Entrei no meu quarto e tomei banho. Quando eu tava me trocando minha mãe bateu na porta e pediu pra entrar. Abri a porta ainda enrolada na toalha, ela entrou e eu fui pro meu closet. Pedi pra ela esperar uns minutos até eu me trocar e, depois de me arrumar, sentei ao lado dela na cama.

– Como foi lá hoje?

– Em qual lugar exatamente?

– Primeiro na escola.

– Complicado.

– Falaram alguma coisa pra você? Te xingaram de alguma coisa por aquilo?

– Não, mãe. Não falaram nada. Só olhavam com pena pra mim. E acho que só sabem onde o Justin tá. Acho que não sabem sobre o John.

– E você deu depoimento?

– Sim.

– Como foi?

– Constrangedor. - Ela olhou pra mim parece que compreendendo, mas ao mesmo tempo confusa. Não sei explicar. - Mãe, eu sei que ele é o delegado e esse é o trabalho dele, mas foi sim constrangedor. Eu nunca tinha visto ele na vida e tive que contar uma coisa pessoal minha.

– Filha, isso não é motivo pra vergonha. Você não é a primeira nem a ultima a ser abusada.

– Ele perguntou até se eu era virgem antes de tudo aquilo acontecer! - Agora sim ela pareceu compreender realmente e ficou olhando pra mim. - Mãe, o povo lá na escola já é o suficiente pra sentirem pena de mim. Você também não, por favor. - Disse já com os meus olhos ardendo pelas lágrimas que vinham.

– A cada minuto me arrependo mais do que fiz com você. Se eu nunca tivesse namorado ele, você nunca teria passado por isso. - Ela falou já chorando. Era o que eu menos precisava agora. Mas ela é minha mãe. Eu sei que ela também tá sofrendo com isso. E ver ela chorar parte o meu coração. Ainda mais que é por minha causa.

Abracei minha mãe e ficamos as duas chorando, uma no ombro da outra. Era estranho, mas fazer o que.

– Desculpa por tudo? Por ter brigado com você, e ainda mais por ter feito você conhecer ele. - Segurei o rosto dela na minha frente.

– Mãe, você não tem culpa. Para com isso. Por favor. Não quero que você se sinta culpada por uma coisa que nem sonhava que acontecia. - Ela se acalmou um pouco e me abraçou de novo. Ela já não soluçava mais. Só que ainda chorava.

Passou um tempo e minha mãe dormiu. Eu tinha que mostrar pra ela que eu tava bem. Tudo bem que quem passou por isso fui eu, mas não quero minha mãe se culpando por uma coisa que ela nem imaginava. E eu odiaria e choraria mais ainda se isso acontecesse.

~Justin on~

Já devia ser final da tarde até mais tarde quando me avisaram que eu tinha visita. A Mel não era, ela tinha vindo hoje de manhã. Estranhei quando vi o Victor entrando ao entrar pela porta.

– To surpreso de te encontrar aqui.

– Falei com a Mel e ela me contou. - Esperei ele continuar falando. - Não vou deixar você ser preso sozinho.

– Se não quiser, não tem problema. Pra falar a verdade, nem pensei nisso.

– Você quase morreu porque aceitou ir comigo ir atrás do traficante e tá me dizendo pra não confessar os crimes junto contigo? Qual é. Não é assim que funciona comigo e você sabe disso.

–Você que sabe.

– Mas como tá sendo aqui?

– Aqui não é um presidio, ou seja, tem pouca gente. Então eu fico numa cela sozinho, no tédio. É chato, mas não é medonho. Pelo menos não aqui.

– Então é tranquilo?

– Um pouco. Mas só de entrar no lugar das celas me dá arrepios.

– E como a Mel reagiu quando soube?

– Ela ficou assustada. Eu tive que falar com ela por telefone e só conseguia ouvir ela chorando. Foi horrível. Mas agora ela parece tá melhor.

– Ela vai vim aqui te ver todo dia? - Eu assenti. - Cara, eu vou ter que ir.

– Tudo bem. Vai falar com o delegado?

– Vou. Já disse que não vou deixar você sozinho. - Nos despedimos e eu voltei pra cela.

