BitterSweetheart

Capitulo 3 – Novos amigos... E inimigos.


Carla

– Bom dia, linda! Nossa, a Maitê está melhorando muito a qualidade estética dos seus funcionários. Você é linda demais. Prazer eu sou Guilherme, mas pode me chamar de Gui. Vou te apresentar o edifício.

Apertei a mão de Guilherme e não consegui não sorrir sinceramente. Ele era o tipo de pessoa contagiante e expressiva que nos faz sentir estranhamente confortável somente por sua presença, usava uma camisa social salmão com os primeiros botões abertos e a gravata sem nó, presa apenas pelo colarinho da camisa. Seus olhos eram sinceros tinham uma linda cor de mel, o que era ainda mais surpreendente por ser exatamente a mesma cor de seus cabelos. Ele era baixo e magro, porém sua presença e animação faziam com que ele parecesse bem maior, como se preenchesse qualquer espaço vazio no mundo.

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– Prazer, eu sou Carla. Na verdade eu conheço um pouco do edifício, vinha aqui sempre quando estava na faculdade. Você podia me apresentar às pessoas, falar um pouco do que cada um faz. Tenho certeza que vou aproveitar bem mais assim.

– Garota, você tem futuro! Acabou de tocar no ponto certo, aqui você precisa mesmo conhecer bem as pessoas ou vai sempre se surpreender negativamente. Por que não tomamos um café enquanto te atualizo nas últimas fofocas?

Ele me levou até a cafeteria do prédio me indicando o caminho, mais por hábito do que por necessidade, já que eu demonstrava saber onde era tão bem quanto ele. Gui pediu dois cappuccinos e começou a sua apresentação da rotina do departamento.

– Então, Sweetheart, me escute. Isso aqui é um sanatório. As pessoas são malucas, a rotina é maluca e os comportamentos são malucos. Não confie em ninguém antes de conhecê-lo bem, porque aqui é cobra comendo lagarto... E infelizmente, eu não posso ser o lagarto de todas as cobras deliciosas que tem nesse lugar!

Confesso que aquilo me pegou totalmente desprevenida, não que eu não tivesse vários amigos gays e estive acostumada com essas piadinhas, mas aquele lugar não parecia comportar esse tipo de comportamento devido à sua seriedade, fiz o possível para não rir, segurei a respiração e sentia que meu rosto estava ficando vermelho a ponto de explodir e ao mesmo tempo muito sem graça.

– Sinta-se livre para rir, amor. Não precisa se preocupar. Eu sei que é estranho encarar meu comportamento em um ambiente como esse, mas eu não sou do tipo que finge ser o que não é. E esse sou eu, o brilho e o glamour em pessoa. Mas você logo vai perceber que esse é o grande problema desse lugar, aparências... Todos estão muito preocupados com ela. Minha assistente mesmo tem esse probleminha. Ela esconde-se atrás de um scarpin e finge que não sente atração por cada menina que passa perto dela.

– Nunca imaginei que houvesse tantos homossexuais aqui. Aliás, não parecia haver nenhum.

– Você vai descobrir muitas coisas sobre aparências por aqui, Sweetheart. – Ele ria gostosamente e parecia mesmo se divertir enquanto me contava as fofocas do lugar. – Aqui tudo que parece, não é! Menos eu, claro. O mundo é gay, meu amor... E a Procuradoria Geral da República não é diferente. Mas eu vou deixar você perceber por si mesma. Só te digo uma coisa sobre aparências. Cuidado com elas... Vão te pegar pelo pé a noite se você não se cuidar. A Maitê, sua chefe, por exemplo, é ótima, é uma mulher de talento e sucesso que tem o dom do poder e consegue tudo o que quer. Ninguém consegue tudo o que quer sendo transparente. Ela esconde muitas coisas e é muito exigente quanto a isso. Aquele cara ali... – Ele apontou um homem moreno que se exibia para duas moças bem jovens, pareciam estagiárias e eu reconheci o cara do elevador. – É o Tiago, Assistente Sênior dela, um cara delicioso, mas por dentro não acho que seja mais bonito que um miolo de macaco. Ele fica com a Paula, mas a despreza e faz o que quer da menina. Além de comer todas que passam pela sua frente. Eu ainda passo todos os dias pela frente dele, a esperança é a ultima que morre, não é?

