Brittle

Capítulo 25 - Will


É meio estranho começar um capítulo contando oito meses depois de que tudo aconteceu, mas eu não posso e nem vou compartilhar com você todas as experiências minhas e de Cely que aconteceram naquele ano; pois a base da nossa história é manter aquele ano em nossas memórias. Um dos anos mais felizes para ambos e a ideia do nosso romance foi essa, mas posso dar alguns poucos detalhes para vocês não se perderem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Naquele ano de 2015, depois que nós saímos da praia e voltamos para Uberlândia, as nossas vidas se tornaram cada dia mais belas. Eu não sei se foi a presença um do outro, ou se a vida estava nos dando um tempo pelos meses difíceis que tínhamos tido em 2014, mas nossas vidas realmente pareciam estar cada vez melhorando.

Celeste ficou a maior parte do ano trabalhando em sua monografia, já que estava no seu último e batalhado ano de faculdade. Ela parecia ter progredido muito em sua terapia. Começara a ver Miranda uma vez na semana e parecia manter um equilíbrio dentro de si. Sem ter mais medo de arriscar ou de tentar as coisas (bem, na maioria das vezes). Quando voltamos da praia, eu lhe dei o seu presente, que havia sido um violoncelo.

Ela recusou mil vezes no início, disse que era um presente caro demais e que ela não podia aceitar aquilo de modo algum, mas no final eu a convenci que não estava fazendo aquilo por ela, mas sim, por todas as pessoas que mereciam escutar aquelas notas firmes e divinas que ela conseguia tirar do violoncelo de uma maneira que ninguém conhecia.

Quanto a mim? Eu fiquei bem

A minha nova faculdade era o maior sonho que eu tinha realizado em minha vida. Eu acordava cedo para ir para lá, e mesmo tendo uma agenda cheia com as aulas, trabalho e todas essas coisas, eu e Cely sempre encontrávamos tempo um para o outro.

O ano estava discorrendo muito bem. A chuva continuava a pingar, mesmo nas épocas em que deveria haver seca e não milhões de gotas emergindo do céu. E eu tinha finalmente encontrado o amor. E encontrado alguém que realmente valia a pena lutar.

Emily tinha ganhado bebe naquele ano. Um menininho chamado Matheus, que nasceu sadio e forte, com grandes olhos azuis como o da mãe. Cely tinha virado uma das suas melhores amigas depois que voltamos de viagem. Ela a acompanhava nos ultrassons e consultas de medico, e quando Emily a chamou para ser madrinha do bebe não fora uma surpresa para mim, mas pareceu de algum modo surpreender Celeste.

Tínhamos comemorado meu aniversário no rancho que tínhamos ido aquela vez para conversar depois que eu havia terminado com Emily. Passamos o dia inteiro lá, relembrando como toda aquela bagunça havia acontecido nas nossas vidas e no final do dia, como presente de aniversário eu ganhei um mural com uma linha do tempo de como nós havíamos nos conhecido e ainda uma bela noite com a minha namorada, que não preciso detalhar o que aconteceu.

Tudo estava indo às mil maravilhas, mas, vamos concordar que o final do ano nunca fora uma época boa para mim e Cely. Mesmo que tivéssemos nos conhecido no final do ano, mesmo que nosso amor tenha sido desabrochado naquela época, nós tínhamos tido muitas desavenças em 2014 naquele mesmo período. E em especial, nos últimos três meses a nossas vidas estavam prestes a mudar.

Aquela primavera tinha começado muito bem, as flores começavam a desabrochar. Eu havia reformado a caminhonete e Cely ainda não compreendia porque eu ainda a deixara com aquela cor amarelada. A verdade é que nem eu mesmo sabia, mas eu gostava dela daquela maneira. Me fazia muito bem.

Foi numa tarde, no fim de outubro que tudo estava para mudar.

