Bad Karma

23. Bob Esponja, Vizinhos e O Tombamento Final


****

POV Katie Gardner

****

Eu odeio a minha vida.

Alguém me mata, por favor! Me entreguem como sacrifício, liguem para os seus contatos alienígenas e peçam para que eles me abduzam, POR FAVOR. Hoje o meu dia já não foi muito fácil no Café, mas ele só piorou quando eu atingi a epítome do constrangimento minutos atrás na frente do cara que eu gosto.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sim, na frente do crush.

Mas um pouco antes disso tudo, algo ainda mais estranho aconteceu. Na verdade, se não tivesse acontecido a última parte certamente não passaria de uma reprodução do meu pior pesadelo.

Tudo bem, vocês devem estar confusos, se perguntando como diabos algo constrangedor aconteceu na pacata vida de Katie Gardner (que consiste em Netflix, café quente, RPGs, Fanfics e todos os tipos de histórias em quadrinho existentes no planeta).

Bem, eu sugiro que voltemos um pouco os acontecimentos.

Uma hora antes...

Abri os meus olhos e franzi o cenho quase que instantaneamente.

A música na casa dos vizinhos ainda não tinha parado? Uma garota não pode ter mais o seu sono de beleza? Claro que eu precisaria de um coma de 20 anos para sequer parecer com uma garota bonita, mas mesmo assim.

Mexa comigo, mexa com os meus familiares, meus amigos (eu só tenho dois, mas hey, quantidade não é qualidade, certo?!), mas de forma alguma mexa com a minha comida e muito menos com o meu sono.

Você não vai querer me acordar. Na verdade, vocês provavelmente prefeririam invocar Belzebu em um dia de TPM logo depois de descobrir que o jantar dele tinha sangue AB-.

Entenderam? Ótimo.

Eu pisquei furiosamente para clarear a minha visão e começo a acariciar a cama a procura do meu celular.

Porque é claro que eu chamaria a polícia.

Quando desisto, suspiro derrotada e me apoio em um cotovelo para ligar o abajur que fica na mesa de cabeceira. A luz preenche o quarto e enquanto a minha visão se ajusta, a única coisa que parece realmente clara, é aquela que me paralisa por completo.

Asseguro: Meu queixo só não caiu naquele momento por que a cola dos deuses não é vagabunda.

Com os olhos arregalado, eu olho para o garoto, e ele parece tão paralisado quanto eu.

Talvez fosse pelo estado de sono, a estranheza da situação,- ou até mesmo a quantidade de remelas secas no canto dos meus olhos- Mas por algum motivo eu não consegui desviar os olhos dos dele. Aquilo me pareceram milênios, mas não deve ter durado mais do que alguns segundos, porque a próxima coisa que eu vejo é que ele está com uma perna de cada lado da minha janela, mas outra coisa a minha atenção.

O meu sutiã do Bob Esponja está pendurado em seu braço.

Que. Raios. Está. Acontecendo?

Bem, apesar de não parecer, eu sou uma garota e, devo acrescentar, uma garota líder de torcida (eu também não sei porquê), então se juntarmos isso com uma situação assustadora e os primeiros instintos femininos, eu fiz o que tinha que ser feito.

Eu gritei.

A estranheza daquele grito não pode ser descrita, mas vamos tentar. Imagine que um chimpanzé teve um bebê com uma arara, essa criatura acha que é uma banshee* com problemas respiratórios.

Agora imagine essa criatura tentando gritar.

Esse foi o som.

Infelizmente, o garoto está mais a frente, e quando eu finalmente consegui me livrar da minha expressão de susto e choque, ele já está atravessando a minha janela.

Aquele garoto é Trevor Stoll.

O vizinho “na dele”, que é conhecido em toda escola por ser... Bem, um dos Stoll (temos MUITOS, acredite). Eles estão sempre envolvidos em problemas e, na maioria das vezes, se safam com uma facilidade impressionante. Mesmo tendo sido vizinha deles por mais de dez anos, nunca fomos muito próximos...

