Caliel.

Caliel punhos de aço.


Andei pelos corredores lentamente, tentando adiar ao máximo, Nate estava me acompanhando, com seu braço por cima dos meus ombros, assoviando despreocupadamente. As pessoas olhavam, ou melhor, me encaravam mesmo, algumas com expressão de apoio, como se estivessem orgulhosas de eu feito o que todos já queriam fazer a algum tempo, outras com o rosto espantados e outros com o rosto entediado, e algumas garotas que idolatravam Meredith desde a 5ª série me encaravam com uma fúria evidente.

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— Pare de assoviar. - reclamei. — Parece até que esta feliz.

— Eu gosto de assoviar. - ele deu de ombros. — Além do mais, você não quer que todos pensem que esta com medo, né?

— Mas eu estou com medo. - sussurrei. — Oh droga, minha mãe vai me matar.

— Só não deixe que eles não precisam saber disso. - ele sussurrou no meu ouvido. Eu me arrepiei.

— Tem certeza que você é gay? - choraminguei. Ele gargalhou alto.

— Sou, mas se não fosse te dava uma chance. - falou convencido e empinou o nariz.

— Fico honrada com isso. - falei dando um soco no braço dele, não do tipo de soco que eu sou acostumada a dar, foi aqueles que nem sequer machucam. Demais, Nate tinha o poder de me fazer não querer machuca-lo! No entanto, mesmo com aquele misero golpe minha mão reclamou. — Acho que minha mão está dolorida de tanto socar. - gemi.

— Tente não socar ninguém por enquanto então. - ele riu. Nós chegamos à porta que levava para a diretoria, havia um balcão no canto do espaço, onde a secretaria ficava; as paredes eram de um tom pastel, e tudo era decorado em cores claras por ali. Em uma das cadeiras na pequena sala de espera estava Lucas, sentado largamente, cabeça inclinada para cima, como se ele estivesse lendo algo no teto branco.

Eu ignorei a secretária e puxei Nate pelo braço em direção a sala da diretora.

— Ei mocinha, você não pode entrar sem permissão. - a secretária gritou, se levantando.

— Caliel Hale, a diretora está me esperando. - falei alto e sem olhar para trás. — Já pode ir se quiser. - sugeri para Nate que ainda me seguia. Ele olhou em meus olhos e sorriu.

— Não, eu fico. -falou bagunçando o cabelo. — Vou ficar ali com seu não-namorado. - ele disse rindo e olhou para Lucas, como se para deixar bem claro sobre quem estava falando. Lucas nos encarou por um minuto, mais sério do que eu nunca e depois desvio seu olhar para encarar o teto novamente.

— Vou fingir que não ouvi isso. - rolei os olhos. Andei em direção à sala da diretora com passos lentos e olhei para trás pela ultima vez, em busca de algum apoio, ou alguma desculpa para sair dali. Vi Nate se sentando na cadeira ao lado de Lucas, por mais que tivessem umas quatro cadeiras vagas, Lucas fez uma careta e se endireitou na cadeira, sentando-se reto, claramente incomodado com a companhia. Dei um longo suspiro e entrei na sala.

Na sala da diretora, as coisas foram difíceis, isso porque Meredith estava lá, se fazendo de coitadinha, com seus olhos lagrimando e uma bolsa de gelo no rosto, enquanto choramingava para a diretora sobre o quão humilhado se sentia pelo o papel que eu a tinha feito passar. Ela e eu entramos em uma discussão acalorada sobre os motivos da briga, ela me acusando de eu estar tentando roubar o “namorado” dela e eu rindo debochadamente da cara dela. Ocasionalmente, nós quase nos matamos na sala de aula, mas fomos paradas por uma diretora carrancuda. Depois de muita discussão e de ambas expormos nossos lados, a diretora acabou por decretar que ambas seríamos suspensas por quatro dias. Eu já sentia a irritação dos meus pais quando recebessem a ligação da diretora e ficassem a par não só da minha suspensão, mas das vezes que eu havia sido expulsa da sala.

Meredith e eu fomos liberadas da sala da diretora, mas antes que eu estivesse me levantando da cadeira, Meredith já havia corrido pela porta e sumido. Eu gargalhei verdadeiramente divertida pela situação. Era impressão minha ou a vaca estava com medo de mais uma surra?

