Bom dia, Kurt

Kisses


– Algum sinal de Frank?

Blaine negou com a cabeça, se sentando ao lado oposto de Kurt.

Os homens estavam um horror. Ambos estavam com fome, sono, frio e qualquer outro sentimento de pré-existência que poderiam sentir em um cubículo de metros quadrados. Tudo o que queriam era sair daquele elevador e passar algumas horas relaxando em uma banheira com bolhas.

– Estou morrendo de sono. - Kurt assumiu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Então durma.

– Eu não vou dormir na frente de um estranho. - Disse com um sorriso na ponta dos lábios. Blaine levantou as sobrancelhas e acrescentou:

– Um estranho que era seu melhor amigo há algumas horas. - Gargalharam. - De qualquer jeito, acho que vou dormir um pouco também.

– Não, precisamos ficar acordados para caso Frank acorde. - Kurt cruzou os braços na altura do peito, não adiantando muito para convencer Blaine. - Vamos, por favor...

– Não faz beicinho.

– Por favor... - Kurt inclinou a cabeça enchendo seus lábios tentando esconder um sorriso que provavelmente viria segundos depois.

– Droga. - Blaine assentiu e se sentou com as pernas cruzadas para si. - O que faremos então? O jogo das perguntas perdeu a graça.

– Conhece outro jogo divertido? - Kurt se sentou igual ao moreno.

– Adolescentes? Só o jogo das perguntas e sete minutos no céu, o que provavelmente não funcionaria já que só temos dois jogares e nenhum lugar para jogar. - Kurt deu de ombros com o sorriso malicioso de Blaine.

– Eu gostei do jogo das perguntas... Talvez pudéssemos continuar.

– Sério, Kurt?

– Eu tentei. - Jogou os braços ao alto, voltando a encostar suas costas na parede fria do elevador. Nem se importava mais com as rugas que formaria nas roupas, apenas queria sair daquele maldito lugar.

Suspirou.

Fez beicinho.

– Você não vai me convencer assim...

Inclinou a cabeça e forçou ainda mais o beicinho em sua boca.

– Kurt...

Piscou rapidamente algumas vezes como se estivesse encantado.

– ...Quem foi o último a perguntar antes? - Blaine revirou os olhos, não acreditando que estava brincando desse maldito jogo. Tinha algumas lembranças de sua adolescência, mas nada muito forte e específico que viesse à lembrança agora.

– Eba. - Kurt voltou à sua posição inicial batendo palmas rapidamente.

– E você tem dez anos.

– Não importa. É sua vez de perguntar. - Blaine poderia dizer que Kurt tinha os olhos a brilhar. Ignorou os olhos azuis do homem em sua frente e pensou em uma pergunta.

– Qual seu esporte preferido?

– Não sei bem o nome... - Kurt fez uma careta.

– Descreva-o.

– Aquele qual você fica sentado não fazendo nada. - Blaine não conseguiu conter a risada. - Sou uma topeira. Em Lima tentei hipismo por algum tempo, mas acho que você ficar caindo do cavalo não era um sinal que você era bom naquilo.

– Parece que não. - Blaine respirou fundo se recuperando da crise de risos. - O meu talvez seja futebol americano, ou baseball. Ou lacrosse.

– Ou todos? - Kurt suspirou e Blaine assentiu com um pequeno sorriso nos lábios.

O mais novo assentiu para o castanho que era sua vez. Kurt pensou por algum tempo até vir com uma pergunta que fez Blaine se animar.

– Qual sua peça da Broadway favorita?

– A pergunta é qual não é minha favorita. - Kurt se convenceu com a pergunta e assentiu como se aquela também fosse sua resposta. Blaine pensou por mais alguns segundos e fez a pergunta mais obvia de todas. - O que você vai fazer quando sair desse elevador?

– Alimentar meu gato, provavelmente. Ele deve ter se transformado em um transformer, mesmo sabendo que isso não é fisicamente possível.

– Transformers são feitos de carro, cara.

– É, eu sei. - Kurt deu de ombros. - E você?

– Dormir, ou comer um cachorro-quente no caminho de casa.

– De madrugada?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Nova Iorque, Kurt. Você consegue uma refeição inteira se quiser na cidade esse horário. - Blaine sorriu torto ao ver Kurt se dar por vencido.