Digamos que o meu pai não gostaria que a minha mãe fosse amiga da Sra. Stoll, por motivos de: Ela aceitou se casar com o Sr. Stoll. Aparentemente, isso era o suficiente para ele desaprovar a amizade, mas agora vamos ao fato importante:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Meu pai morreu quando eu tinha oito anos de idade.

Choque.

— O que diabos você pensa que está fazendo? – Eu disse, franzindo o cenho com uma irritação genuína. Ele invadiu o meu quarto para pegar um sutiã emprestado, era isso?

Eu removo as cobertas das minhas pernas, sentindo o ar frio me enviar arrepios enquanto me levanto rapidamente e caminho rapidamente a minha janela a tempo de ver Trevor pousando no meu gramado de forma tão graciosa que qualquer gato de rua teria inveja.

Eu cruzo os meus braços sobre o peito a medida que coloco a cabeça para fora da minha janela e, mesmo com a pouca luz, noto que o garoto me lança um olhar indecifrável. Um barulho me chama a atenção e eu ergo a minha cabeça para olhar para o quarto do demônio em questão e sou agraciada com a visão de um grupo de garotos rindo o cérebro pelas orelhas.

Idiotas.

Olho para baixo novamente, mas Trevor não está em lugar algum.

Um dos garotos coloca o rosto para fora da janela e me lança um sorriso preguiçoso. Chris Rodriguez. O garoto de ouro do Olympus. Ele era um dos filhos do senhor Hermes Stoll e morava na casa ao lado desde que a mãe dele se mudou para algum lugar na América Latina.

Infelizmente, como eu disse antes, eu nunca tive muito contato com nenhum dos Stoll. Mamãe achava que todos eles puxaram ao pai, e eu era preguiçosa demais para desobedecer.

Sim, porque manter segredos de mamãe era mais difícil do que passar batom no beiço de uma pulga.

Ele então me lança um sorriso que derreteria qualquer garota, e geralmente, eu seria uma dessas garotas, mas a minha raiva no momento é tão grande, que tudo o que eu consigo fazer é o fuzilar com o olhar.

— Você deve estar muito confusa.

— Nooooossa, você acha? Meus parabéns, senhor Sherlock. Ninguém poderia prever isso. – Digo raivosamente, cruzando novamente os braços sobre os seios.

Ele somente ri.

— Calma, querida. – Ele levanta as mãos em sinal de rendimento- Era só um desafio, você não precisa ficar toda estressadinha por isso... – Ele retruca enquanto dobra as mangas do seu moletom branco. Branco? Sério? O garoto não tem vocação para ser ninja.

Mas tão lindo, o rosto.

— ELE ROUBOU O MEU SUTIÃ! – Eu jogo as minhas mãos no ar em frustração, uma coisa que eu faço muito quando estou nervosa: Gesticular. – Ele invadiu o meu quarto no meio da noite, roubou o meu sutiã, e você está me dizendo que eu não preciso ficar “estressadinha”? – Ele se retrai ao escutar o meu tom de louca, mas hey, eu tinha o direito de dar a louca!

— Só pra constar, belo sutiã! – Outra cabeça aparece no meu campo de visão. Connor Stoll. Esse, juntamente com o inseparável irmão Trevor, é conhecido por ser um pregador de peças. Eles adquiriram a sua popularidade depois das inúmeras peças pregadas no ex-diretor, como adicionar cola no chapéu que ele sempre usava, sal no café, discursos de assembleia manipulados ou ainda decorar o seu carro novo com bolinhas cor de rosa.

Aquilo parece ter sido a gota d’agua.

Eles ainda não fizeram nada contra o novo direitor, o Sr. D, mas eu tenho a sensação de que estão apenas esperando o momento certo para atacar.

Eu não tinha absolutamente nada contra Connor. Até aquele momento.

— E aprecio garotas com bom gosto para desenhos animados.

— Cala a boca! – Eu digo, minhas bochechas queimando de uma forma que eu poderia ser facilmente confundida com um tomate maduro. De todos os sutiãs, é claro que Trevor tinha que ter pegado o do Bob Esponja. Ele poderia ter pegado um simples, um rendado, um bege broxante, aquele com rendas ou até o que eu nunca usaria por ser tão ousado em toda a sua transparência... Não! Ele tinha que escolher a droga do sutiã do Bob Esponja. – Pode me devolver, por favor?