Fiquei pensando na Mel o resto do dia, era só isso que dava pra fazer naquele lugar. Me perguntava se ela já tinha parado de chorar, se ela tava dormindo ou ainda tava acordada, se ela pensava em me largar por pressão da mãe, ou se isso nem passava pela cabeça dela. É, era complicado. Muito complicado.

Dormi na pequena, tipo, pequena mesmo, cama que tinha lá. Acordei no dia seguinte com as costas doendo. Um policial levou eu e os outros presos pra tomar café da manhã. Eles eram medonhos. Juro. Me sentei numa mesa sozinho e um deles veio falar comigo. Até que ele era mais apresentável, mas mesmo assim tinha cara de bandido, e dos piores.

– Posso sentar aqui né moleque?

– Pode ué. - Ele me olhou de cima a baixo com o nariz empinado.

– Qual teu nome?

– Justin e o seu?

– Marcus. Quantos anos você tem?

– 16.

– Tenho 20. - Quase cuspi o café pra fora.

– Sério?

– Sério. Por que?

– É que não parece.

– Imagino. A maioria do povo aqui parece ter medo de mim. Claro que é a minha aparência, mas em vez de isso me incomodar, é até melhor. Você é a primeira pessoa que eu converso. Por que não tem medo de mim? - Ele perguntou, mas não pareceu incomodado, só curioso.

– Já passei por várias coisas que mostram que aparência não significa nada.

– É... tá aqui por que?

– Roubo. E vc?

– Matei o amante de uma vadia que eu namorava.

– Há quanto tempo tá aqui?

– Faz umas semanas, ou até um mes, eu acho. Você tá desde de ontem, eu já sei.

– Como você sabe?

– Sempre quando tem um novato todo mundo comenta. Ainda mais como você.

– E como seria esse "como eu"?

– Novo, com cara de santo, do tipo que não assusta muita gente.

– Hm... entendo.

– Muitos acham que você é inocente aqui, do que quer que seja. - Eu tive que rir.

– Não, não sou inocente.

– Roubava por que?

– Mais por diversão do que por qualquer outra coisa. Menos da ultima vez.

– O que aconteceu da ultima vez? - Contei toda a história pra ele. - Lealdade é uma das coisas que mais admiro em alguém.

– Obrigado.

– Ah, antes que eu me esqueça. Cuidado por aqui. Mesmo você sendo novo, já tem uns maniacos daqui que não vão com a sua cara.

– Mas eu não fiz nada.

– É o que to falando, são maniacos. Sabe, não gostam de ninguém. Mas se um deles se meter contigo, fala comigo.

– Ok. - Ficamos conversando por mais uns minutos e voltamos pra cela. Só sai de lá de novo no almoço. Novamente de sentei com Marcus. Não que eu gostasse de fazer amizade com criminosos, mas pelo menos eu sabia que eu tava seguro. E isso aqui digamos que é essencial.

Um pouco depois do almoço falaram que tinha visita e imaginei que fosse a Mel, claro. Mas não, era o pai dela.

– Oi senhor Holden.

– Oi Justin. Como tá aqui?

– Indo. - Ficamos em silencio. - O senhor não vai proibir a Mel de vir me ver, né?

– Nunca proibiria minha filha de ver um garoto que foi pra cadeia por ela. E poucas pessoas confessam um crime, ainda mais se for por causa de outra pessoa. - Sorri.

– Eu amo muito a sua filha.

– Eu sei disso. Ela já vai vim te ver. Ela entrou na sala do delegado pra dar depoimento agora.

– E como ela tava antes de entrar?

– Nervosa. Normal pela situação.

– E ontem, como ela tava? Ela chorou?

– Chorou. Hoje ela tá melhor. E eu conversei com o seu advogado ontem. - Olhei pra ele surpreso.

– E o que ele falou?

– Ele disse que você já sabia. Mas enfim, ele disse que você tem as chances de você ir pro presidio são quase nulas. - É, eu já sabia. Mas toda vez que escutava isso me dava uma sensação de alivio maior.

Eu e o pai da Mel ficamos conversando durante um tempo e depois ele teve que sair. O policial me levou pra cela e eu fiquei lá esperando me chamarem pra ver ela.