Bulletproof Wings

Eu queria poder me amar


Namjoon sentia muita dor em todo o corpo quando abriu os olhos muito devagar. Estava deitado em uma cama macia, acomodado com muitos travesseiros. Sentia muitos machucados e curativos, além de uma agulha penetrando a pele de sua mão. Foi assim que soube que estava em um hospital, recebendo soro. O quarto onde estava era um pouco parecido com o de Hoseok. Vestia as roupas do acidente, e seu casaco estava sobre uma das cadeiras do quarto. Não havia ninguém ali, mas antes que pudesse pensar em alguma coisa com sua cabeça confusa, a porta se abriu e um médico entrou.

— Ah, acordou! — Disse Sehun, com a voz mansa, fechando a porta atrás de si. — Oi, Namjoon.

— Oi, Sehun. O que aconteceu? — Perguntou Namjoon, com a voz afetada pela confusão.

— Você não se lembra? Hum… Você sofreu um acidente de trabalho.

— Ah. Lembrei. — Disse ele, voltando seu rosto para o teto. — No posto.

“Não foi acidente”, ele quis dizer, mas achou melhor manter em segredo.

— Isso. Namjoon… Eu sei que as coisas estão difíceis, mas… Você não pode desistir.

Namjoon olhou para Sehun, como se ele não tivesse nenhum direito de lhe dizer o que fazer.

— Você não sabe de nada, Sehun — disse, sem levantar a voz, mas o médico não se afetou.

— Na verdade, o único motivo de eu estar aqui é porque sei de alguma coisa. Eu não precisava estar cuidando de você agora. Estou cheio de pacientes. Mas eu escolhi você. — Por quê?

— Porque é o mesmo caso. Você está aqui pelo mesmo motivo que Hoseok esteve. Instabilidade psicológica causada por uma perda próxima, A mesma perda que ele. Mas você não pode deixar isso te levar como o levou.

Namjoon se lembrou de quando recebeu a ligação do hospital informando que tinha descoberto a causa da morte de Hoseok: overdose.

— Por que não? Que motivo tenho pra ficar aqui se todos eles estão lá?

— Só se vive uma vez, Namjoon. Você acha que seus amigos iriam querer te ver morto?

— Talvez estejam até me esperando.

— Não! Não existe isso. Não existe coisa alguma depois da morte.

— Como pode ter certeza? Já esteve morto?

— Namjoon… — Disse Sehun, afundando na cadeira com a mão sobre a testa. — Por favor, não torne as coisas mais difíceis do que já são. Talvez você não saiba, mas… O que aconteceu com Hoseok não foi fácil pra mim.

Namjoon franziu o cenho.

— Deveria ser. Você é médico!

— Isso é um hospital universitário. Quantos anos acha que eu tenho?

— Sei lá… 28?

— Tenho a mesma idade que você. E a mesma idade que Hoseok tinha.

— Quê? Você é de 94?

— Sim. Quando entrei na universidade, esperava sim fazer muitas cirurgias e declarações de óbito. Mas não de gente da minha idade. Hoseok foi meu primeiro paciente de 22 anos a chegar a óbito. Não foi fácil pra mim, e eu sei que também não foi pra você.

— Se eu tivesse perdido apenas um amigo, talvez eu aguentasse. Mas eu tinha seis amigos, e todos eles se foram.

— Eu sei.

Namjoon olhou para o médico.

— Sabe?

— Sim. Eu acompanhei as notícias na TV. Foi muito… doloroso. Tinha visto os cinco aqui, cantando e se divertindo como se não estivessem em uma sala de hospital. E de repente… Só havia você.

— Você quer ser meu amigo? — Perguntou Namjoon com uma careta, tentando entender onde Sehun queria chegar. O médico riu levemente.

— Não seria nada mal, mas não é isso que eu quero dizer. Quero dizer que me apeguei à história de vocês, e quero que ela tenha um final feliz. Só você pode fazer isso.

