Eu estava sentada na cama com Carla, conversando com ela pela primeira vez desde que cheguei ontem com toda a maquiagem borrada e marca de lágrimas em meu rosto. Ela passou um bom tempo batendo na minha porta, mas depois pareceu desistir.

Agora eu estava lhe contando toda a história, desde o começo. Contei como a primeira meia hora da festa foi maravilhosa, mas depois a ex de Christopher apareceu e tudo pareceu ir de mal a pior. Claro que o que aconteceu em seguida, quando ele disse que gostava de mim e nos agarramos, não foi tão ruim assim, mas vê-lo saindo magoado depois de nossa "discussão" foi. Depois teve a cena de Whitney, que desencadeou tudo que me fez vir para casa sozinha no meio da noite, correndo sérios riscos de ficar desidratada(como eu poderia ainda ter qualquer água no meu corpo depois de chorar tanto?).

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– Ai meu Deus. - disse ela, com um olhar triste, enquanto eu terminava de falar da briga de Christopher e Nathaniel, e do modo como eles falaram de mim. Nathaniel revelando que Christopher o havia mandado ficar longe, e Christopher acreditando que algo teria acontecido entre nós, já que de acordo com ele Nathaniel não havia ficado realmente longe. Quer dizer, quão fácil eu parecia ser? Então Christopher achava que era só o irmão querer algo comigo, que iria acontecer? Era por isso que Nathaniel disse que eu não valia a pena?

– Não é que eu esteja apaixonada por Christopher. Nós conhecemos há o que? Uma semana? - disse, triste - É só que eu fiquei realmente mal com tudo que eles falaram, sem falar que fiquei mortificada. Todos estavam olhando! Nunca, jamais passei por algo assim.

– Sou totalmente solidária com você. E é claro que a situação fica pior quando isso se torna bem público. Quer dizer, público mesmo. Você sabia que tem um blog escolar no Upper East Side? Alguém se inspirou em Gossip Girl... - disse ela, revirando os olhos. - Talvez tenham postado alguma coisa...

Carla continuou tagarelando enquanto eu corria e pegava meu MacBook Air como se minha vida dependesse disso. Quer dizer, talvez a vida social realmente dependesse. Voltei para a cama e pedi que ela colocasse o endereço do blog.

– Por que você não me contou? - perguntei.

– Primeiro, você não perguntou. Segundo, eu não sabia que isso tinha acontecido. Terceiro, você apareceu em coisas mais importantes. - respondeu. Esqueci momentaneamente a página rosa estridente que apareceu na tela.

– Como assim em coisas mais importantes? - perguntei, curiosa. Eu não me lembrava ter beijado Aaron novamente, então não imagino aonde eu poderia ter aparecido, além de um blog para falar mal das pessoas que estavam no colegial.

– Em quase todos os jornais, até nos que de economia. Seu pai deve estar bem feliz, tirando o fato de que ele está bem irritado porque você não atende nenhuma ligação.

– Por que eu estaria em uma página de economia? - perguntei, sem entender. Carla saiu do quarto sem falar nada e voltou segundos depois com alguns jornais na mão.

– Aliás, quantos jornais você compra? - perguntei, mudando de assunto, porque parecia incrível. No apartamento parecia ter todos os jornais publicados em inglês. Carla apenas deu de ombros e jogou o The New York Times para mim.

Finalmente encontrei o que falavam sobre mim. Bem, não falavam exatamente sobre mim, falavam sobre a empresa do meu pai...

E sobre a empresa dos pais dos irmãos Lightwood.

Ao contrário do que eu imaginava, não havia nenhuma foto minha beijando algum cantor pop sensação do momento, e muito menos havia uma em que eu estava no meio de uma briga. O que estava estampado no jornal era umas das várias fotos tiradas no tapete vermelho, justamente a que eu tinha tirado com Nathaniel e Christopher após Lola ter saído. Não falava sobre um triângulo amoroso- como eu notei ser o título do post no blog -, mas sim sobre negócios.

– Sério? - perguntei incrédula para Carla.

– Sim, e você deve se sentir feliz e aliviada. Seu pai esqueceu sobre a foto de você beijando Aaron. Essa trás uma imagem muito melhor para ele. - ela respondeu

Li a matéria silenciosamente. Ela especulava sobre uma possível aliança entre as duas empresas, já que os seus herdeiros apareceram juntos em uma festa. A empresa dos pais de Christopher e Nathaniel eram lideres - na América- em um dos segmentos da empresa do meu pai, no qual ele fazia bastante sucesso na Europa e na Ásia. De acordo com o jornal, após a especulação, as ações das duas empresas chegaram até mesmo a subir.

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Suspirei. Meu pai respirava negócios, e de acordo com Carla ele estava bastante feliz. Eu sei bem o que isso significava... Balancei a cabeça para espantar qualquer ideia que eu achava que iria corroborar com as de meu pai e joguei o jornal no chão.

– Tenho certeza que o blog não foi tão simpático quanto o The New York Times. - disse, colocando o computador em meu colo para ler. E de fato, não havia sido.

"Bom dia após a nossa mais tradicional festa de inicio de ano letivo. Como estão curando suas ressacas? Eu precisarei de MUITO tempo para me recuperar. Mas não mais que a novata Chloe McLaggen, da Legacy Academy. Ela com certeza precisará de um tempinho a mais para superar a noite de ontem. Por que afinal, quem não precisaria, quando você tem os dois irmãos mais cobiçados do Upper East Side brigando por você? Que triangulo amoroso, hein!?

