SARAH POV

Ah meu Deus. Ele chegou tão perto. Tão perto. Encarei o caderno pela milésima vez naquele minuto e enxuguei mais uma lágrima com as costas da mão. Se Matteo descobrisse. O que faria? Seria mais um pra minha lista de ‘Odeio a Sarah’. Oh meu Deus. Matteo me odiaria.

Mas e se eu não contar? Nós estamos juntos. Vou esconder isso pra sempre? Talvez ele entenda. Se eu contar, do meu jeito. Matteo vai entender. Não vai? Se eu explicar direitinho, ele pode entender. Não pode?

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Ah, o que eu tenho que fazer? Esconder mais essa pode acabar com o que ainda tenho, mas contar a verdade também pode acabar com tudo.

Deus, o que eu faço?

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– Sarah? Sarah. – pulei da cadeira ao ouvir meu nome.

– Sim, Sr. Bachman. – endireitei meu corpo e olhei o professor.

– Ficou acordada até tarde ontem? Terminando seu trabalho de conclusão eu suponho. – ele perguntou antes de endireitar as hastes dos óculos.

– Cla-Claro. Tenho muito o que fazer.

– Eu imagino.

– O senhor não pode imaginar – eu murmurei no mesmo momento que o sinal tocou.

Pendurei a mochila do ombro e saí da sala. Não sabia ao certo se estava feliz ou triste por estar saindo dali. Sair significava que eu teria que ir para o Dinner, ou seja, Taylor odiando-me. Chad também, mas eu estava odiando-o tanto quanto ele estava me odiando. Então que se dane.

Entrei no Dinner pouco depois do meio dia. Chad olhou-me e virou a cara quando encarei-o. Bufei. Segui para a sala de funcionários e sorri quando vi Taylor. Ele tirou a camisa sem notar minha presença.

– Boa tarde. – minha voz saiu como um sussurro e eu forcei uma tosse. Taylor virou-se para me olhar.

– Boa... – ele disse apenas, antes de abrir seu armário. Jogou a camisa lá dentro e depois pegou outra.

– Não vai mesmo falar comigo? – perguntei sentando no banco em sua frente. Ele não respondeu e eu suspirei. – Tudo bem. – eu disse e depois sacudi a cabeça me levantando. – Na verdade, não está tudo bem. Poxa Tay, me perdoa, ok? Eu sinto muito, mas não fiz por mal. Quando Chad e eu começamos a ficar, você não tinha dito que gostava de mim, e eu nunca te dei esperança nenhuma, mas...

– Não é por você ter querido ele e não eu. É por ter escondido isso. Chad é meu melhor amigo e... Droga, você sabe o quanto gosto de você... E vocês ficam se pegando em minhas costas. Me enganando. Quantas vezes mentiram pra mim pra acobertar isso? – Taylor virou-se pra mim. Sua expressão era de mágoa e não raiva.

– O que quer que eu faça? Me diz... Eu faço qualquer coisa pra você para de me evitar. – eu sussurrei olhando-o.

– Sarah, só me deixa tá? Já basta ter que trabalhar com vocês dois. – Taylor falou fechando a porta do seu armário, antes de sair da sala.

Fiquei parada olhando os armários. Devo ter ficado lá por uns trinta minutos, até ouvir Jimmy me chamar pra ajudar.

As coisas não iam bem e eu não sabia muito bem o que fazer.

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Estava sentada no meu sofá. Estava me sentindo enjoada e meus cabelos estavam emaranhados em coque, cheio de gordura do Dinner. Desde que cheguei de lá, não havia conseguido levantar do sofá. O caderno de anotações do meu TCC estava em cima da mesinha de centro. Eu o olhava a cada dez segundos, tentando decidir o que fazer.

Estava cansada de tantos segredos. Tudo estava dando errado, e as coisas haviam sido colocadas equivocadamente. Não era assim. Eu não havia escondido de Chloe que Taylor era apaixonado por mim. Eu só não tinha contado a ela exatamente tudo. Ela sabia que Taylor gostava de mim, então porque estava tão brava? Taylor tem razão de estar bravo, mas... Ele precisa me perdoar. Eu não tinha dado esperanças a ele, e eu... Eu... Ok, talvez eu tenha pisado na bola.

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E quanto a Matteo? Eu devia continuar escondendo o real motivo de ter me aproximado dele? O que eu devia fazer?

Deus, me dá uma luz?

A campainha tocou interrompendo meus pensamentos. Levantei devagar e passei os dedos em meus cabelos. Girei a maçaneta e abri a porta.

– Oi. – ao ouvir sua voz senti meu peito doer, como se aquele fosse o sinal de que eu precisava. Meus olhos de repente começaram a vazar. Lágrimas e soluços brotaram de mim. – Rossa, calma. O que está acontecendo? Vai me contar. Já chega disso. Não posso mais te ver assim. – Matteo entrou em meu apartamento segurando minha mão. Afastei-me dele e estendi a mão pedindo para que esperasse.

– Só um segundo. – pedi fungando. Olhei-o e apertei os olhos. – Preciso te contar algo. Você precisa entender. Você vai entender, não vai? –eu perguntei e ele me olhou, seu rosto ficou triste de repente.

