Eu olhei para os olhos de Peter eles me olhavam preocupados, eu não aguentei e cai em lágrimas, era a segunda pessoa que me vira chorando, eu uma assassina tão renomada, chorando como uma fraca menina, mas a dor do coração era maior que todas as outras, eu tinha acabado de receber a notícia, de que Lucas... estava morto. Eu nem pude lhe dar adeus, ele se foi, como o Sol vai embora a noite, mas ele não iria voltar de manhã para me abraçar e me dar o seu calor, ele tinha me deixado para sempre. Ele fora brutalmente torturado, e depois assassinado, tinha recebido uma mensagem dele, que ele escreveu ao perceber que sua casa tinha sido invadida. Mais alguém estava atrás de mim, e sabia que Lucas seria uma boa fonte, e muito confiável, mas pelo que me lembro de Lucas, ele era conhecido por ser resistente. A carta estava jogada no chão molhada de lágrimas.

Mas o filho da puta que torturou Lucas merece morrer, merece sofrer como nenhum outro homem na terra sofreu, e por minhas mãos. Eu quero ver o sangue dele em minhas mãos, alguém tão frio e odiável não merecia viver. Ele era pior até do que eu. Um monstro caçando outro monstro, agora além da terrível morte de Lucas que estava me deixando extremamente abalada, eu teria que me preocupar ainda mais com quem está atrás de mim, ele ou ela não parecia nada simpático. Era exatamente por isso que as estrelas estavam tristes...

Os olhos de Peter ainda olhavam minhas lágrimas ele estava sem reação, não sabia o que fazer, não sabia o que falar, eu abri um espaço para que ele sentasse ao meu lado e ele não pensou duas vezes, nós não trocamos uma palavra sequer, mas eu adorei aquele silencio. As lágrimas não paravam elas não cessavam de jeito nenhum, eu não conseguia parar mesmo com todas as minhas forças, eu não mostraria minha fraqueza a Peter, eu me recuso a fazer isso. Ele vai me achar fraca e boba, assim como todas as outras meninas.

Deixei meu peso cair sobre o seu corpo, minha cabeça apoiava em seu ombro, e o toque macio de sua pele contra a minha fez minhas barreiras desabarem, eu me entreguei a ele. Jasmine não! Você sabe que não pode, a menos de vinte minutos atrás ele te chamou de sem coração. Minha consciência falava, mas era tão, mas tão baixo que poderia ser ignorada, mas no fundo eu sabia que ela estava certa. Mas a vontade física ganhava. Eu precisava dele e precisava agora.

Beijei-o docemente e ele retribuiu igualmente, ele me puxou fazendo com que eu ficasse sentado em seu colo eu abracei sua cintura ele afagava meus cabelos enquanto eu enterrava minhas tristezas em seu ombro, as lágrimas molhavam um pouco seu curativo eu levantei minha cabeça, com os olhos inchados e muito vermelhos, o dedo calejado de Peter limpou uma lágrima que corria pela minha bochecha. Eu olhei para ele e o mesmo sorria para mim.

“Está melhor?” ele perguntou.

“Sim, um pouco.” eu sorri tristemente.

“Quer conversar?” Não Jasmine você não quer!

“Sim, talvez.” ele acariciava o meu cabelo.

“Quer começar por onde?” eu me ajeitei em seu colo.

“Do meio quem sabe...” eu não iria contar tudo. Não sou burra.

“Aqui vai, espero que não se incomode em ouvir” ele negou com a cabeça “eu tenho alguns amigos espalhados pelo reino, alguns amigos muito poderosos, outro nem tanto, mas que mesmo assim são de muita importância. Não sei se chegou ao seu conhecimento à morte de um homem chamado Marcs Bertonian, ele era o meu cocheiro, e meu melhor amigo, fora o emprego que eu arranjara para que ele continuasse ao meu lado, que ele continuasse sendo o melhor amigo que sempre fora para mim.” eu olhei para as estrelas “Agora ele fora brutalmente assassino sem motivo aparente.” meus olhos lacrimejavam. Lucas teve um final.

“Meus pêsames” odeio palavras de carinho falsas, ele não sente a falta dele como eu sinto.

“Obrigado, mas agora eu só preciso esquecer isso, não posso ficar presa no passado.” ele me abraçou, me passando segurança.

“Quer que eu fique com você esta noite?”

Jasmine, você está deixando as suas barreiras ruírem num piscar de olhos só por culpa de um homem bonitinho, não deixe cair na tentação.

Ela falava tão baixo, eu tinha acabado de perder Lucas, eu precisava de alguém para me apoiar, e não queria causar problemas para a Julie deixar ela ouvindo minhas chatas histórias sobre o meu passado, ou até mesmo ter que ficar devendo a ela uma continuação, com Peter eu poderia ficar aqui fora, observando as estrelas.

