Finalmente estava de volta. Aquela atmosfera lhe era tão familiar quanto se recordava nas velhas lembranças de sua infância. O clima, o ambiente e até o ar que ele respirava lhe fazia sentir ainda mais em casa.

Caminhava em passos calmos por aquela rua de pedra sem rumo, apenas equipado com sua mala também não muito cheia. Pretendia começar sua vida nova ali, então não era necessário que trouxesse todos os seus pertences. Do mesmo modo não tinha pressa, e decidiu passear pela cidade para apreciar a paisagem antes de procurar um hotel para ficar... Por enquanto.

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Ele ainda não sabia bem o que ia fazer. Por um lado, acreditava que devia ter vindo para a sua cidade natal a propósito de cumprir o que prometeu a si mesmo, e não estava arrependido de ter entrado naquele avião. Por outro, sentia que havia fugido dos seus problemas, e uma evidência daquilo era a insolúvel dor da falta daquele alguém perto dele.

Agora estava a milhas de quem ele amava.

Arthur suspirou fundo, e fechou os olhos por um instante, tentando limpar a mente. Disse para si mesmo que não devia lamuriar-se pelo que não teria jeito - ou com outras palavras, chorar pelo leite derramado. Ele agora era um inglês em Londres, em sua cidade, em sua casa. Depois de tanto tempo incomodado, finalmente sentia-se aconchegado novamente ali.

Abriu os olhos e avançou em passos confiantes, puxando consigo a sua mala ruidosa em contato com a calçada. Deixou o acaso o guiar, e acabou descendo ruas, cruzando esquinas e atravessando avenidas. Viu tudo que apenas via nos lampejos de memórias que conseguia enxergar com esforço. E o melhor era que tudo agora era tangível naquela realidade, tudo era real e não apenas um pensamento.

Até que cansou-se de caminhar, e parou naquela rua. “Bridge Street.”, ele confirmou.

E lá estava a grande construção, a apenas metros dele. Big Ben. A torre majestosa que observava a todos daquela cidade do alto, enfeitando aquele antigo palácio onde hoje existia a casa do parlamento. Um aglomerado de nuvens envolvia o topo da torre. Ao lado, a ponte Westminster pairando sobre a água reluzente. O sol estava a ponto de se por, e escondia-se no horizonte, refletindo a sua luz ali.

Arthur agora tinha um sorriso no rosto.

“Agora sim... Eu estou em casa.”, afirmou, suspirando de fascínio com aquela beleza.

Com o pouco de esperança que restava a se misturar com o desespero e arrependimento, Alfred arrastou-se até o hospital onde ele visitava todos os dias após o acidente. A voz da razão na sua cabeça dizia que aquilo era idiotice, e que ele nem confiava nas palavras escritas, mas ele insistia. E de qualquer jeito, o nervosismo lhe tomou conta, impedindo-o de parar de roer as próprias unhas.

“Quem sabe, ele ainda não viajou?”, tentou criar um eufemismo da verdade. “Talvez, se eu tiver sorte, o encontro no hospital ou até no aeroporto”.

Logo que deu de cara com o edifício, adentrou-o o mais rápido que pôde, e antes mesmo de perguntar por Arthur na recepção, seus olhos percorriam afoitos todo o ambiente ao redor.

- Ah... Bom-dia, a senhora sabe se... Umm, Arthur Kirkland esteve por aqui? – Ele balbucia, tropeçando nas palavras.

- Hm, Arthur Kirkland, não é...? – A moça checou o computador por trás do balcão por um instante. – Não, o sobrinho dele teve saída anteontem, e desde então não apareceram.

- Ah... – Ele suspira, apoiando os cotovelos no balcão, já sentindo a cabeça rodar. – Obrigado...

- De nada. – Ela retorna antes de sair de trás da recepção, talvez para horário de almoço ou qualquer coisa. Ele não estava com cabeça para pensar naquilo.

- Procurando por ele, não é? – Alfred escuta uma voz estridente, trazendo outra pontada na cabeça, e impaciente torna-se para trás, sem parecer impressionado ao dar de cara com o seu rival.

- O que você quer? – Alfred franze as sobrancelhas, armando uma careta para intimidá-lo.