— Entendi. Quer que eu viva na culpa e na solidão só pra você não ver mais um jovem morrer? Me poupe, Sehun. Não há nada que possa me trazer felicidade aqui.

A porta se abriu devagar. Uma enfermeira apareceu.

— Com licença, Dr. Sehun. Preciso do senhor na sala 245.

— Eu já vou. — A enfermeira saiu e fechou a porta. Sehun se levantou e se aproximou do paciente. — Namjoon… Por mais que seja complicado, você precisa tentar recomeçar a sua vida. Por eles. Eu já volto.

Sehun deixou a sala, e Namjoon disse para si mesmo.

— Eu já tentei. E falhei.

Namjoon olhou em volta, com os lábios pressionados, do jeito que fazia quando tinha raiva.

Ele precisava sair dali. Primeiro, olhou para sua mão. O tubo de soro o prendia ali, e se quisesse sair, ele precisaria se livrar daquilo. Tirou com cuidado o curativo e puxou a agulha para fora de sua pele, ignorando a dor. Finalmente, conseguiu, e a deixou pendurada ao lado da cama, pingando soro no chão. Levantou da cama, colocou os sapatos, o casaco e o boné.

Finalmente, saiu do quarto, com cuidado. Observou o corredor, mas não viu nenhum funcionário conhecido. Foi para a direita, mas depois de poucos passos, avistou Sehun, já fazendo o caminho de volta. Felizmente, não o viu, pois estava dando atenção a uma prancheta. Namjoon deu meia volta, mas percebeu que o corredor não tinha saída. Então, tomou a única atitude que conseguiu pensar, e entrou em outro quarto qualquer, torcendo para que estivesse vazio.

Ele fechou a porta e respirou fundo. Estava livre dos discursos motivacionais de Dr. Sehun que não lhe traziam nada. Finalmente, virou-se para observar o quarto em que estava. Não havia médicos nem visitantes, apenas um paciente deitado na cama. Namjoon levou as mãos à boca como se tivesse visto um fantasma.

O jovem estava inconsciente. Havia uma máscara de oxigênio em seu rosto, e ele estava ligado a vários aparelhos ao redor. Um deles era um monitor que desenhava seus batimentos cardíacos. Aquele menino estava vivo. Namjoon se aproximou com passos lentos, para ter certeza. Mesmo com o rosto pálido e a expressão horrível, era ele. Aquele era Kim Seokjin.

— Mas… Você estava morto… — Ele se permitiu rir por um segundo. — Aigo! Você está vivo, hyung! — De repente, seu sorriso foi desaparecendo. Ele passou o dedo pelos fios de cabelo de Jin. — Senti sua falta, hyung. Todos nós sentimos. Os meninos… — Namjoon abaixou a cabeça. — Não estão mais aqui.

A porta se abriu. Namjoon teve medo de que você Sehun, mas depois de constatar quem era, preferia seu médico.

— Você não pode entrar aqui — disse Chung Ho.

— Você! — Gritou Namjoon, retendo seu tom de voz, uma vez que estava no Hospital. — Você disse que Jin Hyung estava morto!

— Sim, eu disse.

— Meus amigos morreram achando que Jin Hyung não tinha sobrevivido. O Jimin… O Jimin morreu por causa dele. Morreu porque não podia suportar. Você tem noção do que fez?

— Tenho sim, Namjoon.

— O Hoseok morreu nesse hospital, de overdose, porque queria cuidar do Jimin…

— Eu sei disso tudo, Namjoon, pare de ser tão repetitivo.

— Você… Você não sente nem um pouquinho de culpa?

— A resposta está do seu lado. Olhe o que aconteceu com Seokjin. Você sabe, não sabe?

— Eu sei que o carro dele…

— Ele tentou se suicidar. Não foi um acidente. Sabemos disso por causa da perícia. Sabe por que ele tentou se suicidar?

— Não — confessou Namjoon.

