Eu não pretendia o soltar ou muito menos o deixar ir, ele era meu e eu era dele. Porém, não demorou muito para que eu fosse encontrada. Meu pai chegou até mim e antes mesmo de dizer alguma coisa, tirou a arma da minha mão, só então começou a suspirar frenéticamente como se não compreendesse o que eu havia feito. Patch chegou logo em seguida e também mal pode acreditar no que via, pude ver isso em seus olhos. Eu no entanto, não estava surpresa, ou desesperada, ou assustada... estava apenas calma, pronta para impedir que qualquer um o tirasse de meus braços.

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– O que você fez ? - Meu pai finalmente se dirigiu a mim. - O que foi que você fez Alice ? - Estava cada vez mais desesperado.

– Eu o calei... - Sussurrei.

– Você o matou ! O matou! - O olhei nos olhos e então, foi como se meu coração batesse novamente.

Soltei o corpo e então meus olhos encontraram os dele, fazendo então com que eu sentisse uma dor ainda maior. Antes de ir ao chão novamente, Patrick me segurou em seus braços e por mais que eu tentasse, não consegui conter meus gritos. Eu tinha o matado... eu tinha o matado. Não, eu não podia, ele não, eu não podia o perder... mas ele... ele tinha me machucado e eu... eu não me lembrava... minha cabeça doía tanto.

Muitas luzes surgiram pelo caminho, a ponto de que eu precisasse proteger meus olhos. Eu sabia que agora muitas fotos estavam sendo tiradas, mas não era com isso que eu me preocupava... eu não podia suportar o que eu havia feito. Patrick me levantou e me manteve firme contra o seu corpo e naquele momento, senti muito por estar o sujando de sangue daquela maneira, por permitir que ele tocasse alguém como eu. Ele se manteve firme e não pareceu se importar. Aos poucos foi nos tirando dali, como se nada que se colocasse diante a ele fosse um obstáculo suficiente para o impedir de continuar. Nos sentamos na passarela mesmo, ele passou seu palitó sobre meus ombros e se colocou diante a mim, me observando cuidadosamente.

– Olha só para isso... - Sussurrou abrindo um sorriso enquanto observava minhas mãos ensanguentadas e feridas. - Estão machucadas porque você foi descuidada. - Me repreendeu delicadamente.

– Não me odeia ? - Perguntei em meio as lágrimas que não paravam de correr.

– Não... - sorriu, incrédulo. - Odeio a mim mesmo, por não ter percebido quem ele era e por ter permitido que ele ainda sim colocasse suas mãos imundas sobre você. - Seus olhos estavam cheios e pude notar que ele também sentia dor.


– Eu... o matei... - Comecei, sentindo-me desmoronar cada vez mais. Ele se sentou ao meu lado. Paramédicos desceram trazendo junto a si o corpo dele, olhei fixamente para ele, sentindo uma parte de mim se perder. - Oliver...

– Não percebe quanta dor ele causou a você e a muitos ?

– E que direito eu tinha de o matar ? - Respondi, sentindo minha garganta queimar. - Que direito eu... - Me beijou, silenciando-me por completo.

– Patrick. - Uma voz nos interrompeu. Nos separamos rapidamente, senti meu peito acelerar e aos poucos, meus olhos encontraram os de Carolyn. - Traga Alice para que os médicos deem uma boa olhada nela e em seguida, venham para casa ... - ela suspirou e tomou seu caminho.

– Patch... - Disse, assustada, cobrindo minha boca com uma de minhas mãos. O que faríamos ?

Minhas mãos ainda continham o seu sangue, meus olhos ainda ardiam e meu peito parecia estar a ponto de explodir e ainda podia sentir que não havia terminado. Enquanto era examinada, eu não conseguia me concentrar em nada. Seus olhos ainda estavam presos aos meus pensamentos, suas palavras ainda soavam em meus ouvidos e eu podia sentir o seu toque por todo o meu corpo. Eu não podia explicar o quão grande era a minha dor, o quão grande era o meu arrependimento. Mal sentia dor alguma além daquela que parecia ter me deixado ao chão e me parecia injusto tudo terminar daquela maneira. Por mais que me machucasse saber a verdade, doía mais ainda saber que ele havia morrido por minhas mãos, que eu não havia tirado apenas uma vida, mas havia tirado a vida dele.