– Com quantos anos você quer se casar? - Kurt emendou a pergunta na resposta do moreno.

– Vinte e dois.

– Mas você tem vinte e cinco...

– Pois é. - Blaine fez uma cara de triste que fez Kurt gargalhar.

Então o sorriso foi se desfazendo enquanto o silêncio se instalava. Blaine sabia que era sua vez de perguntar, mas só conseguia ficar frisado naqueles olhos azuis semicerrados por causa da gargalhada de Kurt. E então ele começou a corar.

– É sua vez de perguntar. - Retirou os olhos de Kurt.

– Qual é o seu número de telefone? - Perguntou ainda obcecado por aqueles olhos. Kurt levantou a sobrancelha em curiosidade, porém Blaine completou antes que o castanho pudesse perguntar alguma coisa. - Porque eu vou querer te ligar depois de sair daqui. - Kurt abriu a boca para falar alguma coisa, mas Blaine continuou. - E você não pode negar, porque esse é o jogo das perguntas, e a única regra é que você é obrigado a responder.

– Você consegue ser persuasivo. - Sorriu de lado. - Você tem uma caneta?

Blaine pegou dentro de sua maleta um pedaço de papel e uma caneta dourada, onde Kurt escreveu seu número de telefone. Blaine pegou o papel de volta, rasgou a parte em branco e escreveu o seu, entregando para o mais velho.

– Quais são as cores dos seus olhos? - Kurt perguntou dessa vez.

– Ei, essa era minha próxima pergunta.

– Você vai ter que arranjar outra. - Sorriu sem perceber. - Estou há horas tentando decifrar, mas ainda não consigo.

– Bom, sua pergunta vem com múltiplas respostas. No sol ele fica verde, em um dia normal fica entre o esverdeado e o mel. Em um elevador de madrugada? Talvez castanho claro.

– Justo. - Kurt sorriu.

– Os seus?

– Seguindo a linha de raciocínio, no sol ele fica um verde-água. Em um dia normal azul, e no elevador de madrugada, ué, me diga você. - Desafiou.

– Estou tentando decifrar. - Blaine se inclinou chegando perto do rosto de Kurt. - Talvez um turquesa? Me arrisco a dizer, talvez, um ciano.

Sorriu torto e voltou ao seu lugar. Talvez Kurt tivesse parado de respirar enquanto Blaine estava perto. Apenas talvez. O silêncio se instalou enquanto Blaine procurava uma nova pergunta.

– Me conte a primeira piada que vier à sua cabeça.

– Puts. Eu sou péssimo com piadas.

– Tente.

– Não, sério. Eu só consigo pensar naquelas de pontinhos, e rapidamente uma de português que me lembro dos feriados de Ação de Graças com minha família.

– Estou esperando... - Blaine soltou um sorriso encantador.

– Você não pode me convencer com esse sorriso.

– Talvez eu possa. - Sorriu ainda mais e Kurt podia jurar que estava começando a derreter naquele cubículo. Desviou o olhar do rosto de Blaine e pensou em uma piada rápida. - E então...?

– Lembrei de uma, mas é horrível. Isso vai estragar tudo que você construiu de mim até agora. - Blaine insistiu. - Tudo bem, mas estou esperando a sua. Meu pai me contava essa piada quando eu tinha dez anos, e na época parecia muito engraçada. - Tomou coragem. - É mais ou menos assim "qual é a pessoa que mais toma água no mundo?", e você pergunta quem, eu respondo que é "o Otávio", porque sempre passam aqueles caminhões pipa escritos "agua potávio".

– Nossa, Kurt. - Blaine escondeu o rosto nas mãos e gargalhou alto. - Essa piada é horrível, você não se envergonha de contá-la por aí? - Blaine tinha lágrimas nos olhos de tanto rir.

– Tudo bem, mestre das piadas. Conte a sua. - Cruzou os braços na altura do peito, desafiando Blaine para um combate.

– Ok. - Suspirou se acalmando da crise anterior. - Por que o pinheiro não se perde na floresta?

– Não sei... Por quê? - Kurt sequer parou para pensar.

– Porque ele tem uma pinha. - Kurt levantou a sobrancelha. - Uma pinha. Pinha, um mapinha. Qual é, Kurt.

– Uma pinha...?

