By The Way

4 in the Morning


Ao abrir os olhos Percy foi cegado por uma luz branca forte e precisou piscar várias vezes para acostumar a visão à claridade. Tentou levantar-se, mas sentiu uma dor aguda na barriga e desistiu do movimento. Sua cabeça doía e ele mal sentia as pernas e os braços.

De repente um fluxo de suas últimas lembranças passou como um flash pela mente de Percy e logo luzes de várias cores transformadas em borrões por causa da vista embaçada e uma batida agora irritante dominava sua cabeça. Percy gemeu alto quando as lembranças fizeram sua cabeça e seu estômago rodarem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Por um momento, Percy realmente chegou a achar que havia morrido, mas se desfez da idéia quando ouviu o “click” de uma porta fora do seu campo de visão.

- Eu disse que era ele!

Percy sorriu minimamente ao reconhecer aquela voz.

- Percy. – Annabeth disse ao vê-lo de olhos abertos.

- Eu morri? – ele sussurrou.

- Ficou por um fim, mas não foi dessa vez.

- Tem certeza?

- Tenho. Por quê?

- Se eu não morri, porque tem um anjo na minha frente?

Annabeth conteve o suspiro.

- Não adianta. Eu te odeio e estou lamentando você não ter morrido, seu infeliz, retardado! Que diabos você estava na cabeça hein? – Ela disparou, se contendo para não começar a gritar, afinal ainda estavam em um hospital.

- Desculpa.

- Já te falei, você não tem que me pedir desculpa. Desculpe-se com sua alma e com seu fígado.

- Meu fígado?

- Arrancaram um pedaço dele que já estava apodrecendo.

- Apodrecendo como? Faziam mais de dois anos que eu não usava nada! – Percy disse tentando se levantar, mas foi impedido pela dor outra vez.

- Mas antes disso você já tinha abusado do seu organismo uns quatro anos.

- Onde você me achou?

- Na festa.

- Droga! Era você!

- Quê?

- Eu vi você lá.

- Hm.

- Mas eu achei que era só efeito de alguma coisa.

- O que você usou?

- Tudo.

- Tudo o que?

- Heroína, cocaína, crack, maconha e êxtase. – Ele respondeu com sua cara de pau habitual.

Annabeth não ficou surpresa com a revelação, apenas suspirou.

- Que aconteceu?

- Bem, você teve duas paradas cardiorrespiratórias, convulsões e morreu na mesa de cirurgia. Depois disso você acordou uma vez e vomitou suas tripas e voltou a desmaiar. De lá pra cá, se passaram cinco dias.

Percy ficara boquiaberto com o relato de Annabeth. Ele forçou a mente, mas sua última lembrança fora as mãos frias em suas costas, daí pra frente tudo era apenas uma mancha negra.

- Preciso de um analgésico. – Percy disse quando sua cabeça deu uma latejada forte.

Annabeth apenas o olhou.

E assim um longo momento de silêncio enquanto os dois apenas se olhavam algumas vezes.

- Droga. – Percy murmurou de repente.

- Quê?

- A essa altura eu já fui demitido e perdi a faculdade. Droga. Você também.

- Não se preocupe. Sua mãe avisou do seu incidente e eu avisei que estava com um “parente” doente.

- Porque você foi atrás de mim? – Percy disse tentando se levantar pela terceira vez. E, ignorando a dor, ele sentou recostado em seu travesseiro.

Annabeth tinha o cenho franzido e olheiras já arroxeadas ilustrando seu cansaço.

- Porque você se preocupa tanto comigo? – Percy continuou. – Eu não mereço.

- Eu sei que não, mas não é tão fácil assim. – Ela disse sem olhá-lo.

- Você deveria me odiar.

- Vou começar se você não calar a boca.

Percy a olhou, mas ela não retribuiu.

- Você falou com o Nico?

- Não.

- Acho que ele voltou pra Louisiana.

- Talvez.

- Porque você não quer olhar pra mim?

Annabeth engoliu seco e ainda sem olhá-lo deixou o quarto.

Ao vê-la partir, Percy desejou que ela nunca tivesse se apaixonado por ele. Ele não valia a pena. Talvez nunca fosse valer. Com tudo o que aconteceu apenas mostrou mais uma vez que era fraco, que não sabia enfrentar as dores da vida. Talvez se tivesse convivido mais tempo com ela tivesse aprendido. Mas até isso a vida o tirara. Talvez ele devesse morrer assim. Talvez ele devesse ter morrido na festa...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Em torno de uma semana se passou até que Percy teve alta.

Essa noite eles estavam na casa dos pais de Percy e Annabeth estava lá com Leah a convite dos donos da casa. Percy estava instalado em seu antigo quarto porque mal conseguia se mover.

Annabeth entrou no quarto com certo receio, não queria ter que vê-lo outra vez. Estava magoada, triste, cansada de tudo aquilo... Mas era mais forte que ela.

Percy estava deitado, o olhar vago se deixando levar pela música nos fones. Pelo modo que seus lábios se moviam, Annabeth reconheceu “By The Way” do Red Hot Chili Peppers e sorriu minimamente. Aquela ainda era sua música favorita também.

Ao virar a cabeça Percy a viu parada no batente da porta e engoliu seco.

- Oi. – Annabeth disse insegura.

- Oh. – Ele disse se sentado na cama.

- Que foi?

- Você me disse “oi”.

Annabeth sorriu timidamente.

- É.

- Precisei de todo esse tempo pra te ouvir dizer “oi”.

