—Então, Gabe, já achou o que você precisava? —O garoto quase pulou de susto ao ouvir a voz de Daniel na porta e, rapidamente, tirou a foto da jaqueta e escondeu no próprio bolso enquanto se virava para a porta.

—Ah, oi, Daniel. —Ele sorriu sem graça com a sensação de ser pego fazendo algo errado. —Achei que você tinha descido para a quadra...

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—Eu decidi vir te chamar antes que o professor notasse você matando aula. —O outro sorriu olhando Gabriel nos olhos, sem dar sinais de perceber seu nervosismo. —Eu sei que educação física é chata, mas você não devia matar, que coisa feia! —Brincou. —Então... Por que você está aí?

Gabriel ficou confuso por um segundo, então percebeu que ainda estava parado ao lado da carteira de André, mais ao fundo da sala, enquanto a sua própria ficava mais na frente. O que dizer agora? Ele não podia mais dar a desculpa de “esqueci uma coisa na mochila”, podia? O olhar de Daniel sobre si aumentava seu nervosismo cada vez mais.

—Hm... Eu só... Vim buscar uma coisa que caiu? —Ele sabia que soou mais como pergunta que como afirmação, mas esperava que a desculpa colasse.

—Ah tá. —E, pelo visto colou! —E o que é? —Ou não...

O sorriso de Daniel não se alterou, mas Gabriel conseguia sentir certa desconfiança. E agora? O que fazer? O garoto colocou as mãos no bolso, sentindo a foto que acabara de furtar sem sequer ver o que era, talvez ele devesse dizer a verdade?

—Uh... É... —Enquanto mexia nos bolsos, mais para se acalmar que por qualquer outro motivo, acabou esbarrando em algo debaixo da recém-adquirida fotografia. Provavelmente algo que ele guardou lá há tempos e se esqueceu de tirar... Mas era melhor que nada, e bem menos arriscado que a verdade. Lentamente, ele pegou aquilo —seja lá o que fosse— e mostrou para Daniel, era uma nota de cinco reais.

Gabriel nunca se sentiu tão feliz por esquecer dinheiro nos bolsos.

—Você quase matou aula por cinco reais? — Daniel riu. —Vamos? Daqui a pouco o professor faz a chamada e é melhor a gente estar lá! —Completou com seu bom humor de sempre e pegou Gabriel pela mão. O garoto permitiu e os dois correram de volta à quadra.

A boa notícia é que os dois chegaram quando a chamada estava na metade, então nenhum dos dois levou falta. A má notícia é que eles chegaram a tempo de correr algumas voltas ao redor da quadra o que, na opinião de Gabriel, era péssimo. Depois do aquecimento o professor mandou que formassem dois times de basquete e, como sempre, os garotos ficaram no banco de reserva conversando e esperando a aula acabar. Afinal, raramente alguém os escolhia para os times, até o professor já estava acostumado a isso.

Depois da educação física tiveram aula de geografia, matemática e, finalmente, o intervalo! Gabriel não pegou mais na foto desde que a furtou de André, afinal, Daniel sentava atrás de si e com certeza perceberia se ele a examinasse no meio da aula. No intervalo, Gabriel comprou um salgado na cantina e Daniel levou um pacote de biscoito de sal e um suco de caixinha. Os dois lancharam juntos, como de costume, e Daniel aproveitou que estavam fora da sala para roubar um beijo de Gabriel. Entre conversas, beijos e risos, o intervalo passou voando e logo o sinal tocou. Hora de voltar para a sala...

Mais algumas aulas longas e entediantes que Gabriel precisou se esforçar para acompanhar, ou pelo menos tentar acompanhar... Não era culpa dele se a parede ficava repentinamente interessante durante as aulas, o sinal finalmente tocou. A maior parte dos alunos saiu em disparada da sala, outros levaram mais tempo guardando o material e outros, como Gabriel, ainda estavam acabando de copiar a matéria no caderno. Enquanto terminava, ele reparou que André foi um dos primeiros a sair, aparentemente não deu por falta da foto ainda... O garoto não queria nem imaginar a reação dele ao descobrir.