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Eu sai da sala da diretora, ainda gargalhando e ela me lançava olhares revoltados por isso. Quando eu fechei a porta atrás de mim, encontrei uma comitiva esperando por mim na pequena recepção que parecia menor ainda, com todos aqueles adolescentes me analisando.

Vince estava encostado na parede e Alice, encostada no corpo dele, com os braços dele ao redor dela protetoramente, eles me pareciam íntimos e eu podia ver o rosto de Alice verdadeiramente feliz. Nate estava sentado no mesmo lugar onde eu havia o deixado antes, relaxado e assobiando baixinho uma melodia alegre, mas Luke havia se levando de seu lugar e estava encostado em uma parede ao canto da sala, com fones de ouvidos. Eu não entendia o que ele fazia ali ainda, ele não tinha visto sua “namorada” escafeder-se com medo dali? Fosse o que fosse que ele estivesse fazendo ali, eu esperava que ele também se fosse dali como a vaca de salto. Todos pareceram me notar ao mesmo tempo, inclusive Lucas, que arrancou os fones do ouvido em um gesto rápido e estranho. Alice se desvencilhou dos braços de Vince e apressou seus passos a meu encontro.

— Quão encrencada você está? - Alice disse assim que chegou ao meu lado, trançando seus braços nos meus e mudando a direção de seu andar para a mesma direção do meu, nos aproximando dos garotos.

— Quatro dias de suspenção. - falei estremecendo um pouco.

— Uh. -ela fez uma careta apenas por um momento, então seu rosto se contorceu em um enorme sorriso, olhos curiosos e atentos. — Eu daria tudo para ter visto você acabar com aquela... - ela disse animadamente, mas não concluiu a frase com a um belo xingamento, apenas fechou os punhos em frente ao rosto e depois simulou como se estivesse enforcando alguém com as próprias mãos. Eu gargalhei.

— Então, como vai a nossa boxeadora? - Vince se falou quando nós paramos em sua frente.

— Com quatro dias de suspensão. - fiz uma careta idêntica a que Alice havia feito.

— É o preço a se pagar pela fama, punhos de aço. - Vince deu duas tapinhas no meu ombro e sorriu largamente, de um jeito acolhedor.

— Fama? - arqueei uma sobrancelha.

— É você sabe, todos virão a surra que você deu naquelas meninas... - ele se aproximou mais perto de mim como se fosse me contar um segredo. —... Inclusive o soco que você deu no Luke. - ele sussurrou. Eu queria dizer que não havia batido no Lucas por querer, que eu não me orgulhava nem um pouco por isso e que não queria nenhum tipo de fama, mas ao invés disso eu apenas suspirei cansada. Luke não saiu do seu lugar, não se moveu um centímetro sequer, mas mesmo sem lançar um olhar para ele, eu sentia seus olhos em mim, eu estava constrangida, sabia que lhe devia um pedido de desculpas, mas estava acovardada demais para ir falar com ele, e ele não parecia nenhum pouco amigável. Desejei sair dali, correr para qualquer lugar, longe do peso que aqueles olhos cor de avelã... Qualquer lugar que me impossibilitasse de correr para os braços do garoto emburrado no canto da parede... Epa, de onde saiu esse pensamento?

E como se tivesse lido meus pensamentos, Nate se levantou da cadeira e se espreguiçou.

— Alguém ai precisa de uma carona né? - ele disse no seu tom relaxado de sempre.

— Hm... Claro. - disse incerta.

Alice me lançou um olhar daqueles que eu bem conhecia desde criança. Quando Alice era mais nova, era apenas um olhar curioso, que me indicava que eu teria que explica-la o que se passava da próxima vez que ficássemos a sós; mas conforme Alice foi crescendo, esse olhar foi adquirindo um toque malicioso, e devo dizer que aquela combinação de sentimentos em um olhar era no mínimo desconcertante. Alice provavelmente devaneava naquele exato momento sobre uma possível relação entre Nate e eu, e se bem conheço minha amiga, estava indo bem mais longe do que uma pessoa normal conseguiria fantasiar, ainda mais levando em conta que ela não sabia sobre a opção sexual de Nate... Ainda não consigo me acostumar em pensar em Nate como gay, é.

