Broke

2 - Easier


Easier To Run

Algo foi tirado

Bem do fundo de mim

Um segredo que tenho mantido trancado

Ninguém pode sequer ver

Ferimentos tão profundos nunca mostrados

Nunca desaparecem

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Como figuras se movendo em minha cabeça

Por anos e anos elas passam

Se eu pudesse mudar eu mudaria

Tirar a dor eu tiraria

Refazer cada passo errado que eu dei, eu refaria

Se eu pudesse ficar e levar a culpa eu faria

Se eu pudesse levar a vergonha pro túmulo eu levaria

Capítulo 2 — Easier

Suspirei irritado ao ver aquela pilha de papéis em minha mesa. Aqueles papéis estúpidos não me levariam ao meu objetivo. Inferno.

Mooser não havia achado o pai da garota em Londres, assim como ela, ele havia sumido. A morte de Ian só havia dificultado mais a nossa investigação e... Inferno! Era uma maldita distração! Com a morte dele, o rumo da investigação mudaria e eles teriam tempo. Como raios não percebi isso antes?

Passei a mão pelos cabelos, nervoso. Apossei-me do iPhone e disquei o número de Melissa.

— Mac, por que droga você está me ligando às cinco da manhã? — a voz de Melissa soou sonolenta e irritada.

— A morte de Ian foi só uma maldita distração, Melissa. — falei entredentes.

— O quê? Como assim? — Melissa pareceu despertar.

— Enquanto estávamos atrás de Ian, alguém da máfia o matou, para que assim nos distraíssemos. Sendo assim, teriam tempo para impossibilitar que descobríssemos sobre eles. — eu disse ríspido.

— Claro, enquanto estávamos no CSI e Chris na Inglaterra, a máfia desviava os rumos da investigação. Droga! — ouvi o pesar dela. — E agora, Mac? Nós voltamos à estaca zero!

— Não importa. — murmurei friamente. — Continuaremos da estaca zero então.

— Mac, são meses de investigação jogados no lixo! — Melissa disse. — Não é simplesmente algo inútil, dezenas de passos perfeitamente calculados desfeitos como pó!

— Se fossem perfeitamente calculados, não falhariam. — rebati, duro.

— Droga... Não fale nesse tom comigo! — Melissa resmungou. — Não tivemos culpa, Mac. Quando damos dois passos, a máfia já está a vinte à frente.

— Então, tratem de dar vinte e cinco. — meu tom era dos piores.

— Isso não é como jogar cartas, droga. Não é como se pudéssemos calcular os passos que eles dão. É quase impossível!

— Quase impossível, não é impossível. Eu posso ser menos rígido, Melissa, posso pegar leve, como dizem. Contudo, entenda, que eu não treino qualquer equipe. Demorei muito a chegar aonde estou, e não vou sacrificar anos de carreira e experiência por nada. Tenho uma imagem a zelar e farei de tudo para mantê-la impecável, inclusive deixá-los. — a rispidez e aspereza estavam presentes em minha voz. — Se querem desistir, eu irei compreender.

— Não! — Melissa imediatamente respondeu. — Você não pode deixar-nos, gracas a você, somos reconhecidos. Você nos fez a melhor equipe aqui dentro e tenho certeza que ninguém quer abrir mão disso.

— Vocês não são a melhor equipe, são apenas treinados pelo melhor investigador. Os melhores não falham, Harriett. E vocês falharam.

— Mac, droga, eu sei. — ela suspirou. — Porém, qualquer um comete erros, todo mundo comete erros e falhas, ninguém é perfeito.

— Pois sejam. Se querem realmente serem os melhores, sejam perfeitos.

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— Você irá desistir de nós? — Melissa perguntou.

— Eu não desisto, Harriett. As pessoas que desistem.

— Ficará conosco. — suspirou aliviada.

— Enquanto aguentarem. — respondi-lhe friamente.

— Obrigada, Mac! — ouvi sua risada do outro lado da linha. — Eu prometo que não falharemos, Mac. Juro que não decepcionaremos.

— Espero, Harriett. Bonasera enviou-lhe o relatório? — questionei-lhe.

— Bom, na verdade, ela disse que iria entregá-lo pessoalmente.

— Ela virá aqui? — murmurei irônico.

— Não, ela pediu que a encontrássemos no CSI. — revirei os olhos.

— Terei que suportá-la outra vez. — suspirei irritado.

