Bokura no Love Style

Capítulo 26 - Black Tie


— Por favor, me faça ser completamente sua.

Senti meu corpo todo entrando em ebulição, enquanto aspirava o perfume de Kaoru nas costas de sua camisa. Ele parecia trêmulo, mas plenamente em controle de suas ações. Nunca pensei que diria isso, mas eu me sentia segura em saber que ele também estava lutando para se controlar nesse momento.

Lentamente, ele virou de frente para mim, com os olhos brilhando de uma maneira que eu nunca havia visto em ninguém, segurando-me pelos ombros. Brilhavam de desejo, tive certeza por alguns segundos. Ele sorria fracamente, parecendo indeciso quanto a como proceder, e ao mesmo tempo determinado. Continuei parada, esperando que ele tomasse a iniciativa. Eu estava tão cheia de pensamentos e sensações que nem conseguia encontrar espaço para a vergonha e o constrangimento da situação.

Kaoru se aproximou, tocando com os lábios meu pescoço e me trazendo para mais perto. Reprimi o gemido que ardia em minha garganta, sentindo-me arrepiar. Esqueci momentaneamente como se respirava.

Sem deixar de tocar minha pele, ele chegou até meus lábios, tomando-os com necessidade quase irracional. Retribuí suas carícias, ficando nas pontas dos pés, com a sensação de saber exatamente o que fazer nesse instante. Era quase como se as instruções estivesse estado sempre ali, apenas esperando para serem utilizadas. Meu coração martelava tão forte que pensei que não iria aguentar. A minha respiração descompassada e ofegante se combinava com a de Kaoru, tornando-as uma só. Segurei seus cabelos com força, na nuca, trazendo-o ainda para mais perto de mim, se isso fosse mesmo possível. Ele apertava a base das minhas costas com força, traçando uma trilha de calor até minhas pernas, enquanto eu procurava pelos botões da sua camisa.

Por um momento, apenas um momento, imaginei que aquela seria a noite mais feliz da minha vida...

— Woooow!!! A Oba-san vai gostar mesmo de saber disso daqui!!! – Aquela voz irritante e fina que saiu dos meus pesadelos ecoou por todo o quarto, devolvendo-me à realidade. Kaoru soltou-me como reflexo, indo parar do outro lado do quarto. Meu rosto esquentou em questão de minutos, não de constrangimento, mas de pura e efervescente raiva.

Coloquei minha camisa branca no lugar, fechando os primeiros dois botões. Kaoru já estava impecavelmente vestido ao meu lado.

Fitei Izumi com irritação, sentindo a veia acima da testa latejar fortemente.

— Que tal irmos jantar? – indaguei, com calma e educação, sorrindo de maneira afetada, como as garotas dos comercias de margarina. Kaoru retribuiu ao meu sorriso, sem graça, e passamos direto por Izumi no corredor, ignorando a sua chantagem latente e silenciosa. Com ela eu me acertaria mais tarde... e provavelmente iria custar bem caro.

Durante o jantar, Izumi não parava de me fitar com aqueles seus enormes e odiosos olhos castanhos. Estive por um triz de enfiar todo o arroz do meu prato goela abaixo nela, só pra ver se continuava com aquele sorriso besta no canto da boca.

Tentei a todo o custo não trazer a mente aqueles instantes de agora a pouco, e imagino que Kaoru também, considerando a concentração dele no sukiyaki. Queria puxar algum assunto, para fazer com que Izumi esquecesse logo o que viu, e não contasse a ninguém, principalmente minha mãe.

— Aah... Hanako... anh... eu... – Kaoru pareceu ler meus pensamentos, tentando iniciar uma conversa – qual é a pulseira de que Izumi-chan estava falando à pouco?

— Pulseira? – refleti por alguns instantes, até perceber do que ele estava falando. Izumi aprumou-se na cadeira, com a atenção redobrada no assunto – Aaah! A pulseira de coração! Aquela que você encontrou quando perdi, e entregou a Haruhi para que ela me devolvesse, não lembra?

— Bem... é claro – ele respondeu, sorrindo sem jeito.

— Você até colocou um pingente novo pra mim... ele é tão lindo!

— Que bom que gostou...

— Comam logo antes que a carne esfrie – minha mãe disse radiante, servindo ainda mais a Kaoru, que nem havia terminado de comer a primeira.

Voltei a atenção ao sukiyaki, feliz por tudo estar indo tão bem.

-

Não está nada bem. Nada!!!

Onde eu estava com a cabeça quando aceitei ir nessa porcaria de jantar?

Olhei sem esperança para todo o meu guarda roupa, agora espalhado pelo chão do quarto. Nada! Absolutamente nada que pudesse ser usado na noite em que eu conheceria oficialmente a família do meu namorado.

Izumi ria, escorada na soleira da porta, usando uma das minhas blusas favoritas e segurando meu Pikachu de pelúcia – o resultado da sua barganha. O que estava acontecendo com essa garota? Ela era tão doce e comportada, antes de aprender a andar e falar... são os ares da cidade, com certeza. Ela queria muito ir ao jantar comigo, mas minha mãe iria viajar na sexta, à trabalho, e só voltaria na segunda-feira, e não havia possibilidade de conseguir controlar Izumi durante uma festa.

