CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione

Capítulo 44 - Parte 1


Capítulo 44

Narcisa Malfoy

Olhava seu reflexo pela enorme janela de Whitehall. A noite escura do lado de fora permitia que fosse quase um reflexo perfeito. Todo e qualquer espelho fora tirado de seu alcance quando perceberam que ela conseguia se comunicar com o filho e a nora através deles. Ah, como ela sentia falta. Sentia falta de seu filho, sentia falta de seus netos. Sentia falta de Hermione. Sentia falta de fazer parte deles, da família deles, daquele ninho de conforto, confiança e afeto, por mais que ainda estivesse bem debaixo da disciplina Malfoy.

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Ela vestia seu conjunto preto. Sempre se vestia de preto agora. Estava de luto pela perda de todos os privilégios que Voldemort vinha a tirando. Estava de luto também por ter perdido a irmã. Bellatrix podia ser o monstro que fosse, não deixava de ser sua irmã. E ainda tinha certeza de que se ela estivesse viva, Narcisa não estaria presa agora em Whitehall.

Podia dizer que estava sobrevivendo aos custos de sua influência como uma Malfoy, porque perdera acesso aos seus bens. Draco havia sido cruel ao lhe cortar acesso ao cofre Malfoy, mas fizera o que tinha que ser feito. Tinha seu café da manhã e sua janta a custos da Catedral, como uma prisioneira de luxo. Pouquíssimos leais amigos lhe faziam favores, como Astoria fizera ao montar para ela seu guarda-roupa de luto. O que mais lhe doía na verdade, era saber que Lucio estava sozinho. St. Mungus havia abandonado a estação que fizera em sua mansão por falta de fundos. Lucio não podia mais pagá-los. Ela não conseguia nem entender o que poderia estar se passando pela cabeça dele naquele momento se estivesse lúcido. Seu marido, o que ela abandonara também, mal tinha seus momentos de lucidez. Ele era completamente incapaz de tomar conta de si mesmo.

Fechou os olhos sentindo o amargo no fundo de sua garganta. Ainda se recusava a dizer que estava no fundo do poço, primeiro porque era uma Malfoy, segundo porque Draco e Hermione iriam acabar com tudo aquilo logo. Jamais havia imaginado que aquele fim estaria na mão deles, mas mesmo que estivesse agora, confiava no que estava por vir. Estava passando pelo que estava passando porque esse era o sacrifício que tinha que fazer. Todos daquela família tinham o seu próprio sacrifício a fazer.

Mas por mais que estivesse presa, ela ainda assim se levantava todas as manhas, colocava sua melhor roupa, seu salto, fazia sua melhor maquiagem e ajeitava seu cabelo como uma digna Malfoy. Mesmo que muito de seus dias se resumissem a observar a vida desenrolar em Brampton Fort por aquela enorme janela. As vezes escutava os discursos patético de Theodoro pela manhã. Ele definitivamente não tinha o tom confiante de um líder. Ele estava com raiva. Era tudo que ela conseguia entender do tom que ele usava para se dirigir ao remanescente do exército que fora tão forte e tão completo a pouco tempo atrás.

Agora, no entanto, observando a paisagem do lado de fora, tudo que ela conseguia ver era o quanto aquele forte estava quieto. Tudo estava muito quieto. As últimas ordens de Voldemort foram claras. Ninguém sai, ninguém entra. Ele estava espalhando medo. As pessoas estavam comprando. Todas pareciam reclusas dentro da proteção de quatro paredes. O que conseguia ver do Centro, era vazio. Medo. Era exatamente o que Draco também gostava de usar a seu favor, porque tinha certeza que agora sim as pessoas olhavam para a Marca-Negra estampada no braço e viam que não podiam pular para fora do barco.

Apreciou o silêncio. Ele sempre vinha seguido do caos e ela queria o caos. Queria que algo acontecesse porque aquela vida tediosa estava a matando. Ela sempre se sentira sozinha desde que se casara com Lucio, mas nada se comparava ao que sentia agora. Ali. Sem ninguém.

Estava preocupada com Scorpius. Sabia que precisava cuidar dele, estar por perto. Ser a figura Malfoy que a mãe e o pai não podiam ser naquele momento. Devia isso a Draco e a Hermione. Era o que eles estavam esperando dela. Mas era pedir demais com a opressão que estavam fazendo ela passar. Sabia que se Lucio estivesse de pé, a situação seria completamente diferente. Ele sabia barganhar sujo com Voldemort, algo que Draco não estava disposto a fazer. Draco queria o fim de Voldemort para ontem e não estava disposto a sacrificar o tanto que Lucio estaria. Draco não estava disposto a sacrificar os sonhos em família que ele e Hermione tinham. Isso era algo que Lucio jamais tivera com ela.

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O chão tremeu sob seus pés repentinamente. Como em um rápido tremor de terra. Narcisa se viu sem apoio, mas o tremor foi embora rapidamente. Aquilo sempre acelerava seu coração. Soltou o ar convencendo-se de que havia passado e que tudo estava bem e então um pedaço do teto num dos quantos do quarto desmoronou fazendo com que ela saltasse num susto bastante expressivo.

Estava começando. Aquele lugar não via um Dementador fazia um tempo considerável e a maldição das terras de Brampton estava começando a se tornar cada vez mais real com o passar dos dias. Ela já conseguia ver aquele lugar deteriorar com terremotos cada vez mais longos e mais intensos. Já estava começando a reparar em rachaduras que não existiam antes e não se surpreendia que depois de tantos pequenos tremores aqui e ali, aquela Catedral já estava dando sinais de que suas estruturas estavam enfraquecendo.

Bateram em sua porta e ela foi atender. Como se fosse sua casa e não sua cela. Era um dos guardas de sua porta perguntando se ela estava bem. Narcisa pediu para que o buraco em seu teto fosse concertado e o homem rapidamente empunhou sua varinha e restaurou o estrago.

— Quando Nott irá trazer de volta os Dementadores? – Perguntou esperançosamente, pensando que poderia receber de volta alguma informação sobre como os conflitos fora de Whitehall estavam andando.

— Pergunte isso ao seu filho, senhora. Porque ele não parece estar se importando de que o filho, a mãe e o pai dele ainda estão por aqui. – Alfinetou o soldado que logo depois pediu licença educadamente e se retirou.

Narcisa soltou o ar cansada e encarou a noite do lado de fora. Draco e Hermione tinham que se apressar. Ela não conseguia entender o porque eles pareciam agir como se nada estivesse em risco. Será que eles não temiam pelo que poderia ser de Scorpius? Ou até mesmo dela? Não se importava muito consigo mesma, mas céus, ela se sentia tão responsável pelo neto quanto sabia que Draco e Hermione se sentiam. Ela havia estado ao lado dos dois durante os primeiros meses dos pequenos gêmeos Malfoy onde toda ajuda era bem-vinda. Havia estado lá com eles, com Hermione, quando ela se sentia perdida em seu novo papel de mãe, quando havia precisado de descanso e ajuda para se recuperar. Havia revezado turnos da noite com ela quando Draco não podia estar perto. Havia estado lá, o tempo todo.

Aquelas crianças eram preciosas demais para que Narcisa não sentisse que eram quase seus filhos também. Havia esperado tanto tempo por aqueles pequenos. Havia esperado tanto tempo pela esperança de poder sentir que poderia preencher ainda mais os espaços vazios em seu coração. Ela queria ter tido mais filhos. Nem que fosse mais um apenas. Lúcio negara. Ele sempre insistia em acabar com todas as chances que ela poderia ter de dividir afeto. Era como se ele quisesse que o coração dela só pudesse amar a ele e a Draco, e ainda assim, não se agradava quando Draco tinha mais de sua atenção do que ele. Ela mal conseguia imaginar o que seu marido poderia estar passando naquele momento. Sozinho. Queria estar junto dele, mas sabia que não devia. Não devia para o seu próprio bem. Estava cansada de viver escrava dos seus sentimentos por ele.

Bateram na porta mais uma vez.

Narcisa surpreendeu-se devido a hora. Já era tarde. Mas mesmo assim ela foi novamente até a porta e a atendeu. Astoria Bennett apareceu do outro lado. Ela estava muito bem arrumada, como sempre e em seu rosto estava estampado a expressão do medo. Ela deveria ter implorado a Theodoro permissão para vê-la. Deixou que a mulher passasse para o lado de dentro e fechou a porta para poder observá-la mover-se nervosamente pelo quarto.

— Não deveria estar vindo até aqui. – Alertou Narcisa, mesmo sabendo que deveria estar assustada por saber que Voldemort acabara de proibir a entrada e saída de Brampton Fort e Astoria estava ali. Presa.

— Eu sei. Preciso me desassociar dos Malfoy. Estou cansada de escutar isso, mesmo que estar se associando com os Malfoy é o que todo mundo queria estar podendo fazer agora, se não fosse por essa maldita Marca Negra. – Astoria raramente se permitia sair de sua boa maneira ao falar.

— Onde estão suas meninas? – Narcisa não sabia se preferia que as meninas estivessem com ela, ou longe de Brampton Fort.

Astoria soltou o ar e seus olhos brilharam imediatamente cheios de tristeza.

— Elise e Eva estão em casa. – Espremeu os lábios. – Em Londres. – Acrescentou e Narcisa conseguiu entender o desespero da mulher. – E eu não sei se deveria estar entrando em pânico ou se deveria estar agradecida de que elas não estão aqui. Brampton Fort está fadada a cair. Mas quanto tempo vai levar? Eu não quero ter que ficar presa aqui longe delas! Isaac havia implorado para que eu não trouxesse mais as meninas quando precisasse vir porque ele sabia que o Lorde estava nos monitorando de perto e queria evitar que nossas filhas acabassem entrando no meio. – Ela limpou o suor das mãos em sua fina jaqueta de linho. – Eu sabia que ficar vindo aqui era arriscado, mas o que eu poderia fazer, Cissa? Eu não poderia ignorar todos os convites. Ficaria óbvio que Isaac me pedia para tomar cuidado e me afastar! O Lorde teria muito mais para desconfiar. - Ela usava um tom de voz baixo. Como se temesse que as paredes pudessem estar escutando. – Finalmente consigo começar a entender o que Hermione pode estar sentindo estando tão longe do filho.

— Você jamais chegará perto do que Hermione está passando, Astória. – Aproximou-se da mulher. – Por favor, me diga o que está acontecendo pela cidade, o que estão comentando, o que os jornais estão imprimindo.

Astória sentou-se numa das poltronas perto da lareira. Narcisa a acompanhou.