Eu tinha acabado de chegar do conservatório, e pendurei como de costume a chave no porta-chaves que ficava ao lado da porta. Olhei para a sala e tudo parecia normal. O sofá ainda era o mesmo, a televisão ainda era mesma, a única coisa que tinha sido acrescentado era uma cadeira de leitura e uma estante que eu havia dado para Cely de namoro de 6 meses.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Tirei meu casaco e escutei um som vindo da cozinha, o que era muito estranho já que Celeste não ficava no apartamento no período da noite, por causa da faculdade. Contudo naquele dia ela estava ali, sentada em cima do balcão com um monte de livros e um notebook escrevendo sua monografia. Ela mantinha uma expressão séria, aquela expressão que ela costumava fazer quando coisas indesejadas tinham acontecido e eu começava a me apavorar.

O ano inteiro tinha sido tão bom, por que justo agora tudo que havíamos conseguido tinha que ser desfeito de uma maneira tão rápida.

Parei ao seu lado e esperei que ela desviasse os olhos para mim e fizesse biquinho para eu beijá-la, como estávamos acostumados, mas ela continuou focada em seus cadernos sem ao menos conseguir fitar meus olhos.

Então passei por ela fingindo que não me importava também, e abri a geladeira vendo o que eu poderia fazer para o jantar e acabei escolhendo fazer apenas um requintado com a comida que estava na geladeira.

O silencio de Celeste me deixava cada vez mais nervoso e única coisa que eu conseguia escutar era o som das teclas do notebook ao serem pressionados.

Tentei relaxar e pensar que ela apenas estava escrevendo uma parte importante de seu trabalho, mas sabia que não era verdade. Eu e Cely sempre nos cumprimentávamos, nem que fosse só com um simples levantar de sobrancelhas. Alguma coisa estava errada. Muito errada.

Puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado, esperando que ela mudasse o olhar para mim, e vi que ela começava a ficar agitada, como se a bomba que ela estava segurando estivesse prestes a explodir de uma hora para a outra.

Ela tirou o lápis que estava preso em seus dentes, e redirecionou sua cabeça para mim. Olhando profundamente meus olhos azuis desbotados.

Ela continuava como a mesma Celeste de sempre. Tirando o fato de que seus cabelos já estavam mais na metade de suas costas e de que seu rosto tinha tomado uma forma mais velha, como se ela fosse mais sabia do que uma mulher de noventa anos. Mas, tirando esses detalhes, os olhos castanhos continuavam imutáveis. Sua boca continuava com aquelas curvas em formato de coração e sua pele continuava bronzeada da mesma forma que era a um ano atrás.

Ela abriu a boca para falar, mas engoliu as palavras novamente como se fosse um pecado pronunciá-las em voz alta.

Eu conseguia sentir aquilo martelando na sua cabeça, e queria muito perguntar o que era, porém se havia uma coisa que eu tinha aprendido com meu tempo de convivência com Cely era que você nunca devia questioná-la sobre problemas. Porque uma hora ou outra aquilo explodiria dentro dela e ela falaria.

— Will… — A sua voz saiu baixa, com um tom bem leve para não me assustar.

— Cely… — Eu repeti no mesmo tom para tirar uma com a sua cara.

— Como foi o trabalho hoje? — Ela engoliu a notícia dentro de si e preferiu manter lá.

— Foi ótimo, e por que não foi para faculdade hoje? — Eu cruzei os braços, mas depois descruzei para pegar uma maçã que estava na fruteira.

— Não estou passando muito bem. — Ela disse e uma onda de choques deslizaram sobre minha corrente sanguínea.

— Não se sentindo muito bem em que aspecto? — Eu perguntei um pouco nervoso.

Ela deu de ombros e voltou a se concentrar em sua monografia.

Eu me levantei e fui olhar o requintado que estava no forno. Dei umas duas mexidas e desliguei o fogo, respirando bem para não perguntar logo o que ela tinha.

— Melissa ligou ontem. — Eu tentei jogar conversa fora.

Ela parou de digitar e soltou um sorriso torto.

— Ela disse que esse ano vem com o Arth para passarmos o natal juntos.

— Isso é maravilhoso. — Ela disse sucintamente.

