By your side

Capítulo 2


Passaram-se semanas desde aquela cena confusa com Cato. Desde aquele dia em questão, nós dois não havíamos nos falado de novo, sequer nos cumprimentávamos quando nossos caminhos se cruzavam pela academia. Era algo estranho. Eu o culpava por isso, afinal, não era ele que desejava nossa aproximação? Fora ele que sugeriu que fossemos aliados, não? E, apesar de culpa-lo eu sabia que em parte a culpa era minha também.

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Ele havia dito que eu não era um poço de simpatia, não é mesmo?

Naquela manhã de inverno tudo parecia exatamente normal. Alguns flocos caíam e uma fina camada de neve cobria as ruas. As poucas pessoas que estavam à vista só estavam fora de casa por alguma obrigação; eu, por exemplo, tinha aulas naquele dia.

Ao chegar no colégio senti-me um pouco mais aquecida. O aglomerado de pessoas no corredor foi revigorante. Respirei fundo e fui surpreendida por Emma puxando-me pela cintura para um lugar mais calmo.

— Clove, você soube? – o entusiasmo em sua voz era visível.

Dei de ombros.

— Cato desafiou Thor para uma luta corpo-a-corpo na academia.

Eu a olhava abismada.

— Eu não entendo qual o problema desse garoto. – bufei. Ainda não tinha contado a Emma sobre o que havia acontecido entre nós dois. — Onde eles estão?

— Eu não sei...

Revirei os olhos, peguei Emma pela mão e fomos apressadas para a academia. Eu não poderia perder aquilo por nada e, se eu tivesse a chance de impedi-lo de cometer essa loucura, eu o impediria. Thor era um dos preferidos para a próxima edição dos Jogos Vorazes. Cato era um completo idiota por desafiá-lo.

No percurso até a academia, Emma e eu passamos por muitas pessoas seguindo o mesmo caminho que o nosso. Quando finalmente chegamos lá nos deparamos com o local tão lotado que mal conseguíamos encontrar a nós mesmas. Tentei avistar Cato. Em vão.

Os gritos na arena da academia ecoavam de uma forma estrondosa. Emma e eu conseguimos nos esgueirar por meio das pessoas e chegamos a um lugar onde tínhamos uma vista privilegiada de tudo que iria ocorrer. Tentei ignorar o barulho que as pessoas faziam e concentrei-me apenas em Cato adentrando o ringue. As pessoas o aplaudiram e ele sorriu, parecendo extremamente confiante. Tentei permanecer calma.

Segundos depois, quando Thor entrou no ringue, o povo literalmente perdeu as estribeiras. Thor era alto, forte e musculoso; além de ser muito bom na luta corpo-a-corpo e ter uma habilidade lendária com espadas. Não era à toa que estava cotado para ser o Carreirista a representar nosso Distrito nos jogos desse ano.

Quando a luta começou, Cato deu alguns socos no ar, em seguida, Thor contra-atacou e o derrubou em poucos segundos começando a socar violentamente sua cara. Cato estava caído e uma poça de sangue formava-se ao seu redor. Apesar de toda a crueldade que acontecia bem diante de seus olhos, as pessoas pareciam não ligar, tampouco Brutus nem Enobaria; assim como a maioria eles apenas observavam atentamente o que acontecia.

Subitamente, senti meu rosto ferver e uma ira enorme começou a formar-se dentro de mim. Eu queria gritar, mas não podia. Então Thor saiu de cima de Cato e levantou suas mãos, sinalizando sua vitória.

O público vibrou e rapidamente a academia começou a esvaziar-se. Emma saiu com a multidão; eu, no entanto, permaneci lá observando o garoto sair de fininho e mancar na direção do vestuário.

Desci as escadas correndo o mais rápido que pude e fui ao seu encontro. Quando abri a porta do vestuário, encontrei-o sentado no piso frio recostado em uma parede sem camisa; haviam manchas rochas em seu peito e seu nariz boca estavam absurdamente ensanguentados.

Peguei toalhas de papel que estavam por perto e sentei-me ao seu lado.

— Qual era sua intenção? – falei limpando o sangue que escorria.

— Sinceramente? – ele suspirou mantendo um olhar distante.

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Ergui as sobrancelhas.

— Eu quis provar que era bom e que poderia derrubar alguém como Thor. Aparentemente, não sou bom o suficiente. Ainda.

Eu ri.

— Cato... – eu suspirei pegando outra toalha de papel – você não precisa provar que é bom para ninguém.

Ele parecia me ignorar focando num ponto fixo na parede.

— E Thor? Thor é mais velho que você, mais alto que você, mais forte que você... você não tinha chance alguma. Não sei o que te deu na cabeça.

Pela primeira vez desde que eu havia chego ele me olhou e riu do meu comentário.

— Eu sou um imbecil, não sou?

Eu concordei.

O inverno fazia escurecer relativamente cedo no Distrito 2, por isso, quando saímos da academia, eu tinha a impressão de ter passado o dia inteiro lá, apesar de saber que não foram mais que duas ou três horas.

Acompanhei Cato até sua casa para certificar-me que ele não desmaiaria no meio do caminho e chegaria bem depois de tudo o que havia passado naquela manhã. Seu olho estava começando a ficar roxo e seu lábio começava a desinchar. Caminhamos em silêncio. Tive a sensação de que ele já havia ouvido barulho demais para um dia.

— Obrigada... – ele sussurrou.

Olhei-o surpreendida.

— Porque?

— Por ter cuidado de meus ferimentos e me trazido até em casa. – ele piscou.

Eu dei de ombros.

— Aliados fazem essas coisas, não fazem? – eu pisquei e consegui arrancar um sorriso dele. Provavelmente o primeiro daquele dia.

Ficamos nós dois parados na soleira das escadas que davam à varanda sem saber o que fazer em seguida. Cato, apesar de machucado, continuava bonito e eu me sentia extremamente boba por pensar nisso num momento como esse.

— Nos vemos amanhã então? – falei quebrando o silêncio.

Ele sorriu.

— Talvez.

— Talvez? – arqueei as sobrancelhas.

— Se eu encontrar dignidade e coragem para sair de dentro da minha casa algum dia depois do vexame de hoje... a gente se vê de novo.

Nós dois rimos.

— Tudo bem então. Boa sorte com essa procura, você vai precisar.

— Até amanhã, Clove.

— Até. – eu sorri e fui embora.

Fiquei tentada a olhar para trás e ver se ele havia entrado ou ainda me olhava, mas me mantive firme e continuei seguindo em frente. Ao entrar na floresta, fiquei andando sozinha, acompanhada apenas pelo som dos grilos, o uivo dos lobos e o som dos meus passos afundando na espessa camada de neve que havia se formado durante o dia. Qualquer garota da cidade teria medo de entrar na floresta em plena luz do sol, mas eu era diferente delas, eu havia me criado no meio dessas árvores, eu conhecia cada canto tão bem quanto a minha própria casa.

Ao chegar no laguinho, resolvi ignorar a neve, sentar e respirar um pouco de ar. Observei o céu coberto por pequenos flocos brancos e pensei em Cato... que dia havia sido aquele? Se há seis meses eu pensasse em algo como aquilo, eu mesma me chamaria de idiota.

Ri de mim mesma. O que diabos estava acontecendo comigo?