Broken Flower

Não Faça as Malas


— Essa missão foi uma piada de mal gosto. — Algumas risadas acompanharam tal fala. Sakura conhecia aquela voz, era Suigetsu, estranhou a presença dele em sua casa. Depois de seu breve encontro com Karin na rua e a discussão com Sasuke nenhum deles tinha voltado a pôr os pés ali. Largou a caneca de café sobre o balcão indo em direção a entrada da casa. — Sério, qual a necessidade...

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— Só diz isso porque sua participação foi patética. — Reconheceria esse timbre mesmo à distância, só de ouvi-la seu coração chegava a bater mais forte e um ódio profundo a possuía. Parecia que tudo a sua volta tinha perdido o som e a importância, só aquelas palavras ecoavam em sua cabeça e o som abafado e característicos de passos.

Karin estava parada em frente a porta, Suigetsu abaixado retirando suas sandálias, enquanto Sasuke pendurava sua capa no cabideiro. Todos tranquilos como se nada de mal ou errado estivesse acontecendo ali. Todos muito hipócritas.

— O que ela faz aqui? — A pergunta e o tom usado os pegou desprevenido. Suigetsu parou com a mão na fivela de sua sandália ninja, fitando Sakura com um ar confuso e assombrado, Juugo, que ainda não tinha entrado, deu um passo para trás, encolhendo os ombros largos. Karin sorria com o seu maldito jeito petulante e Sasuke, a quem o olhar de Sakura penetrava, mantinha-se focado na parede. Tinha olhado para ela, era obvio, porém não perdurou e se manteve em silêncio. — Eu falei que não a queria aqui.

— Sakura...

O chamado veio atrasado e antes que Sasuke pudesse continuar a falar qualquer coisa, Sakura já tinha cruzado o espaço que tinha entre ela e Karin e desferido um sonoro soco na única integrante feminina do time Hebi. Todos ficaram parados e estáticos com a reação explosiva da Uchiha, enquanto Karin caia no chão em frente à casa, levando as mãos ao nariz. A sensação de bater naquela idiota tinha sido tão boa que Sakura já estava pronta para continuar, inclinou o corpo para frente, mas dessa vez seus pulsos foram segurados e seu corpo puxado para trás.

— Sua louca! Você pode ter quebrado o meu nariz.

— E ainda assim é pouco, muito pouco. Não imagina o que eu realmente queria fazer com você, o que eu acho que você merece. — Suigetsu passou pelo casal, indo amparar Karin que tinha o nariz sangrando copiosamente. Sasuke mantinha Sakura presa, mas estava difícil conte-la, remexendo-se tanto na ânsia de voar em cima de Karin.

— Suma daqui! — Conseguiu soltar um dos punhos, o dedo em riste para Karin. — Eu avisei que se arrependeria de voltar! Você ainda está com sorte, muita sorte!

— Suigetsu, Juugo. Tirem Karin daqui. — Sasuke soltou o outro braço de Sakura, agarrando-a pela cintura e puxando para dentro de casa. Após fechar a porta com o pé ele a soltou, Sakura não demorou a se recompor e se afastar, a respiração entrecortada, o coração batendo forte. — O que acabou de acontecer aqui?

— Nada.

— Quando você falou isso com ela? Quando vocês se encontraram para ter essa conversa? O que mais anda escondendo de mim? — Sasuke acompanhou os passos de Sakura, observando-a entrar na cozinha e tomar um copo de água com uma das mãos apoiadas no batente da cozinha de costas para ele. — Sakura...

— Não há o que conversar sobre isso. Não a quero aqui e só.

— E essa é uma atitude completamente racional. — Virou-se para fita-lo e se arrependeu, seu sangue ainda fervia e o ar irônico de Sasuke apenas a irritava.

— Sim! Eu não me importo com o que faça fora dessa casa, mas enquanto eu viver aqui ela não entra! — O olhar dele endureceu e o ar mais relaxado e irônico desvaneceu.

— Enquanto você viver...

— Você pediu para que eu ficasse — Sakura se virou, observando o aposento, — eu fiquei — encolheu os ombros — e a minha única exigência é que não a traga mais aqui.

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O silêncio tomou conta do espaço após a última sentença. Encararam-se por um longo tempo, o olhar dele a fazia tremer, tinha a impressão de que ele a agarraria a qualquer momento. Seja de raiva ou de desejo, não dava para distinguir, mas tudo tencionava para que isso acontecesse. Porém Sasuke simplesmente a deixou só na cozinha e foi para o quintal, se sentou embaixo da cerejeira que ainda não tinha florescido, fez o possível para absorver a calmaria do lago e relaxar. Meditação andava sendo sua melhor válvula de escape nos últimos dias.