— Venha buscar, minha adorável princesa. – Um terceira voz falou, e imediatamente tudo fez sentido. Eu conhecia aquela voz. Confirmando as minhas suspeitas, a cabeça de Luke apareceu ao lado da dos seus irmãos.

Tantos deles...

O boato era que o Sr. Hermes Stoll fizera uma cirurgia de vasectomia quando Luke nascera ainda durante o seu casamento com a mãe de Chris. Com um Chris de dois meses nos braços, ela o perdoou, mas exigiu que ele fizesse a cirurgia e desse toda a assistência necessária a May. Ele concordou e confiou em sua médica e amante para fazer a cirurgia. Aparentemente, ela era uma pessoa rancorosa e sabotou a cirurgia por saber que ele não se divorciaria. Quando a atual Sra. Stoll engravidou, a mãe de Chris pediu o divórcio, e ele se casou com ela. Pouco tempo depois, Lolita Rodriguez, agora ex Sra. Stoll, se mudou da cidade e deixou Chris com o pai.

Confuso, mas os boatos não mentem.

Honestamente, o senhor Stoll tinha tantos filhos que eu desconfio que ele não saiba o que é Netflix. Ou proteção. Um preservativo poderia salvar o mundo de ser o lar de garotos tão... Marotos. Mas sejamos justos aqui:

O homem soube fazer os filhos. Eles poderiam até ser pestes, mas tão lindos...

Suspiro. Foco, Katie.

Você. – Acuso.

Eu.

Você...

Eu – Ele sorri.

GRRRRR. – Grunhi. – Tudo bem, Luke, me desculpe por ontem. E juro que não vou mais fazer nenhuma piada sobre você ter que usar viagra e-

Me interrompo quando percebo que os irmãos deles estão todos rindo. Trevor ainda não deu as caras.

— Você só está piorando a sua situação, Katie. – Ele diz. Sinceramente, Luke costumava ser um cara mais legal. Um dos esquisitos, assim como eu e meus dois amigos. Ele e Annabeth mudaram muito desde que ele entrou no time, no segundo ano e eu realmente acharia que isso se deu por causa da popularidade alcançada, mas Will era tão popular quanto ele e continuava o meu Will de sempre.

O mesmo com Reyna. Mesmo com todas as atenções voltadas a ela enquanto ela ainda namorava o tal do Mason Grace, ela continuou a mesma.

Isso comprova a minha teoria de que algumas pessoas são mais babacas que outras. Fim.

— Mas é como eu disse: Você vai ter que pegar se quiser de volta. – Ele sorriu maliciosamente. – E como estou de bom humor, vou te dar uma escolha: você pode vir aqui agora ou você pode pegar amanhã na escola. Prometo pendurar em um lugar que não seja tão alto.

Meu queixo caiu em incredulidade. Ele não poderia estar falando sério, mas... Esqueça, aquele era Luke Castellan.

— Okay. – Disse com frustração e raiva caindo pelos lados. Garotos estúpidos. Eu me preparo para pular, mas a brisa fria da noite me lembra que eu não estou usando nada além de pantufas e a blusa do meu pijama dos ursinhos carinhosos.

Você nem quer saber da minha calcinha, eu garanto.

Não é exatamente a visão que eu queria que três dos garotos mais populares do colégio tivessem de mim. E eu que achava que a situação não poderia ficar mais humilhante para o meu lado. Eles querem que eu vá até lá? Pois bem; eles teriam que esperar que o dia em que Matt Murdock recuperará a visão.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ha ha ha.

Uma estranha confiança se apoderou de mim, e eu sorri desafiadoramente enquanto encarava Luke direto nos olhos.

— Eu não vou aí pegar. – Eu disse em um tom muito mais calmo do que eu desejava. A verdade é que eu queria pegar o rifle de mamãe e usar para furar os grandes olhos azuis do filho da minha querida patroa.

