Betrayed Friendship - Jily

Capítulo V - O pior ano letivo


Passei a mão pelo rosto rapidamente a fim de secar um pouco o oceano que se concentrava nas minhas bochechas.

— Ah, Marlene... — funguei.

— Não me diga que está chorando por causa de macho — ela me encarou com a mão na cintura.

— Não é bem isso...

Talvez fosse.

— Não é bem isso, mas com certeza tem James Potter no meio. Acertei? — ela ergueu as sobrancelhas como quem está coberta de razão.

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Suspirei olhando para meus pés e assenti. Marlene bufou.

— Ah, para com isso. Levanta — ela pegou na minha mão e fez esforço para me fazer sair de onde estava.

Fiquei de pé, apesar de minhas pernas ainda fraquejarem um pouco.

— Olha... Sei que sua amiga foi uma idiota com você, mas você tem que levar em consideração que o James vacilou também.

Suspirei mais uma vez.

— Eu sei... É só que... O que mais me chateia é que ela sabia sobre tudo, Marlene. Sabia de todos os sentimentos que sempre nutri por Potter desde o jardim de infância. Está certo que quando eu era uma garotinha não era nada sério, mas poxa... Eu me apaixonei de verdade, sabe? Machuca ver que tudo o que eu mais esperei — me referia ao nosso segundo beijo — tenha ocorrido duma maneira tão descarada.

Marlene batia o pé no chão com a rapidez de um frenesi. Com certeza ela estava apenas esperando que eu terminasse a minha fala para que ela começasse a dela. Seus braços estavam cruzados e uma das sobrancelhas arqueadas.

— Acabou, Lily? — franzi o cenho. — Olha... Primeiro: Me chame de Lene que é melhor. Marlene é nome de tia da padaria — ri. — Em segundo lugar: Pare de se vitimizar! Você esperou a sua vida inteira para dar uns beijos no Potter e conseguiu fazê-lo, não foi?

— Sim, mas...

— Mas nada! Aquele lugar onde vocês se beijaram era uma festa, então é super normal que alguém fique com mais de uma pessoa... — ergui ambas as sobrancelhas, um pouco abismada. — Não que eu fique com mais de uma pessoa numa festa, é claro.

Um homem passou nos encarando estranho, então Marlene nos puxou para dentro da lojinha vizinha à minha casa.

Era uma loja de roupas variadas: ali havia desde peças estilo anos 60, até os modelos de calça rasgada e tudo a um preço muito em conta. O mais estranho é que nunca tinha parado para prestar atenção nela, já que a vitrine não chamava tanta atenção quanto deveria.

— Em segundo lugar...

— Então essa que é a loja do seu pai adotivo? — perguntei, um pouco alheia à conversa e concentrada nuns vestidos de renda.

— É. Mas me deixe terminar de falar...

— Eu adorei essa cor! É marsala, não é? — disse animada e a loira revirou os olhos, impaciente. — Ok, me desculpe. Pode terminar de falar.

— Como você sabe, ou pelo menos deveria saber, amanhã é o aniversário de Sirius e ele vai dar uma festa logo depois do término do período da tarde e você vai comigo.

Comecei a rir.

— Ah, claro. Como se eu fosse melhor amiga do Black. Pelo amor de Deus...

— Ah, nem me venha com essa! Você pintou o rosto dele até um dia desses...

— Só pintei porque foi uma encomenda... Espera... Como você sabia que eu estava pintando o rosto dele?

— Moro embaixo da sua casa, Lily. Da pra ver o seu quarto do lado de fora — ela revirou os olhos. — Em todo caso, você tem que se mostrar superior. Tem que mostrar que você não se deixou abater pelo ocorrido.

— Mas eu me abati...

— Ninguém precisa saber disso, né? — retrucou a loira.

Fiquei em silêncio e mexi em algumas jaquetas penduradas nos cabides da loja. Marlene franziu o cenho estranhando o meu silêncio.

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— Não me diga que...

— Justamente — respondi. — Quando você me encontrou na porta de casa, chorando, eu tinha acabado de chegar da casa de James. Tinha ido até lá para fazer a entrega do quadro. Estava tudo bem... Então James aparece descendo as escadas com ela.

— E então?