- Cara, escuta. Eu não quero nada com o Arthur, apenas somos amigos. – Esclarece, para depois sussurrar – Eu sou cem por cento hétero, pode ficar tranquilo -, e completar em uma risadinha de piadista. Mas não adiantou para desmanchar a carranca do americano.

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- Você está insinuando que eu tenho ciúmes?

- Não estou insinuando, estou afirmando. – Ele sorri de modo provocativo.

- Olha, cara, você... Eu só quero proteger o Arthur, está bem? Principalmente se for de alguém que o causou feridas externas e internas! – A sua voz aumenta de tom, enraivecendo-se.

- Eu posso te garantir, Alfred – Agora Gilbert mira em seus olhos, o mais sério possível. – que eu nunca mais farei algo assim com ele. O Artie é uma peça rara, mas ele era como um pássaro preso a uma gaiola, e por minha causa.

- Como vou saber se não está mentindo?

- Você saberia se acreditasse nas palavras dele.

Alfred o encara por um minuto, ainda desconfiado, semicerrando os olhos. Acreditando no provérbio “Quem cala consente”, Gilbert satisfaz-se e continua.

– Enfim, nós conversamos muito nas tardes do hospital, e sobre o que ele mais falou, foi sobre você. Um dia o perguntei se ele te amava, e ele respondeu sem titubear que sim. Agora quando o perguntei se você o amava, ele ficou em dúvida. E é essa dúvida que o machuca.

- M-Mas... Mas ele sabe que eu o amo!

- Você o ama mesmo, Alfred?

- Eu... – A sua voz começou a embargar, junto com os olhos úmidos. – Eu o amo! Eu amo o Arthur! – Ele quase grita, querendo provar a verdade.

- Bom saber – Gilbert sorri levemente. – Você tinha parte da certeza, também.

- Hã?

- Quis dizer que vocês dois estão errados e certos.

Ele não respondeu. Silêncio por mais um minuto, pensamentos quase tangíveis flutuaram no ar.

- Sabe, fui eu quem disse para ele que viajasse.

- Por quê? – Ele fungou, tentando ainda conter as lágrimas de antes.

- Porque ele quer sua prova. Agora já sei que você também está certo, mas ele não sabe. Então o prove da sua verdade, Alfred.

- Eu... Vou provar! – Agora um sorriso enorme rasgou-se em seu rosto, e mil ideias nasceram em sua mente, fazendo-o correr de volta à rua. Mas no meio do caminho freou, e voltou-se para trás novamente. – Ah, e Gilbert... Obrigado.

- Eu estava devendo. - O alvo assentiu.

Foi o que bastasse para que ele tomasse o seu novo rumo, dali mesmo.

“Kesesese” riu Gilbert internamente.

A luz do dia nasceu novamente, e Arthur se viu acordar numa cama, sozinho, num dormitório. Estremecendo, ele se levantou e foi até o banheiro, para tentar lavar o rosto e aquela angústia.

Ele estava tentando esquecê-lo, mas não era por mal. Se sua cabeça ficasse fixa nas lembranças, ele não conseguiria de modo algum continuar com o que havia planejado. Agora ele sabia que o amor pode ser um obstáculo para os seus sonhos. Que o amor também dói.

No primeiro dia, sua vontade era pegar um avião e ir embora, de volta para os braços dele, mas a sua consciência o impediu. Porém, não conseguiu fixar a mente em mais nada, por mais que tentasse.

No segundo, quis ligar para ele, mas novamente algo o impediu. Só que essa força não conseguiu aguentar tanto, e três dias depois, Arthur entrou numa cabine de telefone. O propósito real era apenas para servir de abrigo da chuva que caía, mas ao dar de cara com o telefone, os seus dedos nervosos deixaram-se discar o número proibido.

- Alô? – Atendeu aquela voz.

Era ele mesmo. Era Alfred.

Arthur não conseguiu responder nada, e Alfred repetiu:

- Alô? Quem é?

- A-A-Alfre...d? – Foi o que ele pôde balbuciar.

- Arthur? Arthur, é você? Ai meu deus, Arthur, por favor! Arthur?

Ele voltou a ficar mudo. A sua boca se abriu, mas não conseguiu falar nada.