— Mac, é importante. Além de quê, não entendo essa implicância toda com a detetive Bonasera. — Melissa riu.

— Que seja. — murmurei neutro.

— Ela disse que temos que estar lá às 8h. Então, já que você não deixou-me dormir, irei arrumar-me e tomar café. — ela bocejou. — Me busque às 7h! — e desligou.

Revirei os olhos e guardei o iPhone.

Saí do escritório e fui até a cozinha do apartamento buscar um café forte.

— Papai. — ouvi a voz doce.

— O que está fazendo? — questionei-lhe, friamente.

— Eu vi que estava acordado e resolvi preparar seu café.

— Vá para a cama. — ordenei e ela suspirou.

— Tem certeza, pai? Eu posso... — a cortei.

— Vá para a cama, Elizabeth. — falei, duro.

— Está bem, pai.

Suspirei pesadamente, vendo-a se dirigir ao quarto. Balancei a cabeça e peguei a xícara de café. Dirigi-me ao meu quarto e sentei-me na poltrona de frente a janela, era um hábito observar o nascer do sol através da janela do quarto. Sorri zombeteiro enquanto bebericava o café, era uma das poucas coisas que não eram dolorosas.

E isso era motivo de zombaria para mim, porque é necessário doer. Precisava provocá-la para que nunca parasse. Não podia parar. Era necessário que aquela infecção ficasse exposta, que sangrasse. Eu precisava que me sufocassem.

Senti o gosto amargo do café. Contudo, para mim era um doce sabor. O sabor da dor. Era amarga, escura, como ele. E só fica bom se estiver quente, se estiver sangrando.

Fechei as mãos em punho e bati em meu peito. Uma, duas, três vezes, perdi as contas. DOA! DOA! NÃO PARE DE DOER!

Levantei-me e pus a xícara no criado-mudo. Fui em direção ao banheiro e encarei meu reflexo patético. O melhor investigador e chefe de policia de Nova York, não era tão bom assim. Sorri zombeteiro com esse pensamento e soquei o espelho. Cacos de vidro entraram em minha pele e eu senti meu peito se encher com a dor.

Precisava doer.

Minha mão sangrava e estava cheia de cacos.

Esse é o meu reflexo.

Fechei os olhos apreciando os cortes de minha mão arder.

Despi-me lentamente e entrei debaixo dos jatos de água fria, o sangue escorri abundante de minha mão. O sorriso do meu rosto era raro. Doía por dentro e por fora. Eu a sentia, amarga e doce.

Apenas o toque do meu celular despertou-me. O sorriso do meu rosto se apagara. Suspirei irritado ao ver o número de Melissa na tela.

— Mac, você está a caminho?

Fechei os olhos.

— Sim, Melissa. — respirei fundo. Inferno.

— Você está bem, Mac?

Abri os olhos, vendo o sangue em minhas mãos.

— Estarei aí logo. — desliguei.

Terminei meu banho e enrolei a toalha na cintura. Peguei a maleta de primeiros socorros e enrolei uma faixa em minha mão, de forma bem ruim, apenas para estancar o sangue. Pus alguns esparadrapos para segurá-la. Saí do banheiro e logo pus-me a procurar uma roupa. Um blazer bege, blusa social azul marinho e calças jeans certamente era o que Claire escolheria. Vesti tudo rapidamente e calcei sapatos marrons. Peguei a toalha e sequei os cabelos rapidamente, logo deixando-a pendurada. Olhei o relógio no criado-mudo. 6h49.

Apossei-me da chave da BMW e meu distintivo. Saí do quarto em direção ao escritório, e peguei a arma em cima da mesa, guardando-a na cintura. Jamais andaria desarmado. Tranquei a porta do escritório e franzi o cenho ao ver Evangeline parada à minha frente, numa pose indiferente.

— Trabalho, Taylor? — perguntou sarcástica.

— O que faz aqui? — retruquei entredentes.

— Eu moro aqui, esqueceu-se? — riu irônica.

— Não me desafie. — murmurei duro.

— Não estou fazendo nada, poderoso-chefão. — ia saindo, mas a segurei pelo braço. — Está me machucando.

— Me ouça. — apertei realmente para machucá-la. — Vou avisá-la pela última vez, pare de questionar minhas decisões, apenas obedeça.