— O Lorde tem tentando controlar o que os jornais andam propagando, mas está bem óbvio que mesmo assim estão encontrando formas de protestar contra Theodoro no posto de general. – Ela começou. - As pessoas estão com medo e Theodoro Nott não tem conseguido muito avanço. Os Dementadores ainda não voltaram, as entradas para o exército caíram absurdamente, há rumores de que muitos do exército ainda estão em dúvida se deveriam ter ido com Draco ou não. Os outros fortes estão extremamente fragilizados. Isaac me disse que eles serão tomados mais cedo do que eu imagino que serão. No Ministério, a maioria já está considerando um governo longe do poder do Lorde. Tratos e contratos tem sido feito pelas sombras. Isaac tem permitido que fiquem debaixo dos panos, mesmo impondo sua lealdade ao mestre e lançando programas para abolir conspirações contra a ditadura. Mas em geral, as pessoas estão com medo. A marca do mestre está espalhada em muita gente para que eles possam apoiar completamente qualquer movimento que seja contra o poder dele. O Lorde está organizando uma audiência aberta. Uma das grandes. As pessoas estão com medo de que tudo volte a ser exatamente como era no início da guerra. Ninguém quer aquele ditador de volta. Era muito medo, muito sangue, muita morte, muitos tachados de traidores, muita perseguição e nenhum senso de liberdade. Se isso acontecer, Cissa, o mundo vai ter mais o que odiar sobre Draco e Hermione do que amar.

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— Eu não acredito que isso vai chegar a acontecer. – Torceu Narcisa.

— Tem certeza? Porque não acreditava que sequer chegaríamos onde estamos. – Retrucou Astoria. – Isaac me disse que talvez Draco não estava prevendo que as coisas poderiam tomar o rumo que tomaram.

— Certamente não. – Narcisa foi obrigada a concordar. – Mas Draco sempre se prepara para o pior. Ele conseguiu o melhor que poderia ter conseguido da situação em que se colocou. Nem ele nem Hermione estavam dispostos a entregar o filho nas mãos do mestre, portanto eles empurraram o limite até o momento em que ele estourou. Ninguém poderia ter previsto.

Astoria assentiu. Ficou calada brincando com os dedos nervosamente. Narcisa percebeu que ela segurava muitas palavras. Ficou nervosa pela mulher.

— Apenas diga o que tem para dizer, Astoria. – Foi direta.

A mulher puxou o ar uma ou duas vezes. Como se não soubesse por onde começar.

— Cissa... – ela negou com a cabeça. – Não posso. Ela é sua nora. É sua família. Você a acolheu como uma filha quando o mundo pensou que fosse rejeitá-la.

Narcisa franziu o cenho confusa com o que ela estava dizendo. Mas então, ao levar mais alguns segundos avaliando as palavras dela, percebeu que estava se referindo a Hermione. O que infernos poderia estar se passando pela cabeça dela sobre Hermione?

— O que você poderia estão se questionando sobre Hermione? – perguntou um tanto perdida.

Astoria mostrou-se em seu impasse novamente. Olhou de um lado para o outro talvez lutando se deveria ou não trazer à tona o que tinha para dizer.

— Você acha que ela é perigosa? – perguntou de uma vez.

Narcisa logo puxou o ar. Claro. Quem não se questionava sobre Hermione? Sobre seu infame sangue precioso?

— Com quem você tem conversado? – ela não queria entrar naquele assunto.

— Pansy e Gina. E eu sei, eu sei, que não deveria estar as escutando porque eu sei bem que Pansy é, e sempre será, doente por Draco e Gina não parece estar em um estado mental muito saudável, mas... – ela puxou e soltou o ar criando coragem. – Ela já se prova ser capaz de ser perigosa quando precisa. Tem que concordar, Narcisa.

— Ela está em guerra contra um terrível ditador. Sempre esteve. É óbvio que ela precisa se impor. – Narcisa detestava ter que estar tocando naquele assunto. Absolutamente detestava. – Você mesma está aprendendo o que isso significa agora.

— Eu sei. – Assentiu a mulher. Mas aquilo não pareceu ser suficiente. – Mas... Preciso confessar que é estranho para o mundo, observar sua família aceitar Hermione como se não existisse nenhum passado que ligasse a linhagem dos dois. Quero dizer, Hermione sendo descendente de Morgana reescreve toda a história. Todos sabem que o passado da sua família que foi responsável por se certificar que ninguém da linhagem dela voltasse a existir e Hermione põe a prova esse passado.

Narcisa precisou respirar profundamente para lidar com aquilo de uma maneira muito sutil. Sentia-se lidando com a mídia novamente. Era o mesmo tipo de questionamento que a mídia costumava lhe fazer toda hora quando Voldemort tornara pública a identidade de Hermione.

— Foi uma surpresa para nós tanto quanto para o resto do mundo. – Mentiu. – Foi uma surpresa para a própria Hermione. Severo foi quem a estudou por muito tempo. Ele disse que Minerva tinha várias suspeitas sobre ela, mas que a improbabilidade era tão grande que ninguém nunca chegou a levar realmente a sério que pudessem estar certos sobre sua procedência. Mas Severo vasculhou o passado dela e as peças foram se encaixando até que ele teve finalmente a chance de colocar as mãos no sangue dela para fechar o quebra-cabeça. Por que acha que o mestre aceitou Hermione e a glorificou tanto quando ela pisou os pés em Brampton Fort? Lembra-se? A joia preciosa que ele estava presenteando Draco. Nós não sabíamos. – Continuou a mentir. – Nós a aceitamos como a mulher por quem Draco se apaixonou. Pensávamos que a maior barreira que iriamos precisar quebrar era a do sangue trouxa que acreditávamos que ela carregava. Nós a aceitamos porque Draco fez questão de deixar claro que iria até o fim do mundo para se certificar de que nenhuma outra mulher ocupasse o posto de Sra. Malfoy que não fosse ela. – Ah, como ela detestava a história que precisava carregar com a mídia. Ocultava muito da beleza que havia sido a história real de seu filho com sua nora. Ela queria muito que o mundo pudesse entender o afeto que os dois haviam feito criar quando desceram do pedestal do orgulho, do preconceito e do ódio, para formarem uma família, ainda que fosse imperfeita. Ela queria que o mundo soubesse de onde seu filho havia saído para o que havia encontrado com Hermione. Queria que Lúcio pudesse ver e entender. Talvez assim ele desapegasse do seu grande propósito por trás de juntar Draco e Hermione.

Astória ainda se mostrou preocupada.

— Hermione tem uma personalidade forte.

Foi tudo que ela precisou dizer para que Narcisa entendesse que não adiantava advogar por Hermione ali.

— O que é que tem escutado, Astória? – perguntou de uma vez. Queria mesmo era poder escapar de ter que estar falando sobre sua Nora.

A mulher mexeu-se inquieta.

— Não pense que eu confio em Gina Weasley, porque definitivamente não confio. Ela tem mostrado um evidente desequilíbrio e é bastante óbvio que o noivado dela com Theodoro é uma jogada em que ela aceitou entrar para se livrar da morte, o que para muitos ainda é incompreensível que o Mestre esteja permitindo essa farsa. – Ela soltou o ar. – Mas a convicção com a qual ela se refere as duvidosas habilidades que Hermione pode carregar parece ter o poder de levantar um alerta sobre todo o ar especulativo que ronda a linhagem dela.

— Acaso já se passou pela sua cabeça que isso é exatamente o que o Lorde quer espalhar pela Catedral e por todo o Forte? Acaso se passou pela sua cabeça que esse é o exato motivo do porque o Lorde esteja permitindo deixar que Weasley seja elevada ao patamar da influência de Nott. Gina Weasley tem crédito para falar de Hermione porque cresceu com ela e o Lorde precisa destruir a imagem de Draco e Hermione o máximo que ele conseguir. Draco e Hermione montaram uma imagem perante a mídia difícil de ser desconstruída porque o povo a comprou com muita facilidade, como se precisassem de uma liderança com a qual pudessem se identificar, uma que não tivesse o rosto cruel de alguém como Lorde Voldemort. Alguém com crédito para pintar um lado completamente obscuro do bonito rosto de Hermione é exatamente o que ele precisa. O Lorde se deu conta de que se esconder por tanto tempo e ser apenas uma voz na boca de seus representantes tiraram mais do seu poder do que gostaria. Tentar difamá-los agora também não é uma estratégia muito inteligente.

Astoria pareceu considerar aquilo com um outro olhar.

— Alguns dizem que seu marido planejou tudo isso. Draco está apenas seguindo as migalhas que ele jogou pelo caminho. – Ela comentou.

Narcisa teve que sorrir diante daquilo.

— Outros dizem que se Lúcio estivesse de pé, a lealdade dos Malfoy não estaria nem ao menos sendo questionada.

— E como você acha que as coisas estariam se o Lúcio estivesse de pé? – perguntou ela.

Ah. Aquela pergunta. Sim, aquela pergunta a perseguia as vezes. Teve que desviar o olhar e desfazer seu sorriso. As coisas estariam muito diferentes se Lúcio estivesse de pé. Ela sabia que estaria muito longe de ser uma prisioneira em Whitehall, Draco ainda teria bastante tempo para construir seu nome e colocá-lo muito mais acima do de Voldemort do que agora, Scorpius estaria sendo cuidado e educado na Catedral sobre sua linhagem nobre e sobre sua posição como príncipe do Império, e quanto a Hermione e Hera, ela não poderia nem mesmo pensar sobre o destino das duas. Hera nunca havia sido uma opção nas jogadas de Lúcio, portanto, permitir que ela fosse um peão existente em seu xadrez era uma peça a mais com a qual ele teria mais preocupação do que vantagens. Lúcio havia se livrado da primeira filha de Draco e Hermione. Era estúpido acreditar que ele não encontraria uma forma sutil de se livrar de Hera. E quanto a Hermione... Ela não queria nem pensar. E Draco estaria definitivamente vivendo um inferno por ser obrigado a se submeter a autoridade do pai, e por mais que conhecesse a família que ele havia construído com Hermione, sabia que seu instinto racional e a criação que carregava acabaria comprando dolorosamente a razão que Lúcio o forçaria a engolir. Draco compraria a razão de Lúcio sim, por mais doloroso que fosse, porque se ele ainda se dividia entre a dúvida e Hermione na altura do relacionamento que tinham, se Lúcio estivesse de pé, ele encontraria uma forma de entrar na cabeça do filho para alinhar suas prioridades e colocá-lo novamente no papel de perfeito Malfoy.

Ela não sabia que realidade gostaria de estar vivendo, e doía saber que a lavagem que Lúcio fizera na cabeça de Draco ainda poderia acabar fazendo com que ele comprasse os ideais do pai sem que ele sequer precisasse estar de pé. Quantas barreiras Draco teria que quebrar para se livrar dos princípios e valores que Lúcio construíra no filho? Narcisa se sentia impotente em seu papel. Mas era fiel a ele. Sempre seria. Nascera para ser a Sra. Malfoy. Mesmo que isso significasse observar seu filho se afundar. E ela o via no meio da tempestade...