– Quer terminar comigo? Por causa do Taylor? Gosta dele, não é? – Matteo perguntou olhando-me e eu sacudi a cabeça.

– Não. Não Teo. Quero ficar com você. – eu disse e ele me olhou com expressão de confusão.

– Então, o que? O que houve? – ele perguntou e eu estendi a mão, apontando para o caderno em cima da mesa.

– Olha. - pedi.

– Seu trabalho? – Matteo perguntou encarando o caderno. Assenti. Matteo não entendeu e seguiu para a mesinha. Pegou o caderno e o abriu. Apertei os olhos. Matteo passou alguns minutos lendo-o. Inexpressivo. Até que o fechou e me olhou. – O que é isso? – ele perguntou calmamente.

– Meu trabalho. Era isso.

– Seu trabalho sou eu? – ele perguntou e sua voz de repente mudou.

Era. Era você.

– Como assim, Sarah? – ele perguntou e eu mordi o lábio ao ouvi-lo me chamar de Sarah.

– Deixa eu te explicar. – comecei. – Chloe tinha me dito que algumas pessoas estavam comentando sobre você. Sobre possíveis assassinatos. Eu não te conhecia. Tinha te visto no campus da Universidade. Não sabia nada sobre você. Precisava de alguma coisa pra meu trabalho. Resolvi investigar sobre o cara misterioso. Que era você.

– Por isso se aproximou de mim? Por causa do seu trabalho? – ele perguntou e eu me assustei como sua voz soou embargada. Matteo me olhou com um olhar acusador, e percebi que seus olhos estavam cheios de lágrimas.

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– Teo... Eu juro... Que abandonei isso depois que te conheci melhor.

– Tem tudo sobre mim aqui. Não parece que você parou depois que me conheceu melhor. Tem anotações sobre o jeito como falo e se pareço suspeito ou não. Dio mio. Você... Você estava fingindo pra conseguir um trabalho. - Matteo abriu o caderno novamente. A forma como ele falava era assustadora, pois não havia raiva ou ódio, ou qualquer coisa do tipo. Ele estava... Magoado. Assustado. Triste.

– Você precisa me entender...

– Preciso? Sarah, eu quero te entender. Eu... – Ele parou de falar pra passar a mão no rosto. – Isso... Isso é tão... Sarah, isso é pior do que a Isabela. – ele disse e eu demorei a entender, mas quando entendi quase gritei.

– Não!

– É... Isabela foi embora. Me deixou. Mas você...

– Eu não te conhecia!

– Sarah, não é por ter se aproximado de mim por causa de um trabalho. Que se dane isso! Eu não me importo. Eu passaria por cima disso, porque ele até serviu pra nos aproximar, mas... E depois? Porque continuou escrevendo? Eu ainda seria seu trabalho? O que ia dizer? – Matteo estava falando mais alto e isso em vez de me assustar me acalmou. Ele estava brigando comigo. E vê-lo com raiva era melhor do que vê-lo triste. Pelo menos naquele instante.

– Teo... Me escuta.

– O que? Escutar o que Sarah? A cada coisa que você fala só torna essa história toda pior. Você estava mentindo pra mim. Fingindo que se importava com essa minha droga de história quando na verdade só queria mais texto pro seu trabalho.

– Não, juro que não era isso.

– Então o que era? Porque continuou escrevendo? – Ele perguntou com a voz triste. Como se implorasse pra que eu tivesse uma explicação plausível. Eu ia começar a falar quando ele estendeu a mão para que eu parasse. Abriu o caderno e o folheou, até começar a ler. – “Enfim descobri a história. Matteo não matou ninguém. Ele disse. Duas garotas o incriminaram pelo assassinato de sua irmã, Giulia Bellucci. Sinto que é verdade. Ele pareceu tão sincero e triste. Acho que é o fim da minha investigação com o italiano. Ou talvez não.” – Matteo leu em voz alta. Sua voz soou rouca e de repente lembrei-me do cara que ele costumava ser no começo. Misterioso, seguro de si mesmo. Agora ele parecia mais vulnerável, mas ainda assim senti que ele queria me mostrar que era assim que ele seria de agora em diante. Matteo me acordou da divagação com a batida do livro na mesa. Olhei-o sentindo lágrimas escorrerem dos meus olhos.

– Matteo...

– Sarah... Eu... Eu vou embora. – ele disse me interrompendo.

– Não por favor.

– Sarah. Por favor. Eu vou embora. – ele me olhou e eu e afastei. Acho que nunca iria esquecer o jeito como me olhou. Os olhos negros expressivos, ao mesmo tempo perdidos e magoados. Deixei-o passar, ele andou para fora do apartamento e antes de sair por completo girou o corpo devagar para me olhar. – Foi por isso que nunca disse... Não disse que me a... Esquece. Acho que eu me precipitei. - Ele deu um sorriso triste.

– Não, eu... – Matteo deu as costas e foi embora antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa. Eu sabia do que ele estava falando. E agora, sentindo que era o fim de nós dois, tive a mais completa certeza de que deveria ter falado.

Eu devia ter dito que eu...

Eu o amava.