Não? – Chris tem um sorriso de lado enquanto me encara com certo divertimento.

Respira, Katie. RESPIRA. Você precisa de controle nesse momento... Não é hora de ficar babando no Chris.

— Não. – Eu confirmei. – Para começar, vocês roubaram ele. Vocês que devem devolver. – Eu levanto o indicador no ar, e continuei. – E segundo, eu estou de pijamas.

Espera, O QUÊ?

Claro, eu tinha mesmo que arruinar a minha performance de durona.

— Se troque então. – Connor disse desafiadoramente. Ele se inclinava sobre a proteção da sacada, como se tivesse tentando se aproximar o máximo possível, mas eu não ousei desviar os olhos.

— Afasta aí, eu realmente acabei de ouvir a frase “se troque”? – Eu estava pensando em defenestrar Connor quando outra cabeça loira apareceu na janela. A nova figura me lança um sorriso sedutor e pisca antes de continuar: - Vá em frente, querida, finja que nem estamos aqui...

Senhoras e senhores, lhes apresento Mason Grace: O cara mais babaca e galinha da escola. Eu não devia estar dizendo isso, mas devo admitir que o que ele tem de idiota, ele tem de lindo. O que foi? Ele pode até ter partido o coração da minha melhor amiga, mas, o que é bonito é para ser secado.

Desculpe Reyna.

Desculpa mesmo, eu até que odeio ele, mas não tem como negar que o bastardo parece um deus!

— Pervertido. – Chris diz, e dá um tapa leve no amigo. Essa conexão mental, gente, isso não pode ser coincidência. ELE FALOU EXATAMENTE O QUE EU PENSEI! Isso só poderia significar uma coisa:

Temos que dar uns amassos.

Ok, não que isso já não seja muito óbvio a essa altura, mas eu tenho sim uma queda pelo meu vizinho Chris e meu plano está correndo muito bem, devo dizer. Daqui mais três anos, ele vai me notar, vai me chamar para sair e creio que se tudo correr como esperado, a gente começa a namorar antes do meu aniversário de 35 anos.

Claro que existe uma margem de erro, mas um dia eu chego lá.

Ah se chego.

— Cuidado aí, Rodriguez, assim você magoa os meus sentimentos. – Mason disse em tom de deboche.

— Nah, - Chris começou. – seu ego é grande demais para isso.

Os garotos começam a sair do meu campo de visão, um a um, e antes que eu consiga protestar meu olhar cai diretamente sobre o garoto que roubou o meu sutiã. Trevor me olha com certo divertimento e desafio, enquanto arqueia uma sobrancelha.

Droga, seria mais fácil odiar esses idiotas se eles não fossem tão bonitos.

Foco, Katie.

FOCO.

A luz do quarto de Trevor e Connor estava agora acesa, e eu podia ver os garotos espalhados pelo quarto. Eu me viro para Chris primeiro.

— Onde está?

Ele apenas dá de ombros em resposta, mas não é como se eu esperasse que estivesse com ele. Apenas deixe-me apresentar os fatos aqui: Chris Rodriguez é o queridinho da nossa escola, o garoto de ouro. Fisicamente perfeito, notas perfeitas, um atleta de nível nacional, além de ser sempre gentil e simpático.

De todos aqueles garotos, ele era o menos propenso a ter o sutiã com ele. Capitão do time de natação, nerd em tempo integral, presidente do conselho estudantil e aquela aparência são coisas que eu nunca achei que pudessem vir no mesmo pacote, mas adivinha só?

Christopher Rodriguez estava ali para provar que o mundo sempre vai ser injusto.

Eu olhei para Connor em seguida. O cabelo castanho claro desgrenhado, de alguma forma fazia ele ficar ainda mais fofo. E os olhos azuis que sempre tinham aquela sombra de marotice, quase se fecharam quando ele sorriu abertamente.

— Está com você? – Demando. Para a minha surpresa, ele apenas nega com um aceno de cabeça, e quando eu dirijo o meu olhar a Mason, ele faz o mesmo. – LUKE, DEVOLVA O MEU SUTIÃ AGORA!