Naquela casa Karin não colocou mais os pés, nenhum deles pôs, Sakura não se oporia a receber Suigetsu ou Juugo, mas ambos pareciam ressentidos ou temorosos, ela não sabia dizer o porquê. Talvez tivesse subestimado a ligação que eles tinham com Karin

Sasuke também não voltou a questiona-la ou tocar no assunto. Uma barreira tinha surgido entre eles, Sasuke não fez nada para desfaze-la e Sakura a fortificou o quanto pode. Ele a olhava, sempre a olhava, mas se seu olhar queria dizer algo ela fazia questão de não tentar entender. E todas as palavras que nunca foram ditas pareceram importar agora, talvez fizessem alguma diferença.

Sakura em muito se pegava pensando nisso, enquanto penteava o cabelo e sentia o olhar dele em suas costas, enquanto passava o creme, tomava café. Como seria se ele falasse? Como seria se ele a puxasse de novo como nas escadas, mas dessa vez admitisse, admitisse todos os erros? Sasuke nunca disse que a amava, mas ela sempre entendeu, sempre achou que entendia. Que tudo estava ali, subentendido a vida inteira e tão forte e intenso que não precisava de palavras. No entanto parecia que ela tinha se enganado e quando pensava assim se sentia tola e burra e ainda mais enganada. Porque o pior engano é o que nós nos permitimos.

Assuntos do coração e sentimento, sejam seus ou dele não eram do seu interesse. Não no momento, não quando tinha coisas mais importantes no que pensar. Ergueu a blusa observando o contorno de sua barriga no reflexo do espelho, ou estava ficando paranoica, ou já dava para perceber um pequeno volume. Pegou o casaco em cima do batente da pia e o vestiu, era folgado, ninguém notaria seus contornos, se é que tinha algo para se notar.

Infelizmente seus planos de fuga estavam estagnados. As missões que Sasuke andava pegando eram curtas e antes mesmo que começasse a pensar em preparar as coisas ele já tinha voltado. Por um lado era bom lhe dava mais tempo para arquitetar tudo da melhor forma possível, por outro desesperador, pois sabia que mais cedo ou mais tarde sua barriga ficaria evidente ainda mais para alguém que dormia todas as noites ao lado dela. Deslizou as mãos pela barriga.

— Eu vou dar um jeito, por nós dois.

Voltou para o quarto pegando de cima do criado-mudo o panfleto informativo sobre a licença das missões durante a gravidez. Já poderia, ou melhor, já deveria ter dado entrada, era muito arriscado sair em missões ou operar usando chakra estando nesse estado, mas tinha decidido que só o faria quando fosse partir. Assim seria mais difícil o assunto chegar aos ouvidos de quem não deveria.

O som de batidas a despertou, pegou seu livro sobre ervas medicinais e guardou o panfleto dentro. Desceu as escadas sem pressa, mas a pessoa do outro lado não estava na mesma vibe que ela. Bateu mais três vezes enquanto Sakura caminhava até a porta.

— Já vai, eu... — ao abrir a porta e ver quem estava a sua frente emudeceu — ah... Kakashi, eu, eu...

— Olá, Sakura. Faz bastante tempo, não?

— Sim! Nossa! — Uma risada nervosa escapou. — Eu não esperava a sua visita. — O coração dela chega deu uma palpitada mais forte. A oportunidade perfeita para conversar com Kakashi finalmente apareceu, caiu bem a sua frente. Estendeu uma das mãos para segurar o braço dele. — Kakashi, eu preciso muito falar com você sobre...

— Sakura, eu preciso falar com o Sasuke. Ele está? — Falaram praticamente ao mesmo tempo e ao ouvir a sentença dele o semblante de Sakura se transformou. Kakashi estava procurando por Sasuke. Seria possível? Não.

— Desculpa, eu... — Fitou o Hatake com sua costumeira expressão apática. A última vez que o tinha visto foi na festa de Gaara e não tinha animosidade entre ele e Sasuke. Mesmo antes desse dia Kakashi era um partidário dela. Tinha se afastado de Sasuke, brigado com ele e o evitava na maior parte do tempo. Brigou com ela por causa das suas escolhas, a chamou de boba, imatura, disse o quanto estava sendo cega. — Você quer ver o Sasuke?

— Sim, tenho algo a tratar com ele. — Umedeceu os lábios, segurando a maçaneta da porta com mais força que o necessário.

