Hoseok tinha acabado de chegar, e não esperava encontrar alguém na sala da Eva.

— Hyung? O que faz aqui?

— Eu queria fazer umas perguntas. Sobre a Sunghee.

— Tá — disse Hoseok, dando de ombros. Sentou-se em sua sofisticada poltrona dentro do espelho d’água, disposto a ouvir os questionamentos de Yoongi. — Pode falar.

Yoongi sentou-se no chão, com as pernas em posição de borboletinha.

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— Queria saber se ela vai continuar sendo tão chata quando crescer.

Hoseok riu, e em seguida, justificou-se.

— Não posso perguntar isso pra Eva. Sunghee ser chata ou não é questão de opinião sua.

— Hum. Tá. Então pergunta… — Yoongi pensava em uma forma melhor. — Pergunta se ela será forte quando crescer.

O sorriso de Hoseok se desfez muito rapidamente, e seu olhar se perdeu. Yoongi notou na hora, e isso o incomodou profundamente.

— Eu já fiz essa pergunta. E não gostei muito da resposta — a última frase foi pronunciada enquanto Hoseok olhava para Yoongi. Este sentiu um arrepio subindo pela espinha enquanto o olhar de Hoseok o atravessava. Empertigou-se para diminuir a sensação ruim. Ele sabia muito bem quando o assunto era sério, se envolvesse Hoseok, porque ele tinha um brilho que se apagava de um jeito sinistro quando as notícias não eram boas.

— Qual foi a resposta? — perguntou, Yoongi, encorajando-se. Conteve-se para que não se encolhesse um pouquinho.

— Eu vou dizer no jantar. Todos precisam saber.

— Aah, eu não estou gostando disso, nem um pouco. O que foi, Hoseok? Fala logo! — Yoongi estava tão nervoso e agitado que tinha que se segurar para não erguer o tom de voz.

— Basicamente, ela será forte. Mas não à toa. Os tempos ruins não cessaram ainda, hyung.



Yoongi movia-se pelos corredores. Seus passos eram lentos, mas inquietos. Com as mãos para trás, encarava o chão e os caminhos tortos que seus pés projetavam. Uma distância grande entre cada passo, indo muito pra esquerda, até um pequeno desequilíbrio. Girou e apoiou-se na parede revestida por papel com desenhos de arabescos em dois tons de vermelho. A luz amarelada das arandelas acesas deixava os desenhos confusos e tremulantes. Movia-se, escorrendo e assemelhando-se a sangue. Yoongi fechou os olhos e balançou a cabeça. “Não é nada demais”, pensou, consciente de que sua mente lhe pregava uma peça. Com um sopro leve, apagou todas as arandelas. Nunca pensou que o fogo pudesse traí-lo um dia. Abriu os olhos, e se viu na escuridão. A ausência das chamas também trouxe um pouco de frio, que não lhe incomodava. Respirou fundo naquele breu, e decidiu continuar seu caminho na mesma direção. Seus pés fizeram um caminho menos torto, seus olhos soltaram-se do chão, mas as mãos continuavam nas costas. Andava tranquilamente, esfriando a cabeça, até que parou, assustado com uma pequena exceção que passou flutuando na sua frente, da direita para a esquerda. Seus olhos o seguiram.

— Um floco de luz?

Ele olhou para a origem. A pequena fresta entre as portas duplas estava iluminada. Era o aposento dos Jeon? Não, quase. Um vizinho. Devia ser o quarto de brincar da pestinha, o que fazia bastante sentido. Ele bateu na porta de leve e não esperou resposta. Abriu a porta direita e colocou a cabeça para dentro do aposento. Piscou um pouco para acostumar-se à luz, mas nada lhe surpreendeu.

O quarto era claro. As paredes brancas, que estavam cobertas por desenhos de bonecas e prateleiras de brinquedos, refletiam a luz vinda das portas da sacada, escancaradas. Teve um pouco de medo pela menina, até lembrar-se de que ela era nova demais para andar ou voar. A família da garota estava no quarto, observando Seohyun Ajumma, que segurava a agitada Sunghee, brincando com as luzes que ela mesma tinha feito. Espalhavam-se por todo quarto.