Ele cobria o rosto com as mãos derrotado e irritado ao mesmo tempo. Narcisa sabia que era sua culpa que ele estivesse mergulhando em tudo aquilo mesmo que não quisesse. No cofre de sua família havia várias informações sobre a história da perseguição aos descendentes de Morgana, coisas que não se encontrava facilmente na biblioteca de suas mansões, mas nada comparado ao que havia na escondida e bem selada área restrita do cofre, uma que Draco tinha pouco conhecimento sobre, uma que escondia os segredos mais centenários do passado Malfoy.

— Detesto aquele lugar. – Draco comentou. Aquela parte do cofre nunca havia sido o espaço favorito de Draco, Narcisa não tivera conhecimento sobre aquele lugar durante boa parte de sua vida como Sra. Malfoy. Lúcio, no entanto, sempre insistira que Draco deveria ter conhecimento sobre certas coisas quanto atingiu uma certa idade, mas seu marido sempre fora cauteloso sobre quando e sobre o que deveria soltar na mão do filho. Ele havia dito a ela que aprender sobre os segredos de sua família era um processo longo que podia durar uma vida inteira de dedicação. O nome Malfoy descendia de Merlin. Havia muita história e muito segredo para se guardar. Lúcio era o tutor de Draco e a guerra acabou por atrasar muito do processo que o seu marido tinha em ensinar Draco ao menos o básico do que poderia chegar a ser importante. – Por que dá ouvidos ao meu pai? Por que é tão necessário seguir o que ele quer?

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— Eu precisava te dar a chave de qualquer maneira. – Ela se referiu a chave que dava acesso a área restrita do cofre. – Não é sobre o que o seu pai quer ou não, Draco. A coroa Malfoy está na sua cabeça agora. Seu pai nunca pensou que isso fosse acontecer tão cedo. Ele pensou que fosse ter tempo o suficiente para ser seu tutor, para te preparar.

— Não é só sobre os segredos da família, mãe. Você foi muito específica quando me deu aquela chave. Queria que eu olhasse o passado de Hermione e eu espero não acreditar que tinha esperanças que eu pudesse chegar a mesma conclusão que meu pai. – Ele ergueu os olhos para ela.

Narcisa ajeitou sua postura perfeita sentada a beira de uma poltrona um tanto quanto incomodada. Suas mãos estavam úmidas equilibrando a xícara de chá e o pratinho sobre seus joelhos unidos.

— Seu pai tinha um objetivo muito claro quando acordou em unir você com Hermione e precisamos concordar que ele tem muito mais conhecimento e experiência do que você. Você passou muito de seu tempo se dedicando a uma guerra e um exército enquanto seu pai regia o legado dessa família. Sabe mais do que ninguém que qualquer motivação que seja do seu pai sempre tem e sempre terá o nome Malfoy como prioridade.

Viu Draco apertar os dentes com desgosto.

— Diz isso, mas eu duvido que queira Hermione morta, mãe.

Narcisa puxou o ar. Aquilo lhe trazia muita ansiedade. Ela não gostava de estar ali discutindo aquilo, mas precisava cumprir seu papel como Sra. Malfoy. Precisava. Era seu dever.

— Eu não quis muitas coisas durante todos esses anos ao lado do seu pai. Mas sempre confiei nele. Deveria fazer o mesmo.

Draco mostrou-se inconformado rapidamente.

— Por que infernos diz essas coisas quando sei que não quer dizê-las? Será que poderia ser mais minha mãe e menos Sra. Malfoy?

— Eu não posso ser sua mãe quando sei que sou responsável por não deixar a coroa em sua cabeça cair! Tenho uma obrigação com o nosso sobrenome. Você também tem. Seu pai nunca teria deixado que Hermione ou quem fosse estivesse a frente disso.

— Você a quer morta? – ele exaltou-se.

— É óbvio que não! – retrucou. – Sabe disso! E você sabe muito bem que o que eu quero e o que você quer nunca deve estar sendo motivação para construir o seu lado do legado dessa família. Nosso nome é maior do que nós mesmos, Draco. Cresceu sabendo disso. Gerações atrás de gerações de Malfoys cresceram sabendo disso e cada uma delas cumpriu o seu crucial papel em fazer com que esse nome seja cada vez maior. Eu tenho um dever. Você também tem um. Eu não deveria estar te lembrando disso. Engula um pouco da sua fragilidade e seja racional. Encontre o seu ceticismo. Eu sei o que sente por Hermione, eu defendo o que sente por ela, mas lembre-se de que o nosso sobrenome sempre vem em primeiro lugar.

Draco levantou-se ainda inconformado. Negava com a cabeça. Passou a andar de um lado para o outro pensativo.

— Não é só o que eu sinto por ela. – Ele soltou. – É bem mais do que só o que eu sinto por ela. Existem laços que me unem a Hermione muito maiores do que só o que eu sinto, mãe. O que Hera e Scorpius pensariam? Onde eu devo colocar minha história com ela?

Seu coração se partia ao ver seu filho ali, carregando o fardo que carregava, com as responsabilidades que tinha, com as pesadas informações que adquirira, debaixo do autoritarismo de Voldemort, vivendo a bela família que tinha com Hermione. Ele estava sendo puxado de todos os lados e não estava preparado. Ele não conseguia segurar tanto.

Apenas o observou quando ele se encostou na enorme janela de seu escritório para observar Hermione no jardim de fundos de sua casa com Hera e Scorpius, na companhia de Astória, suas meninas e as babás. Por que? Ela se perguntava muitas vezes. Por que se sentia na obrigação de tornar tudo sempre tão complicado? Levantou-se e foi até o filho deixando seu chá de lado.

— Filho. – Parou próximo a ele. Draco não desviou sua atenção de Hermione. – Eu não estou dizendo que deve fazer o que o seu pai acredita que deve ser feito. Quem está no papel de regente é você agora, não ele. Mas devo alertá-lo sobre estabelecer suas prioridades e me sinto na obrigação de direcioná-lo para o que herdou do seu pai, não só porque ele tem me lembrando de fazer isso quando tem seus momentos de lucidez, mas porque eu sei que estou dentro do barco que você está conduzindo e não quero afundar. Seu pai sempre colocou o nome da família em primeiro lugar e nunca falhou. Ele sabe mais do que você. Ele tem mais experiência que você. Ele sempre jogou do lado mais seguro, mesmo que isso significasse ações extremas. Eu não deveria estar te convencendo de que considerá-lo é um caminho lógico porque você já deveria saber disso.

Draco não disse nada. Apenas assentiu concordando. O silêncio que se seguiu foi pesado. Por algum acaso Hermione ergueu os olhos para a janela do escritório onde estavam e encarou a figura do marido a observando. Sorriu. Ela logo chamou a atenção do filho no colo e apontou para a direção da janela encorajando Scorpius a acenar um ‘oi’ para o pai. Um sorriso pequeno apareceu no rosto de Draco, como se todos os seus problemas e questionamentos fossem varridos de sua cabeça num estalar de dedo. Ele ergueu a mão para um curto aceno de volta. Ali, Narcisa soube que estavam perdidos. Draco seria incapaz de colocar qualquer coisa a frente de sua família com Hermione. Salvar seus filhos era uma prioridade e aquilo o unia cada vez mais a Hermione.

— Também sempre jogo do lado mais seguro. – Ele comentou. Hermione, de longe notou que ele não estava sorrindo para o filho como normalmente fazia. O sorriso dela perdeu boa parte de seu brilho e desviou o olhar para longe beijando a cabeça do filho, protegendo-o da rajada de vento que cortou por entre eles. – Que loucura é pensar que eu preferiria afundar em um barco com ela do que jogá-la para fora para salvar o que fosse. – Ele olhou para a mãe. Narcisa viu o quanto ele estava perdido. – Isso é errado, não é? Vai contra tudo que conheço como certo. – Voltou a encará-la pela janela. – E ainda assim, me nego a ver perigo algum nisso.

— Você a ama. – Draco tinha que dar nome aquilo.

— Não acho que o amor é idiota. – Ele virou a carta.

— Idiota? – Narcisa não entendeu.

— Quer algo mais idiota do que preferir ver tudo pelo que eu sempre prezei valor ser destruído só para não abrir mão dela? - Ele soltou o ar irritado. – Por que com ela tudo tem que ser tão complicado? Por que eu sempre tenho que tomar as decisões mais difíceis quando se diz respeito a ela? Costumava pensar antes que tudo teria sido fácil se Voldemort tivesse apenas a matado, exatamente como eu queria quando a trouxe, mas não consigo ao menos me lembrar de quando, no tempo, pensar que isso pudesse ter acontecido fez com que meu estomago embrulhasse. – Soltou o ar e massageou a ponte do nariz com os dedos. - Mas ao mesmo tempo... – resmungou baixo. – As coisas que tenho lido. O que tenho aprendido. Por mais que eu ainda não veja uma prova concreta... – saiu da janela e jogou-se em sua cadeira. – Hermione não sabe o perigo que ela pode ser.

— Não. Ela não sabe. – Narcisa complementou.

— E eu tento ignorar. – Ele continuou. – Tento fechar os olhos para isso. Eu tento e é tão fácil, mãe. É tão fácil quando estou com ela, com as crianças. É tão fácil. E é tão errado. Acha que se ela soubesse talvez ela concordasse comigo?

— Diz isso, mas você sabe que não é tão fácil assim simplesmente por ser quem é. – Narcisa conhecia o filho muito bem. – Hermione tem comentado que te sente distante mesmo estando tão próximo.

Draco soltou o ar cansado. Ele reconhecia as observações de Hermione, mas tentava ignorar. Era algo típico do filho. Teimosia.

— Penso nos planos do meu pai com frequência. – Ele soltou. – O que ele queria quando trouxe Hermione para dentro dessa família. O que ele queria com um herdeiro que fosse a mistura do nosso sangue com o dela. – Fez uma careta. – É doentio. – disse com desgosto. – O que ele fez foi algo que nenhum outro Malfoy pensou antes por uma razão muito óbvia.

— Sim. É ousado. – Teve que concordar.

— Não, mãe. Ousado não é a palavra certa. – Ele a repreendeu. – Ele mudou quem nós somos. Nada vai ser mais como costumava antes. Os Malfoys. Scorpius e Hera. Eles são diferentes. Nossa linhagem daqui para frente vai ser diferente. Nossa história vai ser diferente.

— Você sabe bem que os Malfoy sempre se exaltaram por virem da linhagem de Merlin. Preservaram um sangue perfeito e puro, mas seu pai percebeu que ainda somos como o restante dos outros bruxos.