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A sala já estava praticamente vazia quando Gabriel terminou de guardar o material para sair. Daniel o esperou e ambos saíram juntos do colégio, fazendo companhia um ao outro durante o caminho para casa até que chegou o ponto no qual se separavam, já que a casa de Gabriel era um pouco mais longe que a de Daniel.

Depois de uns dez minutos andando sozinho, o garoto chegou em casa e esperava encontrar uma marmita no microondas e um bilhete de sua mãe dizendo que sentia muito por não poder almoçar com ele, como sempre, por isso o cheiro de comida ainda cozinhando e a movimentação na cozinha o pegaram de surpresa.

—Ah, oi. —Lucas sorriu enquanto mexia a panela, mas sem olhar para ele. —Chegou cedo.

—Oi... —Gabriel não soube ao certo como reagir. Lucas não estava chateado com ele? Da última vez que se falaram, ele deu a entender que o irmão era uma decepção. —O que está fazendo aqui?

—Bem... —Ele hesitou. Espera aí! Lucas? Hesitando? Coisa boa não era! Gabriel nunca viu o irmão ficar sem jeito antes! —A mãe não ia poder cozinhar, o pai vai almoçar fora com a Raquel hoje e eu pensei que você gostaria de ter uma companhia para o almoço e, sei lá, ver um filme, jogar um jogo, algo assim?

O garoto precisou de um momento para processar. Primeiro porque era muita informação e segundo porque foi dito muito rápido! Aparentemente, Lucas falava ainda mais acelerado quando estava nervoso! Praticamente se atropelando na explicação!

—Ah tá. —Ele ainda estranhava a situação, mas se sentou à mesa de qualquer forma. O cheiro estava irresistível! E, se era preciso aturar um momento esquisito com o próprio irmão para ter um almoço caseiro, parecia valer a pena. Não era um preço alto a pagar.

Depois disso, a cozinha caiu num silêncio meio constrangedor. Lucas voltou a mexer as panelas e, vez ou outra, checar o forno, enquanto Gabriel encarava as paredes esperando que o tempo passasse mais rápido. Ele pensou em simplesmente ir para o quarto e pedir para o outro chamá-lo quando a comida estivesse pronta, mas achou que seria ainda mais esquisito sair depois de tanto tempo sentado... Pelo visto não era um preço tão baixo assim.

Num certo momento, Lucas parou de se preocupar com o fogão e deixou as panelas sozinhas, com o fogo ainda ligado, para se sentar na frente de Gabriel. Ele também olhava as paredes vez ou outra, evitando o olhar do irmão.

—Então... O almoço está quase pronto. —Ele sorriu. —E, bem, eu acho que precisamos conversar.

—Hm? —Gabriel não estava gostando nada do rumo dessa conversa.

—Olha, Gabriel, eu pensei muito na conversa que tivemos antes, falei com uns amigos e... Eu acho que eu fui um idiota. —Riu. —Um completo idiota. Totalmente estúpido. Cabeça de vento. Desmiolado. —A cada novo termo, ele fazia um gesto exagerado. Querendo ou não, o mais novo acabou rindo. Lucas não conseguia levar nada a sério! Pelo menos as coisas estavam parecendo mais normais. —Enfim, o que eu quero dizer é que eu errei. Errei feio mesmo. Errei pior que na vez que eu disse brasileiro era quem nascia em Brasília na aula de geografia. E, bem, não importa se você gosta de garotos, garotas, metrôs ou alienígenas, você é meu irmão e tudo bem para mim.

—Sério?... —Gabriel não sabia ao certo como reagir, não sabia se devia rir do discurso pseudo cômico, agradecer a compreensão, cruzar os braços e dizer que isso não mudava as palavras cruéis que Lucas disse antes ou seja lá mais o que ele podia fazer.

—Sério. —Lucas sorriu confiante e o garoto nem teve mais que pensar numa reação, porque o mais velho levantou, abriu os braços e sugeriu logo— Abraço?

O mais novo até pensou em recusar, mas para que ficar pensando numa briga que já passou? Então ele apenas sorriu e aceitou o abraço. Era bom estar “de bem” com o irmão de novo. Mesmo com os filmes de comédia a toda hora, piadas ruins, saídas constantes e agitação extrema de Lucas, era bom tê-lo por perto.