- Arthur...! – A voz do outro lado estava chorosa, e ele imediatamente viu-se chorar também. – Não faz isso, Arthur...!

Ele não respondeu, mas sabia que ele conseguia ouvi-lo soluçar do outro lado.

Ele não devia ter ligado. Jamais devia ter sequer ouvido a voz dele. A voz dele que implorava, que repetia o nome dele milésimas vezes. Nunca.

Inglês idiota.

- M-Me... Me desculpe, Al, mas eu... Eu não posso...

- N-Não… Não faz isso, Artie, não deslig...

A voz dele foi cortada pelo som que o telefone fez ao ser posto de volta o gancho com violência. Arthur escorregou na parede da cabine, desabando ao chão. E ficou ali até a chuva acabar, mesmo que as suas lágrimas encharcassem todo o seu rosto, de qualquer jeito.

No dia seguinte, ambos estavam derrubados. Estava sendo horrível para os dois, mas era um obstáculo que tinham de aguentar.

Na verdade, pelo menos um lado poderia ficar mais tranquilo. Alfred havia comprado uma passagem para Londres, mas apenas daqui a uma semana. E ele não iria imaginar que fosse receber uma ligação como aquela, mas o seu plano já estava pronto. Porém ele sabia que de qualquer forma, não iria ser fácil. Mas ele estava confiante de que iria conseguir, ainda mais com a apelação que arrumara:

Uma pequena surpresa guardada numa caixinha.

Arthur nunca viu uma semana se arrastar tão devagar. E agora ele ganhara uma nova rotina, fugindo dos dias desocupados no colo daquele que queria esquecer. Era apenas estudos, estudos, e nada de descanso. Estava a ponto de morrer de exaustão.

Tudo bem que estivesse em Londres – sua casa – seguindo o seu sonho – estudar direito -, mas tinha momentos que se pegava querendo fugir ou alternativamente morrer. Aquela rotina estava o deixando ainda mais estressado. Mas apenas até aquela sexta-feira chegar.

Como sempre, levantou-se do mesmo jeito. Assistiu a todas as aulas, e já era fim de tarde quando estava livre. Geralmente, os estudantes saíam para baladas e pubs, mas ele nunca era desse tipo. Apenas aquele dia, algo o disse para sair. Apenas passear pelas ruas de Londres, nada mais.

E assim foi. Ele adorava dar uma volta por ali, observar tudo e todos. Não tinha para que se apressar. Um momento parou-se para sentar ali num banco e prestar atenção ao mundo à sua volta. E ficou ali, vendo o dia virar noite, o céu escurecer e a cidade se encher de luzes.

Mas naquele momento, um som o interrompeu, e ele olhou para o lado. Era o mesmo telefone daquele dia, uma semana atrás.

Não era curioso ou algo do tipo, e não deu resposta ao som do telefone. Óbvio que não seria alguma ligação pra ele, é claro. Milhares de pessoas já devem ter passado por ali.

A repetição parou, mas logo depois voltou. Foi depois de umas três ou quatro ligações perdidas que Arthur também teve a sua paciência perdida. Decidido, levantou-se e entrou, atendendo o telefone de quem quer que seja.

- Alô? – Ele atendeu com voz grossa.

- Alô...?

Não. Não podia ser. Era a voz de Alfred. Arthur quase não acreditou – ou não quis acreditar – e manteve a voz modificada.

- Quem deseja?

- Hum, Arthur... Arthur F. Kirkland?

Era ele mesmo. Arthur quase teve uma parada cardíaca. Mas Arthur F. Kirkland? Que ideia era aquela? O seu sobrenome não tinha nenhum “F”, e Alfred sabia disso. Mas porque ele ligara de novo? Sem chance. Ele não iria cair no choro de novo e desligar na cara dele, mas queria continuar na conversa para ver o que mais ele ia inventar. Continuou fingindo.

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- Sim. Quem fala?

- Alfred F. Jones.

Estava ficando sem mais perguntas.

- Hm, Alfred, pode me descrever o Sr. Arthur? Acho que o vi passando por aqui.

- Inglês, loiro, olhos bem verdes e sobrancelhas estranhas. Também é daqueles bem rabugentos. Um chato.

