“Espero que não se incomode, trouxe umas flores”. Foi a primeira coisa que Jaehwan disse quando Taekwoon abriu a porta.

Mas não eram ‘umas flores’, era um verdadeiro arranjo, daqueles caros e suntuosos. Daqueles que nem permitiam ver o rosto do amigo.

“Uau”. Taekwoon fora pego de surpresa. “Uau”. Só conseguiu repetir enquanto pegava o vaso. Felizmente estava num vaso. E colocou sobre o aparador que ficava ao lado da escada.

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Finalmente havia alguma coisa decorando a casa antiga, alguma coisa alegre e colorida.

“Nunca perguntei que tipo de flores você gosta, então eu meio que... bom, espero que não se importe”. Jaehwan deu uma risada sem graça, o que era raro.

“Eu realmente agradeço”.

“Dizem que o tamanho do buquê é proporcional ao quanto gostam de você”. Ravi comentou com um sorriso divertido. Estava deitado no corrimão, exatamente sobre eles.

Taekwoon olhou feio na direção do fantasma, Jaehwan acompanhou o olhar do anfitrião, mas não havia nada sobre a escada, a única coisa visível era o papel de parede antigo.

“Ele está aqui? ”. Perguntou olhando para o nada da escada e depois para Taekwoon.

“Não consegue vê-lo? ”. Não tirou os olhos do rosto sorridente do garoto que até acenou para a visita.

“Oh, falou de mim? Como sou popular! ”.

“Ou ouvi-lo? ”. Estreitou os olhos.

Ravi abriu um sorriso ainda maior.

“Não? ”. Acabou rindo. “Muito prazer, meu nome é Ken, me desculpe pela intromissão, por favor, deixe o Leo em paz”. Pediu ainda achando graça da situação. Era como se estivesse falando com o amigo imaginário.

“Seu nome é mesmo Leo? Achei que era piada”. Ravi desceu pelo corrimão e saltou bem atrás de Jaehwan. O chão não fez nenhum barulho ou estalou. “E Ken? É sério?”.

O olhar de Taekwoon continuou seguindo o fantasma.

“Atrás de mim? ”. Jaehwan perguntou apontando. Taekwoon assentiu. “Com uma faca? Ele vai fazer alguma coisa comigo? ”. Sussurrou.

Leo deu de ombros.

“Eu gosto dele, muito imaginativo”. Ravi se aproximou mais, com o queixo quase se apoiando no ombro do outro.

Jaehwan se virou repentinamente quase batendo em Ravi, mas o garoto se esquivou, acabou batendo no aparador e fez com que o jarro tremesse na mesa.

“Viu isso!?” Jaehwan apontou para o jarro.

“Sabe, eu posso vê-lo, então...”.

“Tem realmente um fantasma aqui! ”. Jaehwan estava quase pulando.

“Como eu disse anteriormente…”.

“Você tem um tabuleiro de ouija? ”. Perguntou enquanto abria uma das gavetas do aparador como se esperasse encontrar o que procurava.

“Por que eu teria uma coisa dessas? E por que eu guardaria aí? ”.

“Ah espera! ”. Pegou o celular e começou a digitar algo rapidamente. “Existem aplicativos para tudo, vamos baixar um de ouija”.

Ravi bateu com a mão na própria testa e em seguida começou a rir.

“Como ele vai responder se você usar um aplicativo? ”.

“Por que ele pode tocar e deslizar pela tela? ”.

“... Isso faz algum sentido? ”. Taekwoon perguntou olhando na direção de Ravi que deu de ombros.

“Pra que usar um brinquedo? Você pode me ouvir, é só perguntar”.

“Mas ele não vai acreditar”.

“Sabe, eu não posso ouvi-lo, então pare de falar dessa forma, é estranho! Aaah está me dando calafrios! ”. E saiu seguindo para a cozinha em passos largos.

“Seu namorado é estranho”.

“Não é meu namorado. Você fez algo com ele? ”. Seu tom era acusativo.

“Não”. Ravi respondeu sério.

“Por que ele sentiu calafrio? ”.

“Não é problema meu”.

“Se tiver algo de errado com ele--”

“Vai fazer o que? ”. Ravi se aproximou.

“Eu não tenho medo de você”.

“Talvez devesse começar a ter”.

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“Leo! ”. Jaehwan o gritou da cozinha. “Eu não sei onde ficam seus copos, venha me ajudar! ”.

Eles continuaram se encarando até que Taekwoon girou os olhos e seguiu para o cômodo. Ravi encarou o jarro de flor como se pudesse quebra-lo mentalmente, mas nada aconteceu. Em seguida fechou a mão sobre o caule e em segundos todas as flores morreram, algumas pétalas caíram e era apenas um jarro de flores mortas numa casa velha com um espírito.

Assim estava perfeito.

.

“Você não fica com medo?”.

Taekwoon deu de ombros enquanto separava os utensílios.

“Ele já está morto, que mal pode fazer?”.

“E se for como nos filmes?”.

“Então essa casa estaria abandonada e não para alugar. Vai cozinhar?”.

“Não é nenhum prato especial, não fique muito animado”. Suas palavras não deveriam gerar nenhuma expectativa, mas ele sorria enquanto juntava panelas, garfos e checava a validade dos temperos e preparava o macarrão. “A propósito, uma noiva apareceu lá na loja para montar um buquê, obviamente perguntei se ela já tinha um fotógrafo, como ela disse que não então recomendei você, então fique com o celular ligado”.

