Capítulo 47 - Wagamama

– Para de pensar nos outros um pouco, Hanako, e pensa em você! O que você quer? O que você precisa para ser feliz? Não precisa responder. É o Kaoru, não é? Eu sei só de olhar. Por que a maneira que você olha para ele… é a mesma maneira que eu olho.

— Aiko…

Sentadas uma ao lado da outra, Hanako e Aiko se encaravam com a compreensão mútua de tanto tempo mantendo firme os laços que tinham. Além disso, mais um sentimento as conectava. Um sentimento único que, sem saber, elas nutriam pelo mesmo garoto, há tanto tempo.

Hanako entendeu que a amiga estava disposta a deixar de lado aquele amor, que ela escondeu tão bem, durante tantos anos, apenas pelo seu bem. Mas, naquele momento, ela não conseguia encontrar nenhum argumento bom o suficiente para fazê-la desistir dessa ideia. Talvez… por que não quisesse encontrá-lo, também.

— Eu me sinto muito melhor depois de falar, Hanako! Muito obrigada! – Aiko disse, e abraçou Hanako com força, sorrindo ternamente. Era a primeira vez que ela se deixava ver assim. Levantou e girou os calcanhares, rodando o vestido negro ao redor. Olhou para cima, e notou alguma coisa. Deu um ínfimo sorriso para Hanako, e sumiu pelo lado oposto, correndo graciosamente.

Hanako estranhou, mas então ouviu passos. Era aquilo que Aiko estava vendo?

— Boa tarde, Hanako… - uma voz suave entoou. Ela virou o rosto, vendo Kaoru parado logo atrás dela. Ele vestia um terno, e seus cabelos sempre tão rebeldes estavam assentados, penteados, embora ainda se soltassem em alguns lados. Os olhos que eram tão cálidos e gentis, agora traziam uma ponta de melancolia, uma tristeza profunda. Talvez aquilo nunca mais fosse se apagar nele, como uma cicatriz.

— Boa tarde – Hanako respondeu, num tom de voz controlado.

— Nós podemos conversar? – ele indagou, sentando ao lado dela no lugar onde antes Aiko estava.

— Acho que sim – ela disse. Na verdade, esteve se preparando para isso desde que decidiu vir para este lugar. Sabia que encontraria Kaoru lá, e estava disposta a encará-lo de vez.

— Já faz um bom tempo desde que pudemos ficar assim, perto um do outro, não é? – ele comentou, parecendo hesitante.

— Sim. – Hanako não sabia mais o que dizer, e sua garganta ardia.

— Hanako-chan… Você e o Hikaru… vocês estão juntos, não estão? Eu vi vocês almoçando juntos outro dia. – Kaoru disse, impassível.

— Sim, nós estamos – Hanako respondeu, sem saber para que lado focar seu olhar. Embora tivesse certeza de que estar com Hikaru era o melhor para ela, falar disso para Kaoru fazia essa certeza balançar.

— Tem algo que eu quero dizer. – Kaoru recomeçou – Eu percebi que… eu sou egoísta demais. Nunca deixei você ver esse lado em mim, e tentei reprimir isso ao máximo, mas… é assim que as coisas são – ele disse de repente, juntando as mãos nas pernas, e olhando diretamente para o chão – Mesmo que tenha sido eu o único a largar a sua mão, ver que agora você está com outra pessoa… Eu não consigo suportar isso! – ele enterrou o rosto nas mãos, terminando de desarrumar os cabelos ruivos.

Hanako sobressaltou, sentindo seu coração acelerar perigosamente. Quando eles estavam juntos, dessa maneira, os sentimentos que Hanako sentiu naquela época retornavam todos, exatamente como eram. Isso era perigoso… isso era errado… mas por que? Por que eles tiveram que acabar separados dessa maneira?

— Kaoru-kun…eu realmente, realmente amei você. – ela disse, passando os dedos trêmulos pelas mechas curtas dos cabelos, que eram levadas ao seu rosto pela brisa – Eu não tenho dúvidas sobre isso, e sei que você também não tem. Você foi o primeiro garoto que eu amei de verdade. Eu sempre terei lembranças maravilhosas sobre nós dois, e elas são preciosas para mim. Mas eu não posso… eu não quero me machucar, eu não quero machucar ninguém. É melhor nós encerrarmos assim. – ela levantou, disposta a se afastar – E… se você quer saber… eu amo você, sim. Eu ainda amo muito você. Mas talvez… talvez não seja o suficiente.

Kaoru a segurou pelo pulso, forçando-a a ficar, e levantou da varanda também, ficando de frente para ela.

— Se… se eu somente… - Kaoru ergueu os olhos e fitou Hanako diretamente. Antes que pudesse se refrear, ele acariciou lentamente o rosto dela, passando pelo local onde antes lágrimas haviam corrido - Se eu somente a roubasse, e fugisse com você. Eu não iria ver você se tornar namorada do Hikaru…?

O coração de Hanako deu um doloroso solavanco, fazendo-a acordar. Ela se afastou de Kaoru, tirando a mão dele do seu rosto. Viu o semblante sofrido que ele fazia, mas isso não era justo com ela!

— P-por que você está dizendo isso? – ela indagou, soluçando, e uma nova crise de choro teve início. – Kaoru-kun… você escolheu a Yoko-san! Por isso eu tive que desistir de você. E então você vem aqui e me diz essas coisas agora? Por que…? Justo quando eu tinha me reerguido, e estava conseguindo esquecê-lo…! Eu já decidi seguir em frente com o Hikaru! Então… então não diga nada que vá abalar os meus sentimentos!

Antes que Hanako pudesse se virar e ir embora, Kaoru a puxou para um abraço. Segurou-a com força contra seu peito, impedindo-a de fugir, e sentiu-a soluçar contra a sua pele, com os ombros frágeis tremendo sem parar.

— Eu sei que sou egoísta e injusto. Eu senti que deveria amar Yoko, e recompensá-la de alguma forma… antes que tudo terminasse. Minha consciência estava certa de que isso era o correto a fazer, mas… cada vez que eu a via com o Hikaru… eu estava sofrendo! Eu sentia inveja dele, por poder ficar ao seu lado… eu sentia raiva… Eu comecei a perder o controle, Hanako! Assistindo de longe, em silêncio, você se tornar a namorada do Hikaru, eu percebi que eu não conseguiria suportar muito mais disso! Eu não posso mais mentir para mim mesmo! Eu te amo, Hanako!! – ele rosnou, e se afastou minimamente, erguendo o rosto de Hanako na direção do seu. O coração dela batia forte, parecendo prestes a sair. Sua mente se tornou turva, e a única coisa que ela via a sua frente era o dourados dos olhos desesperados de Kaoru, e os cabelos vermelhos dele cada vez mais perto, à medida que ele se inclinava na sua direção.

Os cabelos ruivos… os cabelos ruivos que ela tanto amava…