X. Não faça escândalo se encontrar um cara pelado em seu dormitório.

O táxi parou em frente à entrada do Maryon Mount. Cam estava dois dias atrasado, mas a culpa era toda do Charlie, que esqueceu que o irmão devia estar no colégio na quarta-feira, não na segunda. Por sorte, sua avó conseguiu adiantar as coisas. As malas, feitas às pressas, foram despachadas primeiro e chegaram ao Maryon na manhã daquela sexta.

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O jovem inglês pagou – caro – pela corrida e contemplou a fachada do colégio. Cam adorava viver com o Charlie, mas ele sequer conseguia cuidar de si mesmo, imagina cuidar do irmão mais novo. E Cam não voltaria para a Inglaterra para viver com os avós. Ele prometeu a si mesmo que só voltaria para Londres quando se sentisse pronto. Tudo ainda estava muito recente para ele.

Um cara baixinho, usando um uniforme escuro com o brasão do Maryon veio recebê-lo. Enquanto o conduzia pelos corredores, fez uma série de avisos. Ele entregou a Cam uma pasta azul e avisou:

- Por favor, Sr. Beckman, devo pedir para que o senhor se apresente na repepção mais tarde, para uma audiência privada com a sra. Redford devido ao ser atraso.

- Falou – Cam acenou com a cabeça. O baixinho se despediu.

Cam abriu a pasta e pegou um dos inúmeros papéis que tinha.

- Eu vou dormir num lugar chamado Rosenhill... Adorável – sorriu com sarcasmo.

Era um pouco mais que três horas da tarde e todos estavam em aula, então o prédio estava deserto. Cam abriu a porta do 211 e franziu o rosto, certo de que alguma coisa ali estava muito errada.

Havia dezenas de cosméticos, bolsas, sapatos e revistas espalhadas pelo quarto, além de fotografias, livros, bichinhos de pelúcia e malas de grife.

Ou seus colegas de quartos eram muito gays, ou cometeram um pequeno erro e o enviaram para o prédio das garotas.

A segunda hipótese era bem mais provável. Não que ele achasse a idéia ruim.

Cam tirou o celular do bolso e checou as horas. Ele tinha tempo suficiente para tomar um banho rápido antes das aulas terminarem e as garotas invadirem o prédio. Depois do banho ele iria resolver a confusão.

*

- Vamos à cidade amanhã? Pesquisei na internet e me parece um lugar muito agradável – Noah sugeriu.

- Acho uma boa idéia – Nikkki sorriu, enquanto enfiava suas tralhas no armário do vestiário. Elas estavam se aprontando para sua primeira aula de Educação Física – e a última do dia. Nikki iria participar dos testes para a equipe de hóquei – que já ia começar a se preparar para as competições intercolegiais de inverno.

O treinador Scott pediu para todas se aquecerem. O treinador era jovem, bonito (e maravilhoso e sarado e sensacional) e bronzeado, bem diferente dos outros professores de Educação Física que Nikki já teve. E justamente por ser tudo de bom, as garotas caíam matando em cima e não faziam nenhuma questão de serem discretas.

- Isso é tão humilhante, não? – Noah comentou, cheia de desgosto, observando as tentativas de paqueras das alunas. Ela se esticou para tocas os pés e gemeu por causa do esforço. Atividade física não era coisa para ela.

- É hilário – Nikki riu, imitando a companheira. Depois de um silencioso minuto de reflexão, ela comentou – Acho que Scott é gay.

- Como? – Noah se desequilibrou.

- Pensa comigo – Nikki de endireitou, alongando os braços – Lindo, com o bronzeado em dia, bem vestido, ignorando as insinuações das alunas gostosas... Ou ele é extremamente competente ou não gosta da fruta.

- É. Faz sentido – Noah riu.

O treinador soou o apito.

- Uma volta pela pista. Vamos lá, senhoritas!

Todas começaram a correr. Com o seu apito, Scott incentivava as garotas a irem mais rápido. Algumas voltas depois, uma pausa.

- Muito bem, senhoritas. Todas que estiverem interessadas nos testes para o time de hóquei, vão para a arquibancada. As restantes estão dispensadas.

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Noah bateu palmas.

- Eu vou embora – avisou - Boa sorte!
- Obrigada – Nikki correu para arquibancada.

Noah foi para o vestiário e pegou suas coisas, indo direto para o Rosenhill. Ela preferia tomar banho do vestiário do prédio.

Como geralmente acontecia naquele horário, o Rosenhill estava vazio. A maioria das garotas demoravam a ir para o dormitório.

Noah abriu a porta do 211e estacou.

- Oh, meu Deus – ofegou.

Havia um garoto dentro do quarto. E pior: sem qualquer tipo de roupa. Noah gritou. O garoto gritou e se cobriu com uma toalha de banho. Os dois gritaram por algum tempo antes de Noah começar a falar:

- O que você está fazendo aqui, seu pervertido?

- Eu... Eu... Mandaram minhas malas para cá – explicou, desesperado.

Noah tentou não notar o corpo sarado e definido todo molhado. Os cabelos compridos – que iam até o queixo – colando no rosto. E aqueles olhos castanhos, tão escuros. E o sotaque britânico... Oh, que delícia.

- E você resolveu ficar pelado?

- Relaxa, tá legal? Eu vou resolver isso assim que eu me vestir.

- Rápido!

- Tudo bem... – ele tirou a toalha sem qualquer constrangimento. Noah, automaticamente, fechou os olhos e começou a gritar:

- Coloca isso de volta!

- Você disse para eu me vestir rápido. Bem... Eu estou me vestindo.

Através de uma frestinha de pálpebra aberta – é, a curiosidade era mais forte que ela – Noah observou ele puxar uma cueca branca (branca, pelo amor de Deus!) e vesti-la, nem um pouco envergonhado.

Que garoto era aquele, Senhor?

- Pronto – avisou.

Noah abriu os olhos. Ele já estava de jeans, mas continuava sem camisa, o que não ajudava em nada.

- Mas que algazarra é essa? – a voz da governanta do Rosenhill, a francesa sra. Leeve, ecoou pelo dormitório. Ao parar em frente ao dormitório, seus olhos se arregalaram – O que está acontecendo aqui, senhor?

Algumas garotas estavam se amontoando em frente ao dormitório 211, que riam e cochichavam. Noah só conseguia pensar no escândalo que iria ser no dia seguinte. Ela sendo vista com um novato gostoso e seminu sozinhos no dormitório... Se sua mãe ficasse sabendo de uma coisa daquela...

A sra. Leeve praticamente pegou o garoto pela orelha e o arrastou até a diretoria, com Noah logo atrás, disposta a resolver aquela confusão e evitar que o pior acontecesse. Confusão desfeita, a diretora se desculpou pelo erro. O garoto, Cameron, fora registrado sem querer como uma garota, provavelmente devido ao seu nome, e mandado para o Rosenhill. Fora apenas uma estranha coincidência.

É, estranha... Como se nenhum dos dois tivessem gostado daquilo.

Depois da reunião com a diretora, Noah e Cam foram liberados. Noah apressou o passo para sair dali o mais rápido o possível. Ela chegou a ouvir Cam chamá-la, mas fingiu que não ouviu e saiu correndo.