— Não. Nós não somos. Não foi isso que vocês dois me ensinaram desde sempre? – retrucou ele. – Preservamos nosso sangue. Conseguimos tornar nosso gene forte. Olhe para mim, para o meu pai, as fotos do meu avô e daqueles que vieram antes de nós. As pessoas nos reconhecem! Elas vêm nos reconhecendo há gerações.

— Mas você sabe que não é o suficiente.

— Não é suficiente para o meu pai! Apenas para ele!

Narcisa moveu-se desconfortável.

— Draco...

— Não! – ele a cortou. – Não o defenda! Ele trouxe a maldição de Morgana para a nossa família. E você concordou com isso!

— Pensei que não acreditasse na maldição.

— Tenho tentando encontrar formas de não acreditar nela. Não significa que eu possa estar errado.

Ela respirou fundo.

— Ninguém sabe o que a maldição realmente é.

— Não interessa. O nome é maldição. Não é algo que alguém escolha carregar.

— O gene Malfoy é forte, Draco. Especialmente porque vem de Merlin. A maldição, seja qual for, não ultrapassaria as barreiras de proteção que o aperfeiçoamento da nossa linhagem foi capaz de construir. Não misturaria com o...

— Não tente usar os mesmos argumentos que meu pai usou para te convencer de que isso era uma boa ideia! Que prova meu pai poderia ter de que Scorpius e Hera poderiam não herdar o que quer que seja que Hermione carrega? – Perguntou. Narcisa puxou o ar. Draco havia perguntado pensando que ela não teria resposta para aquela pergunta, mas quando viu que ela tinha uma resposta, ele endireitou-se e inclinou-se para frente direcionando todo o seu foco para ela. – Que prova meu pai tem, mãe? Não tem nenhuma na ala restrita do cofre.

Narcisa hesitou. Sabia que Lúcio faria aquilo muito melhor do que ela estava fazendo naquele momento. Não era assim que as coisas deveriam estar acontecendo.

— Severo. – Ela respondeu. – Ele sabe mais sobre Hermione do que qualquer outra pessoa. Ele quem tem feito as poções para o mestre usando as propriedades mágicas do sangue do seu filho. Ele quem apresentou para o seu pai as provas que ele precisava. Hermione foi uma candidata ao cargo de Sra. Malfoy por muito mais tempo do que você imagina, Draco. Seu pai aproveitou-se da chance única que teve quando você a trouxe. Os Malfoy têm um sangue muito mais forte agora, seus filhos podem ter herdade o que for de Hermione, mas o nosso gene é mais forte. O de Hermione, no entanto... – suspirou. - A maldição pode ser maior do que ela.

Draco pareceu congelado por um bom tempo. Soltou o ar depois de parecer ter gastado todos os seus neurônios pensando incansavelmente. Escondeu o rosto nas mãos mais uma vez.

— Por que ele não me falou? – perguntou depois de muito silêncio. – Por que ele não me deixou saber desde o início?

— Ele queria que fosse uma lição. Uma boa lição sobre como tomar a responsabilidade de ser um herdeiro Malfoy. – Aquilo Lúcio não havia lhe dito, mas Narcisa conhecia o marido o suficiente para saber como ele gostava de educar o filho a respeito do sobrenome que dividiam. - Seu pai sabia que você se envolveria com ela. Ele queria que você se envolvesse com ela. Ele queria que você criasse laços, criasse sentimentos, se apegasse, ele torcia para que conseguisse, mesmo sendo quem é. Seu pai sempre foi um bom observador e sempre notou o quanto dava atenção a Hermione, desde que a conheceu. Diferente de todas as outras ao seu redor, ela era a única com a qual você sempre tinha uma opinião a respeito. Qualquer outra não cheirava nem fedia, exceto Hermione. Seu pai sabia que se havia alguém que poderia te conquistar, tinha que ser Hermione, e se ela fosse realmente a mulher por quem você fosse se apaixonar, ele apostava que seria intenso. E ele queria isso, ele queria que fosse difícil. Só assim você saberia o valor do sacrifício de dar as costas para isso quando fosse dado as provas de que deveria. Talvez assim você o entendesse. Entendesse que não é tão fácil quanto parece quando ele precisa colocar o sobrenome Malfoy acima de você e eu. Talvez assim você entendesse mais o porque ele foge tanto de nós dois. - Suspirou. – Draco, eu sei que é difícil entender, mas seu pai te ama. Dói nele ver o quanto de rancor você tem guardado por ele, mas mesmo assim, entenda que ele nunca vai colocar o nome Malfoy em segundo lugar. A única chance que ele tem de te fazer enxergar é colocando-o para andar o mesmo caminho que ele andou. Colocando-o para se deparar com decisões que ele também teve que tomar. Essa é a forma dele te preparar para ser o herdeiro Malfoy que você nasceu para ser.

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— Sacrificar minha família da mesma forma como ele fez com a dele? – Draco soltou cheio de desgosto. – Meu pai quer o filho que eu era quando criança, o filho que sonhava em ser exatamente como ele. Desde que eu passei a detestar a pessoa que ele é, ele tem me forçado e me colocado para andar caminhos que milagrosamente me farão entender o porque ele é quem ele é e porque eu devo ser exatamente como ele. Não tem sido a melhor das estratégias.

— Tudo bem. – Lucio aceitava aquilo também. – Seu pai costumava dizer que levaria tempo. Ele tinha toda a paciência do mundo com essa jornada, Draco, simplesmente porque ele também passou por ela. Você não conhece muito sobre a relação que seu pai tinha com seu avô, ou nem mesmo quem seu pai era quando eu e ele nos casamos. Seu pai sempre esteve muito confiante de que todo herdeiro Malfoy encontra o caminho em que deve andar eventualmente.

Draco forçou um sorriso fraco.

— Por que que tudo isso soa tão patético? – Indagou ele. Narcisa sabia que aquela pergunta havia sido feita, porque em qualquer outra situação Draco teria muito orgulho em concordar que as tradições, princípios e seja lá o que for dos Malfoy sempre era algo com o qual ele se orgulhava e dava importância. – Aposto que teria concordado com meu pai se ele tivesse me exposto tudo que tinha para ser exposto antes de me unir a Hermione. Talvez eu tivesse até concordado que seria uma boa ideia. Eu a queria bem morta quando a trouxe para o Lorde.

— Acha que isso tornaria tudo mais fácil agora? Pensa mesmo que saber de tudo teria mudado o que sente por Hermione? Tentou fugir dela antes. Sabe que não é tão simples assim. Ter conhecimento dos planos do seu pai, concordando com ele ou não, só tornaria as coisas ainda mais difíceis para você. Eu sabia e mesmo assim a acolhi. Eu sei que ela não tem culpa. Você estaria com Hermione exatamente onde estão agora, independente de quando tomou conhecimento de que precisa dar um fim a ela.

Comprimiu os lábios visivelmente irritado.

— Eu ainda não cheguei aí, mãe. Não use esse tipo de vocabulário. – Ele a repreendeu.

— Você está tentando fugir disso, Draco, mas eu te conheço. Sua razão não vai te fazer esquecer do que sabe. Pode fingir que não sabe sobre Severo Snape. Pode fingir que não quer visitar a ala restrita do cofre. Pode fingir que consegue ignorar. Que não é importante. Que seu pai é doente. Que existem outras soluções ou que tudo é uma mentira. Que Hermione é diferente. Mas sabe bem que sua cabeça não vai parar de te alertar. – Ela disse. Ele não falou nada em resposta. – Vá atrás de Severo.

— Eu não me associo com Snape. Não o procuro. Não troco palavras com ele. – Foi decisivo.

— Severo sabe o que...

— Snape é a pessoa alimentando o sangue do meu filho a Voldemort. O dia que eu o procurar será para acabar com a vida dele.

— Draco...

— Não me faça ter que repetir isso! – findou ele.

Narcisa soltou o ar aceitando a teimosia dele. Ainda era fácil para Draco colocar tudo aquilo em uma caixa e empurrar para debaixo de uma sombra porque a vida que vivia com Hermione era uma fantasia. Mas ela sabia que aquilo não duraria. O filho não conseguiria manter tudo aquilo guardado em algum canto de sua mente quando as coisas mudassem e ela sabia que mudariam. E sabia que não seria bom, não seria seguro, não seria como queria que fosse porque Draco não estava preparado para ser o Malfoy que todo Malfoy precisava ser. Ele estava preso a fantasia que tinha com Hermione. Ele queria aquela fantasia, aquilo que o motivava e ele sabia que estava errado, mas mesmo assim, se agarrava aquilo. Estava colocando todos em risco.

— Sei que está dando o seu melhor, filho. – Ela estava preocupada. – Sei que tem carregado peso demais. – Lamentava pelo filho. - Mas seu pai não está aqui e ele estaria fazendo o papel de te lembrar de que essa não é nossa história. O legado Malfoy é maior do que nós. – Draco entendia que ela não o repreendia pelo que havia encontrado com Hermione. Na verdade, Narcisa ficava muito feliz pelo filho ter encontrado o que encontrara com ela. Seu coração se acalmava por saber que seu filho tinha um lado humano, de que ele conseguia encontrar propósito além da ambição. Aquilo era o que o diferenciava de Voldemort. Mas nada daquilo tornava a vida fácil para ele. – Eventualmente, sei que irá fazer seu caminho até Severo. Por enquanto, viva a frágil fantasia que tem com sua mulher e filhos enquanto puder. Serei parte dela enquanto me fizer ser. Você quem tem as rédeas, é você quem está conduzindo tudo isso agora que seu pai não pode mais. – Concluiu.

Eles entraram num silêncio vazio. Draco vagou pensativo por um bom tempo, até que finalmente, depois de desistir do que quer que estivesse se passando por sua mente, levantou-se.

— Está perto da hora do cochilo das crianças. Eu e Hermione estamos tentando uma nova rotina. Talvez os ajude a não acordarem tanto durante e noite. – Foi até a mãe e inclinou-se para depositar um beijo em sua têmpora. – Seria bom se pudesse entreter Astória enquanto colocamos as crianças para dormir. – Disse e deixou o escritório num estado pior do que havia entrado.

Narcisa respirou fundo. Encarou Hermione no jardim sendo a maravilhosa mãe que era. Seu coração apertou. Ela não merecia nada daquilo. Mas a vida era absurdamente injusta. Queria que a história dela fosse diferente. Soltou o ar. Ela não podia saber. Se soubesse faria o mesmo que todos antes dela haviam feito. Ou talvez fugisse como sua mãe biológica fizera. Era absurdo como o tipo dela conseguia se transformar tão facilmente naquilo que ninguém esperava que pudesse. Os relatos comprovavam. Narcisa finalmente havia dado acesso a Draco para que ele pudesse ler todos eles, e sabia que o filho havia lido com cuidado, um por um.

