Baila Conmigo?

Questão de tempo


A noite não havia sido fácil, e o dia também não dava indícios de que seria melhor, mas a verdade é que Reyna precisava estar ali.

No hospital. No leito da mãe, mesmo que Belona ainda não tivesse acordado, os médicos disseram que era normal, mas Reyna só queria que esse terrível pesadelo terminasse. Só isso.

Ela sabia que não era pedir demais.

“Está com fome?” Piper perguntou de repente para Reyna e para Hylla, “Talvez fosse melhor comer algo, já que os médicos disseram que ela não vai acordar agora.”

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“Eu não estou com fome, Pipes, mas talvez a Hylla queira ir, hm?” Reyna sugeriu.

“Eu não estou com fome, Piper, mas valeu.” Hylla se pronunciou.

Hylla estava sentada ao lado da cama de Belona enquanto Reyna permanecia parada e em pé de frente para o leito, bem mais perto da porta do que Hylla.

“Na verdade, Hylla, uma vez que você já passou a noite aqui... Tem como eu ficar sozinha com a mamãe? Só por um momentinho.”

Hylla suspirou alto.

“Vamos, Piper, eu pago um lanche para nós na lanchonete da esquina.”

“Tudo bem,” a indígena falou antes de direcionar uma última fala à Reyna: “Fica bem, Rey.”

“Vou ficar.” Reyna respondeu.

Piper e Hylla saíram do lugar fechando a porta com delicadeza e assim que Reyna sentiu que estava verdadeiramente sozinha com a mãe, ela não pôde mais aguentar segurar as lágrimas.

A verdade é que ela já não aguentava mais estar ali naquela situação, dependendo de um show de calouros para salvar a vida da mãe e mesmo assim cada dia que se passava parecia que Belona piorava, e piorava, e piorava, era como se todo o universo estivesse dizendo que Reyna deveria começar a se preparar para perder a mãe de vez, aprender a como seguir em frente bem ali enquanto dava tempo de buscar cola e fita adesiva para todos os pedacinhos do seu coração que se partiriam quando chegasse o funeral da mãe.

“Eu detesto te ver assim.” Reyna começou, a voz embargada e as lágrimas se formando nos olhos, esperando amadurecer para escorregar pelo rosto pálido. “A senhora ainda quer viver? Ainda quer continuar essa luta? Ou a senhora prefere se reencontrar com o papai?”

Silêncio. Um silêncio que só fez as lágrimas de Reyna caírem mais rápido.

“Eu posso ser forte, mãe, se a senhora preferir o descanso eterno, eu posso me cuidar, cuidar de Hylla, seguir em frente, tudo isso, eu só preciso que me diga que quer ir.” Reyna continuou, não era fácil dizer aquilo, mas com o tornozelo machucado, a situação financeira e a crescente piora da mãe, era impossível ter esperança. “Se a senhora quiser ir, pode ir, mas eu preciso que você melhore só um pouquinho, só por um tempo, só para Hylla e eu conseguirmos nos despedir da senhora, claro que talvez não seja fácil quando a senhora se for, a senhora nunca iria querer nos deixar, mas tio Marte acolheria a gente, ficaríamos bem, eu só não quero te ver sofrer mais.”

Reyna chorou mais um pouco depois disso, porém assim que percebeu que Hylla e Piper estavam perto de voltar, ela limpou as próprias lágrimas e rezou. Reyna não era muito religiosa, mas ela rezou profundamente por uma melhora da mãe, com um último resquício de esperança, e acima de tudo pediu que o melhor, seja vida ou morte, recaísse sobre Belona, mesmo que Reyna ainda preferisse a mãe viva.

“Está tudo bem?” Hylla perguntou mais tarde naquele mesmo dia. As duas haviam voltado do hospital juntas, deixado Piper em casa, e tinham combinado dormir em seu primeiro apartamento depois de dias sem visitar o local. Parecia que havia sido em outra vida que Reyna, Hylla e Belona foram uma família feliz ali.

“Sim, eu só não estou conseguindo ver o copo meio cheio ultimamente... Talvez seja só impressão, mesmo assim continuo rezando para que ela fique bem.” Reyna respondeu.

As duas permaneceram em silêncio.

“Com fome?” Hylla questionou, mas Reyna negou, então Hylla prosseguiu: “Tem algo que eu preciso falar sobre com você... O concurso, eu sei que muitas das suas esperanças vem dele, mas Reyna, eu acho que isso está realmente afetando sua educação e-”

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“Por favor, não me proíba de dançar.” Reyna interrompeu.

“O quê?! Não! Eu não faria isso, eu sei que dançar te ajuda a lidar com a situação, mas eu estou preocupada, você não consegue focar na escola, você está focando e dando de tudo por isso, até o seu tornozelo!” E então ela suspirou. “Não adianta se matar por uma coisa para dar sua vida pela da mamãe, no final, vocês duas podem ir embora e eu não quero ficar sozinha, eu não conseguiria.”

“Hyll...”

“Eu estou com medo, Rey, muito, mais do que quando aconteceu na primeira vez.”

“Eu também.”

As duas se abraçaram, lágrimas de angústia e medo escorrendo pelas peles de porcelana até o queixo e mil e um pensamentos ruins rondando suas cabeças. Naquela noite, elas dividiram a cama de casal da mãe e cheiraram o travesseiro com o cheiro maternal até cair no sono, elas tinham medo de esquecer o cheiro da mãe, a cor dos olhos, o som da voz, porque querendo ou não, Belona já estava agindo como morta depois de tanto tempo sedada.

[...]

O celular de Hylla toca no meio da madrugada. É o hospital. Belona acordou e está perguntando pelas filhas.

Reyna quer ficar animada, mas tem medo de não estar sendo realista, Hylla sorri para ela e diz que Reyna está com dificuldades de acreditar apenas, então Reyna começa a pensar que agora é questão de tempo até sua mãe ficar boa, e ela vai ficar.