— Ela também disse que os presentes de natal deles serão melhores do que os nossos.

— Mas é claro, eles podem comprar um iate para cada um de nós, já nós o máximo que podemos dar é um daqueles enfeites que se colam no vidro do carro.

— Não, aquilo também tá muito caro hoje em dia. — Dei de ombros.

Ela sorriu e voltou a se concentrar em seu trabalho, mas ela ficava remoendo seus lábios toda hora o que me deixavam cada vez mais nervosos.

— Cely, eu realmente estou tentando não te perguntar, mas você não está colaborando. — Eu disse não me contendo.

— Não é nada demais. — Ela disse no seu típico jeito de querer me aliviar de seus problemas.

— Cely, pensei que tinha parado de mentir para mim sobre essas coisas. — Tentei olhá-la com raiva, mas ela parecia muito assustada para eu fazer isso.

— Não é nada demais, é uma coisa com a faculdade, eu vou conseguir resolver. — Ela disse e começou a tremer como ela fazia quando começava a ameaçar ter um ataque de pânico.

— Há quanto tempo não está tomando seu remédio? — Eu disse abrindo as portas do armário para procurá-los.

— Há alguns dias. — Ela disse com a cabeça baixa.

— Cely, você prometeu para mim que voltaria a tomar seus remédios. — Eu peguei um deles, e enchi um copo com água, dando-o para ela tomar.

— Eu não vou tomar isso. — Ela disse de um jeito bruto.

— Celeste Oliveira, você sabe mais do que eu que precisa tomar isso. — Eu disse exasperado com a sua teimosia.

— Mas agora eu não preciso. — Ela rebateu brava.

— Não precisa? — Eu disse com ironia. — Você está tremendo para se controlar de ter um ataque e não está se sentindo bem.

— Eu estou bem. — Ela disse mais para ela do que para mim.

— Não, você não está, agora toma esse remédio por favor. — Eu coloquei a pílula em cima dos seus materiais a desafiando.

Ela olhou para mim com raiva, tentando controlar a tremedeira que ela estava sentindo. Respirou bem profundamente e pegou o remédio de cima dos matérias e o levou até a pia junto com toda a cartela. Ela olhou para mim com um sorriso antes de jogá-los todos na pia e ligar a torneira, deixando-os todos deslizarem pelo cano e se perderem pelo esgoto.

— Você não fez isso. — Eu cuspi as palavras com raiva. — Agora vai ter que esperar meses até que o remédio seja feito de novo, você sabe o que isso vai causar com você, Celeste.

— Eu já disse que não posso mais tomar esses remédios. — Disse com convicção, que por um momento eu cheguei a acreditar em suas palavras.

— Claro que você pode, você devia mais do que tudo, tomar aqueles remédios. — Eu gritei me exaltando.

— A doutora Miranda disse que eles não iriam me fazer mais bem, será que você não entende isso? — Ela gritou com raiva.

— Me dê um bom motivo para ela poder ter dito isso, em algum outro universo paralelo.

Ela olhou para mim com raiva por não acreditar nela.

— PORQUE EU ESTOU GRAVIDA. — Ela gritou e mordeu os lábios com toda a força impedindo as lágrimas de vir.

Meus olhos travaram nela e eu fiquei sem reação. Parado bem ali, olhando para seus olhos enquanto meu cérebro tentava processar a informação.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Will? — Ela se ergueu um pouquinho sobre o balcão e ficou me olhando.

Ela movimentou a cabeça para um lado, e para o outro mas eu estava petrificado.

— Will? — Ela tentou mais uma vez e assentiu com a cabeça. — Tudo bem, quando você estiver pronto. — Ela pegou um livro de jornalismo e começou a folhear enquanto eu ainda estava olhando para ela paralisado.

Fiquei um tempinho assim e ela me olhou novamente se certificando se eu estava bem.

— Você quer um copo de água?