Draco Malfoy

Estava em Azkaban. Os homens e mulheres das melhores zonas de seu exército estavam alinhados no sombrio e gigantesco pátio central da prisão. Eles estavam prontos para seguir suas ordens. Isaac fizera seu caminho de volta ao Ministério para se apresentar aos pedidos urgentes de reforço liberados por Theodoro Nott durante a madrugada. As coisas estavam correndo exatamente como deveriam, exceto por uma. Uma que ele não havia previsto, sequer considerado ou algum dia imaginado.

Hermione. O que ela estava pensando? O que infernos se passava pela cabeça dela. Por que logo agora? O que ela queria com tudo aquilo? Ele não conseguia raciocinar, não conseguia ligar a lógica, não conseguia traçar a linha de pensamento dela. Por que havia desaparecido?

— Estamos apenas esperando as ordens, senhor. – Devon fez questão de lembra-lo.

Draco assentiu, mas não soltou ordem alguma. Apenas observou as cabeças de seus aliados se movimentando no andar de baixo do mezanino onde estava.

— Draco, não podemos esperar mais. Já é quase dia. – Devon aproximou-se dele para poder insistir usando um tom discreto.

— Sei que horas são. – Retrucou Draco e Devon afastou-se mostrando sua aparente ansiedade.

O silêncio entre eles continuou a existir. Era óbvio que todos estavam irritados com o atraso de Draco, mas nenhum deles entendia que talvez Hermione ter desaparecido poderia ser um sinal de alerta para ele. Ela não queria fazer parte daquela ação. Por que? Achava que era tudo que ela mais havia esperado desde que saíram de Brampton Fort. Ou talvez ela estivesse se entregando a loucura. Ou talvez devesse parar de acreditar nela.

— Se avançarmos talvez iremos acabar nos deparando com quem pegou sua esposa. – Denna comentou receosa.

Ninguém havia pegado sua esposa.

— Ninguém pegou Hermione, Denna. – Fox pronunciou-se, usando o primeiro nome de sua mulher, o que um tanto quanto incomodava Draco. – Todos sabemos que tipo de mulher ela é. Ninguém cruza o caminho dela dessa forma.

— Não deveríamos estar discutindo isso. O tempo está correndo. – Devon continuou a insistir no tempo. – Precisamos de ordens.

— Ela está tentando dizer algo. – Draco ponderou mais consigo mesmo do que com os outros.

— Ela não poderia ter realmente te dito antes? – Denna mostrou-se irritada.

Fox pediu para que Denna engolisse sua ignorância e Devon aproximou-se de Draco.

— Acha que ela tentou te avisar sobre algo que não escutou? – Questionou ele.

Draco balançou com a cabeça sem saber se deveria concordar ou discordar.

— Eu conheço bem a teimosia da minha mulher. Ela não estava satisfeita com meu plano. Eu não escutei os sinais dela. – Ele soltou o ar frustrado e irritado. – Ela vai querer fazer com que seja do jeito dela.

Havia dado ordens de busca para encontrar Hermione num surto espontâneo de preocupação, mas recuou logo que a lógica falou mais alto do que o instinto protetor que tinha com relação a ela. Não queria que a notícia espalhasse nem queria causar alarmismo. Hermione também não era nenhuma donzela em perigo. Ela havia tomado uma decisão e tudo que havia restado para ele era jogar as mãos para baixo e encarar o enorme ponto de interrogação que ela colocara na cabeça dele. E que infernos que era estar lidando com aquele questionamento.

Estava no meio de uma operação, não podia estar se dando o trabalho de dar atenção aquilo. Ela não podia estar fazendo aquilo agora, não agora, e o fato de que estava era uma gigante bandeira de traição. Não queria enxergar daquela forma, mas sua raiva só o fazia ver aquilo. Tudo porque ela decidira agir as suas costas. Decidira vendá-lo e seguir sozinha o que quer que fosse que tivesse em mente, e ele seria obrigado a ajustar-se ao que quer que fosse o objetivo dela. E era exatamente isso que o preocupava. Ela tinha um plano, e ele não fazia a menor ideia de qual plano era. Não sabia se deveria tentar desvendar que plano era esse, não sabia se devia confiar nela. A verdade é que sabia que não deveria. Hermione decidira ir solo por uma razão, e ele tinha certeza que essa razão era uma que ele desaprovaria. Não fazia sentindo que ela decidira dar as costas a ele. Tinha a sensação de que voltara no tempo e estava lidando com Hermione jogando do lado oposto daquela guerra novamente. Tinha a sensação de que ela era novamente uma inimiga e isso o incomodava de um tanto que fazia sua cabeça dar voltas.

Era um perigo. Um grande perigo. Pela milionésima vez, ele estava se deparando com o fato de que a tinha fora de controle, fora de alcance e isso era terrivelmente assustador. Ela havia escapado por entre seus dedos. A ideia de que eles se pertenciam, de que ele pertencia a ela e de que ela pertencia a ele e que os dois eram um time voou para longe num piscar de olhos. Ela não era seu pertence, ele não a controlava e ela tinha vida própria.

Precisava começar a usar sua lógica, ser cético, neutro. Precisava de tempo para pensar e digerir tudo aquilo e colocar sua cabeça no lugar. Sabia que não estava agindo de forma correta. O fato dela ter sumido estava o distraindo de tal forma que mal conseguia se focar na enorme ação que conduzia naquele exato momento. Ele estava extremamente irritado e sabia que não poderia estar. Precisava encontrar um equilíbrio. Aquele momento era o que ele mais precisava de equilíbrio.

— Devon. – Draco chamou sua atenção. Devon logo mostrou estar pronto para receber alguma ordem sobre mover a ação. – Certifique-se de que ninguém vá a lugar algum sem minhas ordens. – disse e deu as costas.

Houve um pequeno e quase silencioso surto de indignação.

— Todos sabem o que vem em seguida, general. Todos estão esperando uma ordem! – Fox tomou a frente. – Não pode dar as costas agora! Lorde Voldemort irá tomar o comando de Nott assim que se der conta de que a situação está fora de qualquer possível controle. Os fortes estão caindo. Um por um. Não podemos ficar esperando isso acontecer. Isso não é parte da ação.

Draco parou para encará-lo. Fox nunca havia questionado uma ordem sua.

— Não estou fugindo. O que pensa que eu estou fazendo? – estava visivelmente irritado. – Quero que isso seja o fim tanto quanto você! Tanto quanto todos vocês. – Enfatizou quando notou o olhar receoso dos demais. – Conheço Nott, conheço Voldemort e aqueles que tem o poder de cochichar nos ouvidos dele. Cheguei até aqui usando mais do meu cérebro do que um exército. Preciso me certificar de que ainda estou usando minha cabeça tendo toda a força que tenho contra ele agora. Não estamos lutando mais contra rebeldes.

Ninguém ousou questioná-lo dessa vez. Fox ficou quieto. Devon assentiu. E então Draco deu as costas e seguiu de volta para a sala reservada de Azkaban. Haviam acabado de sair dali. Os documentos de estratégias ainda estavam todos esparramados sobre a mesa. Draco os encarou por um bom minuto enquanto sentava numa das cadeiras.

Deu tempo para que seu cérebro trabalhasse.

Tudo estava seguindo conforme o planejado até o momento. Claro que haviam alguns deslizes aqui e ali, mas tudo dentro de uma margem de segurança que ele havia previsto. Isso significava que Hermione, onde quer que estivesse, não deveria estar intervindo. Ele temia pelo momento que ela fosse. Sabia que ela iria. Tinha sua certeza. Temia pelo que seria.

Acabou por fechar os olhos e afundar o rosto nas mãos quando percebeu o tanto que seu sangue corria quente. Era ótimo em manter uma boa postura quando precisava. Seu controle emocional era bem desenvolvido. Mas seu sangue fervia. Não conseguia se lembrar da última vez em que odiara Hermione com tanta força. O que ela pensava que estava fazendo? Por que ela tinha que esfregar tanto na cara dele que era uma mulher tão infernalmente imprevisível. Por que? Logo agora que ele estava juntando provas que bem queria fingir que não existiam.

Céus.

Ele precisava de seu pai. Seu pai saberia o que fazer. Qualquer que fosse a solução que ele daria, seria cruel. Cruel, suja, difícil de encarar. Mas seria indiscutivelmente a solução mais correta. Por que ele não poderia ser igual o seu pai? Por que não conseguia ser completamente cético e frio para poder encarar aquilo e tomar a decisão que fosse sem hesitar, por mais dolorosa que pudesse ser.

Seu pai estava certo. Sempre estivera certo. Draco quem havia descreditado ele. Em sua bem apurada mania de rebeldia contra as atitudes de seu pai, acabara por se permitir condená-lo pelo que fizera de sua família, de seu relacionamento com sua mãe, da própria criação que tivera, acabara por decidir doar-se aos sentimentos que tinha por Hermione por medo de tornar-se como ele. E agora se via incapaz de usar sua própria lógica contra a onda de raízes e sentimentos que criara com uma mulher que estava destinada a ter um fim que ele era responsável por ditar.

E ele tinha que ditar aquele fim. Quanto mais fugia daquilo, mas parecia que aquilo o perseguia. Mesmo que estivesse decidido a desacreditar no passado que todos os outros Malfoys antes dele haviam acreditado. Parecia que quanto mais tentava se convencer de que estava sendo sensato em sua decisão, mais o universo lhe dava provas para alertá-lo da besteira que estava fazendo.

Céus. Onde estava seu pai?

Infernos!

Por que isso era a única coisa que ele conseguia pensar naquele momento? Estava comandando uma ação. Precisava focar-se em usar seu cérebro para atingir ao menos o objetivo de derrubar Voldemort. Tinha muito a perder. Estava jogando pesado. Aquele era o legado Malfoy. A história lembraria daquele momento para sempre. Ele não podia falhar. Não agora.

Certo. Sabia que Nott estava carregando demais nas mãos naquele momento. Em seu lugar, Draco estaria agindo em estado de urgência, e olha que tinha bastante experiência. Quando Draco assumira sua alta posição, os fortes não estavam tão estáveis, mas nada como o que estava acontecendo agora. Voldemort certamente estava se coçando para tomar as rédeas, mas Severo, como o bom conselheiro político que era, ainda deveria estar o convencendo a não descer de seu trono de Imperador, porque no momento que fizesse isso, o pânico seria instalado, o estado de calamidade seria oficialmente declarado. Era importante que Voldemort tentasse passar a imagem de que não precisava sujar suas mãos para montar seu próprio Império ou para garantir que ele se mantivesse estável. Severo Snape deveria estar nesse exato momento lembrando-o daquilo.

Draco precisava manter isso em mente. Precisava garantir que as coisas continuassem nas mãos de Nott. Talvez fosse um erro ir com toda força contra o Império. Talvez se mandasse uma nota de aviso e pausasse ali sua ação, como se estivesse passando a ideia de que era só um ataque, só uma batalha vencida naquela guerra. Céus, onde estava Hermione. Precisava do cérebro dela. Eles trabalhavam bem juntos.

