As coisas iam mal no colégio. Os boatos voavam a solta. Mas, pela primeira vez, eu não tinha nada haver com isso. Eram sobre Sam e Kevin. Escutei uma menina no banheiro falando "Ouvir dizer que eles terminaram porque ele confessou ser hater do One Direction", outras meninas na minha aula de educação doméstica discutiam "Eles brigaram porque ela descobriu que ele traia ela... Ou então ela traiu ele... Quero dizer, eu não sei, mas houve traição, com certeza" e uma menina no corredor "Ela terminou com ele porque pegou ele se masturbando com uma foto da Demi Lovato... e usando meias, ainda mais".

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De qualquer forma, esse era o único assunto que achei que não devia tocar com Sam. Ela não me deixava falar dele e as fofocas era a última coisa que ela devia saber. Então fiquei calada... até a hora do almoço:

- Isso é frango ou carne, afinal?

- Ali, o que todo mundo tem falado de mim pelas costas? - ela falou tão rápido que não deu tempo nem de acionar o botão de emergência no meu cérebro, então não sabia o que dizer. - Eu sei que andam falando de mim, então me diz logo.

Grilos da minha parte.

- Se é sobre eu e Kevin, pode contar, eu aguento.

- Er, eu, hãn, não ouvi nada não. - gaguejei.

- Serio?

- Seríssimo.

- Hum... isso é carne, aliás.

Pus em minha cabeça que eu estava protegendo ela, já que Sam é tão sensível e talvez não reagiria bem aos absurdos.

- Estou pensando em ir ao shopping hoje depois da aula, o que acha?

- Hmm não vai dar - fiz careta. - Eu tinha ensaio para a peça esta tarde.

- Ah claro - Sam pareceu decepcionada.

- Podemos outro dia, não é?

- Sim, sim.

- Tá tudo bem?

- É claro - ela forçou um sorriso. - É, eu me lembrei que devia estudar história. Levei C- na última prova.

- Então ta. - sorri.

- É, ta.

Eu queria poder falar que faltaria o ensaio por ela, mas faltava apenas duas semanas para a estréia. Se tratava de uma peça de Shakespeare, "Sonhos de Uma Noite de Verão", onde eu interpretava Hérmia. Além de ser uma papel significativo na peça, estava ansiosa pois pela primeira vez eu não seria uma árvora dançante ou só figurante. Eu teria falas e gestos, e até mesmo uma cena só para mim.

Havia chegado cedo de mais, dessa vez, de modo que ninguém mais havia chegado. Então peguei meu script e sentei no chão do palco, começando a relê-lo.

- "Com censuras agora me contento, mas sobejas razões teu ardimento num crescendo me dá de amaldiçoar-te. Se de Lisan..." - parei quando um barulho anunciou que eu não estava sozinha. Procurei por entre todo o auditório e, no meio das fileiras, alguem foi surgindo.

- Desculpa, não pretendia assustar. - Justin disse, franzido o nariz.Estava tão surpresa por encontrá-lo ali que as palavras mal saíram:

- Justin. O que está fazendo aqui?

- Bem - ele disse a caminho de mim. - Você disse que podia recitar alguma vez para mim, lembra?

Nesse momento, ele já estava no pé do palco. Percebi que estava sorrindo só segundos depois e apenas reagi quando ele pediu que eu continuasse.

Respirei fundo e limpei a garganta.- "Com censuras agora me contento, mas sobejas razões teu ardimento num crescendo me dá de amaldiçoar-te. Se de Lisandro a vida, em qualquer parte, no sono tu tiraste, e já manchado de sangue tens o pé, nenhum cuidado te cause prosseguir na furibunda devastação: a perna inteira afunda... - Tremia de nervos. Pensei, se eu estava assim atuando para apenas uma pessoa, como seria para uma platéia inteira. - Oh! mata-me, também! O sol não era tão fiel ao dia, como ele a mim. Possível lhe seria fugir de mim, para fazer-me guerra? Mais fácil fora acreditar que a terra se deixasse furar por uma pua e que emitisse através dela a lua sua luz clara para, do outro lado, deixar o irmão ao meio-dia enfiado. Dúvida já não tenho: és assassino; esse rosto o proclama, o olhar ferino.*

Quando terminei, estava de joelhos para representar melhor a angústia de Hérmia. Justin começou a bater palmas segundos depois e, menos envergonhada do que achei que estaria, olhei para ele sorridente.

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- Você é boa. Não imaginava que tinha tanto talento.

- Você veio de Los Angeles até aqui só para me ver?

Justin não respondeu logo de cara. Ele pôs as mãos nos bolso, encarou os sapatos, então subiu no palco sem ajuda das escadas e ficou de frente a frente para mim.