— E o que eu poderia fazer? Você prende-me neste apartamento o tempo todo. — rangeu os dentes. — Já disse que está me machucando!

— É necessário. — soltei-a.

— É apenas uma de suas ordens estúpidas! — senti vontade de batê-la, mas apenas respirei fundo.

Peguei-a pelo braço e saí arrastando-a até o quarto, ouvindo seus gritos.

— Me solta, está me machucando!

A soltei e segurei seu rosto com força.

— Eu já cansei dos seus ataques de histeria, Samantha. Estou lhe avisando, é melhor obedecer-me. — soltei seu rosto e ficou as marcas dos meus dedos.

— Você não manda em mim! — ela gritou furiosa.

— Enquanto estiver sob minha autoridade, fará o que eu mandar. Não acesse minha fúria, as consequências não serão agradáveis. — ela fuzilou-me com o olhar e bateu a porta em meu rosto.

Suspirei fundo e dirigi-me até a porta do apartamento. Peguei o molho de chaves e tranquei a porta. Dirigi-me ao elevador e apertei o botão para chamá-lo, respirei fundo, logo ele chegou. Adentrei-o, guardando o molho de chaves. Apertei o botão do estacionamento.

E mais uma vez, pus-me a observar a figura patética do meu reflexo. Pele pálida, marcas de expressão, bolsas roxas embaixo dos olhos, e os mesmos, cinzentos opacos, sem vida.

Sem alma.

Suspirei fundo e fechei os olhos. Logo o elevador parou e eu saí dele, indo em direção a BMW. Destravei e liguei-a, acelerando para sair do estacionamento. Segui caminho até o prédio de Melissa rapidamente, assim que que cheguei lá, apossei-me do celular e disquei seu número.

— Onde você está? — perguntei-lhe impaciente.

— Você estava demorando, então eu peguei um táxi e parei no Starbucks para tomar café-da-manhã. — Melissa disparou.

— Dê-me o endereço. — suspirei irritado.

— Encontre-me na Wall Street, estou indo de táxi para lá. — Melissa murmurou e eu desliguei, sem respondê-la.

A Wall Street não era longe de onde Melissa residia, então em poucos minutos cheguei lá. Para irritá-la, quase joguei o carro em cima dele, derrapando ao seu lado e fiquei satisfeito ao ver sua face furiosa. Ela estava em frente a uma loja de roupas de inverno e logo entrou no carro.

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— Seu idiota, você sujou minha roupa! — ela disse furiosa, mas logo seu olhar desviou para minha mão enfaixada. — Mac... O que é isso? O que houve com você? — a preocupação estendeu-se por sua voz.

— Um acidente, Melissa. — respondi ríspido.

— Como foi isso? O que aconteceu? Você machucou-se muito? — ignorei suas perguntas. — Droga, responda-me!

— Estou bem.

— Está bem? Isso está horrível, Mac! Está sangrando muito, você pode ter machucado os tendões, nervos e uma série de coisas!

— Não importa. — falei áspero.

— Claro que importa! Deixe-me ver isso! — ela exigiu.

— Estou dirigindo, inferno. — ralhei irritado.

— Só por isso, mas quando chegarmos ao CSI, você me mostrará isso! E eu farei um curativo melhor! — quando abri a boca para falar algo. — Calado! Eu irei fazer a droga do curativo contra a sua vontade! — virou o rosto para a janela.

Decidi não respondê-la. Como passei os minutos discutindo com Melissa, já havia avistado o grande arranha-céu espelhado. Contudo, dessa vez não havia sangue e nem um cadáver pelo chão. Estacionei o carro do outro lado da rua e saí do carro, juntamente com Melissa, acionei o alarme e ela se agarrou ao meu braço - eu esperava que ela fizesse isso, como de costume - e fomos até a entrada do Departamento.

Adentramos o lugar, e surpreendi-me ao vê-lo organizado sem pilhas de papéis e cacos de vidros das portas. O corredor ainda era movimentado, detetives passavam o tempo todo, porém limpo e organizado.

— Senhor Taylor! — ouvi a voz de Rachel e olhei-a, parada à nossa frente com um sorriso.

— Lesman. — cumprimentei-a com um aceno.

— Apenas Rachel. E Melissa, não é? — Melissa assentiu com um sorriso um tanto forçado. — Como vão? Que surpresa vê-los novamente! Principalmente o senhor.

— Estamos bem. — Melissa respondeu por nós.