— Não eu… eu… to bem. — Eu disse ainda sem acreditar. — Mas, eu não entendo... o que? — Eu disse cambaleando para trás, como se tivesse acabado de ser atingido com um tijolo. — Nós usamos camisinha. Eu tenho certeza que todas as vezes nós usamos a camisinha, eu não entendo como… Não consigo compreender como…

— Camisinha não funciona todas as vezes, são poucas as chances, mas pode acontecer.

— O que? — Eu disse ainda meio sem acreditar. — Com toda essa tecnologia, e a camisinha não funciona as vezes? — Eu disse meio assustado.

— É o que parece.

— Eles deviam por isso na camisinha.

— Mas eles põem. — Ela disse me olhando como se eu fosse louco.

— O que? — Eu disse retirando minha carteira do bolso. — Não eles não põem. — Peguei uma me certificando se realmente havia. E sim, havia.

— ELES DEVIAM POR ISSO EM LETRAS ENGARRAFADAS. — Eu disse pegando meu celular dentro do bolso. — Eu vou ligar para lá, e fazer uma reclamação.

— E dizer o que? — Ela olhou para mim como se eu fosse um idiota. — Alô, aqui é o Will, e minha namorada está gravida, será que tem como vocês reverterem isso? Ah, mais uma coisa, não se esqueçam de pôr a informação em letras engarrafadas que a camisinha só funciona em 97% dos casos. — Ela passou a mão pelos cabelos.

— Mas Celeste…

— E aí está meu Brasil, o motivo de eu não querer contar.

Analisei o que ela tinha dito e percebi que nem quando Emily havia me contado, eu havia me desesperado tanto. Mas com Emily eu tive meio que a razão. Ela logo após de me dar a notícia me certificou que eu não era o pai. Com Celeste o assunto era totalmente diferente.

— Me desculpe, é só um pouco de informação para processar. — Eu bati de leve a cabeça no armário. — Você tem certeza?

Ela se levantou do banco, e caminhou até uma gaveta do armário onde guardávamos os panos de prato. Tirou alguns deles de lá e pegou o que parecia ser uma fitinha branca e azul. Segurei aquilo sem entender, nessa fitinha havia um espaço todo colorido de rosa mais claro, e nesta haviam duas risquinhas rosas mais escuras.

Olhei para ela que parecia apavorada e soltei um suspiro longo. Minha mão deslizou lentamente até a sua e eu a puxei para um abraço demonstrando que estava tudo bem com aquilo.

— Então quer dizer que tem um mini eu e um mini você crescendo ai? — Eu perguntei sentindo o cheiro de menta que vinha de seus cabelos.

— Eu sei que é horrível, mas… — Ela disse com voz de choro.

— Ei, ei. — Eu a empurrei para que ela pudesse olhar nos meus olhos. — Não é horrível. É a coisa mais linda de todas e está bem aqui. — Eu encostei minha mão em sua barriga mais para o lado onde ficava o seu útero (o fato de eu saber onde fica o útero dela, tem a ver com uma conversa que nós tivemos a muito tempo.)

— Mas vai arruinar com tudo, você está começando com a faculdade agora e queria sair em turnê e tudo mais, e agora…

Aquilo me assustou por um momento mas logo após eu relaxei vendo as outras consequências que vinham juntas aquela.

— Cely, está tudo bem. — Eu beijei sua testa. — Eu sei que pode ser assustador, principalmente para nós dois, mas você está me dando um filho, e ele vai ser a pessoa mais maravilhosa em nossas vidas. Vai dar tudo certo, temos uma vida enorme pela frente e vamos dar todo o amor do mundo para essa criança.

Ela piscou os olhos e deixou algumas lágrimas escorrerem pelo rosto, que eu tive o prazer de limpar com os meus dedos.

— Como você pode ser real? — Ela abaixou a cabeça me envolvendo em um abraço e eu acolhi aquele seu corpo miúdo.

— Do mesmo jeito que você é.

— Lembra uma vez quando você disse que você não era bom o suficiente para mim? — Ela disse me despertando uma memória muito antiga.

— Me lembro como se fosse ontem.