Segurei meu vestido azul, com estampa de flores. Era o melhor que eu tinha no momento, mesmo que ele tivesse aquele ar de praia... Talvez se eu fizesse algo com o cabelo, e usasse salto alto pra disfarçar...

Suspirando, eu o separei. Depois do banho, enrolei o cabelo cuidadosamente, e fiz uma maquiagem leve e improvisada. Izumi não parava de observar, e isso me deixava ainda mais nervosa.

Vesti-me, em tempo de ouvir a campainha tocar lá em baixo. Desci as pressas, com as sandálias nas mãos, para chegar lá antes de Izumi. Por pouco não rolei escada abaixo, mas ao que parece, meu dia já estava com drama suficiente para me poupar de um braço ou perna quebrado. Recuperando o fôlego, abri a porta.

Kaoru me fitava, com seu sorriso perfeito. Meu coração deu pulos, e então despencou. Vi o que ele vestia. Smoking! E eu pensando que ele não poderia ser mais perfeito... aquela cor preta realçava ainda mais seus cabelos de fogo, ele estava impecávelmente emoldurável, mas... mas... o fato em questão não é esse...

— Você está linda! – Ele disse, confiante. Mentiroso! Como eu posso estar linda depois de cometer um engano mortal desses?! Eu pensei que fosse só um jantar, droga, não um evento formal daqueles que aparecem nas colunas sociais, um que eu nunca imaginei que fosse participar algum dia!

Estava prestes a forjar um ataque epilético, quando Haruhi apareceu repentinamente atrás de Kaoru, com Aiko e Tamaki (que também vestia smoking... O que é isso? O dia de deixar a Hanako humilhada?) em seus flancos. Todos os três invadiram minha casa sem nenhum senso de propriedade privada, e fecharam a porta na cara de Kaoru.

Isso era mesmo de verdade ou eles só estão fazendo ponta no filme da minha vida que estava passando em frente aos meus olhos momentos antes?

— Ela não tá pronta, Kaoru! – Haruhi gritou por cima do ombro, me rebocando escada acima com Aiko logo atrás. Tamaki ficou, indo abrir a porta para ele novamente.

Ao chegar ao meu quarto, Haruhi despencou.

— O que você estava pensando quando vestiu isso, Hana-chan – Aiko indagou, parecendo intrigada.

— Ah... eu...

— O Kaoru não te avisou que era uma recepção black tie?

— N-não... – balbuciei, verdadeiramente assustada.

— Bem típico – Aiko resmungou – ele está tão acostumado que nem percebe mais o que essas coisas são.

Agora me ocorreu que, analisando os boatos sobre a família Hitachiin, e mais essas novas informações, Kaoru deveria ser mesmo podre de rico. Sorri sem graça, absorvendo as minhas conclusões. Isso era terrível!! Agora, a mãe dele tinha mais milhões de razões pra me rejeitar. E mais milhões delas pra me querer longe do filho dela.

— Ainda bem que você tem a nós! – Haruhi sorriu, mostrando as enormes sacolas que trazia – Tamaki também foi convidado, e quer me levar. Você tem sorte por eu ser tão boazinha com você...

— Ah! Haru-chan!!! Você é a minha fada-madrinha! – eu sufoquei em meio às lágrimas que queriam sair, correndo para abraçá-la. Ela desviou habilmente de mim, como uma ninja, e tornou a abrir as enormes sacolas. De dentro de uma delas, ela tirou um resplandecente sonho rosa-claro, quase branco puro. Era apenas um emaranhado de tecidos esvoaçantes nos braços de Haruhi, mas meus olhos já brilhavam só em imaginá-lo.

— Ei! - Izumi surgiu novamente no quarto – seu namorado estava me cantando, então acho que vou ir lá no parque, com os meus amigos.

— Oque? Aah! Faça o que quiser... mas volte antes de anoitecer. E não esquece a chave.

— Sim senhora! – ela disse, batendo continência e dando as costas.

— Não sei como você a aguenta - Aiko sibilou, balançando a cabeça, em sinal de solidariedade. Apenas assenti, sem querer nem pensar em Izumi agora.

— Certo, antes, vamos dar um jeito nesse cabelo –Haruhi disse, deixando o vestido de lado, e avançando contra mim. Aiko também se aproximou, tirando meu trapo azul num movimento rápido e colocando-me sentada na cadeira.

— E você não vai se arrumar, Haru-chan? – perguntei, ao notar os seus gritantes jeans e camiseta do Burger King.

— Assim que acabarmos com você. Não sou eu quem vai conhecer a sogra hoje, sabe...

Com essa afirmação sorridente da minha amiga, tremi dos pés a cabeça, sentindo meu estômago revirar-se.