— Que ótimo. Então, desejam algo? Água, café, um suco talvez? — perguntou sorrindo gentilmente.

— Rachel, pare de encher o saco! — Bonasera apareceu na pose autoritária de sempre, mas o sorriso estava em seus lábios.

— Estou sendo gentil, Stella. — revirou os olhos.

— Claro, claro. Já que está tão gentil, vá até o Starbucks me comprar um frappuccino e alguns cookies de chocolates. — Rachel gemeu em desgosto com a ideia.

— Argh, Stella, você só se aproveita da minha gentileza.

— Não seja dramática. E vocês, Agentes, querem alguma coisa? — Bonasera sorriu.

— Ah, eu quero um cappuccino e um donuts, se não for incômodo. — Melissa falou doce.

— E o senhor? — Rachel dirigiu-se a mim, sorrindo.

— Um café, forte e sem açúcar. — respondi-a.

— Não mesmo, Taylor. — Melissa fuzilou-me. — Seu fígado sairá correndo algum dia de tanto café. Você não é um zumbi, precisa comer! — Melissa dizia tudo numa pose autoritária que não combinava com seu porte pequeno.

— E você não é minha mãe para dar-me ordens, Melissa. — retruquei gélido.

— Ah, cala a boca. — resmungou. — Rachel, traga um café com leite e pão de queijo, por favor. — revirei os olhos.

— Tudo bem. — piscou e saiu rindo.

— Louca! — Bonasera gritou.

— Sabe que não gosto de café misturado ao leite, Melissa. — falei, irritado e ela deu de ombros.

— Mas vai tomar. — ela ordenou.

— Irritante. — xinguei-a.

— Idiota. — ela respondeu-me, dando-me um tapa no braço.

Bonasera nos olhava sorrindo, mas seu sorriso desapareceu até que notou minha mão machucada.

— Que curativo horrível! Nem isso sabe fazer, Taylor? — arqueou a sobrancelha.

— Não se meter no que não te importa, conhece o conceito? — retruquei duramente.

— Ele é um carrasco. — Melissa murmurou.

— Percebi. — Bonasera disse irônica.

— Eu preciso de um kit de primeiros-socorros para fazer um curativo decente aí. Poderia me emprestar?

— Claro, tem um na sala de descanso.

Nós a seguimos - de minha parte, a contragosto - até a sala em que conversamos outro dia. Bonasera indicou o sofá de couro preto e foi até um armário, tirando de lá uma maleta. Pegou uma cadeira de madeira rústica e sentou-se em minha frente.

— Não precisa incomodar, senhorita Bonasera, eu o faço. — Melissa disse e ela negou.

— Deixe comigo, estou acostumada. — deu de ombros. — Já banquei a enfermeira antes do CSI.

— Oh. — Melissa riu. — Detetive com certeza foi a melhor escolha.

— Realmente. — riu.

Melissa iria dizer algo, porém o toque alto do celular a interrompeu.

— É o Chris, Mac! — sorriu animada.

— Diga a ele que estamos aqui e que peça a Whitney que se encarregue de tudo. — respondi-lhe.

— Por que não deixa o Chris como responsável? A Christine é insuportável!

— Só diga, Melissa. — ela revirou os olhos e saiu resmungando.

Foi até o corredor para atender o telefone.

— Deixe-me ver. — pediu Bonasera e eu estendi a mão, apertando os lábios em uma linha fina.

Desenrolou a faixa e quando sua pele tocou a minha, senti um choque passar por nós. Ela sentiu o mesmo, pois soltou minha mão.

— Isso está horrível, Taylor.

Olhei para a mão ensaguentada que continha pequenos estilhaços de vidro penetrados na pele, um corte largo na palma da mão e um mais raso nas costas, fora alguns arranhões. Nada que me importasse, de fato.

— O que aconteceu? — perguntou-me, fitando.

— Um acidente. — respondi ríspido.

— Não, isso foi provocado. — ela analisou. — Você quis fazer isso. Por quê? — um sorriso de escárnio cresceu em meus lábios.

Para lembrar-me como sou. Porque preciso sentir algo em um corpo morto, sem vida. Porque preciso estar vivo.

Mas para ela apenas respondi:

— Porque eu quis. — respondi áspero.

— Isso é óbvio. — retrucou. — Você é louco? Pois se for o caso, conheço ótimos psiquiatras.