— Eu, é que não sou boa o suficiente para você Will. — Ela disse e eu deixei aquelas palavras nos rodearem pela noite. Tentando acalmar aquelas lágrimas que desciam de seu rosto, junto com a chuva lá de fora.

***

Acordei aquela manhã bem cedinho para levar Celeste ao médico.

Caminhei lentamente pela casa até encontrar o banheiro.

Celeste já estava tomando banho, e nem se importava mais com o fato de eu a ver nua como ela se preocupava a um ano atrás, quando éramos apenas colegas de casa.

Peguei minha escova de dentes e comecei a escovar os dentes, ainda meio sonâmbulo olhando para seu corpo que eu já estava familiarizado; contudo, eu nunca tinha realmente me focado nas suas tatuagens que estampavam a maior parte do seu corpo.

A primeira dela começava bem na nuca, e descia até a metade de suas costas em centenas de flores meia azuladas. Depois haviam duas frases em sua costela do lado direito que estavam escritas em uma tinta preta com uma letra informal. Depois haviam uma bem no cóccix que era uma bússola, indicando para o norte, e bem ao meio havia o símbolo de yin-yang.

Enxaguei a minha boca, e continuei olhando para aquelas marcas esparramadas pelo seu corpo.

— Sim, eu vou ficar mais gorda. — Ela disse como se essa fosse a minha preocupação. — Meus peitos vão aumentar, minha bunda também, e talvez meus pés e mãos.

Eu ri.

— Não estou pensando nisso. — Encostei na porta. — Qual as histórias de suas tatuagens?

Ela desligou o chuveiro e pegou uma toalha se secando rapidamente e indo até mim.

— Essa aqui. — Ela se virou, puxando o cabelo molhado deixando as flores visíveis. — Fiz aos 15 anos com uma amiga minha que conheci um dia na rua. Podia ter pego AIDS ou alguma outra doença, mas não pensei nisso na época.

— Ela é muito bonita. — Passei a mão por cima e vi sua pele se estremecendo ao toque.

— A do cóccix eu fiz aos 16. Junto com as frases. — Ela passou a mão me mostrando.

I'm sorry if I smothered you.

I smotimes wish I'd stayed inside my mother.

— O que essas frases significam? — Eu desci meus dedos por aquelas frases.

— Nada demais. — Ela enrolou a toalha e subiu as escadas rapidamente.

Saímos do apartamento e demoramos um certo tempo para chegarmos a clínica já que o transito aquele dia estava um pouco turbulento. Eu e Celeste passamos o caminho debatendo coisas sobre bebe, e percebemos que sabíamos muita pouca coisa.

— É, seremos os melhores pais do mundo. — Eu disse enquanto estacionava o carro.

— A gente pode ler uns livros e tals. — Ela disse rindo. — Tipo no the sims.

— Você jogava The sims? — Eu disse desligando o carro e olhando indignado para ela.

— Quem nunca jogou the sims? — Ele disse e eu tive que levar em conta que era verdade.

— Então, você já pensou em qual dos dois você prefere? — Eu perguntei enquanto entrelaçava seus dedos aos meus.

— Qualquer um dos dois. — Ela disse convicta. — Acho que não tenho preferência.

— Acho que eu sou a mulher nessa relação. — Eu disse e olhei para ela que começou a rir.

— Qual você prefere? — Ela perguntou enquanto passávamos pela porta indo até a recepcionista.

— Uma menina. — Eu disse sorrindo. — Sem um pingo de dúvida.

Tivemos que esperar um tempinho pela doutora que estava demorando bastante para nos atender. Eu e Cely ficamos lendo alguns panfletos que falavam sobre maternidade, mas na maior parte só ficávamos tirando sarro de alguns exemplos de casais que faziam coisas ridículas na gravidez.

Conhecemos um enquanto estávamos lá, que a mulher já estava de seis meses. Ela e o seu marido estavam tendo aulas de maternidade, e aprendendo coisas como segurar o bebe e todas essas coisas. E eu vi o esforço que Celeste fazia para não começar a gargalhar da cara dos dois.