— Encontramos resquícios de substâncias no corpo dele. Substâncias usadas contra a depressão.

— Depressão?

— Ah, você não sabia? Olha, Jin nunca deu sinais de depressão quando morava na casa dos pais. Sempre foi um menino alegre. Mas começou a mudar quando foi morar com vocês.

Parou de falar com os pais, e começou a usar essas porcarias.

— Yumii — sussurrou Namjoon, compreendendo.

— Como acha que isso aconteceu? Não é muita coincidência?

— Se você acha que eu e meus amigos éramos a causa da depressão do Jin Hyung, está muito enganado. Foi uma garota.

— Uma garota. A tal de Yumii. E de onde surgiu esse relacionamento?

— Da escola.

— Ah, Namjoon, seja mais específico! Quem ajudou a começar esse namoro? Acha que eu não sei?

— Nós queríamos vê-lo feliz.

— Não duvido disso. Só que vocês seis não sabiam nada sobre o Jin. Não sabiam o que é melhor para ele. E você continua não sabendo. Eu nunca gostei da amizade de vocês. Jin costumava ser um bom garoto antes de se interessar por música e começar a andar com vocês.

— Então acha que seu sobrinho não é bom, só porque gosta de música? Fique sabendo que a música…

— Não me importo com sua opinião, garoto! Olha só pra você! Não sabe nada sobre a vida.

Eu sei o que é melhor para o meu sobrinho. Sempre disse a ele para se afastar de vocês, porque não eram boas influências, mas ele não me deu ouvidos. Depois do resgate, quando encontrei vocês na casa da minha irmã e percebi que não sabiam do estado de Jin, vi a oportunidade perfeita para finalmente afastá-los.

— Você mentiu de propósito, e matou meu amigos. Pode se achar o máximo por isso, mas como acha que Jin vai ficar quando acordar? O que ele vai pensar sobre você quando souber que assassinou os amigos dele?

— Eu não assassinei ninguém, Namjoon. Não tenho culpa se vocês não têm nenhuma estabilidade emocional!

Namjoon cerrou os dentes, fechou os punhos feridos.

— Jimin morreu porque se importava com Jin. Ele o queria bem, e estaria vivo se você não fosse tão egoísta!

— Ao menos ele está longe do meu sobrinho. Todos eles estão, e eu estou satisfeito.

Namjoon arregalou os olhos. Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo da boca dele!

— Você não tem coração! Prefere ver cinco jovens mortos do que ver seu sobrinho com amigos que não lhe fazem nenhum mal!

— Seis, se for preciso, Namjoon, então sugiro que não insista. Saia deste quarto e deixe meu sobrinho em paz!

Namjoon perdeu a paciência e avançou sobre Chung Ho. O segurou pelo jaleco e o empurrou para a parede, gritando.

— Não me ameace! Você não é nada pra mim!

Imediatamente, a porta se abriu, e alguns funcionários do hospital entraram, preocupados em parar o episódio. Seguraram Namjoon pelos braços e o afastaram do Dr. Chung Ho.

— Ele está insano — disse Chung Ho, com a respiração ofegante. Namjoon não se deu conta do que ele estava tentando fazer.

— Assassino! — Gritou Namjoon, muito alto. Sehun entrou na sala, e assim que notou o que acontecia, balançou a cabeça negativamente e se afastou. — Você é um assassino! — Namjoon não deu atenção à agulha que perfurou sua pele quando um dos médicos lhe deu uma injeção. — Você matou o Bangtan Sonyeondan! Eu te odeio! — Começou a murchar, sentindo os efeitos da injeção. Perdeu a sensibilidade das pernas e caiu, sendo segurado pelos braços. — Eu te odeio. — O tom de voz baixou. As pálpebras, cheias de lágrimas, começaram a se fechar. — Eu me odeio — sussurrou, e caiu no chão. Olhou para o menino que estava sobre a cama. — Hyung…

Finalmente, fechou os olhos.