Kurt tentava entender, até que tudo ficou claro em sua mente. Um sorriso começou a brotar nos lábios do castanho que finalmente gritou de rir, assustando o moreno. Kurt ficou gargalhando por alguns bons minutos, e Blaine adorou ver Kurt daquele jeito. O castanho tinha lágrimas nos olhos e toda vez que conseguia parar de rir se lembrava da piada e voltava à estaca zero. Não ria porque havia sido boa, ria porque havia sido a pior piada que ele escutara até hoje.

Blaine adorou o som da risada de Kurt.

Em fato, era a primeira vez que tinha adorado ficar preso naquele elevador com o castanho. Com Kurt falando sobre gardênias, ou sobre sua vida naquele cubículo, confiando em Blaine... Ou sobre Kurt adorar gatos, ou sobre os olhos de Kurt ter as cores indecifráveis... Blaine achou tudo adorável. Confiou em Kurt.

Kurt colocou a mão na barriga que doía de tanto rir, porém havia parado.

– Louis.

– Oi?

– Meu nome. Blaine Louis Anderson.

– Louis... Como o astronauta?

– É.

– Como o integrante do One Direction?

– É.

– Legal.

– Legal. - Blaine repetiu e deu um sorriso fraco.

– Isso significa que passei no teste de ser merecedor de saber seu sobrenome? - Kurt fez uma cara sacana.

– Qualquer um que achar graça na piada do mapinha merece saber.

– Mas é que... - Um sorriso brotou nos lábios de Kurt. - ...Uma pinha... Um mapinha... - E Kurt caía na gargalhada novamente, com lágrimas inclusas.

– E lá vamos nós... - Blaine se encostou na parede, desistindo de ter qualquer tipo de conversa consciente com o maluco que havia ficado preso no elevador. O maníaco dos mapinhas.

Blaine não admitia, mas estava totalmente encantado com o homem em sua frente. O som de sua risada, o jeito que franzia o cenho quando ouvia as perguntas de Blaine... Tudo fazia sentido naquele homem. Decidiu acabar o silêncio com outra pergunta: - Quais aulas extracurriculares você fazia na escola?

– Ei, é minha vez de perguntar.

– Você perdeu esse direito quando ficou minutos rindo sobre a piada. - Viu Kurt fazer beicinho, só que dessa vez ele não funcionou. - Então?

– Eu fazia parte do clube de canto da minha escola, das aulas de costura e culinária para leigos - porque quem se matricula nesse curso não sabendo diferenciar um ovo pochê de um ovo cozido é um leigo. - Deu de ombros ao ver que Blaine não saberia diferenciá-los. - E você?

– Fazia parte da liga dos esportes, lacrosse, futebol americano... Fundei o clube da luta, qual não podemos conversar sobre... - Kurt assentiu. - E, por incrível que pareça, participava do clube de canto também.

– Mesmo? - Perguntou o Hummel admirável.

– O quê? Vocês de Lima nunca ouviram falar do solista tenor da Academia Dalton que canta como um anjo? - Blaine deu seu melhor olhar convencido.

– Então era você o almofadinha que falavam as más línguas? - Gargalhou ao ver o sorriso de Blaine se desfazer. - Espera, seu pai não era de Connecticut? Como você foi parar estudando em Westerville?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– A Academia Dalton era um colégio interno. - Kurt assentiu. - Sua vez.

– Quero que você cante um trecho de uma música pra mim.

– Isso não é uma pergunta.

– Canta e não resmunga. - Kurt disse firme e Blaine viu que não conseguiria convencê-lo do contrário. Suspirou e pensou em uma música que gostava, e então cantou.

How can I just let you walk away? Just let you leave without a trace? When I stand here taking every breath with you, ohoo.– Engoliu seco. Cantava de olhos fechados e não pôde ver os olhos de Kurt se enchendo de brilho. - You're the only one who really knew me at all. – Abriu os olhos e viu Kurt sorrindo, fazendo sinal para continuar a música. - How can you just walk away from me? When all I can do is watch you leave? 'Cause we shared the laughter and the pain, and even shared the tears. – Blaine não conseguia dizer... Mas os olhos de Kurt estavam ficando marejados...? - You're the only one who really knew me at all. So take a look at me now. Cause there's just an empty space. And there's nothing left here to remind me just the memory of your face... - Blaine fechou os olhos e cantou com o coração. – So take a look at me now. 'Cause there's just an empty space. And you coming back to me is against all odds and that's what I've gotta face, ohoo... - Blaine abriu os olhos um pouco corado ao ver Kurt com um sorriso enorme no rosto. - ...É mais ou menos isso. Ficaria melhor com um piano no fundo.