Depois de um tempo, Lucas rompeu o abraço para voltar ao fogão e mandou o irmão “lavar as mãos porque ele tinha chegado da rua e tinha sei lá quantas mil bactérias e blá blá blá”. Lucas exagerava? Sim! Mas Gabriel não pôde evitar rir, aliviado pelo fim daquele clima estranho entre eles.

Quando o garoto voltou, a mesa estava posta. Uma travessa de arroz de forno à parmegiana, uma vasilha com bolinhos de legumes, uma salada simples com grão de bico e uma jarra de suco de abacaxi com hortelã. Gabriel sentiu seu estômago roncar e sua boca salivar, era a primeira vez que teria comida caseira (ou, pelo menos, não congelada ou comprada pronta) desde... Bem, desde a última vez que Lucas cozinhou, antes da briga.

—Sirva-se. —Lucas fez um gesto teatral indicando a mesa, parecendo orgulhoso de seu trabalho. —Se não gostar de arroz de forno, ainda teve ter alguma coisa na geladeira, eu posso esquentar se quiser...

—Não, tudo bem, está ótimo. —Gabriel tratou de cortar o discurso do irmão antes que ele começasse a se atropelar de novo. Obviamente, o mais velho ainda estava nervoso, o que obrigava o garoto a ser a “pessoa calma” da situação... Se ele estava surpreso por precisar ser a pessoa madura da relação? Nem um pouco! Quando seu irmão mais velho é o Lucas, você aprende logo que idade e maturidade não estão relacionadas!

Os dois começaram a comer em silêncio meio estranho, considerando que Lucas, em geral, nunca deixava isso acontecer, sempre trazendo um assunto à tona ou mesmo tagarelando sobre qualquer coisa que tenha visto ou ouvido falar. Gabriel suspirou, aparentemente seu irmão, quando estava nervoso, alternava entre falar muitas coisas muito rápido ou não falar nada. Ele decidiu tentar puxar um assunto por si mesmo, já que o outro não parecia muito disposto a fazê-lo:

—Então... Quem é Raquel? —Disse a primeira coisa que veio à mente.

—Hm? —Lucas parou de brincar com a comida no prato e voltou sua atenção ao irmão.

—Você comentou uma Raquel antes, não foi? —Gabriel torceu para ter entendido certo. Não foi exatamente fácil acompanhar aqueles discursos!

—Ah! A Raquel! —Lucas riu consigo mesmo. —É só a nova namorada do pai. Eles saem para almoçar juntos de vez em quando, ela vai à casa dele nos fins de semana, essa coisas.

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—Não sabia que o pai tinha namorada...

—Pois é, a vida continua... Ele e a mãe já estão divorciados há mais de um ano. Era hora de seguir em frente.

—Hm, e ela é legal?

—É, ela é gente boa. Você deve conhecê-la quando passar um fim de semana na casa do pai. Relaxa, você vai gostar dela.

Depois disso, a conversa fluiu mais facilmente. Lucas pareceu relaxar mais e aproveitou para emendar logo outro assunto, depois outro, e acabou praticamente monologando até o almoço acabar. Não que Gabriel estivesse reclamando, ele até gostava de ouvir as histórias do irmão e se sentiu aliviado por não precisar pensar em outra coisa para manter a conversa.

Depois do almoço, Lucas sugeriu que vissem um filme e disse que o irmão podia escolher um DVD enquanto ele lavava a louça. Gabriel, depois de procurar muito, encontrou alguns filmes que não eram de comédia ruim no meio da bagunça das gavetas: “Marley e eu”, “Suicide Room” e “Um amor para recordar”. Os filmes deviam estar esquecidos há um bom tempo, já que estavam bem no fundo. Ele reconheceu o último da época que sua mãe tinha tempo para ficar em casa e aproveitar com a família, ela realmente gostava de romances, já os dois primeiros o garoto nem imaginava de onde vieram.

—Então, o que vamos ver? —Lucas apareceu e se juntou a ele na sala.

—Marley e eu. —Gabriel decidiu na hora, apesar de ser uma comédia, parecia um pouco mais decente que as comédias pastelão do mais velho. E uma história com um cachorro não podia ser ruim, podia?

