Breath Of Life

Me Explique


–Então, nosso pai é um deus? - Charlie falou, como se quanto mais vezes ele repetisse essa mesma coisa, ela deixaria de ser verdade. Já era a 3 vez.

–Charlie, para de repetir isso. Nem eu demorei tanto assim para entender. - Falei, esfregando os olhos.

–Desculpe. - Ele falou e abaixou o rosto.

–Mas que tipo de deus? Grego, egípcio, romano, nórdico...? - Alex se manifestou pela primeira vez

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–Grego. Sua mãe já falou isso na explicação. Vocês não prestaram atenção em nada? - Ana falou indignada.


A sala ficou em silêncio. Alex e Charlie estavam com cara de quem estava pensando. Algo levemente raro para Charlie.


–Quem é nosso pai? - Charlie perguntou, e Alex assentiu e encarou a mãe.

–Isso vocês terão de descobrir. - A própria respondeu.


Silêncio novamente. Minha mãe estava demorando até demais. Resolvi ligar para ela. Peguei-o, e Rose se intrometeu na minha vida. Não estava gostando dela. Na verdade, eu sentia como se o mundo todo fosse irritante e me desanimasse.

–Semideuses não deviam ter celulares.

–Como se eu não soubesse me cuidar caso algo me atacasse. - Respondi ríspida. Não estava me importando de ser mal educada, e grossa.

–Giovanna, seja educada. - Ana (a pessoa que eu nunca pensei que dissesse isso) falou.

–Eu acabei de descobrir que meu namorado pode estar morto. Eu mal tive tempo de raciocinar um pouco, ou até sentir falta dele. Não me fale para ser educada uma hora dessas.


Me levantei do sofá, e subi as escadas segurando o choro. Cheguei ao meu quarto, e bati a porta atrás de mim. Me joguei na cama, e chorei até cair no sono.


POV Ana


Dramática. Era como Giovanna estava agindo. Claro, Nico morreu. Mas não havia razão para ela agir assim. Bom, talvez um pouco. Ok, ela tinha a razão. Então decidi deixá-la quieta no quarto dela, para ela pensar um pouco. Os três estavam com uma cara assustada, se entreolhando.


–E você? Não vai limpar a casa de sua mãe?


Olhei profundamente nos olhos de Alex. Quando percebi, eu já estava com uma vassoura na mão. A tia Rose já tinha ido e Charlie ria da cara de Alex. Mesmo eles tendo a mesma cara.


–Se te incomoda... - Entreguei.

–Não, estou bem. Obrigado.


Então me sentei nas escadas, cujas estavam cheias de pó. Alex e Charlie riam sozinhos e eu apenas relembrava o que tinha acabado de passar nos últimos 10 minutos.


Eu devia estar muito louca mesmo pra oferecer um abraço. Odeio abraços. São incômodos. E também revia os movimentos de Giovanna. O que me deixava com vontade de mudar de vida (mais ainda) apenas por minha coordenação não ser tão boa quanto a dos meus amigos. Aliás, Alex tinha uma coordenação ótima. No último passeio da escola ele tinha me...


–Ana Cristina! - Charlie berrou, me fazendo gritar de susto. Mas depois ri, porque as pessoas tentando falar meu nome são hilárias.

–O que você quer?

–Estou com fome.

–Eu tenho cara de quem tem o que comer?

–Leva a gente pra casa!

–Esperem.


Subi as escadas aos escorregos por culpa do pó. Peguei um papel, escrevi que estava nos garotos e coloquei embaixo da porta. Quando Giovanna acordasse ela iria pra lá.


–Vamos.


Andei 10 metros com os meninos e chegamos ao destino.


POV Giovanna


Vida ótima essa minha. Ainda bem que não tive nenhum sonho. Acordei quando o sol já estava com aquele rosa salmão esquisito. Me sentei na cama, e vi que tinha um papel embaixo da porta.


Levantei preguiçosamente, e peguei o papel. Era um bilhete de Ana, avisando que ela estava na casa dos meninos. Meu ânimo para ir pra lá era 0. Mas por outro lado não queria ficar sozinha em casa. Coloquei o papel em cima da escrivaninha, e fui para o banheiro.


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Fiquei 30 minutos no chuveiro pensando. E 5 minutos realmente tomando o banho. Coloquei uma regata e uma calça jeans. Coloquei um chinelo no pé e sai.