- Você está com fome?

- Um pouco, por que?

- Que tal McDonald's?

- Parece ótimo, mas eu não...

Dane-se!, gritou dentro de mim. O que era um ensaio comparado a companhia dele? Teria outros e mais outros até semana que vem, por isso disse tudo bem e, meio que escondidos, fugimos da escola.

Me lembrei de um dia de dois anos atrás quando ele tirou folga da turnê para conhecer a minha mãe aqui em São Francisco e arranjou um carro não sei da onde para me levar para lá e para cá, na época que ainda trabalhava na lanchonete dos pais de Sam. Era engraçado que estávamos em um carro bem parecido.

- Não é um Fisker Karma - ele disse quando perguntei onde conseguiu aquele carro. - mas quebra um galho. Acho que é alugado.

- E para onde estamos indo, afinal? Porque já passamos por, pelo menos, duas McDonald's.

- É uma específica, no começo da autoestrada.

- Espera - arregalei os olhos. - Você não está me tirando da cidade de novo, está?

- Não - ele riu. - Só quero um lugar mais afastado.

Eu não disse nada, mas entendi "um lugar mais afastado" como "um lugar onde ninguém possa nos ver, já que provavelmente a minha namorada não faz ideia de onde estou e de que estou saindo com a minha ex". Ainda não havia me decidido se estava de bem com aquilo ou não quando Justin ligou a rádio, mas mudou a estação assim que começou a tocar "Boyfriend".

- Não - pedi.

- O que? Você gosta?

- É claro - olhei para ele. - Uma vez Belieber, sempre Belieber.

Mesmo que você termine comigo. Incrível, não?

- Tuudo beem - ele voltou a estação. Ouvindo a voz dele na rádio, Justin fez careta.

- Qual o problema? A música é boa.

- É que eu tenho que cantar tanto ela que já estou enjoado.

- Tell me what you like yeah tell me what you don't. I could be your Buzz Lightyear fly across the globe - comecei a cantar e, mesmo sabendo que estava pagando mico, não quis parar. Justin se segurou para não rir de mim. - I don't never wanna fight yeah, you already know. I'mma make you shine bright like you're laying in the snow.

- Girlfriend, girlfriend, you could be my girlfriend - Justin, impressionantemente, começou a cantar. A junção da sua voz na rádio e a sua voz ao vivo me fizeram calar a boca só para ouvi-lo melhor. - You could be my girlfriend until the world ends. Make you dance do a spin and a twirl and voice goin crazy on this hook like a whirl wind.

- Swaggie - fizemos juntos.

- I'd like to be everything you want. Hey girl, let me talk to you. If I was your boyfriend...

Enquanto Justin cantava, eu podia sentir uma sensação já conhecida, que toda vez que sentia, odiava. Do modo que meu coração disparava tão rápido que parecia nem bater, ou da forma como o frio na barriga quase me deixava se contorcendo, eu sabia mais do que tudo neste mundo que eu ainda o amava. Mas a questão era que eu também sabia, perfeitamente, que ele não era meu. E ele cantando exatemente esta música para mim não ajudava nem um pouco.

- O que foi? - ele perguntou, seu olhar reversando entre a estrada e eu.

- O que? Não, nada.

- É?

- Sim. - difarcei com um sorriso e mudei de assunto o mais rápido que pude.

Na McDonald's, Justin insistiu em pagar meu hamburguer, por mais que eu tenha dito que não. Pedi um simples Quarteirão, já ele, o maior hamburguer que tinha na McDonald's. E a forma como ele devorou o prato - logo depois de ter dado autografos para as únicas pessoas além de nois dois na lanchonete: as duas garçonetes -, foi engraçado.

- Tá com fome?

- Uhuum - ele fez de boca cheia, expremendo um sachê de ketchup.- Não como desde manhã.

Olhei meu relógio. - Já são 16:30h.

- Dia cheio. - justificou.

Não comentei mais nada, mas Justin e eu não ficamos sem assunto. Falamos de qualquer coisa, menos, como sempre, dos assuntos proibídos: Selena Gomez, nosso passado e meus (inexistentes) relacionamentos amorosos depois dele. É claro, também não toquei na palavra câncer. Não ousava falar com ele sobre isso. Como ele ou com ninguém. Era assunto meu e só.

Quando o sol começou a se pôr, voltamos para a cidade de São Francisco. Ele me deixou na porta de casa e, quando viu o tamanho, soltou "wow".

- Se brincar, é maior que a minha casa.

- É claro - disse irônica, saindo do carro. - Porque ganho mais que um astro do pop.