Quando entramos finalmente fomos chamados. Uma mulher com um cabelo loiro desbotado e de olhos pretos, nos levou para uma sala que havia uma maca gigante com aquele típico papel de presunto em cima.

Celeste foi encaminhada para uma salinha onde ela teve que tirar toda a sua roupa e colocar um avental fino e se deitar naquela maca. Ela foi coberta por um lençol e a medica introduziu um aparelho estranho para dentro dela, o que me deixou meio assustado no início, mas depois eu fui avisado que aquilo ocorreria daquela forma mesmo.

— Está vendo aqui? — A doutora Helena perguntou para nós.

— Sim. — Cely respondeu colocando uma mão em sua boca vendo que aquilo era realmente real, enquanto eu só conseguia ver um montão de borrados e linhas negras.

— Está bem no começo da gestação, diria que tem no máximo duas ou três semanas. — Ela disse. — Bem, Celeste e William, parabéns, vocês vão ser mesmo pais. — A medica sorriu e se levantou. — Vou dar a vocês um minuto.

Eu olhei para a tela do computador fazendo alguma cara estranha porque Cely me olhou preocupada.

— Will, eu sei que você está emocionado. — Ela disse e segurou a minha mão.

— Não é isso, eu não consigo ver. — Eu disse.

Ela soltou uma risada. Sua boa e velha risada.

— Puxe o computador para cá. — Ela disse e eu o fiz. — Está vendo aqui?

Eu olhei mas do mesmo jeito ainda não conseguia ver.

— Eu ainda não consigo ver. — Eu bati uma mão na minha testa.

— Ei, calma. — Ela suspirou. — Está vendo isso aqui? — Ela apontou para o que parecia ser um pontinho no meio do nada. — Isso aqui se parece com uma uva passa ou sei lá, um amendoim.

— Celeste, existe uma diferença bem grande entre um amendoim e uma uva passa. — Eu disse me sentindo o pior pai do mundo.

— Essa manchinha preta bem aqui. — Ela apontou e eu consegui ver.

Fiquei olhando aquele pequeno embrião que em alguns meses se tornaria o meu filho. A minha criança e parei para analisar o quanto de responsabilidade aquilo tomaria de mim. Eu com certeza teria que parar com as aulas de piano, e arrumar um emprego de verdade. Um emprego que talvez pudesse me fazer parar de ir a faculdade. Aquilo me deu um pequeno ataque de pânico.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Nós vamos ser pais. — Eu disse olhando assustado para o computador.

— Sim, nós vamos. — Ela disse enquanto nossas mãos ainda estavam entrelaçadas.

Eu conseguia sentir o agridoce que Celeste transmitia e imaginei uma criança com aqueles olhos castanhos. Com aqueles dois olhos gigantes castanhos, e um pouco da minha preocupação foi embora.

— Você não acha que é muita responsabilidade? — Ela perguntou sussurrando.

— Agora já é tarde demais para pensar nisso. — Eu disse e beijei o topo da sua cabeça. — Mas vamos ser os melhores pais de todos. — Entortei a boca. — Você já pensou em algum nome? — Eu perguntei olhando para o embrião.

— Bem, se for menina eu gosto de Sofia.

— Sofia da puta? — Eu disse sentindo que tinha estragado toda a magia do nome.

— Idiota. —Ela soltou a minha mão.

— Eu estou brincando. E pro menino?

— Felipe ou Guilherme. — Ela abaixou o olhar ainda brava comigo. — E você?

— Se for menina, eu gosto de Clarissa ou Luna. — Eu dei de ombros. — E menino acho Danilo ou Ian, dois bons nomes.

— Realmente são muito bons, mas temos bastante tempo para isso ainda. — Ela disse e nesse instante a doutora voltou nos explicando várias coisas que deveríamos saber sobre gravidez.

Meus pensamentos deviam ter focado somente nas palavras dela, mas enquanto ela falava a única coisa que martelava nos meus pensamentos era que eu seria pai.