Se psiquiatras ressuscitassem os mortos, meu problema se resolveria.

— Então, procure um e se trate. — falei ríspido.

— Que humor negro. — ela riu. — Você poderia ter cortado os tendões ou pegado uma infecção. — murmurei pegando as luvas de látex.

— Que seja.

— Você realmente não se importa? — não a respondi, apenas olhei-a friamente.

Deu de ombros e pegou uma pinça.

— Pinças? — arqueei a sobrancelha. — Pensei que sua carreira de enfermeira havia acabado.

— Quando há cadáveres mortos à balas ou tem algum tipo de objeto dentro, usamos as pinças para retirar. — explicou-me e a olhei quase indignado.

— Irá usar pinças para cadáveres em mim? Não era você que estava dizendo sobre infecções? — falei sarcástico.

— Não sou irresponsável, Taylor. — revirou os olhos. — Todos os materiais são esterilizados.

Observei-a limpar o sangue ao redor dos ferimentos com iodo, depois jogou clorexidina para desinfetar. Logo começou a retirar os estilhaços de vidro, um por um, colocando-os em uma bandeja. Ardia levemente, mas não era como se eu não estivesse acostumado com a dor. Fez o mesmo processo com todos os ferimentos. Enrolou a faixa em minha mão e a prendeu firmemente.

— Cicatrizará em uma semana. Não esqueça de trocar os curativos sempre. — tirou as livas e jogou-as no lixo, depois fez o mesmo com os cacos e guardou o kit. — Antes de dar uma de masoquista por aí, certifique-se que sabe fazer um curativo direito.

— Quer agradecimentos? — perguntei sarcástico.

— Não, sei que não o faria. — sentou-se ao meu lado. — Por que fez isso?

Não a respondi. Eu não poderia respondê-la.

Apenas a encarei e fitei seus olhos. Límpidos e brilhantes, como águas cristalinas. Surpreendi-me ao ver como eles refletiam o que ela sentia, como eu poderia ler sua alma. Não havia sentimentos ruins nela. Não havia maldade alguma naquele olhar, era... Puro. Tão puro que eu jamais presenciei outro igual.

E ela sorriu, um sorriso tão ou mais puro que seu olhar. E eles mudaram de cor, verde esmeralda. Um verde que refletia a esperança que morreu em mim a muito tempo.

Um pensamento assombrou-me por dentro.

Eu queria sorrir. Queria retribuir o sorriso dela.

Meu peito se encheu, mas não era de algo ruim. Definitivamente não. Uma paz temporária que anestesiou a dor que sempre me acompanhava.

Mas que diabos de paz é essa? O que essa mulher tem para deixar-me assim?

Quando voltei a concentrar-me em seus olhos, vi um brilho de inocência ali, sem manchas, sem sujeira. Só um brilho tão puro que parecia resplandecer.

— Você... — sussurrou.

— Tive que aguentar Christine enchendo meu saco por sua culpa, Mac!

A voz de Melissa despertou-me e logo voltei à minha pose de indiferença e a expressão fria. Como se tudo o que senti com o olhar de Bonasera não tivesse existido.

— O que a Whitney disse? — falei, entediado.

— Que você deveria ter vindo sozinho, porque é o único competente e que eu deveria ter ficado lá "para evitar transtornos", e atrapalhar a investigação! — Melissa dizia furiosa andando pela sala. — Ai, que vontade de matá-la! Aquela mulher é insuportável! Por que diabos eu tenho que suportá-la? Argh!

— Porque ela é sua chefe. — murmurei debochado.

— Urgh...! Não me lembre deste odioso acontecimento! — Melissa gritou irritada.

— Melissa, controle-se. — ordenei impassível e ela bufou, sentando-se no sofá ao lado de Bonasera.

— Cheguei! — Rachel surgiu na porta com três sacolas. — Eu peguei uma maldita fila!

— Até que enfim, Rachel! — Bonasera levantou-se, como se acordasse. — Achei que ia morrer de fome, antes de você chegar! — sorriu.

— Tome, esfomeada. — Rachel riu. — Melissa, aqui está. — estendeu a sacola a Melissa, que sorriu. — Senhor Taylor. — aproximou-se de mim e estendeu-me a sacola sorrindo. — Eu ouvi o senhor dizendo que não gostava de leite com café, e tomei a liberdade de pedir um cappuccino.