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Em casa, eu mal tive coragem de olhar Carol nos olhos, por saber o que ela tinha visto. Subi as escadas e tomei um banho, esfregando com força, cada uma das partes do meu corpo que continham sangue. Eu não sabia o que faria em seguida, mas sabia que encarar a realidade não seria possível. Eu me mantinha instável e em silêncio, provavelmente por ainda não ter acordado por completo, mas, sabendo que um dia tudo terá que explodir dentro de mim, fico temerosa, ainda não terminou, ele ainda não me destruiu por completo. Naquela noite, em meus sonhos, retornei a cada um dos momentos pelos quais passei e que deixaram feridas. Retorci-me ao imaginar a noite onde eu fui atacada, lembrando-me da maneira que ele havia surgido do nada e me defendido como se sua vida dependesse daquilo. A resposta sempre esteve diante a mim e eu jamais a enxerguei, estava cega pela pessoa que ele dizia ser.

– Alice - Ao ouvir meu nome, acordei subtamente como se me faltasse ar e depois de espremer os olhos por causa da luz, olhei para Patch.

– Oi... - Passei a mão pelos cabelos, torcendo para que ele nem sequer imaginasse a noite conturbada pela qual eu havia passado. Ele estar ali me acalmava de uma maneira que eu não poderia descrever, aquietava-me.

– Quero lhe dizer que, independente do que aconteça.. eu amo você - Segurou minhas mãos, puxando-me da cama. O olhei nos olhos e sem sequer o questionar, o acompanhei. Eu sabia o que viria em seguida.

A medida que desciamos as escadas, de mãos dadas, o olhar de meu pai se tornou visível. Ao seu lado de cabeça baixa, estava Carol, que apesar de transtornada, se mantinha tranquila. Eu jamais pensei que pudesse me sentir tão vulnerável e envergonhada daquela maneira novamente, porém, assim que reparei a maneira que meu pai nos observava, foi como se meu mundo tornasse a cair. " Pai, eu juro que tentei não te machucar... eu juro que tentei me afastar " era tudo o que eu gostaria de dizer, porém as forças novamente deixaram o meu corpo, deixando-me ainda mais enfraquecida. Me sentia suja novamente, reconhecia o meu erro e não havia mais nada que eu poderia fazer. O bolo de fotos que eu já havia visto antes, foi jogado diante a nós e eu pude sentir meu coração se partir novamente assim que os olhos do meu pai se encheram.

– ... Dentro da minha casa ? - Disse, quase em um sussurro, com a voz rouca e chorosa. - ... Meus filhos... - Levou a mão ao seu peito e em seguida, caiu sobre a poltrona de couro. Corri em sua direção a medida que ele parecia ficar sem ar.

– PAI - disse desesperada, eu não o perderia também. - EU O DEIXO, POR FAVOR, EU NUNCA MAIS FAREI... - continuei, o segurando contra mim. - Por favor... - agora, foi a minha vez de cair em lágrimas.

Naquele momento, no momento em que ele havia se levantado para me dar um tapa, eu não me sentia revoltada, apenas profundamente aliviada. Meu rosto ainda ardia por causa de sua mão pesada, porém, ele não tinha me deixado e apesar de magoado, ele ainda era meu pai e fazia aquilo porque de alguma maneira, apesar de tudo o que eu tinha causado, apesar de toda a dor que eu trouxe para aquela casa, ele me amava, e eu jamais seria capaz de demonstrar o quão grata eu me sentia. Por isso eu sorri, o deixando confuso, o abracei em seguida e subi as escadas correndo.

Eu sempre soube como a minha vida terminaria e por mais que ainda não me parecesse ser o fim, eu ao menos sabia o que faria em seguida. Com uma tesoura, retirei os apliques do cabelo que jamais me agradaram, meu cabelo não estava mais tão curto, porém, ainda sim era melhor do que o tapete que eu costumava trazer preso a cabeça. Eu sabia que era injusto esperar até que um novo dia amanhecesse para os deixar, eu sabia que desta maneira faria que guardassem um certo rancor de mim, porém, eu nunca tinha gostado de despedidas. Não levei nada ali além das lembranças maravilhosas que eu jamais poderia esquecer. Eu tinha cometido um pecado que poderia ter causado o meu fim e mesmo assim, ainda não consigo me arrepender de ter me apaixonado perdidamente por ele, de certa maneira, eu tinha prometido o deixar. Com jeans velhos e rasgados, uma camise de flanela e allstar, eu desci as escadas rapidamente antes que alguém me notasse, esperando que pudesse deixar tudo antes mesmo de ser notada.

– Ele não é seu irmão. - Uma voz vindo do escuro fizera com que eu me virasse rapidamente, assustada. Me deparei com Carol que quase não podia ser notada.

– O que... ? - Encarei a sua sombra, perguntando-me se havia escutado direito.

