O começo do fim

“Os verões morrem

Um por um

Eles se vão rápido e sem parar

E eu sou velho

E partirei

Traga-lhe paz

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Traga-lhe alegria

Ele é jovem

Ele é só um menino

Você pode tirar

Você pode dar

Deixe-o ser

Deixe-o viver!

Se eu morrer, deixe-me morrer

Deixe-o viver

Traga-o pra casa”

– Les Misérables, Bring Him Home -

– Matthew! Parabéns, meu amigo! – O Doutor disse, no hospital, dando tapinhas nas costas dele.

– Muito obrigado, Dr. Smith. Eu me sinto como... Um deus, pra falar a verdade. – Ele sorriu, ainda fascinado com seu filho.

– Você diz isso porque ainda não teve que trocar as fraldas dele. – O Doutor colocou, rindo. – Vai a Downton?

– Vou. Tenho que buscar os outros...

– Matthew, acho que você está muito animado pra isso. É melhor ficar longe do volante. Quer que eu dirija?

– Ah sim, muito obrigado! Eu provavelmente perderia a mão.

– Vamos evitar que uma tragédia ocorra, não é?

O meio do fim

“Hora de dizer adeus

Horizontes nunca estão distantes

Terei que encontra-los sozinho?

Sem uma luz verdadeira minha

Com você, eu irei

Em navios estrangeiros

Que eu agora conheço

Não, eles não existem mais

É hora de dizer adeus”

– Andrea Bocelli, Time To Say Goodbye -

– Você realmente deve ir embora, Dr. Smith? – Lorde Grantham perguntou, chateado. – Eu receio que todos nós nos afeiçoamos a vocês.

– Nah, eu vou ficar bem. Vamos viajar, ver o mundo. Vocês também deveriam tentar às vezes.

– Bem, eu sempre soube que você tinha hábitos peculiares. Desejo-lhe toda a sorte do mundo, Dr. Smith, e volte logo!

– Pode deixar comigo! – Eles apertaram mãos, e o Doutor começou sua longa lista de despedidas.

– Lady Grantham, foi um prazer conhece-la. – Ele disse, educadamente. – Você adoraria aprender crochê. É bem divertido, pra quem gosta. Você devia tentar.

– Crochê? – Cora perguntou, confusa.

– Ops, falei demais! – Ele respondeu, deixando uma Cora boquiaberta pra trás. – Lady Edith! Adorei debater com você. Você tem o potencial, não se esqueça. Escreva mais, escreva tanto quanto puder.

Lady Edith corou. Não conhecia muitas pessoas que verdadeiramente acreditavam nela, e por isso foi muito grata à amizade do Doutor.

– Lady Mary, foi um prazer absoluto. Você vai ser uma mãe impressionante, aliás, já é! – O Doutor disse alegremente, vendo Mary segurar seu pequeno George.

– Dr. Smith, você deveria ficar. Aqui há muito mais trabalho do que em Exeter, terra esquecida. – Ela disse com escárnio, e ele entendeu que ela não queria se emocionar.

– Trabalho não é tudo, Lady Mary. Pode me chamar de hippie por causa disso, eu deixo.

– Hippie?

– Ah não, eu fiz de novo. Só ignore o que eu disse, tudo bem? Daqui a uns cinquenta anos você vai achar engraçado.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele se apressou para que ela não fizesse mais perguntas, e ele riu com a expressão estupefata dela.

– Tom Branson! Bom e velho leprechaun. Sorte em tudo nessa vida, camarada.

– Muito engraçado você. – Branson disse, segurando Sybbie. – Veja se não desaparece por muito tempo. Eu odiaria ficar sem uma babá substituta.

Os dois riram e se deram tapinhas nos ombros.

– Sra. Crawley! Até mais. Saiba que você é uma mulher extraordinária.

– Melhor que a famosa Harriet Jones? – Ela arqueou uma sobrancelha.

– Eu nem sempre sou justo com Harriet, mas você é dez vezes melhor. – Ele admitiu, e se perguntou se estaria realmente certo em sua suposição: seria Harriet Jones descendente de Isobel Crawley?

Ele nunca saberia, e riu com a ponderação.

– Dr. Smith. – Uma voz o chamou, e ele olhou a Condessa Viúva, já sentada com a bengala entre as mãos. – Você sempre diz coisas que deixam todos confusos, mas dessa vez sou eu que vou te deixar confuso. Até menos, Doutor. – Ela deu uma piscadela, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a velha se levantou e foi embora.

Mistérios, mistérios do universo.

– Dr. Smith? Em nome dos empregados, eu devo admitir que... Bem... Todos vão sentir sua falta e da Sra. Smith. Gostaríamos que voltassem logo. – Carson admitiu, e o Doutor resolveu quebrar o gelo. Deu um abraço escandaloso no mordomo que deixou o homem mais velho horrorizado e indefeso.