— Certo. — falei, assentindo.

— Rachel, traga-me o relatório que fizemos do Zachary. — falou antes de abocanhar o cookie.

— Tudo bem. — revirou os olhos, saindo da sala.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Meu iPhone tocou e respirei fundo, atendendo-o sem ver o número como de costume.

— Taylor. — disse gélido.

— Christine já mencionou sobre a morte de Ian. — a voz de John soou indiferente.

— Ele foi assassinado. — respondi no mesmo tom. — Estou com Melissa no Departamento.

— Ele não está morto? — John falou impassível.

— Precisamos do relatório da morte. — retruquei.

— Está insistindo em algo totalmente inútil. — John falou debochado e respirei fundo. — Temos que dar seguimento às investigações, pois estamos perdendo tempo.

— Isso faz parte das investigações, John. — murmurei entredentes.

— Não é responsabilidade do FBI apurar mortes de criminosos, Taylor. — John retrucou.

— Eu estou me responsabilizando pela de Ian, preciso analisar o relatório para saber se há algo que possamos utilizar. Alguma objeção? — questionei debochado.

— A decisão é sua, chefe. — ele disse irônico.

— É bom que está ciente disso. — falei gélido e desliguei sem esperar resposta.

— É o John, não é? — Melissa bufou. — Christine como sempre foi reclamar com ele.

Eu apenas respirei fundo.

— Taylor, não vai comer? — referiu-se a comida que Rachel trouxe, intocada.

Apenas a olhei, sem respondê-la. Melissa percebeu minha inquietação e falou à Bonasera:

— Detetive, Rachel não está demorando? Realmente temos urgência em analisar o relatório. — Melissa deu um sorriso fraco e sem graça, típico dela.

— Rachel deve ter parado para conversar. — falou entediada. — Espere um segundo. — foi até a porta e falou algo a alguém que não consegui identificar.

— Com licença. — uma ruiva passou por Bonasera e entrou.

— Darah, onde está Rachel? — Bonasera perguntou impaciente.

— Peyton teve um problema no laboratório e pediu a Rachel que fosse ajudá-la, você sabe, Stella, as duas são melhores amigas. — a ruiva sorriu. — Ah, ela deixou isso comigo. — entregou os papéis a Bonasera.

— É o relatório sobre a morte do Zachary. Rachel ficou responsável, aliás me lembre de conversar com ambas, porque acho que estou pegando leve, não matei nenhuma das duas. Olha que avanço.

— Você... — ela parou de falar para me observar e arregalou olhos azuis. — Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Eu não acredito! — ela gritou.

— O que é, Darah?

— É o Detetive Taylor, não é? — ela abriu a boca como se não acreditasse e eu franzi o cenho. — Perdão, é que eu o admiro muito, senhor. Foi por causa do senhor que eu quis seguir carreira de Detetive. — ela sorriu tímida, corada e com os olhos brilhando.

Arqueei a sobrancelha e depois dei um meio sorriso, Melissa arregalou os olhos, talvez por não estar acostumada a me ver sorrir e Bonasera me olhou de sobrancelha arqueada.

— Sou Taylor. — respondi acenando com a cabeça. — E fico lisonjeado que se espelhe em mim para construir sua carreira.

— Obrigada, senhor Taylor. — sorriu e seus olhos brilharam mais ainda. — Eu sou Darah Johnson, é uma honra conhecê-lo, senhor. — ela estendeu a mão.

— Certo. — cumprimentei-a.

— Darah, volte ao trabalho. Os Agentes precisam analisar o relatório. — Bonasera disse e Darah assentiu.

— Estou indo, Stella. Foi uma honra conhecê-lo, senhor Taylor, espero que possamos nos reencontrar novamente. — ela sorriu.

Eu apenas assenti.

— Aqui está, Taylor. — entregou-me o papel. — Tudo o que descobrimos está aí.

Nome: Zachary John Umman Hayes

Atividade: Detetive Supervisor Nível 3 do Departamento de Investigação de Nova York / Policial / Agente de Análise de Inteligência do Federal Bureau of Investigation (FBI)

Nascimento: 17 de julho de 1982

Sexo: Masculino

Idade: 34

Data do óbito: 1 de março de 2016

Local do óbito: Departamento de Investigação de Nova York

Causa do óbito: Assassinato

Laudo: A perícia do Departamento constatou que a morte foi por perfuração do fígado, causando hemorragia interna e falência múltipla de órgãos. A vítima veio a óbito instantaneamente após a primeira cápsula de bala atingir o fígado, ao todo foram mais de quinze disparos. Houve luta corporal, onde a vítima levou um golpe forte na nuca feito pelo uso da arma e dois socos seguidos no nariz causando perda do olfato.