Cheguei lá, e a porta estava aberta. Corajosos. 3 semideuses dentro de uma casa. Eles riam muito. Credo, preciso parar de pensar desse jeito, pensei. Mesmo com a porta aberta, bati. Eles olharam pra mim, e seu sorriso sumiu.


–Oi Gi. - Ana falou voltando ao sorriso. - Entra e senta aqui.


Entrei timidamente como se nunca tivesse vindo ali. Me sentei ao lado de Ana. Eles estavam comendo chocolate e bebendo refrigerante.


–Eu queria pedir desculpas por ter tratado vocês daquele jeito lá em casa. - Comecei. - Vocês não tinham culpa de nada.

–Tudo bem. - Charlie falou. - Quer? - Ele apontou para a barra de chocolate, e eu não recusei. - Então, quem é o pai de vocês?

–Zeus. - Falei colocando vários pedaços de chocolate na boca.

–Sério? Aquele cara que sempre tá com um raio nas esculturas? - Alex falou admirado. Apenas assenti. - O deus dos deuses, e tudo mais? - Assenti novamente, só que dessa vez levemente irritada. - E o seu Ana?

–Poseidon. Sim, é aquele cara que segura um treco que parece um garfo.

–Pensei que fossem irmãs por parte de mãe ou pai. - Charlie de esperto não tem quase nada, foi tudo pra beleza.

–Cara, ela nem minha prima é direito.

–Mas Zeus não é irmão de Poseidon? - Falou algum dos dois. Não soube qual porque eu prestava atenção no chocolate.

–Parentesco divino não conta. Seria estranho se contasse. Eu ia namorar meu primo. - Falei fazendo uma expressão esquisita. Seria realmente estranho namorar meu primo. - Vocês vão pro acampamento com a gente. Né?

–Como assim, acampamento? - Novamente não sabia quem falava. Eu estava concentrada tentando fazer o chocolate parcialmente derretido não escorregar dos meus dedos.


Expliquei toda a coisa pra eles. Durante minha explicação, Ana falou cerca de 15 vezes que odiava lá. Acho que ela odiava tanto lá pelo sol excessivo, as pessoas suadas de tanto lutar, as filhas de Afrodite chatas e nojentas, os filhos de Apolo metidos, basicamente, ela odiava 95% do acampamento. Incluindo as pessoas. Depois de algumas horas conversando sobre basicamente tudo, minha mãe chegou em casa.


Combinamos com os meninos que eles iriam conosco amanhã para o acampamento. Foi bom ter essa conversa. Me distraiu um pouco, e me fez esquecer a tragédia que tinha ocorrido. Mas isso não durou 5 minutos a partir do fim da conversa.


–Então, o que fizeram hoje? - Minha mãe tentou ser simpática.

–Salvamos Charlie Alex e... Como chama a mãe deles? - Perguntei. Pesquisei em minha mente o momento que ela havia falado seu nome. Não me lembrei.

–Rose. - Ana falou mexendo no celular.

–Isso. Salvamos Alex Charlie e Rose, matei três Lâmias sozinha em menos de 5 minutos, descobri que meu namorado está morto... - Eu estava contando nos dedos os acontecimentos do dia.

–Espera um pouco. - Minha mãe falou fazendo um sinal de tempo. - Quem está morto?

–Nico. - Eu falei baixando o rosto.

–Eu sinto muito. Como foi isso?

–Ana, pode contar a ela? E-eu não estou mais com vontade de conversar. Ainda mais sobre isso. - A filha de Poseidon assentiu pesadamente. Ela contou tudo. Desde o susto que Hades nos dera, até a minha reação. Depois contou como foi nosso resgate aos vizinhos, e a minha grosseria com Rose.


–Eu não acredito que você tratou Rose daquele jeito Giovanna. - Minha mãe falou em desaprovação.

–Desculpe se eu estava irritada. - Silêncio levemente irritante. Mas confortável pra mim.

–Vamos comer alguma coisa? - Minha mãe falou tentando quebrar o gelo, como a maioria das pessoas diria.

–Eu não estou com fome. - Era verdade, eu não estava mentindo.

–É eu também não. - Ana falou. Para ela recusar comida, algo estava realmente muito errado com ela. Encarei-a, e ela apenas deu de ombros. O que ela tinha?

–Então tudo bem. Vou fazer algo para mim comer. - Minha mãe levantou, e foi para a cozinha.