Ele arqueou as sobrancelhas. Qual é a da arqueada de sobrancelha?! Parece que todos os Stoll tem isso em comum!

— Não seja tão precipitada, gatinha. – Ele me responde. – Não está comigo também.

Essa resposta me deixa com apenas um suspeito e, oh, que choque, é justamente o infeliz que cometera o crime. Eu olhei para ele e recebi a minha resposta em forma de sorriso pretensioso.

— Você sabe onde está meu sutiã? – Ele se aproximou um pouco mais da janela. Veja bem, eu nunca fui próxima dos irmãos Stoll, mas sempre que eu passava por eles pelos corredores do Colégio ou até mesmo na vizinhança, sorríamos e nos cumprimentávamos sem realmente conversar.

Segundo dona Deméter, mais conhecida como “mamãe”, era bom não confraternizar com esses “seres anêmicos férteis a ponto de me engravidar na mínima troca de olhares”.

Dos quatro, Luke era o que eu tinha mais contato, já que trabalhava no Café da mãe dele. Era quase que uma relação de amor e ódio. Connor e Chris sempre eram simpáticos e, como eles eram amigos de Will, estávamos sempre nos esbarrando.

Mas com Trevor era diferente.

Ele nunca me cumprimentava, nunca sorria, e eu não me lembro de ter trocado mais do que duas palavras com ele durante toda a minha vida, mesmo que ele estivesse sempre por perto.

— Talvez... – Ele respondeu e franzi o cenho ao perceber que a semelhança entre ele e Connor era tamanha que eles poderiam se passar por gêmeos.

— Você vai devolver ou vai só me fazer desperdiçar o meu tempo? – Cruzei os braços, revirando os olhos. Não estava mais conseguindo esconder a minha irritação.

O que eu estou fazendo aqui? Eu poderia estar esparramada na minha cama tendo lindos, lindos, lindos sonhos.

— Só para constar, ele não vai te devolver. – Mason sorriu de lado. – De qualquer forma... Qual é o seu nome, linda? Eu já te chamei para sair?

Olhei para ele com certa incredulidade.

— Katie. – Chris disse, sacudindo a cabeça. – O nome dela é Katie Gardner.

Awwwww...

Ele sabe o meu nome!

Refreio a dança da vitória que tive vontade de fazer. Vou ter que refazer o meu plano, levando em consideração que ele já sabe meu nome...

— Sabe, Grace, eu estudo na mesma escola que você... – Eu digo irritada. – E também estudava lá antes de você se mudar daqui.

Ele franziu o cenho, mas deu de ombros.

— Sério? – Perguntou. – Como eu posso não ter percebido um rostinho como o seu?

— Flertem outra hora. – Trevor interferiu. Ele sorriu casualmente, seu olhar fixo ao meu em um desafio silencioso.

— Eu não estava flertando. – Digo entredentes.

Claro que não. – Ele diz sarcasticamente.

— QUEM DIABOS VOCÊ ACHA QUE É? – Eu digo liberando toda a irritação que estava acumulando por estar perdendo sono, sossego, paciência e, o pior: Meus sonhos com Tyler Posey.

— Oh, eu posso te mostrar isso pessoalmente se você topar vir até o meu quarto outra hora... – o sorriso afetado dele se alargando um pouco mais, e eu sinto vontade de arrancar as sobrancelhas dele com um tijolo. Eu poderia não conhecer ele, mas era muito óbvio que ele só estava agindo como um idiota por causa da presença de Luke e Jason.

Aquilo pareceu pegar todos eles de surpresa, mas felizmente eu sou a primeira a falar.

— O que te faz pensar que eu aceitaria uma oferta ridícula como essa, Trevor? – Eu bufo, irritada.

Pela primeira vez na conversa inteira, o sorriso cínico dele desapareceu. Na verdade ele está... Franzindo o cenho.

— Meu nome é Travis.

Eu bufei novamente.

Claro que sim. – A ironia era palpável em minha voz. Luke observava a tudo com uma expressão impagável, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.