“Sim, quero sim.” ele me abraçou pela cintura e eu apoiei minha cabeça em seus ombros.

“Não gostei de te ver assim, uma mulher tão bonita chorando.” eu sorri sem que ele visse.

“E o senhor, como está esse machucado no braço?” ele passou a mão pelo curativo úmido pelas minhas lágrimas.

“Vai bem, eu ainda sinto dor” obviamente, se ele não sentisse dor ia ser meio estranho “mas, acho que vai melhor logo.”

“Ótimo, como o conseguiu?” eu sabia o que realmente tinha acontecido, mas precisava me distrair um pouco.

“Bem... Eu sei que é muito feio por parte de um duque, mas eu entrei em uma briga. As pessoas estavam meio alteradas.” eu ri baixinho.

“Meio? Para fazer um ferimento desse precisa ser uma boa arma. Mas, o que me importa, o que importa é que você está bem.” eu olhei para os seus olhos, eles me lembravam das estrelas.

“Então o que quer fazer nesta noite linda?” ele me perguntou.

“Quer andar no jardim?” ele assentiu e me ajudou a levantar.

Eu estava com uma regata branca que normalmente se usa por baixo dos vestidos e uma calça masculina de pijama de Lucas, o que me fazia sentir um pouco mais próxima dele, era macia e quente e acariciava minha pele suavemente, eu não iria trocar de roupa, estava completamente confortável. Eu adentrei a sala de jantar e Julie e Jasper se beijavam.

“Estou no jardim se precisarem de nós, só para deixar avisado para os dois pombinhos.” eu falei.

“Vejo que já está de bom humor, e olhe quem fala.” Julie disse se separando de Jasper ruborizada assim como ele.

Eu e Peter saímos pela porta e adentramos no corredor escuro, eu deixei que ele me levasse para fora do castelo para o jardim oeste. Peter andava com um pouco de dificuldade, mas nada que fosse muito perceptível, ele segurava minha mão com carinho, eu sentia seus dedos entrelaçados nos meus eles eram calejados pelo manejo de armas, mas eu estava acostumado com mãos como aquelas. Alcançamos o jardim, e o cheiro delicioso de rosas e tulipas nos rodeou, assim como o som dos grilos e cigarras.

Os arbustos nas altura de meus joelhos criava um enorme labirinto verde que arranhavam delicadamente a minha perna, na saída havia flores de diversos tipo, rosas, tulipas, copos-de-leite, orquídeas. Arranjadas em arcos, buques, vasos, presos em algumas árvores de ipê espalhadas aqui e ali e no meio do labirinto uma enorme fonte toda detalhada em mármore, a água caia da boca de dois cupidos, virados um para cada lado e tinha três andares, cada um com algum ser mitológico diferente, no primeiro nível sereias, que ficavam apoiadas nas bordas sorrindo sedutoras, no segundo Afrodite servia como uma pilastra e no terceiro os anjos, e a fonte era rodeada por glicínias. (N/A: árvore usada para decoração, são do Japão e tem várias colorações.)

Era lindo, a luz das estrelas iluminavam o caminho, e a Lua cheia banhava meu rosto e corpo com sua luz branca. Sorri fechando os olhos e inspirando o delicioso cheiro de flores e sorri. Puxei Peter para entrar no labirinto, não pensei duas vezes e me dirigi para a fonte, desentrelacei meus dedos dos deles, dobrei minha calça até um pouco a cima do joelho e sentei na fonte colocando minhas pernas e pés dentro da água.

“O que você pensa que está fazendo?” Peter perguntou enquanto ria.

“Relaxando.” eu bati na pedra ao meu lado pedindo para que ele sentasse.

Ele também dobrou a calça e se sentou ao meu lado colocando seu braço ao redor de minha cintura, eu apoiei minha cabeça em seu ombro.

“A noite está linda hoje não?” foi meio que uma pergunta retórica.

“Não tanto quanto você.” que clichê, eu não pude deixar de rir.

Mas, mesmo assim eu senti um pulo em meu peito, eu olhava para os maravilhosos olhos verdes de Peter que refletiam o brilho esbranquiçado da Lua, minha respiração ficou mais pesada, meu corpo sentiu um fogo, um calor que subiu da ponta do dedos do meus pés e ia até o topo de minha cabeça. Ele acariciava a minha cintura, e eu gostava de seu toque. Olhando direito, ele era muito bonito mesmo, seus cabelos jogados para o lado e sempre bagunçados, os traços fortes, o sorriso lindo, os ombros largos, as mãos protetoras e o carinho que ele tinha por mim.