— E então eu surtei. Eu nem cobrei pelo quadro. Não quero mais nada que venha dele — contraí minha mandíbula e suspirei, irritada.

— Quem mais estava lá?

— Só vi os dois e o senhor Potter.

Marlene caminhou de uma ponta à outra da loja e respirou fundo.

— Certo, então ainda dá pra você ir à festa.

— Isso é sério? — levei a minha mão à cintura e a fuzilei com o olhar.

— Super. Agora vem aqui que eu tenho alguns modelos maravilhosos de vestido! — ela disse animada e me puxou pelo braço até o provador mais próximo. —Não quero saber de você chorando por aí. Os dois vacilaram, mas a vida que segue. Você vai chegar naquela festa comigo lacrando tudo!

Ela jogou um vestido dourado por cima da cortina do provador e eu o vesti. Ele caiu irritantemente como uma luva.

— Eu sabia que ficaria perfeito em você! Ele vai até o joelho, o que faz com que sua pele contraste nele, além dos seus cabelos, né? Também tem a questão dos seios, que ficam maravilhosos nesse decote...

Realmente Lene tinha o dom para falar de moda. Depois de uns cinco minutos falando todas as qualidades minhas dentro daquele vestido — motivo pela qual eu não a mandei calar a boca antes — ela trouxe um par de sandálias de salto da mesma cor.

— Marlene... Eu te odeio — comentei, irritada, ao ver o meu visual através do espelho.

— A gente vai arrasar amanhã.

***

— Quando chegar tem comida no microondas, tá? — mamãe avisou ao tilintar de chaves perto da porta.

— Tá bom, mamãe. Bom trabalho! — era a voz de Petúnia.

Bufei e peguei uma maçã na fruteira, ajeitando as alças da mochila nas costas.

— Já está indo pra aula? — perguntou minha irmã enquanto enxugava alguns pratos recém-lavados do lava-louças.

— Estou — respondi mal humorada.

— Boa aula, então! — ela disse, sorridente (o que me fez rolar os olhos).

— Obrigada. Tchau — disse por fim e saí de casa.

Como ela podia agir com tamanha naturalidade? Não bastava o fato dela ter que passar um mês na minha casa, ainda tinha que roubar o espaço das minhas pinturas e ainda pagar uma de irmã boa samaritana pra cima de mim, sendo que nunca fomos próximas.

Já eram vinte para as sete da manhã e a aula estava prestes a começar. Acelerei o passo e consegui chegar a tempo. Na verdade, ainda faltavam cinco minutos para o início da aula.

Assim que atravessei a rua e pisei meus pés na calçada, a escola inteira virou sua atenção para mim. Cada um segurava uma edição do jornal da escola e ria a cada passo que eu dava. Não precisava ler aquele pedaço de papel para saber do que se tratava aqueles risos debochados.

Andei até o meu armário de número 73 e o abri para separar os materiais que utilizaria nas primeiras três aulas. No instante em que travei a porta dei de cara com Snape.

Só me faltava ele vir tocar no assunto de novo.

— Já viu a manchete do jornal de hoje? — ele perguntou, recostando-se nos armários.

Mordi o interior da minha boca e olhei em volta.

— Não, mas posso até adivinhar...

Ergui a mão e Snape entregou-me o periódico.

Logo na manchete lia-se:

"James Potter e Dorcas Meadowes: mais levados que vento de tempestade.
Já era mais do que o esperado que o maior gato da PHH voltasse a ocupar a primeira página. Agora flagrar Potter aos amassos com a morena do terceiro 'C' num armário de vassouras foi a bomba da vez. James Potter perder uma? Mais fácil o pobre Ranhoso perder a virgindade. Será que o galã da escola agora é um cara compromissado ou é só fogo de palha, e ela passa a ser só mais uma na lista de sortudas do anual?
(Para ler a matéria completa vire a página 2)".

Minhas expressões frias se alargaram, porém havia uma questão que não queria calar: "Por que não havia aparecido nada sobre o meu beijo com James, sendo que eu o havia feito primeiro que Dorcas?”.

Não que eu estivesse reclamando, é claro, mas é realmente de se questionar, não é?

— Que droga, Severo... — sibilei referente ao que dizia sobre ele no excerto.

— Então é por isso que você está brigada com Dorcas? Porque ela o beijou?

Fiquei em silêncio. Snape riu com um ar de deboche.