“Como vou conseguir pagar por todas as vezes que você me recomenda?”. Era meio enervante. Jaehwan era um ótimo amigo, estava sempre o trazendo novos clientes, se ele ao menos aceitasse uma parceria e ficasse com uma comissão então Taekwoon se sentiria menos em débito, mas seu amigo não estava interessado em dinheiro.

“Suas fotos são as melhores Leo, é uma escolha óbvia”. Disse com um sorriso carinhoso.

Era o tipo de sorriso que o fazia revirar os olhos, que o desconcertava e o fazia sentir as bochechas corarem. Era estúpido.

“Não é por que somos amigos?”. E ele era péssimo em aceitar elogios.

“Tem isso”. Riu. Taekwoon o empurrou de leve. “Mas não é por isso”.

“Obrigado”. Murmurou olhando para uma direção qualquer.

Eles ficaram em silêncio, Jaehwan explicou o prato que iria fazer e Taekwoon o ajudou, era alguma mistura de macarrão com vários ingredientes que não o deixaria como pasta e nada parecido com um yakisoba.

“Sabe como ele morreu?”. Perguntou enquanto regulava o fogo e aguardava.

“Não faço ideia”. Na verdade, tentava não pensar a respeito.

“Não fica curioso? E se foi nessa casa? E se foi assassinato? Então dele deve ser mesmo um espírito vingativo”.

“É só um garoto”.

“Então suicídio?”.

“Você está estragando meu apetite”.

“Mas você nunca disse que podia ver espíritos”.

“Nunca vi, foi a primeira vez”.

“Você deve ter se assustado”.

Deu de ombros novamente, pensar no garoto pálido não faria bem nenhum, o que poderia ser feito? Nada.

Continuaram conversando na cozinha, comeram ali mesmo apoiados no balcão, ficaram jogando conversa fora até o alarme do celular de Jaehwan disparar.

“Epa, ta na minha hora, me avise se a noiva te ligar”.

“É claro”.

Jaehwan vinha andando na frente quando parou repentinamente, Taekwoon quase o atropelou com a parada brusca.

“Quando isso aconteceu?”.

O rosto de Taekwoon ficou imediatamente vermelho quando viu o estado das flores, das lindas flores que Jaehwan provavelmente dedicara dias pensando numa combinação perfeita.

“Vou te acompanhar até a porta”. Colocou a mão sobre o ombro de Jaehwan e o guiou até a porta de entrada.

“Leo, tudo bem, elas iriam murchar mesmo”. Tentou tirar a expressão impassível do rosto do amigo, mas Taekwoon não abriu um mínimo sorriso.

“Obrigado por ter vindo, mais tarde eu ligo”. Disse basicamente o empurrando para fora.

“Talvez seja só a energia da casa, eu li uma vez que espíritos afetam a natureza”. Tentou mais uma vez.

“Mande mensagem quando chegar”.

A porta se fechou e Jaehwan ficou sem saber se voltava ou ia embora, nunca vira Taekwoon furioso. E definitivamente tinha algo de errado com aquela casa.

“RAVI!”. Gritou marchando escada acima, era melhor que o espírito se materializasse. “Qual o seu problema?! Você pode bater portas, quebrar pratos, janelas, fazer barulho, mas não envolva meu amigo”. Saiu abrindo todas as portas do andar de cima, mas nada do garoto.

Ravi foi de mão cheia nas teclas do piano, levantou-se arrastando a banqueta. O som automaticamente fez que Taekwoon descesse e os dois se encontraram no pé da escada, diante da prova do crime.

“Achei que você era só um garoto entediado, mas deixe os visitantes fora disso, só eu posso te ver e ouvir, isso não está bom para você? Devo começar a ignorá-lo?”. As palavras simplesmente escaparam, frustração, ameaça, qualquer coisa.

Ravi riu, mas sua expressão não era zombeteira, era cansada, magoada, de alguém que há muito tempo estava acordado.

“Você vai desaparecer como todos, tão insignificante quanto essas flores. Sim, elas morreram, e por quanto tempo você vai se lembrar e me culpar? Por quanto tempo vai ficar triste a respeito?”.

Taekwoon fora pego de surpresa pelas palavras de Ravi, olhou para o ornamento morto e depois para o garoto diante de si, não poderia se deixar enganar pela aparência e atitudes as vezes imaturas, aquele garoto já tivera uma família e amigos. Acabou suspirando, era inútil chorar por algo que não voltaria a vida.

Estava morto.

“Mas isso não te dá o direito de destruir o que me é precioso. Aquelas flores foram escolhidas por um amigo atencioso e dedicado, eu sei que elas iriam morrer, mas elas estavam vivas e deveriam ter continuado assim por mais algum tempo, é o ciclo da vida. Não antecipe a minha dor”.

Ravi o encarou parecendo triste, mas não falou mais nada.

“Vamos apenas nos dar bem ok?”. Disse querendo encerar o assunto de vez, pegou o jarro e o levou para a cozinha, o jeito era jogar as flores fora.

Ravi pegou uma das pétalas que estavam no chão.

“Um dia você também vai desaparecer, mas e eu?” .