– Você toca piano?

– Sim. - Sorriu para o chão. - E violão, violino, bandolim, gaita e bateria...

– Nossa. - Kurt parecia surpreso. - S-sua voz é maravilhosa, e você não poderia ter escolhido música melhor... Phill Collins... A-até me arrepiei. - Sorriu sincero.

– Sua vez de cantar.

– Tudo bem, só não se assuste, sou um contratenor. - Sorriu e tomou fôlego. - Someone to hold you too close, someone to hurt you too deep. Someone to sit in you chair, to ruin your sleep. – Kurt cantava de olhos fechados, com toda a emoção que poderia tirar de um rapaz preso em um elevador por horas. - Someone to need you too much, someone to know you too well. Someone to pull you up short, to put you through hell. - Os pêlos do braço de Blaine se arrepiaram com a música. Era como se sentisse sua infância novamente, e poderia pedir para Kurt nunca mais parar de cantar. Suspirou fundo e deixou seus sentimentos se levarem. Sorriu inconsciente. - Someone you have to let in, someone whose feelings you spare. Someone who, like it or not, will want you to share a little, a lot. – Kurt abriu os olhos e encontrou Blaine com os olhos marejados, o olhando com um sorriso enorme. Se Kurt não o conhecesse, poderia dizer que estava apaixonado. Seguiu o sinal de Blaine e continuou. - Someone to crowd you with love, someone to force you to care. Someone to make you come throught, who'll always be there, as frightened as you of being alive. Being alive, being alive. – Kurt sorriu para o colega de elevador. - Being aliveee... - Suspirou com a música. - Acho que me empolguei no último verso...

Blaine ainda tinha os olhos fixados em Kurt, lembrando da maneira que ele cantou aquela música... E por que aquela música? Por que, de todas as pessoas daquele prédio, Kurt? Por que o elevador parar exatamente com os dois ali dentro, ou por que de exatamente os dois terem se atrasado naquele dia... Tantos porquês.

Kurt não viu o estado que Blaine estava, apenas viu os olhos verdes um pouco marejados, mas Being Alive era o tipo de música que arrepiava qualquer um. - Sua vez.

– Posso te beijar?

– Como? - Perguntou assustado.

– Posso te beijar?

– E-essa é a sua pergunta?

– É. - Blaine tinha os olhos fixos em Kurt e piscava lentamente. Poderia parecer um psicopata maluco, mas para Kurt, parecia perfeitamente adequado.

– P-pode.

Blaine se inclinou fechando os olhos e alcançou os lábios do Hummel.

Sabe aquelas histórias clichês que sempre contam que o primeiro beijo do casal principal se encaixou perfeitamente, que as bocas se conectaram e ambos sentiram o mesmo calor no corpo? Nota-se como isso é clichê? ...E por mais clichê que fosse, acontecera exatamente isso com os dois personagens dessa história.

Blaine aproveitou para levar sua mão ao rosto do Hummel, enquanto Kurt colocava a sua sobre a nuca de Blaine, o puxando mais para perto. Era estranho saber que estava beijando o cara que havia ficado preso consigo no elevador, mas isso era tudo que eles não pensavam naquele momento. Ao se separarem, ambos suspiram de tristeza.

– I-isso foi... É. - Kurt disse ainda de olhos fechados. Sua mão ainda estava na nuca de Blaine, e a mão do moreno ainda estava em seu rosto.

O castanho pode ver o homem em sua frente abrir os olhos lentamente, e o choque daqueles olhos verdes com o seu apenas o fez querer puxá-lo novamente para o beijo. Kurt suspirou e completou: - Minha vez de te perguntar agora... P-posso te beijar?

Blaine sorriu de uma maneira que esquentou o corpo inteiro de Kurt e se inclinou, selando os lábios novamente. Se os homens procuravam algo para fazer enquanto Frank não acordava, bom, eles haviam achado algo. E esse algo era bom demais, melhor que um jogo das perguntas, melhor que reclamar da vida. Era absolutamente bom.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.