— Poxa, Lily. Eu esperava mais de você — murmurou e passou por mim, indo embora.

— Snape, espera aí... — pedi, mas foi em vão, ele já sumira no corredor.

— Droga! — praguejei e dei outra breve olhada no jornal.

Fixei meu olhar na capa onde lia-se em fonte tamanho nove, aproximadamente: "Edição do jornal: 65°. Equipe de edição: Amos Diggory e Bellatrix Black."

Agora tudo se explicava.

Amos Diggory era o garoto mais metido e atirado da escola, talvez ele quisesse ser como James, mas não sabia que falhava miseravelmente. Já Bellatrix Black... Bem, ela era a prima de Sirius Black. Não parecia, mas era.

Maldita Bellatrix...

Bufei em frustração e saí pelo corredor pisando forte. Deixei o jornal na lixeira mais próxima e segui meu caminho. As três primeiras aulas eram de Química, a matéria que eu mais odiava depois de Física.

— Não é possível que você ainda não tenha visto a primeira página! A Meadowes pegou o Potter de jeito. Vocês acreditam? Ah, que sortuda! Seria meu sonho dar uns beijos no James dentro dum armário de vassouras? Socorro — ouvi de uma novata que sentava na primeira carteira de uma das fileiras da sala.

A menina era tão ridícula que lutava pelo seu lugar com unhas e dentes só para ficar mais perto da lousa e flertar com os professores. Se engana aquele que pensa que ela quer aprender alguma coisa. Tinha pena das mães que dão duro para pagar bons livros para essas pessoas que não dão valor nem mesmo à roupa que usam.

Apressei-me e peguei um lugar no fundo próxima à janela.

Tinha começado a chover. Ótimo. Melhor ainda.

"Parece que o dia hoje vai ser sensacional.", pensei, convicta.

— Hey, Lucius. Pode me fazer o favor de sentar ali? Gosto de sentar na janela — uma voz familiar soou numa carteira atrás de mim.

— Ah, claro... — o garoto de cabelos loiros concordou um pouco inseguro. Novato.

Franzi meu cenho em estranhamento.

— Lene? O que está fazendo aqui? Hoje não tem aula de Arte — perguntei ao contemplar a loira sentar atrás de mim logo depois de agradecer o garoto e pousar seus materiais sobre a mesa.

— Ah, Lily. Você precisa de ajuda com umas coisas.

— Na verdade não...

— De qualquer forma nós somos amigas agora, não é? Não quero que você saia nos corredores e mil e um idiotas fiquem falando merda sobre você. Então pedi transferência pra cá.

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Sorri.

— Que linda. Ajudando uma amiga que você conheceu há menos de uma semana — disse tirando sarro da cara dela.

— Não enche, Evans. Estou te fazendo um favor. À propósito... Já se perguntou o porquê do seu beijo com James não ter sido colocado na capa do jornal?

Meu coração errou uma batida.

— Foi você...

— Bingo! — ela riu e guardou alguns livros de história e geografia na bolsa, deixando a mesa mais vazia com apenas o livro de Química, seu caderno e estojo. Provavelmente tinha se esquecido de guardar seus outros livros no seu armário — O que me diz?

— Cara, você é incrível. Como fez isso?

— Tenho meus meios — ela sorriu, convencida e folheou seu livro como se estivesse entediada demais para ficar parada enquanto conversa.

— Mas...

— Bom dia, classe — o professor anunciou assim que adentrou a sala.

— Bom dia, professor Slugorn — todos responderam em uníssono.

— Bem, recebi algumas reclamações a respeito das conversas paralelas em sala. Então, o diretor marcou uma reunião de professores para conversar sobre isso e foi decidido que um mapeamento é a melhor maneira de acalmar as coisas.

Metade da sala bufou.

— Portanto, quando chamar seus nomes quero que levantem-se e realizem a troca solicitada. — Srta. Vance, quero que troque de lugar com o Sr. Malfoy.

O garoto que acabara de ser expulso de seu lugar por Marlene, agora era expulso do seu outro lugar. Eu, sinceramente, sentia dó.

— Sr. Black, quero que o senhor troque de lugar com a Srta. Evans.

— Sim, senhor — murmurou Sirius a contragosto.