- Como é? Olha aqui, Alfred, eu... – Ele revoltou-se e acabou esquecendo-se de manter a voz grossa, caiu na ficha e cortou a frase ao meio.

“Droga. Idiota!”, ele quase bateu a cabeça contra a parede da cabine.

- Não... Espera. Arthur, é você!

- Q-Quê? Não, não, meu nome é Steve – Fingiu ele de novo, engrossando a voz, mesmo que soubesse que fora desmascarado.

- Arthur, pare, sei que é você. Escute, eu preciso saber...

- Olha cara, eu não conheço seu amiguinho e não vejo ninguém assim por aqui, tá? Boa noite. – Dizendo isso, ele desligou.

Ao sair da cabine, ele nem sabia em que pensar. Eram tantas perguntas que o deixavam tonto.

Depois, pegando um chá na esquina, conseguiu refletir sobre todas elas.

Primeiro, por que Alfred teria ligado para ele? Já havia se deixado claro que não queria mais nenhuma ligação, com o propósito de esquecê-lo e superar tudo isso o mais rápido possível. Depois, não era possível que dentre tantas pessoas e tantos minutos disponíveis, ele tivesse que atender a Alfred no telefone ao seu lado. Seria coincidência ou acaso? Era impossível de decifrar. Outra coisa, por que ele tinha mudado o seu nome? Que soubesse, ele apenas tinha “Kirkland” no sobrenome, e não o F. que ele possuía – e ninguém sabia o que abreviava.

No fim da sua frase, ele parecia querer saber algo urgente, pelo tom de sua voz. E estava aí uma coisa que deixou Arthur nervoso. E bravo ao mesmo tempo.

Estava terminando o seu chá na loja não muito cheia enquanto se perguntava sobre tudo aquilo. De repente, escutou um barulho de carro frear forte, e parecia ter sido por ali perto. Curioso, esticou a cabeça – assim como o restante dos clientes – para tentar enxergar pela janela de vidro, e viu um táxi parando na frente daquele mesmo telefone.

O que ele viu quase o fez cair da cadeira.

Era Alfred.

- Não pode ser! – Murmurou ele um tanto alto, de modo que a senhora na mesa ao lado olhasse para ele.

Quis se perguntar como, por que e quando ele havia vindo a Londres. E descido bem na frente daquela cabine. Mas não tinha tempo agora. Tinha que agir rápido. Se Alfred o achasse ali, ia ser o fim.

Levantou-se, pediu licença à senhora para que desse passagem com a cadeira e tentou pensar rápido. Ele já estava vindo. Caminhou rápida e discretamente até a entrada da cozinha e perguntou para uma garçonete se poderia entrar ali urgente. Percebendo que realmente deveria ser um caso sério, pela expressão de Arthur, ela deixou-o entrar desde que não tramasse nada.

Ele ficou de costas para a janela que dava na loja, fingindo fazer qualquer coisa na cozinha, quando ouviu o sininho da porta tocar.

- Bom-dia, senhor! – Ouviu-se uma garçonete que o cumprimentou.

- Bom-dia. Com licença, estou procurando por Arthur Kirkland.

Ao ouvir o nome dele, Arthur teve um susto, misturado com um frio na barriga, mas continuou a fingir que lavava os pratos. Apenas discretamente tentou olhar de canto para trás, e conseguiu vê-lo no balcão. Estava perfeito como sempre, mesmo de longe. Droga, ele tinha de resistir.

- Hum... Pelo que sei, não há registro de nenhum cliente com esse nome, a não ser que ele não tenha pagado nada ainda.

- Entendo. – Alfred assentiu.

Arthur sentiu-se aliviado naquele momento. Mas ele não imaginava que Alfred fosse se lembrar do seu chá preferido.

- Espere... Um cliente estava ali, eu não o vi sair. – A garçonete informou, apontando para uma mesa nos fundos. – Só me lembro de que ele era um loiro, e aparentemente bem jovem.

Arthur jurou que depois que saísse dali, do jeito que fosse, iria assassinar aquela mulher traidora.

- A senhora sabe, só por acaso... O que ele pediu?

