C.a.c.a.a.c.t

BONECAS SÃO PARA MENINAS?


Nos meus tempos de petiz, resolvi contratar alguém, juntei algumas moedas, roubei outras e logo, encontrei a ideal. Cabelo salgado, corpo estético.

Passei pelas lojas, exibiam-se como benditos troféus de honrosos vencedores. Eu precisava daquilo, a televisão me dizia, meus pais não podiam... Mas eu podia! Eu podia! Umas moedas e uma sordidez característica traz-te o céu numa bandeja.

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Olhei as curvas, estavam intocáveis, lacradas. Tão belas, próximas, imaculadas... Prontas para mim.

O vento não as atingiam, sempre pedi para o meu pai, olhava-me desdenhoso ou envergonhado, talvez por nunca ter assumido o desejo de obter alguém, totalmente, só para ele. O senhor de engenho, o dominador.

Entrei, Amsterdã estava linda naquela noite. Minha bicicleta ficou segura no sereno. A mulher pareceu não me ver, atendia todos os mais velhos que passavam na minha frente.

As pessoas riam, outras ficavam sérias como se estivessem cumprindo um afazer ao comprar comparsas para o crime, para a perversidade e simples diversão.

Havia homens também, para compra, estáticos como soldados londrinos.

Raspei a garganta, estufei o peito e puxei a calça da bendita.

— O que você quer, garoto?

Apontei para a beldade. A vendedora profanou:

— Bonecas são para meninas, vá brincar de bonecos.