Ele olhava profundamente em meus olhos, nossos lábios estavam a milímetros um do outro, eu não aguentei mais, e desfiz essa distancia, coloquei minha mão em sua nuca e o puxei mais para perto beijando-o, ele se assusto de principio, mas logo começou a retribuir o beijo, No começo era suave e doce, mas depois se tornou mais apaixonado e selvagem. A cada lugar que ele tocava novas sensações surgiam. Ele ficou de frente para mim, colocando uma perna fora e outra dentro da fonte e me puxou para mais perto fazendo com que meu corpo se encaixasse perfeitamente com o dele. Suas mãos acariciavam minhas costas e não ousavam explorar outros lugares, meus braços estavam em volta de seu pescoço, o barulho dos grilos era o único ao nosso redor.

Até que o relógio bateu exatamente doze vezes, o que me deu um pequeno susto que me fez separar de Peter. Meia noite em ponto.

“Venha, quero lhe mostrar uma coisa.” segurei-lhe a mão e o puxei para fora da fonte.

Corri por entre os corredores do labirinto com o sapato molhado e cheguei perto de uma grande árvore cerejeira japonesa, e apoiada nela, exatamente em seu centro, uma dama da noite. Ela começava a se abrir, e espalhar o seu maravilhoso perfume no ar, eu subi na árvore e me sentei em um dos galhos observando enquanto a flor desabrochava, era maravilhosa com suas pétalas brancas que dançavam ao som da Lua. Seu cheiro único. Eu sorria, a flor só ficaria aberta por poucos minutos.

“Venha, suba logo antes que ela se feche.” gritei para Peter.

Ele se esforçou um pouco para subir e sentou-se em um galho grosso ao meu lado.

“O cheiro não é maravilhoso?” perguntei-lhe.

“Sim, é um dos melhores que eu já senti.” ele inspirou uma boa quantidade de ar.

“É minha flor predileta, ela é tão misteriosa e linda, ela só se abra a noite, só mostra sua beleza para poucos, aqueles que se esforçam para encontra-la no horário certo para poder sentir seu maravilhoso cheiro.” Peter sorriu para mim “O que foi Jonh?”

“É bonito te ver falando desse jeito Vivi. Posso te chamar assim? Vivi?” eu dei uma risada.

“Ninguém nunca tinha me dado um apelido antes. Pode claro que pode Jonh.” ele sorriu alegremente.

“Ótimo Vivi. Como descobriu essa dama da noite?” ele me perguntou.

“Eu gosto muito de botânica, sempre gostei, então resolvi explorar o jardim, mais para frente tem algumas árvores japonesas maravilhosas, várias de diversos lugares, isso aqui é um paraíso para mim.” ele deu uma risada.

“Eu gosto de como você aproveita as pequenas coisas, eu não consigo ser assim.” foi a minha vez de rir.

“É claro que consegue, é só tentar. Quer ver?” ele assentiu “Me fale uma coisa que você goste muito.”

“Hm...” ele pensou “música, gosto de tocar.”

“Então toque, toque para alguém, para você mesmo, para mim. E não só toque, mas sinta as notas reverberando em seus ossos, sinta o prazer de tocar aquelas notas não ligue para o que os outros pensam sobre o que você gosta. Só seja você mesmo que você aprende a apreciar os detalhes da vida. Se você fizer o que você gosta a vida fica mais... Bonita, digamos assim.” ele olhava para o céu pensativo.

“Essas são as palavras mais lindas que eu já ouvi.”

“Não seja exagerado, foi o que eu aprendi em meus poucos anos de vida.” eu sorri para ele que agora olhava para mim.

“Obrigado.”

“Pelo que?” eu disse.

“Por me inspirar. Você tem um bom coração.”

Ah... Se ao menos ele soubesse quem eu sou, ele não estaria falando essas coisas de mim eu queria que ele não estivesse querendo ver minha cabeça em um bastão. Como eu queria que nós pudéssemos ser um casal normal, que se casaria, compraria uma casa e viveria em paz, mesmo que nós esquecêssemos as diferenças, nós íamos ser procurados pelo resto de nossas vidas, pelo menos eu seria, o rei não desistiria tão fácil, eu tenho vários segredos dele que podem ser bem comprometedores. Bem, sonhos são sonhos e a maioria dos meus nunca se tornou realidade.

O som de passos a distancia me fez olhar para o labirinto, um homem pomposo vinha em nossa direção, era um mensageiro do rei ele vinha correndo. Ele só parou quando chegou perto da árvore em que nós estávamos.

“Duque Jonh, o príncipe Gregory Bureal requisita sua presença, sem acompanhantes.” ele olhava para mim.