— E Aicchan? – perguntei, desviando o assunto, enquanto Haruhi puxava meus cabelos para direções aleatórias – vai também? – brinquei.

— Ainda estou pensando. Minha mãe quer que eu vá, mas minha irmã chega hoje e eu não queria...

— Como? – Indaguei exasperada, sem mexer a cabeça nem mesmo um milímetro – Você foi mesmo convidada?

— Claro! Você realmente acha que eu passei minha infância inteira com você, Hanako? Eu costumava brincar com Kaoru algumas vezes, quando ele ia à Nova York, no tempo em que fiquei lá. Nossas mães são amigas de colégio.

— Ai! Haruhi, cuidado aí! Você nunca me disse isso, Aicchan!

— Eu e Kaoru já comentamos muitas vezes. Você estava ocupada demais babando no garoto e não prestou atenção.

— Babando? Não sei do que está falan... Aaaaai!!! Haruhi! Isso dói!!!!

— Deve doer. Mas olha só! – ela disse, com um sorriso presunçoso, enquanto girava a cadeira na direção do espelho. Ela havia prendido meu cabelo no alto, deixando algumas mechas, que eu havia enrolado cuidadosamente mais cedo, soltas. No final, prendeu uma rosa de tecido branco, que eu tinha em um vaso ao lado da cama, em um dos lados. Sorri para mim mesma com o resultado. Haruhi era mesmo uma fada, estava fazendo mágica comigo!

— Vamos manter a sua maquiagem, porque estamos sem tempo. Levanta pra eu ajudar com o vestido – Haruhi disse, imperativa.

Fiquei de pé, tirando as alças do sutiã, já que o vestido era tomara-que-caia, pelo que pude perceber. Haruhi vestiu o traje em mim, amarrando-o nas costas rapidamente. Eu havia esquecido que ela trabalhou por um tempo na loja de roupas de gala... deve ter adquirido experiência por lá. Mirei-me novamente no espelho, perdendo a concentração por poucos segundos. Aquele vestido era magnífico! Tinha um tipo de espartilho na parte de cima, mas me deixava respirar com facilidade. Seus grandes babados de tecido leve e esvoaçante caiam como cascatas até o chão, e ao andar, faziam parecer que estava flutuando.

— Ainda bem que eu trouxe a máquina – falou Aiko, seguida de um flash e um lampejo de luz – preciso mesmo registrar a cara do Kaoru quando te ver assim – outro flash.

— Deixa as fotos pra depois, Aiko! Vem me ajudar com o meu vestido!

Haruhi foi se maquiar no meu espelho, enquanto Aiko ajeitava a roupa. Depois, ela escovou o cabelo até deixar suas pontas no lugar certo, levemente onduladas. Colocou uma presilha cintilante segurando parte da franja, e foi em direção ao vestido.

Ela vestiu-se rapidamente, sem deixar de corar levemente ao olhar-se no espelho. Acho que roupas tem mesmo esse efeito nas garotas...

Era azul e brilhante, de alças finas e bastante volume na saia de chiffon. Parecia com algo saído de um conto de fadas, e não tenho dúvidas de que foi Tamaki quem escolheu, já que Haruhi preferia claramente a camiseta do Burger King.

Aiko suspirou pesadamente, movendo-se até as sacolas de roupas. Parece que nos ver arrumadas a fez decidir-se na hora. Ela colocou um longo vestido vinho, repleto de babados brancos e delicados, e laços de fitas. Mesmo parecendo um pouco antigo, tinha um corte moderno. Era algo único, que combinava somente com ela, e a fazia parecer ainda mais com uma boneca vitoriana.

Sorri, quando ela me fitou com seu biquinho de contrariedade.

—Eu realmente não queria ir – disse, colocando um laço branco nos cabelos cor de lavanda.

Haruhi tomou a frente, descendo as escadas. Eu poderia ouvir as exclamações apaixonadas e dramáticas de Tamaki a quilômetros de distância. Aiko recomeçou com a sua sessão de fotos, com um clarão atrás do outro. Desci finalmente, atrás dela. Kaoru me fitava com seus olhos surpresos, e seu rosto corando. Eu estava mesmo tão diferente assim do normal? Acho que roupas de gala podem transformar vidas...

Flash.

— Ah! Minha bela Fada Azul, anjo com vestes de nuvens puras, você está magnífica, estupenda, perfeita... eu poderia me casar com você agora mesmo!

Flash.

— Menos, Tamaki! – Haruhi ralhou, mas suas bochechas estavam inegavelmente ruborizando de prazer por ouvir tantos elogios.

Flash.

— Você está linda – Kaoru sussurrou em meu ouvido, apenas. Seu hálito quente bateu na minha pele, e causou um arrepio por todo o corpo. Eu ainda não havia me acostumado com essa proximidade, e não conseguia fazer meu coração se controlar, mas somente aquelas palavras já valeram por todos os elogios do mundo, por que eu realmente podia sentir que ele estava sendo sincero dessa vez.

— Vamos? – Aiko comandou, seguida de mais um flash.

— Chega de fotos, Aiko.