Dessa vez não tentei me conter e ri abertamente. Eu não disse? Ele é contagiante. Era incrível conversar com Gui, ele era puro e transparente, sem medo de mostrar o que pensava de verdade. E eu soube imediatamente que havia encontrado ali alguém em quem confiar e com quem poderia contar sempre. Ele seguiu com as explicações sobre cada pessoa e eu me surpreendia sempre mais com a moral pouco existente daquele lugar.

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– Boa tarde, senhor Guilherme! – Gui se sobressaltou ao ouvir Tiago falar atrás dele e eu fechei a cara quando o vi aproximar-se. Não sei explicar, mas algo me incomodava nesse cara. – Não vai me apresentar sua nova amiga?

– Acho que já fomos apresentados no lamentável episódio do elevador.

– Eu sei que sim, gatinha. E como eu sabia que você devia estar louca por uma chance de se desculpar, eu vim aqui te poupar o trabalho e te convidar para almoçar comigo.

Dei uma gargalhada alta me impressionando cada vez mais com a falta de noção dele.

– Me desculpar pelo que? Eu não fiz nada. E com certeza eu não estava nem mesmo pensando em você.

– Hum, uma mulher difícil... Adoro meninas difíceis. Amanhã eu te convidarei novamente e você terá mudado de idéia.

– Tente a sorte rapaz. – Dei uma piscadinha e me virei para conversar com Gui, ignorando a irritante presença de Tiago.

Ele segurou minha mão e deu um beijo, olhou em meus olhos e resolveu ficar assim, em um silêncio constrangedor me encarando e se aproximando lentamente. Ele estava me dando nos nervos e eu já estava preparando o tapa quando Paula entrou na conversa.

– Dando as boas vindas à nova colega, Ti? – Salva pelo gongo, ou melhor, pela gostosinha da assistente do Gui que me tocou o terror quando cheguei.

– Ah! Oi Paula. Na verdade eu estava convidando ela para sair, mas ela não gostou muito da idéia. Ela ainda vai gostar... Diz a ela se eu não valho à pena, minha gata.

Paula sorriu meio sem graça e se encolheu toda, percebi em seu rosto o desgosto pelo jeito como ele a tratava e por como se dirigia a mim, mas não teve coragem de desafiá-lo, muito pelo contrário, ela... Concordou?

– Ele vale, com certeza. – Isso sim conseguiu me deixar indignada, ela se virou para ele com um sorriso buscando aprovação por ter sido tão boa menina. – Quer ir à minha casa hoje à noite, Tiago?

– Bem, eu não tenho nenhum compromisso hoje. Acho que apareço por lá. – E saiu sem nem mesmo olhar para Paula, então ela abaixou o rosto e encarou os próprios pés por um tempo, depois se voltou para mim.

– E você não olha para ele. Ele tem dona, ok?

Olhei incrédula para Gui, me recusando a acreditar que isso pudesse estar mesmo acontecendo.

– Isso é sempre assim? Não sei quem é mais idiota ali. “Tem dona”... Eu vi que grande dona.

– Eu te falei... Ele faz dela o que quer. Mas não pude deixar de notar que você nem mesmo o olhou. Apesar de ser um cafajeste, ele costuma chamar a atenção das mulheres.

– Não faz meu tipo...

– Não faz seu tipo até que ponto?

– Como assim?

– Não faz seu tipo porque é moreno e você gosta de loiros ou não faz seu tipo porque tem cabelo demais em lugares demais?

– Hã? Não to entendendo nada. – Sim. Eu tinha entendido perfeitamente, mas aquele era meu primeiro dia com um dos meus chefes e ele me pergunta isso assim, na lata? Ok, meu rosto corar furiosamente não deve ter ajudado a convencê-lo de que eu não havia entendido e eu percebi isso pela risada dele.

– Você está me entendendo sim... Eu vi que você nem olhou par o Tiago, mas deu uma boa secada na namorada dele.

– Gui é uma longa história... Mas resumidamente, sim, eu sou lésbica.

– Não vejo o que pode ter de longo nisso, você disse tudo. E eu não disse? O mundo é gay, Sweetheart, mas eu gostaria muito de ouvir essa longa história. Vamos sair para beber hoje? Vai ter uma balada legal rolando.

– Eu vou adorar. Sua companhia é ótima e eu não tenho nada mesmo para fazer a noite.

– Te pego na sua sala no fim do expediente.

– Fechado.