Fazendo jus aos seus cabelos cor de fogo, Chloe chegou pegando fogo. Em apenas uma semana em Nova Iorque, a garota foi convidada para almoçar em todas as mesas da Legacy, dos nerds até os mais descolados, arrematou o coração de vários gatos- principalmente dos dois que mais interessam. Olá Nathaniel e Christopher! - e colocou a rainha da área no bolso.

Embora ela devesse estar incrivelmente feliz, a coitadinha saiu aos prantos da festa, após a super cena que seus garotos malcriados fizeram. Pobre Chloe, eu posso cuidar deles por você se quiser."

Revirei os olhos quando vi que abaixo desse texto -que contraria bem muito a realidade, aliás. Então as pessoas achavam que Nathaniel e Christopher brigaram por minha causa? Bom, foi por minha causa, mas eles não estavam exatamente me disputando- havia vídeos e fotos do momento da briga, além de um vídeo da minha discussão com Whitney. Me recusei a vê-los e fechei a página.

*

Depois do almoço decidi finalmente retornar as ligações do meu pai. Eu estava incrivelmente nervosa e encarava o teto branco acima de mim enquanto o telefone chamava. Minha tensão era tão grande que minha cama king size mais parecia uma pedra.

– Alô. - ele disse do outro lado da linha. Não parecia irritado. Ufa!

– Oi pai. - falei.

– Você lembrou que tem um celular para retornar ligações? - ele perguntou, ironicamente

– Estive meio ocupada. - respondi, minha voz quase inaudível.

– Eu percebi quando vi você na capa de todas as revistas e sites de fofoca do mundo com aquele cantor. - falou. Incrivelmente, a primeira coisa que pensei foi "Meu pai lê revistas de fofoca?".

Eu achei que ele iria esquecer isso? Sim, achei. E estava redondamente enganada. Por que mesmo de um modo estranho e sendo totalmente ausente, ele ainda é meu pai e nenhum pai gosta de se deparar com esse tipo de foto.

– Bom, sobre isso eu... - comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

– Mas pelo menos alguma foto sua serviu para alguma coisa. Aquela que saiu nos jornais hoje foi realmente uma coisa muito boa. As ações subiram e todos os investidores estão animados com a ideia de uma parceria. Estou viajando para Nova Iorque daqui a pouco tempo para acertar tudo. Você é incrível! - ele falou com sua voz grossa bastante animada.

Não animado por estar falando com sua única filha, a qual ele sempre insiste em mandar para longe. Não me achando incrível como pessoa, mas sim por eu ter feito algo de bom para seus negócios, mesmo que inconscientemente. Não vindo para Nova Iorque para me ver porque está com saudades, mas para fechar um contrato milionário. Engoli um nó em minha garganta.

– Fico feliz pai. - falei. Eu realmente estava feliz por ter contribuído em alguma coisa, embora triste por causa dessa relação pai/homem-de-negócios complicada.

– Querida, tenho uma reunião agora. Nós falamos depois. - se despediu, desligando o celular antes mesmo que eu dissesse tchau.

Coloquei meu celular de lado e fiquei encarando o teto do quarto até adormecer.

Eu estava na praia. Andava lentamente por cima da areia branca fina e olhava fascinada para o mar de águas claríssimas, em um tom entre o azul e o verde. Sentia em meu rosto um sorriso se formando, o qual eu demorei alguns segundos para notar o motivo. Vindo de algum lugar - quem disse que sonhos precisavam ter sentido? - vinha um garoto alto, beirando ao musculoso. Seus cabelos loiros cacheados que chegavam um pouco aos seus olhos estavam desarrumados, como se alguém tivesse passado os dedos entre eles diversas vezes. O garoto também sorria para mim, e mesmo de longe eu conseguia ver o brilho em seu olhar.

Isso era por mim! Sorri mais ainda e fui em direção ao garoto.

– Charlie. - falei, a felicidade evidente em minha voz.

– Chloe. - respondeu em cumprimento, com seu sotaque inglês forte.

Charlie pegou minha mão e fomos até um mesa, no meio da praia. Iriamos ter um jantar romântico! Ficamos em silêncio o tempo todo, pois nós comunicávamos pelo olhar. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer.

Juro que meu coração parecia prestes a derreter em chamas!

Tudo estava perfeito até o momento em que olhei para o lado para admirar o mar e reparei em algo: havia uma cadeira a mais. Ou melhor, um convidado.

– Christopher? - perguntei, o sorriso se desfazendo em meu rosto. - O que está fazendo aqui?

– Estou aqui para um encontro. - respondeu sorrindo.

Balancei a cabeça veementemente.

– Não, não, não. - disse - Isso é para ser um encontro entre Charlie e eu. Você não deveria estar aqui.

– Claro que eu deveria. - ele falou, ainda sorrindo. - Você gosta de mim também.

– Não, eu não gosto! - gritei, me levantando da mesa. Olhei para Charlie e ele estava se desfazendo como se fosse feito de grãos de areia que o vento estava levando embora. - Charlie!

– Veja o que você fez! - continuei gritando para Christopher, meus olhos se enchendo de lágrimas. Eu não podia acreditar que tudo estava arruinado.

Ele apenas me olhou indiferente.

– Ele se foi, agora podemos ter nosso encontro. Você não está feliz? - perguntou. Balancei a cabeça negando. Não acreditava que Charlie havia ido.

– Irmão, ela não vale a pena. - disse uma voz. No lugar onde Charlie estava sentado, agora estava Nathaniel com uma taça de champagne.

– É, talvez não valha. - concordou Christopher, com uma cara fria.

E agora, ao invés deles se dissiparem como havia acontecido com Charlie, eu que estava indo embora. Sentia o vento levando para longe cada pedacinho de mim.

Não sei se parei de vê-los quando me desfiz totalmente, ou quando as lágrimas eram demais para que eu pudesse ver.