Quis soltar um palavrão.

Por que seu cérebro sempre tinha que o levar de volta para Hermione? Quando foi que se tornara tão dependente dela? Por que infernos se sentia tão estúpido? Por motivos muito óbvios, tudo que ele conseguia lembrar agora era de todas as vezes em que se questionara se Hermione realmente sentia por ele o que ele sentia por ela, ou se ele representava apenas um remédio de alívio para a terrível vida que era obrigada a levar. Um que talvez ela não precisaria mais quando se livrasse da prisão que Voldemort a colocara.

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Mesmo quando refletia a evolução que haviam tido desde o estranho começo, onde somente sexo era tudo que queriam, não conseguia chegar a nada consistente. A forma como se relacionavam, em todos os aspectos, era frágil. Tudo era sobre como se sentiam no momento. Nunca haviam criado o hábito de se afirmarem verbalmente, constantemente. Draco sabia que podia ser uma pessoa fria. Sabia que se limitava a uma rotina onde se permitia ser mais aberto em apenas momentos específicos para que pudesse se manter concentrado na vida que levava na Catedral. Sabia também que acabava se distanciando quando se via confrontado pelas responsabilidades do passado de sua família que agora estava em suas mãos e pelo fato de Hermione ser quem era, mas mesmo quando acabava se jogando nos braços dela, exausto de lutar com sua lógica, sentia que ela sempre segurava um pé atrás.

Era como se aquele acordo de entregarem o coração um para o outro estivesse num passado distante, mesmo que se doassem tanto, mesmo que se doassem para a família que tinha, os filhos que criavam, ainda assim, não eram completamente honestos um com o outro. Podia culpar as ameaças que sofriam estando debaixo de Voldemort. O passado que carregavam talvez. Ou até mesmo suas personalidades orgulhosas, teimosas, difíceis. Mas mesmo com todas as justificativas do mundo não encontrava a raiz da causa.

Mas não importava. Não importava porque ela já havia o abandonado. Deus! Como doía! Ele queria poder voltar no tempo e concertar as decisões erradas. Mas não podia, e mesmo que pudesse, teria que fazer tudo do mesmo jeito novamente, simplesmente porque o que queria não era o que podia. Eles tinham um gigante para destruir e concentrar-se nele era muito mais importante do que se concentrar no relacionamento que tinham porque não podiam perder os filhos. Scorpius e Hera eram sua maior herança. Parecia que o universo queria usar de tudo para mostrar que não eram compatíveis, que não adiantava correr contra a corrente. Nunca deveriam ter se apaixonado, nunca deveriam ter se casado, nunca deveriam ter tido filhos, nunca deveriam ter criado laços, raízes, nunca deveriam ter se familiarizado um com o outro. Hermione não era para ele e ele não era para Hermione. Não eram um para o outro. Nunca haviam sido. Não havia nenhuma forma de fazer com que fossem.

Sentiu a garganta arder. Seu peito queimou. Seu sangue ainda fervia. Tudo nele queria acabar com ela, mas tudo nele morreria no momento que o fizesse. Ele estava condenado. Estava, definitivamente, condenado. Era como se estivesse vivendo Dumbledore novamente, mas muito, muito pior. Corromper sua alma matando Dumbledore, fora a tarefa mais difícil que cumprira em sua adolescência. Aquilo o transformou. Teve que aprender a se aceitar de outra forma, se enxergar de outra forma, encarar outras perspectivas, defender outros ideais. Teve que mudar. E fora extremamente difícil. Era impossível pensar o que seria dele se acabasse com ela da forma como sentia que queria naquele momento e da forma que sabia que deveria.

Ele se contorceu por dentro. Sua memória o levou para o sorriso dela, para quando se abraçavam com a única pretensão de se sentirem perto um do outro, para quando pensavam uma solução juntos, quando lamentavam um para o outro a saudade que tinham dos filhos depois de um longo dia na Catedral, quando dividiam uma garrafa de vinho, quando se ajudavam com a difícil tarefa de serem pais, ou.... Céus. Ele tinha que parar! Será que estava se tornando Harry Potter? Tinha que se focar. Sua guerra era com Voldemort naquele momento. Estava em uma missão!

Encarou a lista de estratégias expostas naquela mesa. Tirou alguns minutos para limpar sua mente, mesmo que estivesse correndo contra o tempo. Precisava dar logo uma ordem, mas tinha que ter certeza de seu próximo passo primeiro e ele estava incerto. Principalmente com Hermione longe. Deveriam estar fazendo aquilo juntos!

Escutou alguém bater na posta e logo depois Fox mostrou-se sem pedir permissão ou desculpar-se por estar invadindo o espaço que ele ordenara ter por alguns minutos. Draco apenas ergueu o olhar para ele cansado de ter que mostrar-se irritado já.

— Precisa escutar isso. - Foi o que Fox escolheu dizer para lutar por atenção e evitar ser enxotado.

Draco soube que pelo tom que ele usava, vinha carregando notícias. Não parecia pretender implorar por ordens.

— Vá em frente. - Foi tudo que teve paciência para dizer.

Fox mostrou-se cuidadoso logo em seguida e Draco soube que deveria começar a se preparar para o que quer que fosse escutar da boca do homem.

— Sua mulher, senhor. - Fox anunciou.

Draco apurou os ouvidos e irritou-se com a demora.

— Não tenho tempo para suspense, Fox.

Fox parecia receoso.

— Ela está no Ministério. - Ele anunciou. - De acordo com o patrono de Bennett, está fazendo com que a equipe de guarda do sistema de conexão com os fortes abra um portal para Brampton Fort. Ele lançou ordens para detê-la agindo em nome do mestre, mas ninguém está sendo capaz de pará-la.

Draco soltou o ar com calma e fechou os olhos decepcionado. Claro, poderia ter esperado algo como aquilo vindo dela. Esfregou a testa com a ponta dos dedos percebendo uma constante dor de cabeça que não ia embora.

— Isso é tudo? - foi o que perguntou quando Fox não acrescentou mais nada.

— Bennett está confuso. Está agindo em nome do mestre com o propósito de manter seu disfarce. Ele está sem entender. Você havia deixado claro que não iria comprometer o Ministério para não piorar a situação dele com o mestre e para que continuasse o trabalho de preparar o Ministério para o momento em que o Lorde cair. Ela está colocando a corda no pescoço de toda a corja política que te apoia, mas mantêm isso em segredo no Ministério!

Draco apenas balançou a cabeça. Estava cansado. Deveria estar envelhecendo dez anos a cada meia hora que se passava.

— Deixe que ela faça o que achar necessário. - Soltou. Teimar contra Hermione era uma causa perdida.

Fox pareceu imediatamente surpreso.

— Draco, ela está indo atrás de Voldemort. - O fato de ter usado seu primeiro nome mostrou que Fox não queria que aquela conversa fosse entre um general e um soldado. Fox era um aliado e havia estado ao lado dele por muito tempo.

— Eu sei que ela está.

— Ela está comprometendo o nosso lado! - insistiu Fox.

— Sim. Ela está. - Encarou o velho companheiro. - Do que está tentando me convencer me passando informações que já conheço?

— Deve pará-la! - soltou o homem como se não fosse óbvio. - Temos que pará-la.

Draco suspirou cansado. Não. Não iria se submeter a humilhação de tentar colocar Hermione em uma coleira.

— Voldemort irá pará-la. - Levantou-se. Fox pareceu indignar-se. – Vamos estar lá quando isso acontecer.

— Ela irá matá-lo! - ele quase aumentou o tom de sua voz.

— Precisaria vê-la tentar. - Porque se ela ao menos tentasse, ela estaria o obrigando a esquecer que ela era a mulher com quem ele dividia a vida e isso o assustava de tal forma que sentia uma dor quase que em seus ossos só de pensar no momento em que tivesse que encarar esse cenário. Se ela estava definitivamente disposta a comprometer Potter, o homem por quem ela chegou a quase dar a vida, ele seria obrigado a acreditar que nada para ela tinha valor demais para não ser barganhado.

Fox mostrou-se confuso.

— Você sabe quem ela é. - ele foi apelativo, como se quisesse que seu tom denunciasse sobre o que ele realmente estava falando. - Já perdi as contas de quantas vezes comecei a descrevê-la em minha cabeça e me deparei com Morgana.

Draco encarou o homem novamente. Ele estava passando a linha do limite. Não esperava que ele fosse ousar tentar conectar-se com Draco daquela maneira. Tinha conhecimento da atenção que Fox tinha por Hermione e aceitava que ele não era o único no mundo que a desejava de alguma forma. Mas Fox parecia quase tão atento aos detalhes quanto ele, como se fosse encantado por ela e estivesse começando a ficar aterrorizado por isso.

— Fox, o mundo não sabe que quando ela se mostrava mais forte, é quando está mais frágil. - Foi tudo que optou por dizer e passou por ele.

Estava a meio caminho da sala quando Fox o parou:

— Não a teme? - perguntou como se estivesse tentando fazê-lo enxergar algo.

Draco tinha pena que as batalhas de Fox fossem tão superficiais. Talvez deveria ter inveja. Queria enxergar Hermione como ele enxergava. Seria muito mais fácil tomar suas decisões se apenas a enxergasse como uma mulher indomável atrás de poder e vingança.

— Sim. - respondeu. Ele a temia. Ela era sim terrivelmente temível e a insegurança daquele sentimento tão instável que destruía o equilíbrio que ele tentava encontrar em tudo que sentia por ela. - Mas ela é minha família. Acaso não esteve por perto para ver o que eu construí com ela, Fox? - o encarou mais uma vez. - Não esteve presente no meu casamento? Não viu quando eu e ela trabalhamos juntos dentro da Catedral? Não viu o que conquistamos? Não viu quando meus filhos nasceram? Quantas vezes você já não esteve em minha casa? - ele conhecia a família que eram, por mais reservados que fossem. - Qualquer batalha que você tem com ela, não chega perto da que eu carrego.

Eles se encararam por alguns segundos. Draco percebeu que eles estavam se conectando de uma forma diferente ali. Fox avançou cuidadosamente aproximando-se mais. Parou bem a frente dele.

— Preciso que entenda que sempre serei leal a sua causa. Não porque acredito na sua filosofia, mas porque foi você quem me fez. - Fox anunciou calmamente. - Me ensinou tudo que sei. Eu cresci quando você cresceu. Lembre-se que chegou até aqui porque nunca hesitou tratar como inimigo quem agiu como inimigo. Não coloque exceções na mesa agora.