– Patrick... não é seu irmão. - Ela repetiu, desta vez se aproximando e mostrando o seu rosto, sempre tranquilo, sem sequer uma tensão.

– Como... ? Ele não... ?

– Ele sim. Você não. - Começou e eu me deixei cair sobre uma das poltronas. - Você já havia nascido quando meu marido e sua mãe se conheceram, porém, o seu pai morreu e a sua mãe demonstrava dificuldades em criar você, por isso meu marido se ofereceu para ajudar e aos poucos... os dois se apaixonaram.

– O que ? - Eu ainda não podia acreditar.

– Fiquei furiosa por que ele demonstrava se importar mais com uma menina que não era dele do que com o próprio filho e por isso fui até a sua casa naquela noite, eu tinha perdido a cabeça completamente - Ela sorri delicadamente. - Quem diria que nossos caminhos se cruzariam dessa maneira ?

– Por que ele reagiu daquela maneira, se não sou ... ?

– Para ele você é. - Sorriu.

Eu não consegui dizer uma sequer palavra. Acabei por perceber no final, que meus limites iam muito além do que eu havia imaginado. Eu não sabia aonde chegaria, mas eu não poderia mais ficar ali. Eu não queria acreditar em tudo, era como se eu vivesse uma grande piada, como se fosse uma brincadeira de mal gosto. Nada agora parecia fazer sentido, nem mesmo as minhas primeiras lembranças de estar viva. Eu já havia chorado demais e mesmo assim, minhas lágrimas não pareciam secar... o que eu faria agora ? Como eu viveria se aquela não era a minha família ? O que eu faria se não havia mais ninguém no mundo em quem eu pudesse confiar ? Por que tudo tinha que terminar daquela maneira ? Diante ao pier onde uma vez eu quase havia perdido a vida, me coloquei a imaginar como seria se de fato minha vida tivesse terminado naquele momento. Eu teria evitado tudo isso, eu não descobriria a verdade e não conheceria nem o amor traidor, nem o amor proibido, teria me mantido apenas em lembranças. não existiria mais e não deixaria o mundo com um coração tão ferido.

Fui puxada para longe da beirada, por mais que eu desejasse que fosse Patch, também gostaria que ele se mantesse longe. Abri os olhos depois de uma longa hesitação e me afastei rapidamente ao me deparar com Alex. Ele abriu um sorriso com os olhos azuis divertidos. Eu gostaria de sair correndo, mas eu não tinha absolutamente mais nada a perder, então permanecer ali não me parecia um grande desafio. Eu não sabia quem aquele homem era, nem o que ele queria, ele tinha simplesmente aparecido, se mostrado interessado e em seguida tinha transformado a minha vida em uma grande bagunça. Ele havia me entragado aquela arma, ele havia me ensinado a usar, ele havia causado aquele final.

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– Por que... ? Como... ? - Comecei. O que quer que acontecesse em seguida, não precisaria mais esperar.

– A verdade é muitos menos interessante do que uma boa mentira bem contada, porém... não tem mais graça fingir quando todas as cartas foram jogadas sobre a mesa. - Começou, sem desmanchar o sorriso. - É bom saber que no final, consegui todas as reações que eu desejava.

– Tudo isso foi um jogo ? - Cruzei os braços, quase que debochando de sua confissão. Não fazia o menor sentido para mim.

– Pensei assim... a vida toda é um grande jogo - Começou - Eu apenas decidi jogar o meu de uma maneira diferente. Anos atrás, meu pai que era o dono de tudo aquilo que eu tenho hoje, perdeu a cabeça por causa de uma grande rixa que tinha com o seu pai - Seu tom era calmo e de pura ironia. - Eu tinha um irmãozinho com a cabeça quente que também era um assassino de aluguel, ele quis se vingar do seu papai e acabou se apaixonando por você.

– O que... ?

– Eu não pude simplesmente assistir quando tudo isso foi jogado diante a mim. Eu treinei você e fiz com que ele se envolvesse cada vez mais com você... eu queria um final épico . - Cruzou as mãos. - Eu só não esperava que você realmente atirasse nele... - Nesse momento, uma viatura parou atrás dele e policiais surgiram dela rapidamente, o prendendo.

– O que ? Como ? - Perguntei assustada enquanto o algemavam.

– Não tem mais graça continuar aqui agora que acabou, vou passar um tempo com o meu irmãozinho. - Ele nem sequer desmanchava o sorriso.

– Mas... Oliver... - Meus olhos se encheram.

– Você não o matou. - Foi tudo o que disse antes de ser levado e me deixar completamente sozinha.