— Hyung! — falou Jungkook, ao notá-lo. — Sabe o que são essas coisas?

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— Parecem flocos de luz, né… — disse Yoongi, fechando a porta atrás de si. Ali, continuou encostado, com os olhos repousados em Sunghee. Mantinha a expressão superior, como se olhasse para uma criminosa, sem esconder a apreensão. Os poderes dela, a força dela, nada daquilo era de graça. Ela poderia ser a ruína deles.

— É, são flocos de luz — disse Jin. — Mas desde quando ela tem isso?

— Certamente desde que nasceu — opinou Seohyun.

— Mas por que só está se manifestando hoje? — perguntou Yumii.

— Não é a primeira vez — disse Yoongi, finalmente descolando-se da porta. — Eu já a vi fazer isso antes.

— Então você foi o único — disse Jungkook. Embora nada em sua voz evidenciasse incômodo, e de fato ele não estava incomodado, Yoongi sentiu-se estranho, como se aquilo fosse algum tipo de privilégio. Jungkook encarava mais como um fato como qualquer outro. — Quando foi isso?

— Naquela noite em que levei ela pro piano. Nossa, ela estava insuportável…

— Tá, já sabemos da sua opinião sobre isso — disse Yumii. — Ela fez muitos flocos?

— Apenas um. E foi… — Yoongi tentava se lembrar. Talvez alguma informação fosse relevante. — Exatamente na hora em que ela riu.

— Riu? — perguntaram Jungkook e Yumii, unissonamente.

— Ela nunca riu antes, também — disse Jungkook, dessa vez esboçando um pequeno sorriso para o hyung. — Acho que ela gosta de você, hyung.

— Ah, coitada — murmurou ele, agitando-se para ir embora. — Espero que seja temporário. Porque eu detesto quando alguém gosta de mim e o sentimento não é recíproco.

— Acho que vai ter que gostar dela, Yoongi — disse Jin, também contendo o riso.

— Vai sonhando, hyung — disse ele, quase se virando completamente. — Boa sorte com o… Aish!

A porta escancarou-se de repente e bateu no nariz de Yoongi com força. Ele recuou com a mão no rosto, enquanto Jimin entrava, tentando segurar o riso com a mão direita.

— Mianhaeyo, hyung. Não sabia que estava aí.

— Devia saber, senhor dono da verdade — Yoongi colocou um pouco de ironia na voz, já recebendo a cura de Jin, mas não estava bravo de verdade. Ele não podia ficar bravo com Jimin.

— Chegou na hora certa, oppa — disse Yumii, já puxando-o pelo braço em direção à filha. — Explica pra gente o que são esses flocos de luz.

— Hum — disse Jimin, coçando o queixo enquanto encarava os olhinhos de Sunghee. — É um dos poderes dela.

— Um dos — murmurou Yoongi, ainda um pouco afetado. Depois do que Hoseok falou, ele estava com medo do que ela poderia fazer.

— Vou explicar uma vez só, depois vocês passam a informação para os outros. Vocês sabem que eu comecei a chamar Sunghee de herdeira, mas não foi porque ela vai herdar o Juízo. Até porque, nós somos eternos aqui. — Yoongi se conteve. Os tempos ruins não haviam cessado. — Mas ela é filha de um Juiz, então herda poderes. Aqui no Segundo Mundo, as pessoas podem desenvolver habilidades, como música, produção, cuidar de crianças ou qualquer outra coisa, mas só o Juízo pode desenvolver poderes como os que nós temos. Yumii foi a primeira a ser privilegiada, mas não porque se casou com um Juiz. Na verdade, foi porque ela morreu com um. É por isso que o poder dela está associado ao do Jin Hyung.

— Está, é? — perguntou Jin, que nem imaginava isso.

— Claro. Hyung, seu poder é a terra e tudo que vem dela. Qualquer coisa relacionada ao reino vegetal.

— Reino vegetal? — murmurou Yoongi. — Parece nome de desenho animado, isso…

— Grama, árvores, flores, frutos, até a própria terra — continuou Jimin. — Mas isso é só uma parte da natureza terrena. Oposto ao reino vegetal está o…

— Reino animal — disse Yumii, compreendendo.

— Adoro aula de biologia — murmurou Yoongi de novo.

