O dia amanhaceu morto, frio e cinzento. O sol em nenhum momento se atreveu a aparecer, pois sua presença não era apropriada.
Dentre todas as pessoas que ficaram tristes pela notícia que invadiu a mansão, Sebastian Michaelis aparentava ser o que menos se importava.

Apenas aparentava.

Ficava sério e não emitia um único som de questionamento enquanto ajudava Meyrin guardar suas coisas nas malas, por ordem de Ciel. Enquanto seus dedos deslizavam pelo macio tecido do vestido vermelho de Meyrin, ele sentiu um nó formar-se em sua garganta. Dobrou a roupa de olhos fechados e sentiu mãos cálidas tirarem o vestido de si. Viu Meyrin guardá-lo em sua mala, mas a tampa não fechava. Ela tentou de todas as formas fechá-la, mas não conseguia.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Meyrin achou que aquilo era um sinal de que não deveria ir, o seu lugar era ali, ao lado de seus amigos.

Sebastian balançou a cabeça e tomando a frente dela, fechou a mala com muita facilidade. E notando a tristeza impregnada no rosto dela, achou melhor não entregar a maleta.

Seria muito mais difícil ela ter que carregar as próprias coisas.

Descendo os degraus da escada, Meyrin os achou mais longos e firmes o bastante para suportar sua tristeza e agonia.

Sebastian atrás dela, tinha a cabeça e o olhar baixos. Na porta de saída encontravam-se Finnian, chorando descontroladamente; Bard de braços cruzados sobre o peito, esforçando-se ao máximo para não deixar as lágrimas escorrerem; Ciel, com as pequeninas mãos apoiadas na bengala, assumindo uma postura ereta e elegante.

Meyrin cobriu o rosto com o cachecol e se aproximou de seus amigos para uma difícil despedida.

Finnian não conseguiu se conter e foi o primeiro a dar um forte e molhado abraço em Meyrin. Bard demonstrou que seu coração não era feito de pedra e também se juntou àquele abraço reconfortante e os três compartilharam as lágrimas.

Sebastian ficou ao lado de Ciel e observou a carruagem pequenina no horizonte se aproximar e aumentar à medida em que se aproximava. Ele a achou estranhamente grande. O cocheiro jogou o restinho do cigarro fora e esperou. Ficou tão entrertido naquele sujeito, que nem percebeu Meyrin se aproximar dos dois e dirigir a atenção ao conde.

Ela engoliu o choro e Ciel deu um sorriso, entregando-lhe um envelope.

– O que é isso, jovem mestre?

– Seu pagamento - disse Ciel, sem saber o que dizer.

Meyrin não pegou o envelope, e tirou os óculos de seu rosto e os entregou ao conde, que recebeu de bom grado mas sem entender direito o verdadeiro motivo. Na verdade o motivo ele sabia muito bem qual eral, só não quis acreditar. Chegou finalmente a vez de Sebastian, que ao contrário de Ciel, ele tinha muito o que falar. Mas não sabia qual a melhor se aplicaria àquele momento.

Ele enrolou os dedos com mais força ao apoio da maleta, hesitando em entregá-la. Ficou mais difícil ainda ceder enquanto Meyrin estava à sua frente, ocultando o rosto.

Sebastian também não queria que a última vez em que os dois se vissem, fosse baseada em ações que comprometeriam todos os alegres e belos momentos em que os dois passaram juntos.

Ele não emitiu uma única palavra mas se Meyrin o visse agora, perceberia que todas aquelas palavras que antes ocultas pela sua boca, agora eram reveladas pelo silêncio de seu olhar.

Sebastian resolveu por um fim naquilo e passou por Meyrin, indo em direção a carruagem. Abriu a porta bruscamente e jogou a maleta ali dentro.

Meyrin não se surpreendeu com a sua atitude e entrando no transporte, deu seu último aceno para os empregados da Mansão. A carruagem sumiu entre a densa neblina e os sons das rodas na neve não foi mais ouvido.

Todos entraram. Finnian não conseguia se concentrar nas suas atividades e o termo poderia ser aplicado também em Bard e Ciel.

Sebastian ficou só e subiu novamente a escada, mas parou por um momento. Seu pé afundou na madeira, causando um buraco no degrau que acabara de pisar. Ele se lembrou do dia anterior, quando Meyrin fez tal estrago. Por estar apressado para entregar o chá ao jovem mestre, Sebastian não conseguiu arrumar direito o buraco.

Ele ficou imóvel e em vez de consertar aquilo, sentou-se ao lado e pôs-se à observá-lo até quando a noite sacudiu toda a mansão.
De fato, era um terrível dia de inverno.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!