A morte é algo inevitável que precisamos aceitar e lidar com total naturalidade.

Soltei Nick assim que vi uma lâmina prateada vindo em minha direção. Abaixei a cabeça e segurei a mão de Clivia, girando-a e fazendo com que sua própria adaga ficasse próxima ao pescoço dela.

– Por que você fez aquilo?! – ela gritou. Suas lágrimas caíam sobre minha mão.

– Porque não tenho tempo para crianças. – Larguei Clivia e ergui minha espada. – Não quero lutar contra você.

– Pensou nisso quando enfiou a espada no meu namorado? – ela perguntou enquanto me encarava furiosa. Não gostava de vê-la com raiva de mim, mas eu não podia deixar Nick sair impune, Clivia teria de entender isso, ou pelo menos, aceitar. – Você tem noção de que acabou de matar uma das únicas pessoas que eu ainda tinha nesse lugar?!

– Não – eu disse abaixando a espada. Aproximei-me de Clivia. – Você tem razão. – Ergui a mão de Clivia e coloquei sua adaga contra meu peito. – Faça. Vocês não precisam de mim para ganhar esta guerra. Não precisam de mim para achar a Carol. Não precisa de mim para cravar essa maldita adaga no meu peito.

Clivia abaixou a adaga e me encarou.

– Preciso de você para cuidar de Afrodite – ela disse. Guardou as adagas. – Isso é tudo.

– Acabaram? – Jack apoiou-se no meu ombro direito. – Estou ficando com sono.

– Pena que não trouxe seu travesseiro – brinquei. Eu e Jack rimos, mas Clivia ficou quieta, ela nem deve ter entendido a piada, e deveria estar com um péssimo senso de humor. – Okay, como saímos daqui?

– Pulamos. – Jack apontou para uma passagem que se abria em um dos pisos restantes, parecia a entrada para uma espécie de tubo. Com sorte, conseguiríamos chegar lá. – Primeiro eu.

– E o cavalheirismo? – perguntou Clivia.

– Se eu cair, tenho como voltar, vocês não – ele disse. – Depois de mim, vem você, e por último, o Caio.

Todos concordamos.

– Esperem meu sinal – Jack concluiu.

Ele tomou impulso e correu até a ponta, onde saltou, caiu certeiramente dentro da entrada do tubo. Ouvi o barulho de metal se chocando contra metal e depois algo como se ele estivesse escorregando.

– Jack?! – gritei assim que o barulho parou.

– Vocês precisam ver isso – ele disse. Sua voz soava perfeitamente bem, como se estivesse ao nosso lado. – Rápido.

Clivia saltou e escorregou, desta vez sem barulho de metal contra metal, provavelmente o que causou o barulho da outra vez foi o machado de Jack.

– Caio, pode vim – disse Jack.

Afastei-me e saltei. Por pouco não caí fora da plataforma, mas consegui entrar no tubo. Enquanto minha espada chocava-se contra o metal – provocando um barulho incrivelmente desagradável – eu escorregava em direção à escuridão. Assim que cheguei, Jack me ajudou a levantar e apontou para frente. A escuridão estava iluminada por um brilho azul que vinha de uma lâmpada especial, ao lado dela, Caroline estava parada, imóvel.

– Carol? – Clivia chamou baixo.

– Ela tá viva? – Jack perguntou.

Clivia se aproximou e segurou o pulso de Carol.

– Está normal.

– Então por que ela está parada desse jeito? – perguntei.

– Olá, pai – Jack disse. A z dele ecoou e Mors apareceu em nossa frente, sorridente. – Bom saber que se preocupa com visitantes.

– Senti saudades, filho. – Mors sorriu para Jack. – E Caio, você cresceu desde quando eu fiz seu pai te enfiar uma espada. Quanto tempo ainda tem? Três dias?

– Tempo o bastante para enfiar uma espada na sua garganta – murmurei.

Mors gargalhou e parou na minha frente. Ergueu minha espada até sua garganta e desafiou.

– À vontade.

Guardei a espada novamente e cuspi no rosto de Mors, mas o líquido o atravessou e ele gargalhou mais alto.

– Podemos falar da Caroline agora? – Ele abraçou o corpo paralisado de minha irmã e sorriu. – Tenho que admitir, Poseidon tem sorte com filhas.

– Tire as mãos da minha irmã. – Clivia sacou as adagas e encarou Mors.

– Adorável. – Mors sorriu. Soltou Carol. – Querida, está na hora de acordar.

Carol deu um passo para frente. Mors sorriu e desapareceu, enquanto minha irmã sacava uma Katana e se preparava para lutar. Encarei Clivia e ela assentiu. Carol atacou, a assistente de Afrodite desviou os ataques, enquanto deslizava a perna direita, tentando derrubar a irmã com uma banda, mas Carol foi mais rápida e saltou, descendo a Katana na direção de Clivia, que ergueu novamente as adagas e prendeu a lâmina prateada entre as duas. Afastou Carol e se recompôs.

– Quer ajuda? – perguntei.

– Eu cuido disso – Clivia murmurou.

Carol voltou a atacar. A Katana deslizava rapidamente em direção ao ombro de Clivia, que conseguiu, por pouco, saltar para trás e desviar do ataque, mas não foi rápida o bastante para desviar do chute que o seguia. Clivia caiu no chão e Carol girou a espada na mão direita, preparando-se para um último ataque. E foi quando a habilidade de Clivia me impressionou. Antes que eu pudesse mover um músculo para ajuda-la, minha irmã saltou do chão tão alto que seu pé atingiu a mão de Carol. Um chute preciso e rápido. A Katana caiu de encontro ao chão, e Clivia girou o corpo, desferindo um chute contra o braço de Carol, fazendo-a cair.

– Incrível – sussurrou Jack.

– Eu não posso ficar segurando ela para sempre – murmurou Clivia, enquanto olhava Carol se levantar. – Façam alguma coisa.

Dei um passo à frente, mas Jack me segurou.

– Quando sairmos daqui, me leve para Apolo.

– Por quê?

– Você vai ver – ele disse. Jack sacou o machado e fez um corte minúsculo na palma da mão esquerda. Saltou em direção a Carol, que ainda se levantava.

Ele a agarrou e ficou cinco segundos em cima dela. Minha irmã se debatia no chão como se estivesse tendo uma convulsão. Até que ela se acalmou, e Jack rolou para o lado.

– Ela vai ficar... bem – ele sussurrou antes de desmaiar.

– Jack? – Corri até ele e chequei o pulso. Tudo certo. Deveria estar cansado por desafiar o poder do pai.

– Onde estamos? – perguntou Carol levantando.

Suspirei e a abracei.

– Meu filho se esforçou bastante – disse Mors aparecendo ao lado de Jack. – Vocês salvaram sua amiga. Acho que deixarei irem embora. Não chegou a hora de mata-los ainda.

– Vamos acabar com isso – Jack murmurou levantando aos poucos. – Aqui e agora.

– Não seja tolo, filho. – Mors tocou na cabeça de Jack e ele caiu novamente. – Considere isso uma caridade.

Mors gargalhou e estalou os dedos. Tudo começou a girar e meu corpo ficava cada vez mais pesado. Meus olhos se fechavam aos poucos e o sono me atingia, mas eu tentava lutar contra ele. Até sentir um toque leve em meu ombro e apagar completamente.