- Hum. – Um minuto de silêncio, a mulher parecia checar o bloco de pedidos. – Chá de camomila. Ele parecia meio estressado.

“Nããããooo...!” Arthur caiu na decepção. Ia mesmo ser desmascarado. Pensou em sair dali, mas o seu movimento ia ser notável e Alfred poderia reconhecê-lo. O jeito era continuar ali, imóvel.

- Espera aí.

“Ah, não.”

- Arthur?

Arthur soube que ele havia o encontrado. Ele sentiu o olhar dele lhe penetrar as costas. Mas mesmo assim, não respondeu.

- Ei, você. – Arthur sentiu a voz chegar mais perto, começando a adentrar a cozinha.

Até que ele sentiu a pesada mão o pegar pelo ombro e o puxar para fora da cozinha.

- Arthur! – Não dava para distinguir se ele estava feliz em vê-lo ou bravo pela armação.

- Aah, Alfred! - Arregalou-se ele ao ser flagrado.

- Você é um idiota, Arthur! Por que se escondeu de mim? – Alfred segurou-o pelos ombros, sacudindo-o com raiva.

– E-E-Eu... Ei, não me chame de idiota! Você que veio atrás de mim! – Relançou Arthur, um pouco constrangido ao notar que todos os clientes e funcionários estavam assistindo à discussão como se fosse uma novela.

- Eu vim porque você foi embora! – Ele fez uma pausa, afrouxando a pressão aos ombros dele. – Eu vim... Eu vim porque você fugiu de mim. E eu não conseguiria passar todo esse tempo sem você.

Ouviu-se um coro de “Ahh...” que Arthur quis assassinar.

- Eu... Alfred, me desculpe. – Ele abaixou a voz, se rendendo. – Eu disse a mim mesmo que deveria te esquecer por enquanto estivesse aqui, ou eu não iria conseguir manter o foco nos meus objetivos. – Arthur respirou fundo, preparando-se para se confessar - Porque... Toda vez que eu acabava pensando em você, tinha esse mesmo sentimento. De querer pegar o primeiro avião e voltar.

Ele ficou em silêncio por um minuto, encarando-o nos olhos, mas pensando profundamente, mesmo que todos os olhares se voltassem para os dois.

- Artie, eu não... Eu não sabia que você se sentia assim... Só pensei em mim, e não imaginei isso. Eu que sou o idiota aqui.

Arthur queria dizer algo que o reconfortasse, mas não havia como. Ele só havia pensado nele mesmo.

- Mas eu atravessei o oceano, e vim até aqui – Ele teve uma mudança de humor instantânea, abrindo um sorriso. – pra te dar uma coisa. Er... Seria mais pedir uma coisa.

- O que é? Eu esqueci algo, ou levei algo seu, e...

A frase de Arthur foi cortada quando a ficha caiu. E quando viu um Alfred ajoelhado à sua frente nervosamente retirar uma caixinha do bolso e abri-la em direção a ele. E então ele respirou fundo, e recitou as palavras com uma voz melódica aos ouvidos do inglês:

- Arthur... Casa comigo?

Era como se seu corpo inteiro entrasse em festa. O seu coração começou a bater forte, como o compasso de uma música que tocava ao fundo. Os seus pelos se arrepiaram e a respiração entrecortava, ainda encarando com o susto. A sua boca se abriu em um imenso sorriso surpreso, mas ele não conseguiu falar nada. E os seus olhos se encheram de água, deixando aquela visão turva.

- E-E-E-Eu... A-Alfred...

- E então? – Ele sorriu ainda mais.

Arthur parou um segundo. Ele respirou o mais fundo que pôde na vida.

- Sim. – Foi também o maior sorriso que já abrira. E a melhor felicidade por girar em torno de uma palavra.

A plateia da cafeteria – inclusive alguns penetras que souberam da história e resolveram adentrar a loja – quase chorava de emoção.

Dispondo o anel de ouro em seus dedos, ele se levantou entre palmas e imediatamente colou os lábios contra os dele, num beijo suave como uma promessa, e o abraçou como nunca. O abraçou como se não existisse tempo, e eles pudessem ficar ali no meio de uma multidão pra sempre, daquele mesmo jeito.

Afinal, pra que a pressa?