – Sasuke ri. – Sim, posso ver que tipo de cara você é. Mas quero te lembrar apenas uma coisa – ele abaixa a voz e se aproxima lentamente, passo a passo, enquanto Naruto continua imóvel. – A cada vez que você a beijar, é em mim que ela vai estar pensando.

Me levanto em silencio, caminhando até a minha cama e levanto o colchão, tirando dali um porta-retratos com uma foto minha com Sasuke e a nossa aliança.

– A cada vez que você a tocar, estará tocando onde eu deixei as minhas marcas. – ele continua, enquanto eu me levanto. – A cada noite, é o meu nome que ela vai chamar, e não o seu.

– Mas não é a você que eu escolhi – eu digo, empurrando Naruto para trás no exato momento que ele fecha as mãos em punhos e se prepara para começar o que já estava acabado. Estendo o porta-retratos com a aliança em cima para Sasuke, meus olhos grudados no chão.

– Ninguém te obrigou a se casar comigo.

Fecho os olhos, sentindo todas as lembranças chegarem ao mesmo tempo. Lembro de quando Kakashi se casou com a Rin e os dois começaram a insinuar que eu deveria me casar com alguém do clã dela. Lembro de quando Ino e eu disputávamos conquistar Sasuke, só para passar o tempo. Lembro de quando Sasuke disse todas aquelas palavras lindas e me fez acreditar que era impossível ser infeliz ao seu lado.

– Você me fez acreditar no impossível – eu digo, olhando seus sapatos bem engraxados e subindo os olhos por seu terno impecável, sem um único amassado, mesmo às três da manhã. – Você me comprou presentes e me disse palavras bonitas. Fingiu que se importava com os meus interesses e fez de conta que vivíamos em um conto de fadas.

Meus olhos sobem para o seu rosto. Sua pele clara chegava a ser tão branca quanto porcelana e parecia brilhar aos meus olhos. Seus cabelos pretos bem arrumados e seus olhos ônix, que faziam tudo para onde ele olhasse se sentir menos importante.

Durante muitos anos ele significou a personificação da perfeição para mim. Ele era aquilo em que eu queria me espelhar, era o que eu pretendia ser. Uma boa pessoa, bom no trabalho, bem arrumado. O cara que é bom em tudo e que todos amam. Um exemplo na vida, aquele que todos copiam.

Agora ele é só um cara comum.

Um cara comum e mau.

– Você fez de tudo para que eu acreditasse que você era o melhor e o único cara que eu encontraria em toda a minha vida – ele não pega o porta-retratos, então eu o solto no chão, meu braço cansado de ficar levantado. Cansado de esperar que ele faça alguma coisa certa. O vidro quebra e a aliança gira ao redor de si mesma. – Mas você não é o único que é capaz de gostar de alguém tão ruim quanto eu, nem o melhor para merecer o meu amor.

Viro as costas para ele e caminho de volta para a cama. No caminho pego a arma de Ino (o mega-gelado-e-duro-sorvete-brigadeiro) e me sento na cama com uma colher.

– Se você quiser levar a aliança, é toda sua. Mas vou ter que pedir que vá embora.

– Eu ainda não disse tudo o que tinha para dizer – ele diz, sua voz pela primeira vez em tantos anos parecendo tremula.

– Pode continuar falando se quiser, mas eu não vou ouvir.

O quarto fica todo em silencio enquanto eu estou de costas para tudo, focando minha atenção apenas no meu duro trabalho de tirar uma colher de qualquer coisa de uma pedra de gelo.

– Certo, eu vou, mas... – Sasuke hesitando? – Eu vou voltar.

Ouço quando os sapatos dele começam a fazer o piso desgastado ranger a cada passo seu. Logo seus passos param, mas depois recomeçam a andar. A porta é fechada, mas alguém a abre em seguida.

– Quem era aquele cara? – Gaara pergunta.

– Você não viu nada? – Ino pergunta, assustada.

– Claro que não, estava ensinando os cinquenta mandamentos para o meu cunhado querido – ele fala, dando um tapa estalado nas costas de Shikamaru. – Não é?

– Hm, quê? Ah, sim, claro.

– Somos casados, você não pode ensinar “mandamento” nenhum.

– Depois do que ele fez, posso fazer o que eu quiser. – Gaara responde. – É meu direito como irmão e homem traído.

– Quanto drama! – Ino exclama, correndo até a porta e se jogando no namorado. Temari vai atrás dela, fechando a porta atrás de si.

Finalmente consigo tirar uma colher de sorvete derretido, mas quando o coloco na boca, ele não parece ter gosto. Passos se aproximam lentamente de mim, tomando o máximo de cuidado possível. Como se eu pudesse fugir com aquilo. Mal ele sabe que eu não tenho forças nem para respirar normalmente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O colchão se move ligeiramente com a chegada dele.