–Ana, o que você tem?

–Nada. - Ela mentiu.

–Você está mentindo. - Ela baixou o rosto. - Bom, se precisar de mim estou no meu quarto.


Subi as escadas em silêncio. Fechei a porta do quarto normalmente, e me joguei na cama. O que eu ia fazer agora? Ele se foi. Ele era a minha motivação para continuar em pé, e seguir em frente. Ele sempre esteve ao meu lado. Agora que ele tinha ido, o que eu ia fazer em quase 3 meses no acampamento? Buscar meio-sangues junto com os sátiros?


Não sei quanto tempo eu fiquei me perguntando sobre isso. Sei que ri, chorei até soluçar, tentei me sufocar com uma almofada, entre outras coisas. Tudo isso sozinha. Alguém bateu na porta.


–Entra. - Falei me certificando de que não tinha nenhuma lágrima em meu rosto. Ana entrou no meu quarto. Ela nunca batia na porta. Ok, tinha algo errado com ela.


–O que você tem? - Eu repeti a pergunta. Ficar assim não era a cara dela. Quando a avó dela morreu, ela nem ficou triste.

–Nada. Eu só vim aqui saber se você está bem.

–Como eu já disse antes, não. Eu não estou bem.

–Porque?

–Preciso responder?

–Foi mal. Eu não sei lidar com essas coisas. - Ela disse levantando as mãos em rendição. - Ok. Se você precisar de mim é só me chamar. Eu estarei aqui do lado obviamente. Boa noite.

–Boa noite.


Voltei a ficar sozinha. Dessa vez eu dormi quase instantaneamente. Sonhos de semideuses eram uma droga. Eu odeio isso. Só serve pra piorar a situação das pessoas. Deixá-las mais confusas, tristes, com raiva, saudade, entre outras infernidades que tal coisa nos fazia.


Era um jardim. Rosas, girassóis, tulipas, e outras flores que eu conhecia. Minha mãe gostava muito de flores. Portanto eu conhecia algumas. As flores eram de cores incrivelmente vibrandes e chamativas sob a luz do sol. O sol não era quente pelo que eu sentia. E não parecia deixar alguém queimado. Eu estava sentada em um banco de pedra, mas sabia que estava dentro do que se pode chamar de mansão de Zeus. Não podia negar que aquilo tudo era lindo, e me fazia lembrar de algo. Talvez o cheiro intoxicante das flores, ou o excesso enorme de cores.


–Pensei que demoraria mais pra chegar. - Alguém disse atrás de mim. Me virei assustada e vi meu pai.


Ele estava com seu terno risca-de-giz escuro, cabelos com uma quantidade de gel que poderia ser usado em todo o chalé de Afrodite e talvez sobrar. Seu rosto estava como sempre sem nenhuma marca, olheiras, ou até um cravo invasor. Nada. O seu olhar percorria por todo o local rapida e nervosamente. Decidi não perguntar nada.


Mas então, quem eu seria agora: Elisabeth, ou Giovanna?


–Giovanna, ou Elisabeth? - Perguntei meio transtornada, e olhando para meu pai.


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Seu rosto envelheceu uns 5 anos, mas logo voltou ao normal.


–O que disse? - Ele se fez de desentendido.

–Você me ouviu pai. - Falei ríspida. - Você sabe o que está acontecendo.

–Tenho quase certeza que não sei.

–Não minta. - Falei e fiquei de costas pra ele, enquanto ele fazia uma cara esquisita. - O que mais está escondendo de mim?


E o deus se cala. Eu não sei o que sentia. Era uma pontada de ódio, tristeza. Minha vida parecia ter sido destruída. Perdi meu namorado, todos mentiam pra mim, e eu estava tendo um conflito de personalidades.


–Eu... Eu sinto muito por Nico. - Ele falou se sentando ao meu lado.

–Todos dizem que sentem muito. Mas só falam isso pra ver se me deixam melhor. - Maravilhosas lágrimas nos olhos.

–Eu sei disso. Mas prometo: explicarei tudo assim que der. Ok?

–Ok.

–Você tem que ir. - Você fala isso como se eu não tivesse soubesse, pensei. Mas decidi ficar quieta. - Terá um dia corrido amanhã. E bem estranho...

–Como assim "estranho"? - Tarde demais.


Ele fez um aceno de cabeça, e eu acordei.