Blood Royal

Capítulo 19


HAVÍAMOS SIDO CONVIDADAS PARA UM CHÁ DA tarde em companhia da rainha, e de maneira evidente o clima de competição ressurgiu com força total. Mais da metade das garotas desejava aparecer impecável, passando e repassando as dicas de etiqueta que Kaya havia nos dado, afinal, uma gafe aquela altura do campeonato seria algo impagável.

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Os depoimentos que havíamos dado para o Jornal Oficial receberam comentários excelentes, e de todo modo aquilo também era uma comemoração. Minhas criadas haviam dado um jeito de não me deixar passar despercebida; confeccionaram um vestido verde-água, de alças e com a saia composta por babados, uma peça que aos meus olhos era deslumbrante como todas as outras, ainda assim algo que não era extravagante para o horário.

Tessa estava postada atrás de mim, engalfinhando os dedos por entre os meus cabelos fazendo uma trança lateral. Cali desamassava algumas partes do vestido e Leah terminava de dar alguma cor ao meu rosto.

— A senhorita parece tensa — comentou, afastando-se para checar seu trabalho.

Encarei meu próprio reflexo enquanto respondi.

— Acho que é normal se sentir assim quando vamos tomar chá com a rainha — ergui os olhos para ela, através do espelho. — Não é?

Foi Tessa quem se prontificou a responder minha pergunta, com um sorriso tranquilo ela abaixou-se ao meu lado e encarou aquele rosto pálido e tenso, que de algum modo, era o meu.

— Acho que a senhorita não precisa se preocupar. Está sendo ótima até agora, e tenho certeza de que continuará assim. Assistimos a exibição do Jornal Oficial — ela virou-se e caminhou até o vestido. — Suas falas transmitiam tanta... confiança.

Me ergui e joguei o roupão para o lado, deixando o tecido suave do vestido deslizar pela minha pele. Aquilo deveria de algum jeito me tranquilizar, mas uma sensação de inquietação me dominava.

— Eu fico feliz por achar isso, de verdade — falei, e ela ajeitou meu cabelo uma última vez. — É só que, estou com uma sensação ruim desde que acordei.

Cali aproximou-se e espirrou o perfume contra o meu corpo.

— Fique tranquila e tente pensar em coisas boas — falou. — Às vezes isso pode ser mais útil do que realmente parece.

O salão onde costumávamos jantar havia sido decorado de maneira acolhedora para nos receber. A extensa mesa onde nos sentávamos estava coberta por uma toalha de seda clara, as enormes janelas haviam sido abertas, permitindo que a brisa fresca de Angeles pudesse entrar; os lugares estavam marcados, porém, numa ordem diferente da que era efetuada no jantar. Numa das extremidades da mesa, bem no centro, uma cadeira elegante havia sido disposta para acomodar a rainha. Xícaras, pratos e bules estavam colocados de maneira estratégica sobre a mesa. Isso sem contar as comidas, pães frescos, tortas, bolos, salgadinhos e algumas outras coisas que não consegui identificar.

Meu lugar, felizmente, havia sido disponibilizado ao lado de Lori, o que me tranquilizou. Havíamos ficado à três pessoas de distância da rainha, o que nos possibilitava ouvir muitos fragmentos das conversas. As garotas falavam de maneira formal, num tom de voz controlado, e pela maneira como se movimentavam, pareciam ter medo de quebrar qualquer coisa em que tocassem.

— Bizarro — comentou Lori, quando Hilary tocou de maneira informal o braço da rainha e ficou vermelha como um pimentão, desculpando-se veementemente.

Assenti lentamente.

— Muito.

Tentei me empenhar em aproveitar a tarde, em tentar me distrair e continuar mantendo a minha vida em ordem. Me servi de uma fatia de bolo e me desliguei por um momento das risadinhas controladas que estavam sendo dadas ao meu lado. Será possível que elas não percebiam o quão artificiais soavam?

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Boa parte de mim desejava saber por quanto tempo mais eu seria capaz de aguentar aquilo tudo. Eu era adepta a dar boas gargalhadas, a não me importar com qual talher eu iria iniciar uma refeição e até mesmo a comer um pedaço de bolo com a mão. Toda aquela rigidez, aquele monte de regras, tudo me fazia pensar que eu era um passarinho que havia sido preso numa gaiola, sendo privado da sua maior paixão: voar.

Despertei de meus devaneios quando recebi uma cotovelada de Lori nas costelas, olhei para ela com as sobrancelhas franzidas, mas ela indicou a direção da rainha para mim.