— Entendo... ele não está. Saiu em uma missão ontem à tarde. — Kakashi concordou com um aceno, tirando de debaixo do braço uma pasta que Sakura ainda não tinha reparo. — Se quiser pode deixar isso aqui. Eu entrego quando ele voltar.

Estendeu a mão, mas Kakashi não lhe entregou o que carregava. Levou-a para trás do corpo, mantendo-a longe de Sakura. Ela riu, riu pela ironia que era aquele momento. Desconfiava dela, estava ali para falar com Sasuke. Como era possível que tanta coisa tivesse mudada?

— Acha que eu vou ler? Acha que me interessa o que você tem a tratar o ele?

— Sakura...

— O que ele fez? Como ele conseguiu? — A fitou com um ar confuso.

— Conseguiu o que?

— Convencer você e te colocar contra mim! — Ela deu outra risada, mas os olhos verdes tão cristalinos agora estavam inundados d’água e a única conclusão que Sakura conseguia chegar é que Sasuke tinha pensado que ela tentaria alguma coisa, falaria com Kakashi.

— Sakura — Kakashi largou a pasta no chão e a segurou com ambos os braços —, Sakura... você estava certa — balançou a cabeça em negação —, estava, estava sim. Sempre esteve. Eu deveria ter dado créditos a ele, a você, a tudo.

— Não!

— Lembra quando nós brigamos? Quando você me falou do pedido de casamento? — Estava quase chorando, Kakashi prendeu o rosto de sua aluna entre suas mãos. — Eu disse que ele te destruiria, eu não cogitei as outras possibilidades. — Engoliu a vontade de gritar que ele estava certo, gritar que a errada era ela e que precisava da ajuda dele, seus lábios tremeram. As mãos desceram para seus ombros e logo a envolveram, seguida pelos braços. Estava sendo abraçada pelo seu ex-sensei, mas a sensação era tão sufocante quanto ser afogada. — Não entendo porque está chorando.

— Porque eu sou uma boba, só isso. — Desvencilhou-se dos braços dele e forçou um sorriso, mas sabia que não estava sendo convincente. — Quando ele voltar eu aviso que deve te procurar.

— Não. Tome. Você pode ficar com isso, pode ler. — Ele se abaixou e pegou a pasta que havia largando, deixando-a nas mãos de Sakura. — Leia se quiser, ok? Entregue a ele e fique bem, Sakura. — Kakashi acariciou seus cabelos e deu um beijo, por sob a máscara, em sua testa. — Pare de pensar dessa maneira, pois a última pessoa a estar errada aqui é você. Se precisar de alguém para conversa, eu estou aqui, sabe disso.

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— Tudo bem.

Kakashi ainda ficou parado por mais um tempo, esperando que Sakura disse algo a mais, como não veio ele se foi. Sakura fechou a porta assim que ele deu as costas, fitou a pasta em suas mãos, mas não teve vontade, nem curiosidade em saber do que aquilo se tratava. Largou-a no móvel de entrada e correu de voltar para o quarto.

Contava tanto com a ajuda de Kakashi, este tipo de reviravolta não tinha sido cogitado. Precisava da ajuda de alguém como ele, ou melhor, da ajuda dele. Kakashi era perfeito por essa missão, ao menos o antigo Kakashi.

Como foi tola em achar que Sasuke não desconfiaria do seu comportamento. Teria que arranjar um jeito sozinha agora, ninguém para ajudá-la, ninguém para enviar a carta a Gaara dizendo que ela estava indo. Ninguém para encobri-la até que estivesse a salvo em Suna. Estava presa aquela casa.

Afundou a cabeça no travesseiro, chorou até dormir, acordou e voltou a dormir outra vez. Não tinha animo para sair da cama, só se levantou quando a fome falou mais alto. Praticamente se arrastou para fora da cama e do quarto, mas parou no topo da escada ao ouvir vozes no andar debaixo.

— ... eu reli e não tem problema algum — era Kakashi, sentou-se no chão, escorando as costas na parede. —, dei entrada na papelada também... — A voz dele foi ficando baixa, até virar um ruído inaudível, assim como a de Sasuke. Com cuidado arrastou-se para o começo da escada e desceu dois degraus. — ...mas ainda acho que a ideia original é a melhor. Uma boa arquitetura merece ser preservada. Já mostrou a Naruto?

— Não, só falei com ele sobre, por causa de Tsunade. Vou precisar da ajuda. — Uma sombra pareceu surgir no corredor, Sakura se levantou em um pulo e subiu os lances, não queria que eles a vissem. — Mas não contei tudo.

— Naruto não vai se aguentar quando souber de todos os detalhes. Vai sair em alguma missão por esses dias?