- Eu disse que um dia eu diria.

- É.

- Como você está?

- Entediado. Você?

- Cansada.

-E a Leah?

- Está na sala brincando com seus pais.

- Droga, nem brincar com a minha filha eu consigo mais. – Percy lamentou.

- Ela perguntou de você.

Percy sorriu, mas logo o sorriso se apagou.

- Porque você ainda está aqui?

Annabeth sentiu-se ofendida com a pergunta.

- Eu vou embora amanhã, não se preocupe.

E pelo tom de voz que Annabeth usou, Percy viu o que tinha feito.

- Annie, não fica magoada! É que...

- Mais do que eu já estou, acredite, é difícil.

- Nós não devíamos ter...

- Ficado juntos. – Annabeth completou. - Eu sei.

- Não que eu não tenha gostado, pelo contrário, eu te amo, mas não é certo.

- Nada do que você faz ou que vem de você é certo. Você é um erro. Acredite.

Foi a vez de Percy se sentir ofendido.

- Desculpa se eu nunca vou ser o que você merece. Eu tentei...

- Porque você foi praquela festa? – Annabeth o cortou. Não estava com cabeça pra ouvir desculpas esfarrapadas.

- Eu te deixei partir de novo.

- É.

- Você sofreu de novo.

- E você enfia na primeira festa a drogas que você vê pra não sentir dor. Parabéns. – Ela disse com sarcasmo.

- Pra você ver que eu não mudei.

- Infelizmente não.

- É melhor você ir embora, não voltar nunca mais. Não lembre a Leah quem é o pai dela... Ou melhor, diga. Faça ela sentir vergonha de mim como a Ashley queria. Isso é o melhor a se fazer.

- Melhor, mas quem disse que é o certo?

- Não tem certo nessa história Annabeth.

- Definitivamente.

- Não queria que você tivesse se apaixonado pro mim. Isso só te fez sofrer.

- Para! Você acha que eu não sei? Você acha que eu não faço idéia do quanto gostar de você me faz mal? Você acha que eu gosto de sofrer? Não. Eu não gosto. Mas você está sempre nos meus pensamentos, em tudo o que eu faço... Em mim.

“Você acha que eu queria que você fosse tudo o que eu mais quero? Eu não consigo aceitar que entre tantas pessoas no mundo fosse justo você a que me completa. Justo você Percy! O mais errado, o que não tem jeito. Já te falei que o mundo não gira em torno do seu umbigo, mas você ainda não aceitou isso, por isso você se destrói e me destrói, porque te ver assim não me faz bem como eu queria que fizesse!

Eu queria poder olhar pra você agora e rir alto da sua cara, queria gritar ‘se fodeu otário’, mas eu não consigo! Porque eu te amo e você é tudo pra mim, seu imbecil!”

Ambos choravam incontroladamente agora.

Percy a encarava, mas não tinha reação. Annabeth soluçava agora, sentia-se aliviada de finalmente ter dito tudo o que esteve preso por tanto tempo. Aliviada, não feliz.

- Annabeth...

Mas ela deu as costas, pegou sua bolsa e Leah e deixou a casa com passadas fortes ao contrário de seu coração totalmente fora de ritmo e ferido.

Enquanto colocava Leah na cadeirinha no banco de trás de seu carro, ela tentou odiar Percy, mas nem isso ela conseguia. Só conseguia se odiar cada vez mais por ser idiota e por te se envolvido com ele.

Com sua idéia imbecil ela não fez nada do que pretendia.

Mike havia piorado e Percy apenas a machucara.

E Annabeth que sempre fora forte, sentiu-se fraca e vulnerável pela primeira vez. Voltou para o hotel pela última vez e depois que Leah adormeceu, ela chorou abraçada aos joelhos, porque ela precisava dele acima de tudo e isso era totalmente ridículo e incompreensível. Ela nunca pensou que poderia gostar tanto de alguém e se sentia inconfortável. Se amor era aquilo, ela já não queria mais amar.

Depois da partida de Annabeth, Percy chorou por horas até que seu pai resolveu falar com ele.

- Desculpe, mas nós ouvimos a “conversa” de vocês.

Percy virou-se na cama.

- Porque você a mandou embora? – Kevin continuou.

Percy não respondeu.

- Olha Percy, a vida não é fácil e o amor também não. Você tem que saber lidar com a dor, ela faz da vida goste você ou não.

- Não está ajudando, pai. – Percy resmungou.

- Então eu vou ser direto.

- Por favor.

- Você ama a Annabeth?

- Mais do que qualquer coisa nesse mundo.

- Então porque você só a afasta de você? É tão óbvio o quanto ela gosta de você.

- Porque eu nunca fui e nunca vou ser o cara que ela merece.

- Filho, o amor não se escolhe. Se ela te amou ou ama, não foi por escolha dela. Assim como com você. Então porque você não aceita que ela te ama?

- Porque ela não pode me amar.

- Mas ela te ama e você a ama. Aceite esse fato, Percy.

Percy não respondeu.

- Percy se fosse pra vocês se esquecerem, vocês não teriam se reencontrado. O destino está empurrando ela pros seus braços, abra-os e a receba com todo esse amor que você diz que tem.

E vendo que tinha feito Percy ganhar o que pensar, Kevin saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

Já passavam das quatro da manhã quando Annabeth pegou a estrada de volta à Louisiana com Leah adormecida no banco de trás.

Ligou pra Thalia e a amiga atendeu sonolenta.

- Thalia, deu tudo errado. – Ela disse chorosa.