— Eu acho que eu sei o meu nome! – Ele elevou um pouco o seu tom de voz, a testa ainda estava franzida em uma expressão de confusão. – Travis.

Olhei para Chris e, com um sorriso discreto, ele acenou com a cabeça.

Hmmm... Quem diria! Eu poderia jurar que ele se chamava Trevor.

— Bem, isso apenas demonstra que eu não dou a mínima pra você e muito menos para esses joguinhos. – Eu disse em um fôlego. – Agora me faça o favor de devolv-

— Katie? – Fui interrompida no meio do meu pequeno discurso por Miranda, minha irmãzinha que estava parada um pouco atrás de mim. Ela tinha oito anos, e na maior parte do tempo eu queria cuspir na garota, mas ela não era totalmente insuportável.

Ela esfrega os olhos deixando escapar um bocejo nada contido.

— Acho bom que você seja sonâmbula, Katie, porque se você estiver fazendo todo esse barulho por vontade própria, eu juro que arranco as suas cordas vocais com o rodo de pia.

Ah, minha adorável irmãzinha...

O olhar dela cai sobre quarto. Os garotos, salvo Trevor, estavam com sorrisos estampados e-

Oh, claro.

Travis. Ele se chama Travis.

— Garotos? – Ela me olha incredulamente. – Você está conversando com garotos, Katie? Achei que você estivesse se guardando para aquele cara que você gosta, como é mesmo o nome dele? – Ela estala os dedos, enquanto eu sacudo a cabeça freneticamente. -Ah, isso, Chris! – Meus olhos se arregalam de uma forma que parecem querer saltar a qualquer instante. – Ai meus deuses, você desistiu, Kat? É isso? Não vai mais querer ficar espionando ele pela janela do meu quarto? Nossa, isso é realmente um alívio e... ESPERA! Por que você está conversando com garotos no meio da noite, Katie? Você nunca conversa com garotos, só com o Will e ele não é exa-

Eu tapo a boca dela assim que a alcanço.

Nesse momento, eu só queria desaparecer da face da Terra. Aliás, da galáxia. Eu estava tão constrangida que não conseguia nem pensar direito.

POR FAVOR, DEUSES! SE NÃO ME LEVAREM AGORA, EU VOU COM A CONCORRÊNCIA.

— Miranda, mais uma palavra. MAIS UMA PALAVRA, e eu juro que vou sugerir que mamãe triplique a sua dieta de cereais.

— Não, eu suplico! – Ela fez um gesto exagerado. - Eu só não entendo por que você está conversando com garotos! Desde o Lee você evita todos eles, exceto o Will e- Ah, meus deuses, Katie! Você quer um namorado, é isso? Oh, algum deles é o seu namorado?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Hora de ir para cama, Miranda! – Digo arrastando ela para fora do meu quarto, mas não antes de ouvir alguém chamando o meu nome.

Me virei para trás e vi que o único garoto que ainda estava na janela era Chris, que sorria abertamente enquanto apoiava o seu peso na proteção da sacada do quarto dos irmãos.

— Boa noite.

Corando até o couro cabeludo, eu sorrio e assinto.

Agora...

Estou começando a pensar que talvez tenha sido um pouco rude com Travis. Mas coloque-se no meu lugar!

Imagine a cena:

Você acorda, no meio da noite debaixo suas cobertas desgastadas de Star Wars (as mesmas que você usa como proteção para todas os males desde que tinha três anos de idade), completamente confusa e grogue a ponto de parecer com alguma coisa saída de Monstros SA. De alguma forma, você consegue se obrigar a levantar e, enquanto sente a baba seca repuxando no canto de sua bochecha, liga o abajur.

E aí que você vê.

O seu vizinho estranho está no meio do caminho, escalando a sua janela (de alguma forma sendo lindo como sempre, devo mencionar), segurando o seu sutiã de edição limitada do Bob Esponja. O que você faz?

Obviamente, você grita. Mas e depois?

Você se vinga, é claro.

Miranda pode esperar, porque Trevor (Digo, Travis) é o meu primeiro alvo.