Ele riu e se apoiou no baco do lado para me ver pela janela do carro.

- Nos falamos depois?

- Ahaam.

- Ok - ele arrancou o carro. - Tchau.

Mas só dei tchau quando o carro já estava desaparecendo da minha vista e o tchau acabou sendo para ninguém.

- Sim, tia Sarah, já estamos indo.

As cortinas se abriram e o sol entrou violentamente no meu quarto, mas a minha mãe não se importou de me acordar e continuou a falar no telefone:

- Pode deixar... Ah sim, já estamos prontas. Chegamos em 20 minutos. - ela desligou e puxou o lençol de mim. - Alicia, acorda!

Gemi alguma coisa como "não" pondo o travesseiro em cima da cabeça, mas ela o puxou de mim.

- Já estamos atrasadas. Anda! Você só tem 10 minutos. - e deixou meu quarto.

Sinceramente, faltava muita motivação para encarar o dia. Hoje era o churrasco na casa de tia Sarah. Eu não sabia se Sam iria, mas era provavel que sim e eu não sabia se o reencontro deles seria calmo ou não. Cheguei na casa de tia Sarah de óculos escuros para disfarçar a cara de cansaço.

- Tudo bem? - perguntei.

Ele deu de ombros. - Eu não sei.

- Ela vem?

- Eu não sei.

- Onde está tia Sarah?

- Eu não sei.

- Você sabe de alguma coisa?

Ele balançou a cabeça.

- Só tô com a cabeça cheia.

- Ok, então. Vou procurar tia Sarah, certo?

Deixei Kevin com seus pensamentos, para se decidir se estava certo ou errado. Eu não devia me meter, afinal.

Tia Sarah, depois do casamento, havia se mudado para a casa de Joe. Era bem maior que a dela, na qual eu costumava morar. A encontrei conversando com a minha mãe no quarto de casal.

- ... Eventualmente, as coisas tem ficando tensas na mansão. Ontem foi a primeira dose do tratamento. Ela não esta sentindo nada... ainda.

- Pobre mulher - tia Sarah pôs a mão no rosto, indgnada. - Pode ter feito o que for, mas não merecia. Ninguem merece... E Ali? Como ela anda reagindo?

- Ignorando. Acho que a ficha ainda não caiu. Eu não sei, mas ela não gosta de falar sobre isso. Quando a avó entra, ela sai. As vezes, trocam algumas palavras. Eu não a culpo por não saber como lidar com toda essa situação. Ainda não tem nem 18 anos.

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- Você acha que ela pode está ficando pertubada com tudo isso?

- Eu espero que não. Por isso que quero que ela apenas se concentre nos estudos agora. Além disso, o câncer é benigno. Abigail vai ficar bem.

- Assim espero.

Dei passos para trás para me afastar do quarto antes de ser notada. Ainda tentando fazer silêncio, esbarrei em Joe.

- Oh, Alicia - ele me pegou. - Está tudo bem?

- Sim, sim.

- E o que está fazendo aqui em cima? A Sam já chegou.

- Sam chegou?

Nem deixei ele terminar, olhei pela janela e encontrei Sam e Kevin conversando no jardim. Desci as pressas, mas cheguei bem no fim de uma briga.

- O que você quer dizer com isso? - Kevin se segurou para não gritar, mas os vizinhos já estavam olhando para eles.

- Gente, vamos entrar e resolver isso lá dentro? - pedi, mas ele pareceram não me ouvir.

- Eu tô dizendo que eu passei um ano e meio me dedicando muito por esse relacionamento, Kevin, e você não moveu um dedo. Não é pelo o que você fez naquele colégio ou por ter mentido para mim. São coisas que tem se acumulado nos últimos meses. E eu pensei que tinha amadurecido o bastante para lidar com isso, mas não tá dando mais, Kevin.- Sam engoliu o choro e eu sabia que o que ela estava prestes a fazer ia ser muito difícil para ela.

- Quem quer churrasco? - Joe apareceu do nada sem saber do que estava contecendo, quando nos ofereceu isso. Ele rapidamente sentiu o clima tenso e, junto comigo e com Ashley recem chegada que, de malas na mão, tinha acabado de cruzar o jardim, ouviu Sam dizer com todas as letras:

- Acabou, Kevin.

Acho que prendemos a respiração quando isso aconteceu. Tia Sarah costumava dizer que eles iam até se casar. Eu achava exagero, mas se eu disser que esperava que algum dia eles realmente terminassem, estaria mentindo. Sam saiu correndo logo depois e não parou quando eu pedi que ela esperasse. Por fim, Ashley pôs sua mala no chão e disse:

- Eu devia voltar para casa mais vezes. Aqui sim tem emoção.