— Para de ser chato, hyung — disse Jimin. — Exatamente. Por isso você virou uma chimaera. Os poderes herdados precisam se manifestar em algum momento crucial, quando a natureza desperta. No caso da Yumii, foi quando ela precisou usar de toda a sua força para ter Sunghee. Dessa forma, ela deixou florescer seu aspecto mais natural, o materno. E vocês não estavam sozinhos naquele carro, nossa pequena também, mesmo sem ter nascido. Por isso, ela ficou com o terceiro aspecto da natureza terrena, e digo natureza terrena porque as outras partes dela estão distribuídas no Juízo. Nossas meninas ficaram com subssessões do poder do Jin Hyung. A pequena ficou com o reino mineral.

— Que tem tudo a ver com luz.

— Hyung, na moral, vai embora — disse Jimin, já perdendo a paciência.

— Tá, parei.

— O brilho é a característica dos minerais quando são observados à luz. O poder do Jin Hyung também tem a ver com luz, por causa da cura, que seu segundo poder. Originalmente, os minérios vêm do subterrâneo, que é escuro, então essa luz também vem desse contraste. Os flocos são capazes de iluminar, guiar e até transmitir sentimentos. Como eu disse, a manifestação acontece com a liberação do aspecto mais natural do herdeiro, que no caso da Sunghee é a pureza, porque ela é uma criança. Existe coisa mais pura que rir olhando pra cara feia do Yoongi Hyung?

— Você tem algo contra mim, né?

— Se eu tivesse algo contra você, estaria muito mais ferrado, hyung. Por exemplo, eu poderia dizer que, na verdade, existe uma mistura de sentimentos no primeiro riso da Sunghee, como a alegria e a gratidão, mas como eu não quero te constranger, eu não disse nada disso. Então, acho melhor você não me interromper de novo. Continuando, além dos poderes já adquiridos, Sunghee vai herdar habilidades de cada juiz, começando pelo próprio appa. Ela tem potencial para ser uma excelente voadora. Além do quê, você é o golden maknae, né, Kookie… Ela deve ser tipo a diamond maknae. Ué, hyung, tá indo aonde?

Yoongi fechou a porta e se viu novamente no escuro. Era muita informação pra uma pessoa só. O que pensar daquela menina? Os tempos ruins não tinham cessado. Ela poderia mesmo ser a desgraça deles, mas Hoseok não tinha confirmado ainda. Só disse que os poderes dela teriam um preço. Eram poderes bem legais, na verdade, mas… O que estava por vir? O que Hoseok conseguia ver? E Jimin… Aigo, por que tinha que falar uma coisa daquelas na frente de todo mundo? Ele não queria ser próximo de Sunghee, mas tudo o empurrava para ela. Alegria e gratidão? Grandes coisas, não é? O mínimo que ela podia fazer era ficar grata por todo aquele esforço. Mas também, ninguém precisava saber daquelas coisas. Agora, o que eles iam ficar pensando sobre Yoongi? Que estava se sensibilizando com a bebê? Ele não tinha nenhum problema em se sensibilizar com bebês, mas era aquela garota… Ele via nela algo que ninguém mais via. Um pouco de luz, sim, mas também uma tenebrosa sombra. Ela poderia ser sua desgraça, e sua ruína. Ele viu isso na primeira vez que a pegou no colo. Mas a previsão de Hoseok estava tornando tudo mais óbvio. “Isso não é ruim”, pensou Yoongi. “Quanto antes soubermos o que ela tem de ruim, melhor. Assim podemos nos prevenir. Talvez até me deixem jogá-la da janela. Aigo, eu nunca faria isso. Seja ela a desgraça que for, ela não tem culpa. Então, o que eu posso fazer? Fingir que não tem nada acontecendo?”.

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— Não, só espera o Hoseok falar — disse Jimin.

— Inferno, não brota no escuro. Como tá conseguindo ver meus olhos?

— Não tô, e não preciso, é só ficar de frente mesmo. Precisa ficar calmo, hyung. As coisas não são tão ruins quanto Hoseok fez parecer. Ainda há esperança, e muita. Jebal, não fique achando que a menina é nossa perdição. Ela é exatamente o contrário.