Despedi-me de Alice com um abraço e um beijo no rosto e Alice prometeu-me que me visitaria na minha casa, ou melhor, minha sela, pois era isso que meu doce lar viraria quando minha mãe soubesse que eu havia sido suspensa por briga. Uh, dava até arrepios de pensar! Minha mãe seria especialmente dura comigo, porque era contra qualquer tipo de violência, mesmo que essa fosse contra um animal como Meredith...

Voltando ao assunto, dei um abraço em Vince, que não perdeu a chance de me sufocar mais um pouquinho com seus abraços de urso, e ele sussurrou no meu ouvido que o ligasse caso “ o cara”, como ele chamou Nate, tentasse bancar o engraçadinho comigo; eu gargalhei, mas assenti, era mais fácil ele tentar algo com Vince do que comigo, mas isso não era um comentário apropriado a se fazer no momento.

Olhei para Lucas no canto da sala, ainda me lançando olhares cortantes. Deveria ir lá e despedir-me dele? E se eu fosse e ele me ignorasse? Como ainda não estava pronta para pedir desculpas (sei que ter dificuldade para pedir perdão não é uma coisa divina, mas nada posso fazer contra isso) apenas lhe mandei um tchauzinho trêmulo, que foi recebido com total indiferença por Lucas. Falo sério, ele nem ao menos desviou o olhar para me mostrar que estava revoltado comigo, ou retornou o tchau com uma expressão de bandeira da paz, apenas ficou me fitando com aquela cara de peixe morto. Ora, se não queria falar comigo por que estava ali então? Quero dizer, depois que Meredith saiu, por que ele não se foi junto a ela? Ocorreu-me então que talvez ele tenha ficado a esperar por Alice e Vince e esta foi a melhor explicação que consegui pensar.

Durante o caminho para casa, Nate ficou tagarelando comigo sobre muitas coisas. Falamos sobre bandas, sobre cidades, sobre danças, sobre estações do ano preferidas e chegamos até a discutir sobre o que era melhor ler uma história em um livro, ou ver um filme sobre a mesma história. Nate tinha o dom de acalmar. Também, quem não se acalmaria na presença de um anjo como ele? A verdade é que ele acabou por me distrair bem e quando eu cheguei em casa, estava feliz e relaxada.

Claro que alegria de pobre dura pouco e quando atravessei a porta de casa minha mãe estava sentada no sofá, ao telefone.

— Claro, eu entendo. - ela repetia ao telefone toda vez que a pessoa do outro lado da linha parava de falar. — Certo, eu vou conversar com ela... Adeus, Sra. Mautner. - desligou o telefone.

Droga! Choraminguei mentalmente, Sra. Mautner era a própria diretora, que provavelmente já havia deixado minha mãe a par de tudo que havia acontecido nos últimos tempos, levando em conta o olhar furioso que mamãe lançava para mim.

— Sente-se Caliel. - ela disse inquisidoramente e a próxima hora e meia que se passou foi preenchida por ela me dando um de seus sermões e expressando o quanto estava chateada com minhas atitudes.

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— Ora veja só, expulsa da sala duas vezes e suspensa por dois dias, quanto tempo levará para que eles lhe expulsem do colégio? - ela falou uma centena de vezes enquanto organizava seus pensamentos para continuar o sermão.

Meu castigo foi que tomaria conta de Simon, ficaria sem celular, sem internet e sem sair de casa, mesmo quando a suspensão tivesse acabado; duas semanas inteiras de castigo, foi o que ela disse, sem exceções. Já tinha em mente que ela seria um tanto severa comigo, mas creio que tenha se aproveitado de minha suspensão para me fazer de babá, já que ela dissera que trabalharia uns dias fazendo sabe se lá o que, então veio bem a calhar que eu tivesse feito algo de errado e ela jogasse Simon para as minhas costas, mas como não estava a fim de ganhar mais uns dias de castigo, preferi ficar calada.

Mas vamos ver o lado bom das coisas, ao menos vou poder acordar tarde!