A mãe de Gigabyte nos trouxe outra bandeja de salgadinhos. Depois da terceira eu havia parado de contar. Ele nos convidara para passarmos a tarde em sua casa, e depois que fez menção à comida, Adriano me arrastara até lá, dizendo que precisava reabastecer antes de ir para o trabalho. Os dois jogavam em um dos vários videogames. Algum jogo sobre guerra, sangue e destruição em massa.

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O quarto de Giga era o cenário do filme Guerra nas estrelas. Por todo o lado, em cada canto, existiam joysticks, bonequinhos colecionáveis de personagens de filmes, gibis e games. Era o quarto mais bagunçado que eu já vira.

— Então, Giga – eu disse, só pra puxar assunto. – Você faz o que quando não está na escola?

— Eu jogo. Jogo na escola também. Às vezes eu jogo nos sonhos – ele falou, sem tirar os olhos da tela. Ele atirou na cabeça do boneco do Adriano que se revoltou ao seu lado.

— Eu não duro nem cinco minutos jogando com o gordinho!

— Olha a ofensa, eu posso ser o seu chefe também.

— Foi mal – Adriano tratou de se desculpar.

— Você vai ficar violento com esses jogos... - eu brinquei, reparando nas espadas coloridas e brilhantes que pendiam da parede sobre a mesa de computadores. Isso mesmo, no plural.

— Então vou jogar banco imobiliário pra ficar rico.

Senti meu rosto esquentar. Adriano levantou os dois braços e gritou.

— Mil para Giga, zero para Brisa!

— Desculpa, não foi minha intenção ofender – ele girou o corpo, me encarando por dois segundos para voltar sua atenção para a tela brilhante novamente.

Me dirigi até a cama e peguei um livro da pilha enorme que estava encostada na parede, sob montes de roupas sujas. Quase precisei de uma escavadeira para tirar algumas roupas dali. Mas por baixo delas haviam uns trezentos livros organizados em ordem alfabética. Analisei os títulos. Em várias línguas diferentes.

— Gigabyte... – ele não tirou os olhos do livro, mas eu sabia que ele estava ouvindo. – Em quantas línguas você é fluente?

— Cinco – seus dedos não paravam de deslizar sobre as teclas do controle. – Além da nativa, inglês, espanhol, francês, alemão e um pouco de japonês.

O que esse garoto era? Um computador?

Cara... - Adriano falou, ainda sentado ao seu lado. - Eu sou seu fã, quero um emprego na sua Multinacional.

— Será um prazer te contratar como meu guarda costas.

Os dois apertaram as mãos.

— Quantos amigos você tem? – questionei.

— Vou te contratar como entrevistadora na minha empresa, senhorita Brisa.

— Deixa de gracinha e responde, Giga.

— Ela é sempre assim irritante – Adriano sussurrou para o novo amigo. Lancei-lhe um olha ácido. – Com o tempo você se acostuma.

— Deixe-me ver – ele começou a contar nos dedos. - Tem o R2D2, o Senhor Baggins, o Doctor Who... Tenho uns cento e cinquenta amigos.

— Onde eles moram? - Com nomes tão estranhos deveriam ser de outro país...

— Depende... Uns no Condado, um em Dagobah... Bem, a maioria está ali, naquela estante.

Ele apontou para uma estante de madeira cheia de bonequinhos.

— Seus amigos são só aqueles bonequinhos?

— Não ouse dizer , eles custaram muito mais do que uma pessoa na clandestinidade.

— Ok, nós temos claramente aqui um nerd antissocial com amigos inanimados.

— Não fala assim! - ele falou baixinho para mim. - Fere os sentimentos deles!

— Vamos fazer um trato – Giga cruzou os braços e me observou. - Eu e Adriano seremos seus amigos se...

— Envolve dinheiro – ele me interrompeu. - Não quero.

Adriano gargalhou.

— Não, não é nada disso. Só o Adriano seria capaz de extorquir dinheiro de você em troca de amizade.

Adriano me mostrou a língua numa demonstração de maturidade de alto nível.

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— Você poderia começar arrumando o seu quarto.

Gigabyte me olhou de uma forma que até eu pensei que estava louca.

— Você quer mexer no meu santuário?! - ele gritou indignado.

— Veja bem, arrumar um pouco vai deixar sua mãe mais feliz, vai me deixar mais feliz e eu vou poder vim mais aqui. - tentei sorrir.

— Eu não vejo problema algum em continuar assim – Adriano disse, jogando-se no ninho que era aquela cama.

— Eu consigo sobreviver sem a Brisa aqui – Giga devolveu.

— Se eu não vim Adriano também não vem.

— Por quê? - os dois perguntaram ao mesmo tempo.

— Porque seu novo amigo me prometeu que me seguiria para sempre hoje de manhã.

Adriano prendeu seu olhar ao meu.

— Oh, meu Deus, estou shipando vocês dois agora – Giga uniu as mãos com cara de apaixonado.

Senti meu rosto pegar fogo.

— Não é nada disso, Giga – Adriano prendeu a risada. - Eu não me expressei bem. Eu não quis dizer... - calei-me.

Por que essas coisas acontecem comigo?