O clima entre eles ainda não estava totalmente normal. Lucas, em vez de se deitar e usar o mais novo como travesseiro como sempre, decidiu ficar sentado na ponta do sofá oposta a Gabriel. Mas, apesar do clima meio esquisito, as coisas estavam melhores.

Foi a hora mais quieta que Gabriel já passou na presença de Lucas, e isso foi um pouco desconcertante, para falar a verdade. O mais velho praticamente não se mexeu durante o filme todo, nem para beber água, pegar petiscos ou simplesmente mudar de lugar. Nem os típicos tiques nervosos como batucar na mesa ou mexer os pés sem parar se manifestaram dessa vez. E, de alguma forma, isso foi mais irritante que ser interrompido a cada cinco minutos, pelo menos com o último Gabriel estava acostumado! Claro que Lucas riu nas cenas engraçadas, mas era uma risada mais contida, menos escandalosa.

—Ei, Gabriel, quer ir numa festa? —O mais velho quebrou o silêncio depois de um tempo, para o alívio do outro!

—Agora? Ainda tá de tarde, e o filme nem acabou!

—Ora, não existe hora para festa! E é coisa pequena, só uma reuniãozinha de amigos na casa de uma amiga, vai ser legal! E voltamos antes de escurecer! Além do mais, aqui tá chato mesmo, você tem um péssimo gosto para comédias! —Ele riu.

Gabriel revirou os olhos, o quão irônico era Lucas questionando o gosto de alguém para comédias? Mas ele não tinha mesmo planos para a tarde, e quem sabe sair um pouco fosse uma boa ideia... Ao perceber que o garoto estava considerando a ideia, Lucas tratou de continuar:

—Vamos! Vai ser legal! E você ainda vai conhecer umas pessoas do terceiro ano. Vai ter comida, deve rolar algum jogo legal... Você vai curtir!

—Tá bom! — Gabriel exclamou simplesmente porque seu irmão não o deixaria em paz a tarde toda se ele negasse. —Só vou trocar de roupa.

—Eu também. Saímos em meia hora, que tal?

*

Obviamente, meia hora se tornou uma hora simplesmente porque Lucas não sabia o que vestir. E, de novo, Gabriel teve que passar pela tortura de dar opinião entre duas camisas praticamente idênticas e ficar repetindo que ele estava ótimo e que eles estavam atrasados.

—Achei que você nem queria ir. —Lucas revidou.

—É, mas se a gente vai, que seja na hora!

—Relaxa, é são só uns minutinhos de atraso. Então, você prefere a camiseta azul listrada ou a verde escura simples? E é melhor bermuda ou calça?

Gabriel se limitou a grunhir algo em irritação e voltar a sua posição como “juiz de roupas praticamente iguais”.

No fim, Lucas optou por uma camisa cinza claro com pequenas listras brancas e um jeans. Depois levou mais algum tempo para ajeitar o cabelo e, finalmente, decidiu que estava bom o bastante para saírem. Gabriel pensou que eles iriam a pé, já que o irmão era adepto de andar a cidade toda em vez de apenas pegar um ônibus e não tinha carteira de motorista ainda, então se surpreendeu quando viu um carro esperando perto do portão.

O mais velho explicou que pediu uma carona, já que a casa da amiga dele era meio longe, e apresentou Gabriel aos amigos dele que estavam no carro. Dois garotos, que cumprimentaram Lucas e foram bem educados com Gabriel, e uma garota mais velha, a qual disse que só daria a carona, mas não participaria da festinha. Lucas fez uma piada sobre ela ser certinha demais, mas parou por aí. Dentro de dez minutos, eles chegaram.

A casa era bem grande, apesar de não ser exatamente uma mansão. A sala era ampla e se encontrava cheia de adolescentes em grupinhos e de uma música que preenchia o local, a cozinha também não era pequena e o quintal tinha algumas árvores pequenas e no andar de cima, havia pelo menos três quartos. Chegando lá, eles foram prontamente recebidos pela anfitriã, o que surpreendeu Gabriel. Era Vanessa.

A garota cumprimentou os outros animadamente e, quando percebeu a presença do garoto, hesitou um pouco.

—Ah... Oi, Gabriel. —Ela sorriu sem graça.