— Semana que vem saio em uma missão e só volto na outra semana por ai. — Ambos surgiram no corredor, caminhando em direção a porta.

— Entendo, vou ver se consigo adiantar a papelada, mas acho difícil, provavelmente você só vai conseguir assinar quando voltar.

— Tudo bem, não vejo problema nisso. — Kakashi se virou para sair, mas antes que cruzasse o batente se voltou para o seu ex-aluno.

— Eu estive aqui mais cedo, falei com Sakura... — pressionou com força seus lábios um contra o outro, seus músculos logo enrijeceram, a tensão era tanta que até respirar estava difícil. — e ela... não me pareceu bem.

— Tivemos uma briga, uma grande. — Kakashi refletiu sobre aquelas palavras, observando Sasuke com atenção, mas sabia que não arrancaria nada dele.

— Mas vocês estão bem?

— Vamos ficar.

Seu estômago embrulhou, voltou para o quarto esforçando-se para não fazer ruído, não queria atrair a atenção deles. Colocou para fora a comida que tinha em seu estomago e voltou para cama, enrolando-se na coberta grossa, até mesmo a fome tinha passado.

A porta do quarto foi aberto de supetão, porém Sakura continuou enrolada como uma bola.

— Sakura. — Não respondeu, mas não fez diferença, Sasuke parou bem na sua frente com a tal pasta de Kakashi em mãos. — Você chegou a olhar esses documentos? — Respondeu com um aceno de cabeça.

— Eu ando planejando fazer alguns investimentos no bairro, reconstruir as casas e alugar... — Na falta de uma resposta melhor, deu de ombros. — O que você acha?

— Acredito que não importa muito o que eu acho. Se quer fazer, faz. — Puxou a coberta para cima, tapando a cabeça. — Boa noite.

— Boa noite.

Quando Sasuke se deitou e puxou a coberta os dedos dele roçaram em seu ombro de forma proposital, ele a tocou, a acariciou e ela se retesou. As vezes acordava no meio da noite com a cabeça apoiada nas costas dele, ou no peito, se desvencilhava logo, a quentura dele era na maior parte do tempo convidativa, estava acostumada aquilo.

Sakura não conseguiu dormir aquela noite, sua cabeça viajava em diversas opções e variantes que tinha, Sasuke sairia em uma missão de uma semana inteira. Era tudo o que ela precisava, com uma semana ela podia enviar a carta para o Gaara, ir embora e chegar em Suna antes que ele colocasse os pés em Konoha.

Os dias após a conversa com Kakashi passaram e Sasuke continuava em casa e Sakura em pânico por não conseguir fazer nada lá dentro, escreveu uma carta para Gaara as pressas no escritório, mas descobriu que não tinha como enviar sem ter que passar por diversas burocracias. Tentou não desanimar, tentou pensar em outras opções, no meio do desespero se lembrou de Naruto, a última pessoa que lhe restava. Foi dormir mais uma noite a espera, sempre a espera da oportunidade que não poderia tardar a vir.

Sobre o céu de Konoha a lua cheia brilhou imponente, com algumas poucas estrelas a sua volta que acabavam ofuscadas pelo brilho dourado. Aquela era uma noite quente, as pessoas dormiam com as janelas abertas, ninjas patrulhavam a Vila dormia e em uma casa afastada do centro, em um bairro quase vazio, um ninja movia-se apressado e sorrateiro pela penumbra.

Sasuke vestia-se o mais depressa possível, evitando ao máximo fazer qualquer ruído, não desejava acordar sua esposa. Porém no escuro era complicado não tropeçar na coberta jogada ao pé da cama; ou nos sapatos, se atrapalhar na hora de pegar a roupa ou acabar deixando algo cair no chão. Não demorou muito para que os lençóis começassem a se agitar.

Sakura remexeu-se sobre a cama, os ruídos perturbaram seu sono calmo e agradável. O sonho maravilhoso que estava tendo se perdeu, abriu os olhos sem conseguir distinguir o que ocorria a sua frente. Passou o braço por debaixo do travesseiro, encolhendo os ombros e soltando um longo suspiro. Virou-se e se deparou com o colchão vazio. Ergueu a cabeça, procurando por algum sinal de Sasuke, deparando-se com uma sombra que caminhava com cautela de um canto a outro do aposento.

— Não queria acorda-la. — Ascendeu o abajur que ficava ao seu lado da cama, Sasuke se sentiu grato pela fugaz luminosidade que surgiu, agora conseguia enxergar com clareza tudo que precisava, podendo assim partir para sua missão.