– Você está bem? – ele pergunta. Permaneço em silencio, tentando pegar outra colherada. Aproxima-se mais, sentando com as costas apoiadas na cabeceira da cama, perto de mim. Pega meu sorvete-gelo-brigadeiro. – Você está bem?

– Me dá isso, Naruto – respondo, seguindo o doce com as mãos, mas sem levantar os olhos.

– Não faz isso comigo, por favor – ele diz, colocando o pote em uma mesa próxima. Se ajeita ali e coloca as mãos em meu rosto, me fazendo olhá-lo. Empurro suas mãos para longe. – Fala, comigo, por favor. Você está bem?

– Sim, claro, não está vendo? – pergunto, com ironia, passando a mão pelo meu rosto, onde ele deixou marcas geladas.

Olho para os meus pulsos, só então percebendo o quanto eles estão vermelhos pelo aperto forte de Sasuke. Fecho os olhos, sentindo as lágrimas chegarem e as impedindo outra vez de caírem.

Naquele momento eu realmente pensei, realmente achei que ele fosse...

– Ele fez isso? – Naruto pergunta, tentando controlar a voz. Escondo os braços nas costas, mas ele os puxa de volta para a frente com o máximo de delicadeza que consegue. – Sakura, ele realmente te machucou. Ele já tinha feito isso antes?

– Naruto, me solta... – eu peço, mas ele aperta meu braço, não com força, mas como se fosse um pedido. Como se pedisse para que eu falasse com ele, como se pedisse que eu olhasse para ele. Como se pedisse para que eu não o impedisse de perguntar.

– Sakura, ele já te machucou antes?

Respiro com dificuldade, puxando o ar pelo nariz e o expirando pela boca.

– Não, ele nunca fez isso antes – eu respondo, e é verdade. Essa é a razão para eu ter ficado tão assustada. Com que tipo de monstro eu me casei?

Naruto fica em silencio.

– Espero que eu possa acreditar em você – ele responde, sua voz contida.

– Eu já te respondi e disse a verdade, agora vá embora – eu o empurro, mas ele continua firme no lugar, seus olhos azuis chamando minha atenção, como se pedissem que eu olhasse para eles. Como se pedissem para que eu olhasse para ele.

– Eu não vou te deixar sozinha – ele diz. – Você ainda não me respondeu. Você está bem?

– Vai embora, sai daqui – eu digo, o empurrando novamente, e outra, e outra vez, com toda a força que tenho, mas ele mal se move. – Eu não quero você aqui, sai!

– Você está bem, Sakura? – não importa o quanto eu o empurre.

– Eu não quero falar com você, quero ficar sozinha! – não importa o quanto eu tente.

– Sakura? – ele parece nem ao menos se mover.

– Vai embora, sai daqui!

– Você está bem?

– EU ESTOU BEM! – berro, batendo no peito dele com toda a força que eu tenho. As lágrimas forçam saída, mas eu as contenho de novo, fechando os olhos, enquanto continuo batendo nele. Por que ele não vai embora? – Eu só estou com raiva... com muita raiva por ter sido uma completa idiota durante todos esses anos, achando que conhecia o cara com quem me casei, sendo que não sabia nem que ele era capaz de me bater. Mas eu estou bem, estou completamente bem! Feliz?!

– Me deixa cuidar de você.

Meus punhos vão perdendo força e ele coloca as mãos em meus ombros, me aconchegando em seus braços. Quando eu percebo, os soluços estão mais altos que meus pensamentos e as lágrimas mancham meu rosto.

Como eu consegui ser uma completa idiota durante tantos anos? Como eu consegui jogar a minha vida fora sem nem ao menos perceber? Como eu pude acreditar em uma palavra que aquele imbecil disse?

Os dedos de Naruto faziam carinho no meu cabelo enquanto seus braços me ninavam, nos balançando de um lado para o outro. Às vezes ele secava as lágrimas de minhas bochechas com beijos suaves.

– Calma, tudo vai ficar bem – ele dizia, sua voz não sendo nada mais que um sussurro, fazendo minhas lagrimas pararem de cair e minha cabeça se acalmar aos poucos. – Eu estou aqui, não vou deixar mais ninguém te machucar.

E as palavras que ele dizia... Eram tão sinceras. A cada segundo que seus olhos se fixavam nos meus, eu sentia que ele acreditava no que estava dizendo, como se fizesse uma promessa para mim que tudo aquilo era verdade, me mostrando que não era apenas uma ilusão.

– Não, Naruto - eu admito, rindo sem humor. Me aconchego mais em seu peito. - Eu não estou bem.

– Mas vai ficar – ele diz, passando os dedos pelas trilhas de lágrimas em minhas bochechas. – Eu vou cuidar de você.

– Por que você faria isso? – eu fungo.

– Porque você me escolheu, lembra?