—Oi, Van. —Ele retribuiu do mesmo modo.

—Ah é, esqueci de avisar que ia trazer meu irmão. Foi mal, Vanessa, espero que não se importe. —Lucas disse quando percebeu o clima estranho entre os dois. —Achei que você não ia se importar, já que vocês são amigos e tal...

—Tranquilo, Lucas. Tudo bem. —Ela assegurou, mesmo que não passasse certeza.

—Tá... Então, eu vou estar ali se alguém precisar de mim. Vou ver se alguma gatinha topa um jogo da garrafa comigo! —Ele riu e se afastou.

—Seu irmão não tem jeito. —Vanessa suspirou.

—Eu sei. —Gabriel concordou no mesmo tom.

—Então... Pode ir aproveitar a festinha. Tem salgado em cima da mesa da cozinha, refri na geladeira e deve ter algum grupinho jogando cartas por aí, se quiser. —Ela disse rapidamente e fez menção de se afastar, mas Gabriel a parou:

—Espera! Você... Uh... Você pode me mostrar a casa? É a primeira vez que eu venho aqui.

—Ah... Claro, tudo bem. Só me seguir.

Ela mostrou para ele os cômodos do andar de baixo primeiro, depois o chamou para subir. Lá em cima estava o quarto dos pais dela, um quarto de hóspedes, um banheiro e, por fim, o quarto dela.

—E esse é meu quarto. —Ela sorriu e abriu a porta, revelando um quarto relativamente grande, com uma cama de casal, uma escrivaninha cheia de livros jogados, um notebook no canto e um grande guarda-roupa. —Pode vir aqui no meio da festa se quiser, já que você não curte agitação tanto quanto seu irmão, mas não bisbilhote nada! —Ela riu e percebeu que estava próxima demais de Gabriel, dando uns passos para trás. —... Agora eu vou indo, tchau.

Antes que o garoto a impedisse, ela saiu apressada e deu como desculpa algo como “receber as pessoas” ou “ver como as coisas estão lá embaixo”. Ele não entendeu ao certo o problema, eles estavam indo tão bem sem aquele clima esquisito, como eram antes, então ela fugiu. As coisas estavam esquisitas ultimamente!

O restante da tarde de Gabriel se resumiu a assistir seu irmão indo de um lado para o outro incessantemente, se juntar a um grupinho de pessoas jogando Uno (um dos amigos de Lucas do carro o convidou para uma partida) e ser evitado descaradamente por Vanessa. Num certo ponto, o garoto acabou se cansando da música alta, de tanta gente amontoada num lugar só e da gritaria de alguns grupos e decidiu aceitar a oferta da anfitriã e se refugiar lá em cima! Ele realmente não era dado a festas como Lucas...

Ele entrou no quarto de Vanessa e fechou a porta lentamente atrás de si, com a sensação de fazer algo que não deve. Mesmo tendo permissão, ainda parecia errado entrar no quarto de uma garota sem ela por perto. Mesmo assim, lá era bem mais calmo e tranquilo que o andar de baixo, então ele ignorou a sensação e se sentou na beira da cama, tentando ao máximo não desarrumá-la.

Depois de um tempo, ele enjoou de apenas encarar a parede sem fazer nada, mas não se sentia disposto a usar o computador alheio ou mesmo pegar um livro. Por fim, ele decidiu pegar o celular para se distrair, mas, ao pôr a mão no bolso, percebeu duas coisas.

Primeiro, ele esqueceu o celular em casa.

Segundo, ele estava usando o mesmo casaco desde a manhã, e a foto furtada ainda estava lá.

Hesitante, ele a pegou e desdobrou. Na fotografia havia três pessoas, uma mulher agachada abraçando duas crianças. Ele não conhecia a mulher, mas ela era bonita. Uma das crianças estava abraçando-a de volta alegremente, com um grande sorriso no rosto e fazendo um V com os dedos para a câmera. Por mais estranho que fosse, ele reconheceu que era André mais novo, ou pelo menos uma versão alegre e fofa do garoto briguento e mal humorado. O outro menino parecia tentar manter certa distância do abraço, não retribuindo como André, ele também não estava tão sorridente, mas sim meio emburrado. E, o mais importante, era, com certeza, Daniel.

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