– Até mais, Carson. E não se importe com o abraço, só fiz aquilo porque achei que seria engraçado mesmo.

– Você sempre teve um senso de humor perverso, eu suponho. – Carson pôs, sua voz grave nunca deixando de impressionar o Doutor.

– Vamos, Carson. Você ainda vai rir das minhas piadas.

– Esse será o dia em que a Sra. Hughes me despachará para um asilo.

O Doutor riu e acenou para todos os empregados. Sentiria falta de todos: Carson, Hughes, Anna, Bates, Daisy, Sra. Patmore, até de Thomas. Sobre esse último, pensou que um encontro com o Capitão Jack faria desaparecer o coração trevoso. Sobre Anna, pensou que ela era mais extraordinária do que pensava que era. Sobre Bates, pensou que era um homem de honra que certamente se orgulharia de ter conhecido. Sobre Daisy, achou-a a definição da futurística palavra kawaii. Sobre a Sra. Patmore, sentiria falta das tiradas e dos bolinhos (deliciosos).

– Dr. Smith? Posso ter uma última palavrinha com o senhor? – O Doutor virou-se e viu Matthew ao seu lado, o olhar terno que já conhecia bem.

– É claro.

Os dois se retiraram então para a pequena biblioteca. Matthew fechou a porta, para que a conversa não fosse ouvida.

– Doutor, eu tenho que ser bem direto quanto à natureza dessa conversa. Eu vi Daisy chorando um dia desses e ela não aguentou aos meus poderes de advogado. – Ele fez um hum, como se achasse engraçado. – Ela me contou tudo. Tudo mesmo. Acho que ela não é muito boa em guardar segredos. Eu poderia até não acreditar, mas sempre fui uma pessoa inclinada a gostar das histórias de Júlio Verne, só não conte isso a Mary. – Ele riu de novo. - A questão é que eu não tenho palavras pra te agradecer. Eu estou vivo, aqui, hoje, por sua causa. Minha família é uma família por sua causa. Mary está feliz com George por sua causa. E eu nunca vou poder te agradecer tanto como você merece. E eu suspeito que nenhum de nós nunca vai poder. Você já viveu tantas vidas, sempre esteve lá, ajudando as pessoas. Você é o nosso anjo da guarda, Doutor.

O Doutor abriu a boca para protestar, mas Matthew o interrompeu.

– Não aceito menos do que isso. E saiba que se algum dia você precisar de qualquer coisa, qualquer favor, eu serei o primeiro a te ajudar. Mas eu suspeito que nunca poderei quitar essa dívida enorme que tenho com você. Deus, que horror teria acontecido caso você não estivesse aqui.

– Você fez por merecer, Matthew. Você é o verdadeiro herói aqui. E eu sou muito grato por ter te conhecido.

Matthew sorriu de orelha a orelha, antes de dar um abraço no Doutor. O Doutor aceitou o abraço, feliz.

– Viva sua vida, Matthew. Seja muito feliz. Isso é tudo que você merece.

– E você também. Feliz Natal, Doutor, e que Deus te abençoe! Ah, eu vou lembrar de avisar... O... Daniel... – Ele franziu a testa com a ideia de ter um segundo filho. – Pra deixar o bilhete em 1953. Estou tão maravilhado com a ideia de ter uma rainha de novo.

Enquanto os dois voltavam a seus lugares, um para Downton Abbey e o outro para a TARDIS, o Doutor até ofereceu umas dicas a respeito da economia nos próximos anos. Seria muita falta de sorte se o Conde de Grantham perdesse tudo em 1929, não é?

O fim do fim

“Há lugares dos quais vou me lembrar, por toda a minha vida

Embora alguns tenham mudado

Alguns para sempre, não para melhor

Alguns já nem existem, e outros permanecem

Todos esses lugares tiveram seus momentos

Com amores e amigos dos quais ainda posso me lembrar

Alguns estão mortos, e outros ainda vivem

Em minha vida, eu amei todos eles”

– The Beatles, In My Life -

Rose se entregava a um sono feliz na TARDIS. Tudo tinha dado certo.

Matthew ainda viveria por muitos e muitos anos. Rose sabia que não era o tempo que importava, era a pessoa, mas ainda assim, Matthew merecia uma vida longa e feliz. Ele viveria, floresceria, envelheceria. Era um homem bom. Seria muito feliz, para o resto de sua vida.

Rose pensou um pouco em Daisy e na razão dela ter mantido o espelho em segredo. Ela devia gostar de ir lá, e Rose pensou que também gostaria se fosse ela.

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, desejamos que o espelho exista. Desse modo, estamos sempre indo pra casa. Aqueles que estão perdidos para nós retornam sãos e salvos. Aqueles que amamos nunca realmente nos deixam. Podemos ter de volta tudo aquilo que perdemos. Podemos voltar ao começo. Retroceder os relógios.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.