Detalhes: A vítima foi surpreendida e não portava arma no momento do ataque. Segundo testemunhas, estava indo trabalhar quando foi surpreendida por uma mulher alta e magra, de olhos azuis e cabelos louros, que portava um machado em mãos. Agrediu a vítima por trás com um forte golpe nos pescoço, e deu dois socos no nariz com algum tipo de arma, logo após ficar inconsciente, foi morto à queima-roupa por quinze disparos seguidos por arma de calibre 38.

Mulher loira de olhos azuis? Trinquei os dentes. Não há lógica. Por que diabos ela mataria seu braço direito? Por quê arriscaria a pele a esse ponto?

— Mac, e então? — Melissa chamou minha atenção.

— Não faz sentido. — balancei a cabeça. — Bonasera, alguém do CSI chegou a presenciar o assassinato?

— Não, estávamos todos dentro do prédio. Apenas duas pessoas viram, pedimos os depoimentos e elas relataram apenas isso. — Bonasera disse e eu suspirei.

— Posso ver? — Melissa pediu e entreguei a ela.

Se eles queriam atrapalhar a investigação, por que raios ela mataria Ian Howell? Poderia ter mandado qualquer um matá-lo para que ele não falasse o paradeiro deles, porém foi ela. Ela o matou, inferno. Arriscou a própria pele para matá-lo.

— Foi uma mulher que matou Ian... Uma assassina contratada, talvez?

— Não, Harriett. — eu disse friamente e levantei-me do sofá. — Temos muito o que fazer. — dirigi-me até a porta sem esperá-la.

— Mac, espere, nós sequer pensamos nas possibilidades sobre a morte de Ian! — Melissa disse e virei-me para ela.

— Já fizemos o que deveríamos, Harriett. — disse gélido.

— E não vai me falar o que concluiu, Taylor? — Bonasera encarou-me com a sobrancelha arqueada e a mão na cintura.

— E por que eu deveria? Não faz parte do seu trabalho. — respondi sarcástico.

— Porque eu lhe ajudei, e isso também não faz parte do meu trabalho, senhor Taylor. — falou no mesmo tom.

— Isso não me importa, Bonasera. — disse ríspido e dei-lhe às costas como a primeira vez que a encontrei.

— Eu sei que você não se importa com nada, Taylor, não é uma novidade. Contudo, se importando ou não, eu quero saber. — ela insistiu, segurando meu pulso.

Eu respirei fundo. O que diabos essa mulher possuía? Por que raios ela insiste em me contrariar?

— Você sabe algo daquela mulher, não é?

Então eu parei.

O que eu sei é um segredo que tenho mantido trancado ninguém pode sequer ver.

— Harriett. — chamei Melissa e soltei-me de Bonasera.

— Desculpe, Detetive, precisamos ir. Mas muito obrigada por ter nos permitido analisar o relatório. — Melissa disse. — Foi bom revê-la.

— Está bem, Agente. — foi só o que disse.

Esperei apenas Melissa agarrar-se a meu braço.

— Mac, não dirá nada a Detetive? — Melissa me olhou como se suplicasse.

Não respondi, e Melissa suspirou. Eu estava de costas para Bonasera e não a vi, porém sentia seus olhos queimarem em minhas costas.

— Realmente espero não ter que vê-lo mais uma vez. — sua voz soara irônica.

— Estou contando com isso. — respondi-a sarcástico, ainda sem olhá-la. — Tome. — virei-me para ela, estendendo-lhe um comprimido.

— Um comprimido? Para que isso? — ela olhou-me arqueando a sobrancelha.

— Um calmante, é bom para pessoas nervosinhas. — murmurei sarcástico.

— Taylor. — ela fuzilou-me com o olhar. — Vá para o inferno, maldito. — ela jogou o comprimido no chão, pisoteando-o.

— Não deseje-me algo que eu gostaria, Bonasera.

Foi o que lhe disse antes de sair, acompanhado de Melissa.

Eu realmente gostaria de ir para o inferno, porque é bem mais fácil do que estar morto.