Draco sentiu a urgência de querer exercer sua superioridade ao ver Fox cruzando aquela linha. Quem ele pensava que era? Algum tipo de tutor? Não recebia lições de seus subordinados. Mas ao mesmo tempo que sentia seu ego irritado, era crítico o suficiente para entender que Fox não estava tentando infringir seu status, estava apenas alertando-o. Algo que nunca precisara fazer antes. Era inteligente o suficiente para saber que estava dando carta branca a Hermione quando no passado jamais teria dado. Estava arriscando e Fox estava o alertando de que todos estavam vendo aquilo. Draco não tomava riscos.

Assentiu.

— Continue a confiar em mim, então. - disse.

O homem pareceu ter muito mais a dizer em contrário a afirmação decisiva de Draco, mas como reconhecia que já cruzara demais a linha. Apenas assentiu em respeito.

— Sim, general. - Finalizou, passou por ele e foi embora.

Talvez Fox aceitasse que ele estava em partes certo sobre aquilo. Draco apenas puxou o ar e o seguiu para encontrar-se novamente com as cabeças que deixara atordoadas alguns minutos mais cedo.

— Devon. - Começou por chamar seu representante. - Assim que todos os fortes estiverem tomados, pause atividades por período indeterminado, mas mantenha o exército em alerta. – Não queria jogar o jogo de Hermione.

— O que? - Denna foi a primeira a externar com indignação. - A que custo todos nós...

— Quer tomar o meu lugar, Denna?! - Draco a calou irritado. Já perdera a paciência a muito tempo. - Diga que quer, porque sei que é exatamente isso que quer. Quer dar as ordens, quer seguir com seus planos, quer a minha guerra! Vá em frente se é isso que quer! Pensei que estivesse ao meu lado e não contra mim! - a desafiou. Donna calou-se irritada. Draco passou os olhos pelo resto. Não precisava se justificar, mas aquela era a zona sete. Aquela zona crescera com ele. - Não posso avançar com força total contra Voldemort. Ele se sentiria ameaçado demais na posição em que está para acabar tomando as rédeas de Nott. Preciso de Vodemort em seu trono achando que pode tomar o controle da situação apenas delegando que seu trabalho sujo seja feito por outros. Sei bem que Severo está o convencendo a não descer de seu pedestal, de não sujar as próprias mãos. Severo lutou demais para embelezar e construir o ego dele de imperador para ser a voz o convencendo que deve abandonar isso agora. Voldemort escuta Severo. - Os outros o olhavam sem dizer nada. - E eu sei como ele delega tarefas a um general em momentos de crise. Se pausarmos, Voldemort dará um prazo a Nott. Será um prazo curto e quase impossível de administrar. E sei que o que ele irá exigir será pelo menos um dos fortes de volta ou o cargo de general será passado para outro. - Era sempre assim que funcionava. Fora assim que Voldemort trabalhara com ele. Tarefas impossíveis em prazos impossíveis. Sabia que no momento em que falhasse seria trocado por outro. Fora difícil alcançar o título de general prodígio, brilhante, infalível. - Nott irá focar toda a sua força em um dos fortes, não prestará muita atenção em Brampton Fort e quando nós soubermos exatamente os pontos frágeis da cidade de Brampton, nós iremos agir. - Expos o caso. - Claro?

— Como água. - respondeu Fox.

Draco colocou seus olhos sobre ele. Assentiu sabendo que ele estava do seu lado. Todo o resto assentiu concordando, inclusive Donna, que agora parecia muito mais conformada.

— Agora. - Continuou Draco. - Fox. - Chamou por ele. - Junte foças para ir ao Ministério o mais rápido que puder, encontre o chefe da guarda, ela está do nosso lado.

O homem assentiu imediatamente.

— Com que pretensão? - Perguntou ele e ambos trocaram um longo olhar significativo, como se estivessem se entendendo no silêncio.

Draco foi presenteado com uma breve visão de uma das memórias que tinha com sua bela mulher. Manhã, os quatro sobre a cama bagunçada, o sorriso dela estampado pelo rosto enquanto incentivava Scorpius a executar sua nova habilidade de bater palmas. Lembrava-se de ter se perguntado se havia no mundo uma mãe que pudesse ser tão linda quanto ela.

— Parar Hermione. - Essa era sua pretensão. Porque o mundo precisava saber que ela não podia ser uma exceção. Mesmo sabendo que não iria ser capaz de pará-la.

— A qualquer custo? – Ele perguntou receoso.

— Se matar minha mulher, é um homem morto, Fox. – Foi tudo que precisou responder. Se alguém tivesse que matar Hermione, esse alguém seria ele.

**

Desceu em Londres depois de receber um aviso da equipe de Fox que os encantamentos de segurança do Ministério estavam completamente desfeitos e que Hermione, sozinha, conseguia permear e transitar pela instituição sem qualquer barreira, enfrentando com pouca dificuldade a equipe escalada para fazer a guarda de segurança daquela semana.

Nunca havia sido tão fácil entrar no Ministério. Sem segurança alguma, passar pelo que antes haviam sido barreiras fora tranquilo e com toda a equipe de segurança focado em Hermione, encontrar-se com Fox num dos mezaninos do salão de entrada fora razoavelmente fácil. Era fim de madrugada e com os acontecimentos da noite, ninguém ousaria pisar o pé ali. A batalha se resumia a pequena força de Fox, a guarda de segurança e Hermione. Draco estava bem consciente que Isaac monitorava de longe porque precisaria se reportar a Voldemort.

— Ela está tentando abrir o portal para Brampton Fort por ela mesma. - Fox deu o parecer assim que se encontraram. - Está sem qualquer ajuda então não é como se pudesse ficar na área de chegadas e partidas como se fosse seu escritório trabalhando para fazer conexão com um dos portões de Brampton Fort sendo que eles estão todos fechados por ordem do Lorde.

— Ela zerou a segurança do Ministério. - Comentou Draco. - Existem feitiços de proteção que não são desfeitos desde a fundação da instituição. Ela não vai precisar de muito mais tempo para abrir uma chave de portal com um dos portões de Brampton Fort.

Inicialmente, Draco não pretendia descer até o Ministério. Não confiava que Fox fosse conseguir parar Hermione, nem exigia que ele conseguisse, sua ordem havia sido uma mera formalidade. Mandar uma equipe atrás dela para prendê-la era no mínimo uma atitude para satisfazer sua necessidade de ser consistente no modo como conduzia aquela guerra. Fox havia o lembrado de que nunca antes hesitara em tratar como inimigo quem agia como inimigo. Hermione não podia ser uma exceção. Além disso, Hermione era tomada como sua aliada e trazer uma força sua ao Ministério poderia ser interpretado como uma ação prevista. Independente de como tudo aquilo fosse acabar, ele precisava construir todo o tipo de narrativa que fosse.

Acabara por ir até lá pelo suspeitoso modo como Fox vinha reportando suas tentativas de encurralar Hermione. Não porque Fox estava fazendo um trabalho fraco, mas porque enxergara um padrão no mínimo curioso.

— Conseguiu contado com o chefe da guarda? - precisava saber primeiro o exército que estaria enfrentando, além de Hermione.

— Gwendoline? – Fox disse. – Sem sucesso. Ela está mantendo seu papel.

Perfeito. Construía sua narrativa ainda mais. Draco conhecia bem as táticas de organização dela perante a emergências. Havia a treinado.

— Suponho que ela esteja mantendo o máximo de força na área de chegadas e partidas para impedir que Hermione passe pela segurança ou consiga abrir qualquer portal. - disse por alto. Fox assentiu. - E evidentemente tem pedido reforços por estar com o Ministério em total abertura sem os feitiços de proteção. Theodoro Nott não tem gente o suficiente para mandar para os outros fortes e o Ministério ao mesmo tempo. Ou seja, Gwendoline está com pouca força para tomar conta de todo o Ministério. – Hermione havia previsto aquilo, ele sabia.

— Eles estão com menos cabeças do que o normal. Presumo que Nott tenha sacrificado gente da guarda do Ministério mais cedo para mandar para os outros fortes quando eles começaram o movimento de rebelião. – Complementou Fox. Hermione certamente pensara no mesmo. Nott não contaria que qualquer bruxo no mundo tivesse poder o suficiente para zerar as magias de proteção do Ministério.

Draco poderia rir se não estivesse tenso. Nott era mesmo um idiota. A guarda do Ministério jamais poderia ser sacrificada, em momento algum, independente do que fosse. Quem garantia que Draco não tivesse planos de invadir o Ministério? Certo que ele realmente não tinha, mas Nott deveria jogar seguro ao mover tropas. Era um patético amador.

— Aposto que Gwendoline deve estar bem contente com Nott por estar lidando com essa situação agora tendo sua guarda comprometida.

Fox assentiu.

— O Ministério está vazio, a maioria dos departamentos estão com livre acesso e todas as forças estão concentradas na zona de chaves de portal. Cruzei com Gwendoline e não deixei que ela notasse que estamos atrás de Hermione também. - Reportou Fox. Ótimo. Precisava preservar Hermione como sua aliada. - A verdade é que é como se sua mulher estivesse tentando segurar a barreiras de proteção do Ministério, como se estivesse se esforçando para que elas continuem zeradas ao mesmo tempo em que tenta abrir uma chave de portal para Brampton Fort. A guarda de Gwendoline tem segurado bem a passagem dela para a área de chaves de portal, mas Hermione nunca ataca por muito tempo. Ela não consegue fazer muito progresso porque sempre aparata para outro lugar. O único lugar plausível é o andar técnico onde as fontes de magia de proteção estão concentradas. É o único lugar que ninguém tem conseguido entrar. Ela só pode ir para lá numa tentativa de manter a magia baixa. Gwendoline quer deixa-la passar, mas não tem tido tempo o suficiente para ao menos cumprir o papel de que tentou impedi-la.

Draco pensou por um tempo.

— Suposições. - Observou ele. - Ela tem aparatado de um lugar para o outro aqui dentro, assim como todo o resto, e o único lugar em que é vista é quando faz tentativas para avançar na zona de portais. - Certo, Draco precisava ver aquilo com seus olhos. - Não gaste forças com o andar técnico. Tire quem estiver por lá e desça para a área de chaves de portais. Vamos segurá-la lá.

Fox assentiu com certo tédio e seguiu para cumprir a tarefa. Claro que Draco sabia que ele já havia tentado aquilo. O que Fox não estava entendendo era que Hermione não era idiota de não contar com isso. Draco esperava que ela fosse indomável. Não esperava que ninguém fosse segurá-la.

Seus homens não usavam mais máscaras de comensais. Era fácil identificá-los no meio do tumulto quando chegou a área de chaves de portais. A guarda estava se reorganizando ao comando de Gwendoline. Não havia nenhum sinal de Hermione e a única batalha que via era a da guarda em tentar manter a ação de Fox fora dos perímetros. Por mais que detestasse a ideia de precisar se juntar a guarda, era necessário que não tivesse que lutar conta ela e contra Hermione. Era idiota ter dois grupos brigando sendo que ambos tinham o mesmo objetivo. Mas ele ainda precisava de sua narrativa.