Observou-o enquanto arrumava algumas armas ninja em sua mochila, ajeitava o colete que usava e separou sua capa favorita. – Que horas devem ser? Procurou o relógio sobre o criado-mudo, eram quatro horas da manhã, com o punho cerrado coçou os olhos afugentando o sono.

— A missão é muito importante? — Por um momento Sasuke parou o que fazia, estranhando o leve tom de preocupação na voz dela, mas não se virou para fita-la e muito menos deixou que ela percebesse sua surpresa.

— Um pouco. Deveria sair pela manhã, mas prefiro agora. — Continuou a arrumar suas coisas. Sakura sentou-se na cama, com as costas escoradas na cabeceira.

Hum. Você vai demorar muito para voltar? – As pernas estavam flexionadas e abertas, os braços largados entre elas, fazendo a coberta afundar e podendo ver o moreno parado a sua frente com bastante clareza.

Sasuke parou de se vestir para observar sua esposa com atenção. Fazia tanto tempo que ela não demonstrava preocupação com as missões dele, se demoraria, se voltaria a salvo. Ultimamente o contato entre eles era pouco, o mínimo necessário e o dialogo também. Poderia estranhar o súbito interesse dela, mas afinal era Sakura, e esse tipo de comportamento dúbio sempre foi uma característica de sua personalidade tempestuosa.

— Uma semana. Esse é o tempo estipulado, mas devo voltar antes. Não precisa se preocupar. — Como resposta ganhou um singelo sorriso e voltou a se vestir. Volta e meia sua atenção decaia-se em Sakura, mas ela parecia normal, apenas observando com afinco cada movimento dele.

Ao terminar de se vestir o Uchiha parou bem no meio do aposento, as mãos sobre o bolso da calça de seu uniforme ANBU. Seus olhos cravados sobre os verdes dela. Esperou por algum movimento, qualquer coisa, que viesse até ele, que lhe falasse mais alguma coisa, que o beijasse e desejasse uma boa viagem, mas nada aconteceu.

Eles apenas ficaram um encarando o outro, Sasuke um pouco ansioso, Sakura incerta, até que ele achou melhor por fim naquela situação insuportável. Chegou a cogitar ir até a mulher sobre a cama, mas decidiu apenas acenar com a mão e a cabeça caminhando até a porta do quarto.

— No final dessa semana eu volto. — Ela acenou em resposta, abaixando a mão apenas quando o viu sair do quarto, respirando aliviada, puxou o lençol até o rosto.

Tinha se esforçado ao máximo para tentar parecer calma e tranquila enquanto por dentro remoía-se de ansiedade e nervosismo. Cada vez que ele a fitava seu coração parava uma batida e todo o seu corpo estremecia. Levou uma das mãos ao peito, fechando os olhos. Finalmente, finalmente a oportunidade que esperava há semanas surgiu.

Ouviu a porta da frente bater, mas permaneceu sobre a cama, desligou a luz do abajur e continuou ali, sentada, apertando a coberta entre seus dedos finos até as juntas ficarem brancas. Depois de uns bons dez minutos levantou, aproximou-se da janela observando o complexo Uchiha vazio, sem uma sombra viva. Voltou-se para o quarto e as pressas enfiou-se dentro da primeira roupa que encontrou em seu caminho, pegou sua capa preta e saiu do quarto marchando até a porta.

Colocou a capa sobre os ombros puxando o capuz para cima, poderia estar muito quente para usá-lo, mas não correria o risco de ser visto, mesmo sabendo que praticamente toda a vila dormia, cautela é sempre muito bem-vinda.

Atravessou todo o bairro o Uchiha e parte da vila o mais depressa que pode até parar a porta de uma casa simples, modesta, mas aos olhos de Sakura, convidativa e aconchegante.

Bateu a porta de mogno. Uma, duas, três vezes... bateu até seu punho doer. Alguns minutos depois um loiro sonolento surgiu entre uma pequena fresta, espantando-se com o ser encapuzado a sua frente. Quando ia perguntar quem era, Sakura abaixou o capuz, Naruto quase pulou para trás.

— Sakura-chan! O que faz aqui? — Perguntou o Uzumaki, bastante surpreso.

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Sakura tinha esperado por tanto tempo que agora estava afoita demais para as formalidades, empurrou a porta, podendo ver Naruto por inteiro, agarrou-lhe a mão do melhor amigo, quase irmão, levando-a para debaixo de seu queixo.

— Naruto, por favor, você precisa me ajudar. Você é o único que pode.

...

Página: Fleur D'Hiver

KakaSaku: Caro Naruto