Borboletas Errantes

LARVAE (parte IV)


\"Pareciam uma família. E foi isso que vieram a se tornar em pouco tempo.

No início, tudo é maravilhoso.

Apenas no início.\"

LARVAE (parte IV)

Passa-se um tempo e os ânimos se alteram. O homem gentil e prestativo revelou-se um indivíduo problemático, devido aos vícios. Nutria um doentio vício pelo cigarro e uma afeição imensa pelas bebidas alcoólicas.

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Devo mencionar, para melhor compreensão, que o garoto era portador de vários distúrbios alérgicos e pulmonares, herdados talvez geneticamente ou pelo fato de ser gerado por uma pessoa de idade avançada. Isso lhe renderia muitas crises repentinas e muitas estadias num hospital. O hábito de fumar do homem, agora padrasto de Davi, só agravaria essas crises. Não será necessário que eu comente aqui e agora sobre o alcoolismo. Isso fica para um momento propício.

Embora os problemas de saúde fossem consideráveis, outros mais alarmantes estão por vir. Se você não quer conhecer uma história aparentemente triste, peço que pare agora de me acompanhar. Caso esteja preparado, prossiga. Mas aviso que a história não acabará. Garanto-lhe o início e o meio dela. O final nem eu mesmo sei, e só uma pessoa poderá concluí-la.

Você é capaz de imaginar quem?

Acertou.

A gentileza de Lúcio e suas boas intenções despertaram em Ana um sentimento semelhante ao amor. Não sei ao certo o grau de sentimento que ela desenvolveu, mesmo porque não tenho controle sobre os sentimentos das pessoas. Davi em breve viria a sentir algo semelhante, mas a duração desse sentimento seria mais curta. As crianças podem ser imaturas, mas com certeza seu poder de percepção é muito maior que o de um adulto. Existem coisas que passam despercebidas aos olhos das pessoas e que rapidamente as crianças conseguem compreender. A mãe do garoto amava Lúcio, isso talvez seja o fator principal e também a razão mais coerente do porquê viriam a sofrer tanto.

O tempo passa. As pessoas mudam.

Para dar continuidade à história, vamos dar um salto no tempo. Iremos agora para o ano de 1996. Davi já completara seus cinco anos. Antes, será necessário, para sua compreensão, retratar uma das cenas que se tornaram tão cotidianas para Davi que repetiam-se quase que diariamente. Mencionar que após cerca de um ano de convivência com o então padrasto, os problemas tornaram-se mas freqüentes. Os de saúde também, mas refiro-me especialmente a outro tipo de problema. Me refiro a este tipo de problema:

- Onde você estava? - perguntou Ana, ao ver o marido chegar em casa, em um horário que já não era mais nobre para quem saía do trabalho a cerca de 5 horas atrás.

- Vá se ferrar - disse Lúcio, cambaleante, expressando claramente que estava bêbado.

“Não é assim que as coisas devem ser”, falou Ana, aproximando-se do marido para tentar ajudar ele a ficar de pé e levá-lo para um banho frio. Enquanto isso, Davi estava no sofá, onde, até alguns minutos atrás, assistia televisão. Sua diversão foi interrompida pela chegada do padrasto.

- Me solta! - disparou Lúcio, quando Ana o pegou pelo braço.

- Eu só quero ajudar a ...

- Não preciso de ajuda! Não sou uma criança!

- Não é criança mas se comporta como uma. - estas foram as palavras da mulher - quando quiser sair depois do trabalho, avise. E não volte nesse estado pra estragar o meu dia. Eu não quero ter que dormir com um bêbado metido a esperto, que nem consegue ficar de pé e ainda recusa ajuda. - sua face já deixava escorrer uma lágrima pelo canto do olho - Cresça! Eu não saí da minha casa pra viver com um traste infeliz que só sabe viver em um bar! Você não...

Ana não conseguiu terminar seu desabafo. Um estampido lançou-se pelo ar e um punho cerrado atingiu seu rosto.

Davi viu a mãe em seu estigma. A única coisa que fez foi correr. Correu para o quarto, o único refúgio que encontrava enquanto novos estampidos vinham da sala. Fechou a porta e sentou-se de costas a ela. Encolheu-se. Aproximou os joelhos do rosto, quase que em posição fetal. Seus olhos encheram-se e o pranto iniciou. Ele sabia o acontecia do outro lado da porta. Já vira isso antes. E não foi uma única vez. No dia seguinte, sua mãe não iria para o trabalho, como em todas as outras vezes. Ele sofria calado, em seu pranto isolado, sem saber o que fazer.

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Você é capaz de imaginar o que uma criança de cinco anos sente ao ver a própria mãe machucada? Você pode imaginar ainda o fato de que, ao ver tudo isso acontecer, a criança sente-se um lixo por não conseguir fazer nada para evitar? A não ser que tenha passado por isso, certamente nem faz idéia do sofrimento que algo desse tipo pode trazer.

Foi ele quem pronunciou aquela palavra maldita, camuflada em uma simples sílaba, na rua, no centro da cidade. Foi graças àquela palavra que tudo isso estava acontecendo. Esta era a concepção do menino. Um menino de cinco anos que já se sentia a escória do mundo. Este era Davi. Esta era a realidade do sonhador e idealista que cativava a todos com apenas um sorriso. Um sorriso que nunca demonstrou o sofrimento e solidão que se escondiam por trás da expressão de felicidade. Uma realidade que ainda estava longe de ser o único problema com o qual se preocupar.

triste, né não?

eu não gostei nem um pouquinho de escrever esta última cena. Mas era necessário... Fazer o que? Nem tudo são rosas...

Mas, preparem-se... isto não é nem o início, o pior está por vir...

pra quem acompanhou até aqui, OBRIGADO!


beeijos

*rodopia e some*