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As ordens que começou a dar foram altas e claras. Reorganizou seus aliados tomando o comando de Fox. Chamou o máximo de atenção que pode. A guarda reagiu rapidamente apesar de claramente se mostrar confusa por ter o antigo general se envolvendo no meio da massa. O efeito que Draco queria causar logo teve resultado quando Gwendoline tomou a frente tirando sua máscara.

— Uma surpresa te ter aqui, general! - Proferiu a mulher do outro lado do salão de chegada, claramente sendo indireta. Ela queria saber o que estava acontecendo. Bennett certamente havia a informado de que o Ministério estava fora da rota de tomada dos Malfoy.

— Não acredito ser mais o seu general, Gwendoline. - Retrucou e ordenou que seus homens mantivessem a linha ao ver que muitos deles queriam responder o ataque da guarda. Pediu pela barreira de proteção e os aliados ergueram a varinha criando a barreira e impedindo qualquer troca de duelos. – É uma surpresa para mim ver que Theodoro a deixou sozinha para cuidar do Ministério nesse estado com metade da guarda que eu estipulei mínima no meu comando.

— Nada disso estaria acontecendo se você não tivesse traído o Império! - um dos soldados da guarda exclamou por cima dos curtos insultos que estavam acontecendo entre a guarda e seus aliados.

Ótimo. Por causa disso que ele sabia que mesmo que Voldemort caísse, seria uma longa caminhada para limpar o mundo bruxo e dar voz novamente a liberdade.

— Gwendoline, é sempre um prazer surpreender o oponente. - ignorou Draco. – Para mim, se apenas continuar a fazer o seu trabalho, Brampton Fort cairá. – Foi a forma mais discreta de passar para ela que continuasse cumprindo seu papel.

As piadas começaram. Uma ofensa seguida da outra. Draco se manteve quieto enquanto escutava os dois grupos se atacarem verbalmente. Uma briga interna do outro lado pareceu tomar mais corpo quando a comandante pediu para que aquietassem e abaixassem as varinhas. Talvez ela não havia entendido o recado que Draco havia passado.

Quando Fox aparatou com o grupo que trouxera do andar técnico a tensão se intensificou ainda mais. Draco apenas continuou a ordenar que a linha fosse mantida e o barreira erguida.

O salão precisa ser fechado. - Draco pensou alto apenas para Fox. - Se erguerem barreiras físicas em volta das partes aberta do salão será mais fácil confinar um feitiço básico de antiaparatação. Irá contê-la por um tempo a mais.

— A guarda irá precisar fazer o mesmo do lado dela. - Fox disse parecendo duvidar que eles fossem considerar contribuir. – Irão notar que estamos com o mesmo objetivo. Não irá fazer sentido estar contra nós mesmos.

Draco precisou pensar. Não queria que fosse hora de Brampton Fort ainda, mas deixar que Hermione seguisse com o que quer que tinha em mente, soava como a melhor rota. Ele não iria querer gastar energia e força teimando com ela e Hermione certamente estava contando com o mesmo.

— Eles têm mais a ganhar capturando Hermione. - Foi tudo que disse, embora duvidasse muito que tantos seus aliados quanto a guarda fossem sequer conseguir pará-la.

Ele começou a pensar em dar a ordem de recuar, mas Hermione apareceu antes mesmo que ele tivesse a chance de lançar qualquer ordem. O caos se instalou com muita rapidez. Draco teve que gritar alto para que a linha fosse mantida e que eles recuassem. Avançou com sua varinha abrindo caminho por entre o esforço de seus aliados.

Os cabelos dela balançavam ferozmente enquanto tentava se proteger e abrir caminho para dentro da zona de chaves de portais protegida pela guarda. Draco apenas observou quando um alerta acendeu imediatamente em sua cabeça.

Queria chegar até ela. Era só isso que queria. Queria olhar nos olhos dela. Mesmo que fosse por apenas um segundo. Era apenas isso que ele precisava. Suou com toda a sua habilidade ao cruzar o campo minado que se instalara naquele salão e mesmo não conseguindo estar tão perto quando queria, numa das tentativas de se proteger do ataque da guarda, Hermione colocou os olhos sobre ele. Foi rápido. O que Draco esperou foi que ela hesitasse, que ela o reconhecesse, que ela reagisse. Mas nada daquilo veio. Os olhos dela passaram por ele como passaram por todos os outros. Era como se fosse um completo desconhecido. Ela agia como um robô. Lutava sozinha usando uma bolha de proteção que parecia quase impenetrável.

Draco parou. Foi como uma facada em seu estômago. Nada fez sentido em sua cabeça por um bom tempo e ele só reagiu porque não cederia a guarda.

Recuou.

Sentiu quase que uma dor física ao engolir a indiferença dela. Observou o caos se desenrolar. Hermione sabia duelar como ninguém. Sua cabeça esvaziou ao observar aquilo não querendo lidar com a frustração de sua expectativa.

Foi quando percebeu que Hermione não estava realmente duelando. Sim, ela resistia aos ataques, mas era evidente que só não estava fracassando terrivelmente porque parecia coberta por algum tipo de proteção impossível de se desfazer. Aquele alerta em sua cabeça começou a fazer mais sentindo, principalmente quando ele notava o modo como ela se movia, se portava, se apresentava.

Procurou por Fox. Ele tentava administrar os bruxos proferindo magias para controlar o campo que separava a guarda dos aliados. Gritou a ordem para que seus homens se organizassem na clássica formação de recuo. A guarda respondeu quando Gwendoline gritou uma ação de ataque, dividindo o grupo já pequeno entre Hermione e os aliados de Draco.

— Fox! - Pegou a atenção do homem. - Ela não está duelando. - Observou.

Fox focou-se no olho do furacão.

— Sim, ela está. - Retrucou ele não entendendo o comentário.

— Não, Fox. Ela não está. Hermione esteve em linha de frente da Ordem por anos contra nós. Observe o que ela está fazendo agora.

Fox prestou mais atenção.

— Ela não está sendo tão incisiva. Talvez esteja guardando energia. Precisa de mais espaço para elaborar uma estratégia para passar a guarda e conseguir abrir um portal.

— Não. - O cérebro de Draco trabalhava mais rápido do que ele conseguia verbalizar ou até mesmo acompanhar. - Hermione está sendo bem idiota no que está fazendo. Ela nunca irá passar a guarda sozinha assim. É impossível abrir uma chave de portal no caos que esse salão está e ela não está duelando para acabar com ninguém. Ela mais procura se proteger do que atacar. - Fox o encarou com um grande ponto de interrogação estampado em sua expressão. - Hermione não é burra! - será que ele não via?

— Sei disso. - Foi tudo que o homem disse.

— Fox! Não é ela! - não era possível que ele não havia enxergado isso. Fox mostrou-se imediatamente em alerta. Com um apurado senso crítico ele observou. - Ela está se protegendo. Atacando para se manter de pé. Quando some é para se recuperar. E veja só a performance que está dando. É automática, impulsiva, pouco calculada, reflexiva. É como se estivesse....

— Sobre a maldição Imperius. - Concluiu Fox. Mostrou-se rapidamente inquieto. – E alguma forte magia de reflexão de imagem ou distração. – Era inegável que não se parecesse com Hermione. - Precisamos juntar as forças. Se conseguirmos passar a barreira de proteção sobre ela podemos revelar quem é.

— Não. - Draco o repreendeu rapidamente. - Não vamos revelar quem é. Ela está ganhando tempo fazendo todos acreditarem que está aqui tentando abrir um portal para Brampton Fort pela zona de chaves de portais. - Ele sabia que Hermione não era burra. Ela era estupidamente inteligente. Tinha que fingir jogar o jogo dela. - Passe o comando. Coloco nossos homens para tentarem abrir espaço para Hermione. Isso vai garantir a guarda de que ela não está agindo de modo independente. Você vai descer comigo até o Departamento de Mistérios.

Fox tratou de seguir as ordens. Passou o comando e seguiu Draco. No caminho a única janela que mostrava a vista de Londres dezenas de andares acima de suas cabeças dava sinais de que a manhã raiaria em algumas poucas horas.

A força concentrada no salão das chaves de portais deu quase um caminho livre para o Departamento de Mistérios. A entrada estava guardada por um grupo de comensais mascarados que se mostraram claramente sob a maldição Imperius. Deixaram que Draco e Fox passassem sem maiores complicações. Mais um sinal de que aquilo era obra de Hermione.

Draco já havia elaborado o sistema de segurança para o local com a ajuda de inomináveis há anos atrás. Conhecia bem a disposição das salas embora a existência delas fossem sempre uma grande questão, até mesmo para os inomináveis. Sabia exatamente onde queria ir e tomou o caminho para descer até onde a véu falsificado estava. Encontrou-o como deveria estar onde deveria estar, porém logo atrás, a gigantesca e cavernosa parede parecia terrivelmente distorcida e deformada. Aproximou-se com cuidado e quase que com receio, depois de demorar um tempo analisando, ergueu as duas mãos para tocá-la. Como o esperado, suas mãos passaram a parede, que se mostrou permeável como água. No momento em que sua mão vez movimentos tentando avaliar a extensão do portal, o caminho que sua mão fez abriu uma vista para o centro de Brampton Fort que logo se dissipou novamente mostrando a parede. Fez um movimento mais brusco e dessa vez teve uma visão maior.

Quase riu.

— Hermione o deixou aberto. - disse.

— O que isso significa? - Fox perguntou.

— Significa que ela está esperando por nós lá. O portal está aberto pra passarmos. Espaço o suficiente para o exército inteiro. - Soltou o ar querendo passar a mão pelo rosto e puxar os próprios cabelos. - Ela usou a magia remanescente do arco impregnadas no ar e nas paredes desse espaço para abrir um daqueles portais que a Ordem usou por um bom tempo, especialmente no episódio de York. Trancou o andar técnico para que ninguém reativasse a segurança do Ministério e o portal fosse fechado. Lançou a maldição Imperius sobre um dos soltados da guarda revestindo o reflexo dela nele para convencer de que está tentando abrir espaço entre as chaves de portais para chegar a Brampton Fort quando na verdade ela já estava lá. E talvez já deva estar faz um bom tempo.

Fox soltou um palavrão. O silêncio se estendeu por alguns segundos.

— E quais são as ordens? – Fox o quebrou.

Draco ainda não queria acreditar.

— Ela nos comprometeu. - disse. - Sabe o que isso significa.

Fox pareceu hesitar.

— Vamos atacar Brampton Fort hoje. - Era o que significava.

Draco soltou o ar. Definitivamente não queria aquilo. Mas assentiu.

— Junte as forças. - Ordenou. - Todas.