Olhei para Marlene com um olhar de "fazer-o-que-né?". Peguei minha mochila e recebi um olhar mortal de todas as outras garotas. Mal sabia eu que estava prestes a descobrir o motivo.

— Srta. McDonald, por gentileza, troque de lugar com o Sr. Lupin.

Assim que cheguei em frente ao meu assento, vejo que na carteira traseira se encontrava nada mais nada menos que James Potter. Sem demorar-me muito nos seus olhos, sentei-me e tentei imaginar como seria minha vida nos próximos sete meses, que no caso seria até junho do ano seguinte, término do ano letivo.

"Por favor, troque o Potter de lugar...", suplicava ao professor por uma telepatia que eu queria que funcionasse do fundo da minha alma. Mas infelizmente eu não tratava-me de uma maga.

O professor fez mais umas três mudanças e então disse:

— Assim está bom. Espero que tirem um bom proveito do restante do ano letivo de vocês, já que esse mapeamento será respeitado em todas as aulas da grade. Não teremos mais troca de salas, agora esse é oficialmente o Terceiro "C". Uma salva de palmas, por favor — o professor aplaudiu, mas ninguém fez o mesmo até uns cinco segundos de uma possível queda na realidade.

Que beleza, Lily! Agora você terminou de ferrar com o ano mais importante da sua vida escolar.

Olhei para a terceira carteira da fileira encostada na janela e vi o vazio que tratava-se da carteira onde se sentava Dorcas. Pelo menos não teria de lidar com ela.

Snape também não estava na sala.

— Sim, Srta. Tonks? — questionou o professor assim que presenciou o braço estendido da garota de cabelos tingidos na primeira carteira da segunda fileira em relação à janela.

— E aqueles que faltaram hoje? Como é que o senhor fará para incluí-los no mapeamento?

— Isso será resolvido quando estiverem aqui. Não se preocupe com isso, senhorita — e então deu as costas para a classe e escreveu a data no quadro.

— Bem, classe. Hoje iniciaremos o nosso módulo sobre reações de neutralização. Todos sabem que essa reação ocorre quando um ácido reage com uma base...

Vi um pequeno papelzinho dobrado na ponta da mesa. Franzi meu cenho e o desdobrei.

"Será que podemos conversar?", era o que estava escrito.

Não precisava de muito esforço para identificar que aquela caligrafia linda e inclinada era de Potter, já que tinha sido ele quem me ensinara meus primeiros traços. E ele sabia. Por isso não havia assinado o bilhete embaixo.

Não podia me descontrolar, mas como que ele queria conversar comigo depois de ter feito uma coisa daquelas comigo? Não sabia se ele era realmente idiota ou se fazia.

"Por que eu teria alguma coisa para conversar com você?", respondi e devolvi o papel, meu coração já acelerara, tamanho era o meu nervosismo.

Mesmo que eu tentasse me concentrar no professor, não conseguia. Isso já não era possível. Tudo no que eu conseguia pensar era no imbecil logo atrás de mim que estava querendo prosear apenas para aliviar o peso da culpa. Era isso, decerto.

"Porque não é o que está pensando."

"Você não sabe no que estou pensando."

"Mas posso imaginar."

"Imagine sozinho e me deixe prestar atenção na aula em paz."

E então o bilhete não mais me retornou. Ele havia cessado. Graças aos céus.

Assim que o sinal soou, eu já não aguentava tanta fórmula, afinal, três aulas seguidas de química não são pra qualquer um.

Caminhei até o armário e, assim que o abri, um envelope caiu no chão. Abri-o e retirei dali um folheto.

"RESENHA DO 6
02 de Novembro.
Local: Casa dos Gritos.
Endereço: Rua Hogsmeade Allen, n°83 (próximo ao 3Broomsticks').

Festa pra comemorar o 18tão do cara mais cachorro da escola.

— 20h até o dia amanhecer.
— Vendas de comidas e bebidas (preço de adega).

— Putaria ON.
— Proibido brigas e sair sem beijar na boca.

Para mais informações chamar no privado dos Marotos."

No envelope também havia um pedaço de papel, onde se lia: "Nos vemos lá." A mesma caligrafia podre de duas aulas atrás.

Quem pensa que James Potter desiste fácil é o maior tolo do universo. Por um momento cheguei a ser bem perto disso.