A rainha America estava sorrindo, e notei um traço de divertimento em seu rosto.

— Perdão, Majestade — balbuciei, acreditando ser o certo a se dizer. Peguei rapidamente um guardanapo e o passei sobre a boca.

— O que eu estava perguntando é: está gostando da nossa pequena reunião?

Santo Deus! Ela havia me feito uma pergunta e eu simplesmente não havia lhe dado atenção. Senti minha boca seca e me concentrei em respondê-la.

— Eu... acho que está bem legal.

— Legal? — ela sorriu, erguendo as sobrancelhas.

Apertei os lábios.

— É — concordei. — E isso aqui é muito bom.

Indiquei com o dedo uma travessa onde inúmeros pães com salsicha haviam sido dispostos.

— O nome disso é cachorro-quente — respondeu ela, oprimindo o que aos meus olhos pareceu uma risada.

Pare de falar, Alexia”, disse para mim mesma. “Pare de falar, agora!

— Exatamente — murmurei, sentindo meu rosto esquentar.

Observei que algumas meninas levaram as mãos a boca, segurando o riso também. Senti vontade perguntar a elas quantas delas sabiam o verdadeiro nome daquilo, provavelmente nenhuma. Ainda assim, antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, os olhos da rainha se desviaram de mim para a porta e o burburinho das garotas elevou-se de repente.

Virei-me rapidamente e observei enquanto Nicholas adentrava o salão com um sorriso cordial. Vê-lo me causou uma agitação indescritível, e de repente já não me fazia mais diferença o papelão que eu havia acabado de fazer.

O vi cumprimentar as garotas pelas quais passou primeiro e me vi fascinada pela graciosidade com a qual se movia. Esqueci completamente da fatia de bolo em meu prato e me peguei seguindo-o com os olhos.

Nicholas passou bem perto de onde estávamos e consegui sentir sua presença ao meu lado. Ele curvou-se, murmurou algo no ouvido de Lori e se afastou. Sem ao menos me cumprimentar. Senti o sorriso começar a desmoronar no meu rosto, mas o segurei. Observei as maçãs do rosto de Lori ligeiramente coradas, e pisquei diversas vezes.

Nicholas aproximou-se de sua mãe e abaixou-se, a fim de conversar algo com ela. Baixei os olhos para minhas mãos, de repente com a sensação de que era uma completa estúpida.

— Senhorita Alexia?

Ergui a cabeça e o encarei. Ele estava sorrindo, mas não consegui sorrir de volta.

— Pois não, alteza?

O cenho dele franziu-se rapidamente.

— Poderia me acompanhar?

Controlei minha respiração. Minha mente me dizia para ir com calma, para não deixar transparecer minha ansiedade, mas meu coração batia rápido, desejando poder ficar a sós com ele.

Olhei para a rainha, num gesto silencioso lhe pedindo permissão. Ela acenou brevemente com a cabeça.

— Vá.

Acompanhei Nicholas para fora do salão sob os olhares curiosos e interrogativos das outras garotas. Permaneci um passo atrás, em silêncio, observando a silhueta de seu corpo e a forma como seu maxilar se tensionava.

— Por aqui — falou ele, indicando as portas da biblioteca.

Angels - Taylor Renee

Passei direto por ele e parei próxima da escrivaninha que havia sido disposta bem no centro. Minha mente girava em um milhão de pensamentos desordenados, levando-me quase a loucura. Nicholas fechou a porta e virou-se para mim, interrompendo-se no meio de um passo, prestou-se a me encarar.

E nós ficamos lá, nos encarando por um minuto que me pareceu uma eternidade; meu peito subia e descia rapidamente, enquanto eu tentava controlar minha respiração pesada.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ele, finalmente. — Você está diferente.

Relaxei os ombros e juntei as mãos na frente do corpo.

— Eu não sei, acho que só estou confusa — respondi.

Nicholas se aproximou, mas não o suficiente para que pudesse me tocar. Ele parecia procurar as palavras certas para falar.

— Confusa com relação a quê? — indagou. — A mim? A Seleção?

— A tudo, mas principalmente com relação a você.

A boca dele se abriu e tornou a se fechar rapidamente. Seu rosto contorceu-se numa careta confusa e ele passou as mãos pelo cabelo, num gesto nervoso. Então ele me encarou, sério.

— No nosso primeiro jantar eu expliquei a situação para você, às vezes eu faço as coisas porque eu preciso ter a certeza de quem...

— Realmente gosta de você, de qual de nós realmente está pronta para isso — cortei. — E é justamente esse o ponto, Nicholas. Você é como uma pedra que eu não sei como começar a esculpir. Às vezes eu o olho e acho que consegui entender, mas aí depois você complica tudo.

— Você também! — contrapôs ele. — Desde a nossa primeira conversa eu pude perceber a sua mudança, de verdade. Mas como eu posso ter certeza quanto as suas atitudes, como...

Ele interrompeu-se imediatamente.

Tarde demais ele percebeu o equívoco em suas palavras, e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa para lhe responder, apenas senti como se me acertassem um soco no estômago.

— Acha que o que eu demonstro não é verdadeiro?

— Alexia, me desculpe, eu não quis dizer...

— Não, você não quis! — cerrei os dentes. — Você disse.

Uma expressão angustiada tomou conta do rosto dele; fechei os olhos com força e me forcei a não ceder, mesmo sentindo as lágrimas se aproximando.

— Acredite em mim — continuou Nicholas, e eu abri meus olhos. — Alexia, nem por um minuto eu duvidei de você. Eu apenas não posso me entregar, não sem ter a certeza de que eu estou fazendo a escolha certa.

Fiz um barulho que deveria ter soado como uma risada, mas o gesto me fez soluçar. E tive vontade de xingar a mim mesma naquele momento.

— Parece que temos um impasse. Porque eu também não posso me entregar, não para alguém que pode quebrar meu coração em um milhão de pedacinhos com um único gesto.

Me encaminhei para perto da grande janela e observei os jardins do palácio. Ignorando meu reflexo no vidro.

— Acha que eu seria capaz de quebrar o seu coração? — ele indagou, ao meu ouvido. Ele havia se aproximado sem que eu notasse. Não respondi. — Alexia, olhe para mim.

Eu não queria olhar, eu não podia olhar. Me virar significaria ceder, e meu peito se comprimia a cada segundo que se arrastava. Apoiei minha testa contra o vidro e sequei as lágrimas que riscavam minha bochecha.

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Nicholas ficou tão quieto que por um momento achei que ele tivesse ido embora, então ele tocou meu pulso, e tornou a falar:

— Lexi...

Meu coração bateu tão rápido que chegou a doer. Virei-me na direção dele e seus energizantes olhos azuis me encararam com intensidade; minha surpresa foi tanta ao ver tristeza estampada neles, que perdi a fala por um segundo.

A mão dele que estava em meu pulso deslizou com suavidade pela minha pele, até parar na base da minha nuca. Eu queria que ele gritasse, porque aí eu gritaria também e ambos extravasaríamos nossas emoções. Eu queria bater nele, dizer que era um grande idiota por me fazer sentir daquele jeito, que eu odiava o que todo aquele sentimento me causava, mas eu não disse.

Na verdade, apenas o encarei, sem conseguir dizer nada.

— Pode pensar o que quiser de mim, mas jamais acredite que eu seria capaz de quebrar o seu coração, ainda mais em um milhão de pedacinhos — sussurrou ele. — A menos que eu não saiba o que estou fazendo. E por favor, se um dia isso acontecer, não me deixe sem saber.

"Fale alguma coisa", disse para mim mesma.

— Odeio você. Odeio o que está me fazendo sentir agora. Agradeça aos céus por eu não saber como usar uma arma.

Ele riu, eu ri. Rimos juntos. E eu chorei de novo.

— Parece que acabamos de ter a nossa primeira discussão — observou ele.

— Ah, você acha mesmo, pequeno gênio?

A mão dele que estava na minha nuca me conduziu para mais perto, e nossos lábios se encontraram num beijo diferente, com gosto de lágrimas e de reconciliação. Passei meus braços em torno de seu pescoço e deixei meus dedos deslizarem pelo seu cabelo.

Me afastei brevemente e deslizei meu polegar pela bochecha dele.

— Como uma pessoa consegue ser tão complicada? — murmurei.

— Então somos uma combinação perfeita — ele respondeu, e me abraçou. — E combinações perfeitas são raras em um mundo imperfeito.

A sensação ruim que havia me perseguido desde o momento em que eu acordara se desfez quando depositei minha cabeça sobre o peito dele. Nicholas desenhou círculos com os dedos nos meus ombros e soltou uma risada baixa.

— O que foi? — perguntei.

— Sr. e Sra. Complicados. Como isso soa para você?

Sorri.

— Me parece bom.

E, de toda forma, eu realmente havia gostado de como aquilo soou.